Thursday, January 29, 2015

Dia 148 - 1 Janeiro - Primeiro dia do Ano em beleza

Levantámos com o som das ondas lá fora e não apetecia sair da cama já tão cedo. Estávamos confortáveis e o som lá fora é tão relaxante... Abrir a porta e ver logo o mar é das coisas que me faz mais feliz!
Estavam uns rapazes a puxar as redes. São redes fininhas que arrastam pelo fundo do mar. Apanham muito peixe mas também estragam a fauna. Porque os peixes pequenos que aproveitam só para consumo próprio (porque sabem que ninguém os vai comprar) já não vão crescer nem procriar. Mas este pessoal não se preocupa com isso nem existe ninguém aqui que os controle. As gerações futuras não vão conseguir viver da pesca...

Enquanto me despachava o JG começou por ir “pondo a mesa”, literalmente. Levou a mesa e as cadeiras para o nosso poialzinho, levou as loiças e a comida do pequeno-almoço e, quando lá cheguei, já estava tudo pronto. Ah... isto sim, é qualidade de vida! Já de bikini vestido, com uma camisa de praia e uns óculos escuros e estamos a tomar o nosso pequeno-almoço na praia!

Embora apeteça dar um mergulho, está ainda nublado e não muito apetecível com aquelas redes todas ali estendidas. Enquanto eles as recolhiam voltei ao quarto. Dei uma limpeza no chão e uma arrumadela no quarto. Isto de “viver na praia” traz muita areia para casa e dá muito trabalhinho! Também remodelei um pouco o quarto porque temos uma fileira de cabides mesmo por cima da cama. Assim, afastei um pouco a cama da parede, para dar mais espaço e poder pendurar coisas nos cabides. E arrumei as nossas roupas no único local que tem para arrumar: a solitária mesa-de-cabeceira.

Já estava a fazer falta o café da manhã e, por isso, fomos à “vila”. Como quem diz, “fomos ao restaurante tomar café”. Estavam com a mesma música de elevador que estava ontem à noite. Este DJ é o melhor na cabeça dele! Nem da rua!
Depois do café adivinhem o que fizemos... Praia, claro! Nem podia ser outra coisa! Pegámos nas toalhas, no chapéu de sol, na mochilinha da praxe para telemóveis, protector e chave de casa. E saímos, o JG de calção e chinelo, e eu de bikini, uma camisa de praia e chinelo. Nem é preciso muita roupa, nem água, nem mais nada! Estamos a segundos de casa.



Nem sei bem precisar o tempo que estivemos dentro de água. A temperatura do mar deve ser entre 23º a 25º. O mar também está um pouco batido, agitado o que o faz mais animado e apetecível. Foi já em terra que vi, nem sei quantos homens e mulheres, a puxar as redes do mar para apanharem peixe. Leva tempo e são precisos mesmo muitos porque é preciso muita força.


Temos de colocar bastante protector solar. E várias vezes. Aqui queima e não e pouco. Basta lembrar da última vez que cá estivemos. A diferença é que também não ficámos muito tempo a torrar ao sol porque temos o nosso poialzinho.
Mas antes de subir fui molhar os pés porque vi um peixe a dar à costa. Estava já morto. Foi apanhado nas redes e jogado fora por ser tão pequeno... mas, entretanto, morreu! Estava eu em terra quase seca quando, do meu lado esquerdo, sai um caranguejo, do tamanho de um punho fechado de homem. Saiu de um buraco que nem reparei e foi a fugir em direcção ao mar. Parava perto da água, depois avançava quando a onda recolhia e não lhe tocava, até desaparecer enrolado nas ondas. Voltava a vê-lo várias vezes na rebentação. Depois de molhado ficou bem mais vermelhinho. O gajo estava branco de seco. Andava ali divertido e eu a divertir-me com ele. De vez em quando, passavam moradores da zona que o viam e investiam para o apanhar, mas ele foi mais esperto e escapou sempre. Nesta altura, a água já me banhava e foi quando fiquei ainda mais impressionada com os peixes que são apanhados nas redes. Observem bem o tamanho do que veio dar à costa depois de tirarem as redes do mar...


