Tuesday, March 31, 2015

Dia 202 - 24 Fevereiro - Passo a vida a fugir mas vem sempre ter comigo...



Comecei o dia da melhor forma: fui conhecer a Escolinha Solidária! Um projecto da Plataforma Makobo ainda bem fresquinho. O espaço é como imaginamos quando não vivemos cá. O caminho até lá é em terra batida, com buracos e pedras que temos de desviar. Por entre ruelas estreitas com trapos pendurados onde calha, com vendedeiras na berma sentadas ou, até deitadas, no chão, à espera de clientes. O lixo acumula-se onde o vento o deixa até formarem pilhas. As "casas" são de cimento, com blocos de cimento. Parecem feitas de peças de Lego por terem as paredes levantadas e pouco mais. Não são pintadas, o chão é de cimento também em bruto e o tecto é de zinco apoiado em estreitas traves de madeira, munidas de puas. As janelas têm vidros partidos e a sua estrutura é antiga ou mal tratada. Algumas chegam a ter parte da estrutura já fora de sítio tornando-se num perigo para a roupa ou pior... E a nossa escolinha é numa casa destas, a diferença é que, por fora, está pintada de verde. Por dentro é que as paredes estão em bruto.

Já lá estavam algumas cadeiras de plástico dos últimos dias de aulas. Estavam algumas secretárias antigas e um quadro branco. Os meninos e meninas trazem cadernos, outros distribuímos nós. Vêm das redondezas e são de todas as idades. Têm uma escola que frequentam mas, onde, infelizmente, não têm condições para aprender quase nada. Muitas das salas de aula têm cerca de 80 alunos... conseguem imaginar?! Começámos com mais de 30 alunos e foram chegando mais. Tivemos de fazer alguns despistes para ver quem estaria mais à frente ou mais atrás nos conhecimentos. Então, colocámos os meninos que resolveram o primeiro exercício lá fora. Sim, lá fora. Está bom tempo, não faz diferença. Levaram as respectivas cadeiras e foram com uma de nós ter uma aula diferente. Os restantes ficaram na primeira sala até despistarmos os com maiores dificuldades. Claro que também são os mais novinhos. Estes vieram comigo para uma outra sala com duas mesas grandes.

A maior dificuldade?! Não sabem as letras do alfabeto. Sem quadro nem bonecos, peguei numa cópia que levámos com o alfabeto e comecei a minha aula. Passo a vida a fugir desta coisa de dar aulas, de ser professora... toda a minha vida vivi nesse meio e não queria ir lá parar... mas não há volta a dar! E não é que tenho jeito?! Sabem aqueles documentários que vemos na televisão com os miúdos aos gritos a dizer o alfabeto?! Só tenho a dizer isto: tal e qual! Repeti com eles, várias vezes, o alfabeto. Fizemos as letras, uma a uma, a maiúscula e a minúscula. De vez em quando introduzia uma palavra começada por essa letra. No "B", por exemplo, perguntei uma fruta começada por "B". «Banana» gritaram uns. «Muito bem!». No "L" perguntei por um animal e rugi, fingindo ter garras «Leão!». Estavam entusiasmados e eu também!

No início tinham medo de fazer, de dizer, tinham vergonha de mostrar, alguns riam-se de outros... Nesta minha sala vi o caderno de cada um, elogiei sempre que faziam bem, corrigia se estivesse mal e puxei por eles de forma a mostrarem-me as letras que iam fazendo. Fiz com que erguessem os cadernos bem alto e que tivessem orgulho no que eles escreveram. «O que está escrito nesse caderno foi feito por vocês, é vosso! Tenham orgulho no vosso trabalho! Tenham orgulho no que vocês fazem!». E voltámos às letras. De vez em quando faziam mais barulho e eu chamava a atenção. Cheguei a fazer "ssshhhhhhhh" e a falar mais baixo. Rapidamente se apercebiam e ficavam em silêncio. Alguns brincavam - já estávamos há demasiado tempo também - outros "cutucavam" os do lado ou até saiam da