Pouco depois fomos almoçar. A comida é boa mas o serviço é demasiado lento. Estivemos 1h30 à espera de sermos servidos, meia hora para sermos atendidos e podermos fazer o nosso pedido. É pena porque assim nem conseguem segurar os clientes. Não somos só nós, vimos vários clientes a queixarem-se do mesmo. Mas enfim, estamos aqui para relaxar e é isso que temos de fazer. Afinal, a nossa cubata, desta vez, é do lado do mar e oferece-nos a oportunidade de ficarmos mais isolados da “vila”. Não fosse o facto de esta cubata não ter cozinha e nem lá íamos a não ser para tomar café.


É impressionante o que atravessar do rio ao mar faz de diferença de tempo meteorológico. Ao almoço, do lado do rio, estava uma paz completa. Sem vento nem brisa, um quente ameno, por vezes sol, outras nublado, mas uma temperatura equilibrada. Quando chegámos à cubata estava uma ventania que até fazia confusão. Já não dá para fazer praia como de manhã. O sol está mais tímido e as nuvens brilham no seu esplendor. O sol parece uma “silver pearl”. O vento não traz frio, mas é cada vez menos confortável ao longo da tarde.

Nós estivemos entretidos. Voltámos a pôr a mesa no alpendre, com umas cadeirinhas, e ali ficámos a jogar Monopoly no computador. Acho que o pessoal da nossa geração se lembra bem deste jogo. Eu ficava horas esquecidas a jogar, até sozinha jogava! No computador não tem a mesma piada, mas mata o bicho e a coisa é viciante seja de que maneira for!




São quase 18h e sentei-me agora no degrau da porta da nossa cubata. O JG está sentado cá fora com a mesa. Eu estou ao lado dele mas sentada à porta, com uma perna dentro e outra fora, encostada à ombreira da porta de entrada e o portátil ao colo. Sinto a minha veia de escritora a pulular e não resisto a descrever o que vejo e o que sinto... Vejo a areia dourada por causa dos últimos raios de sol que espreitam pelo telhado de colmo da nossa cubata. De fundo temos música ao vivo de uns vizinhos com uma viola. Ao menos têm gosto musical idêntico ao nosso, o que se pode dizer ser de uma extrema sorte! Ainda mais de fundo e, já romantizado com o nosso coração e mente, temos o som das ondas a deslizar umas por cima das outras na rebentação. A maré está a baixar e as ondas formam filas pequenas, quase que em câmara lenta, até se desvanecerem umas nas outras. O mar apresenta um verde prateado, com uma fina linha branca marcada pelas ondas da rebentação. O céu... está em tom azul bebé, com algumas nuvens que misturam cores como que numa tela. Variam entre o branco no meio, um púrpura muito suave no contorno, acompanhado de tons laranjas e rosas. A restante paisagem completa-se com árvores de vários tamanhos, num verde seco, com palhinhas penduradas em vez de folhas. O ar respira-se por sobrevivência e para limpeza da mente e da alma. É puro e queremos aproveitá-lo ao máximo. O vento começa a pôr cada poro do nosso corpo em sentido e a necessidade de tapar a garganta faz-nos procurar um aconchego. Mas nem assim queremos sair daqui... voltamos a sentar nos mesmos locais, só que agora, com os nossos lenços/ècharpes abraçados ao pescoço. Nada nos tira daqui! A não ser a mosquitada faminta, que não tarda a aparecer, que nem piranhas...



Já recolhidos por causa do frio nem demos pelo tempo passar e chegar a hora da janta. Está já tudo escuro lá fora e o vento veio para ficar, pelos vistos. Dentro dos quartos está-se bem. São acolhedores e bem quentinhos nestas noites frescas. De dia também são relativamente frescos quando, lá fora, o sol morde e nos faz sentir o cheiro de carne a assar... Juntámo-nos todos num só quarto para jantarmos juntos. Trouxemos umas latas de atum, temos pão, paio, queijo, manteiga, sumos, frutas... que queremos mais?! Ainda estamos cheios do almoço tardio e tudo! Enquanto petiscámos mantivemos a janela aberta para não nos sentirmos tão encarcerados. Não se consegue ver bem o mar, mas com alguma habituação dos olhos à pouca luz dá para ver as almofadas espumosas que centrifugam até à rebentação. Ouvir este som tão zen, sentir o vento no rosto e com o relaxamento todo que isto provoca, estamos capazes de dormir e dormir e dormir e dorm... zzz zzz zzz zzz...

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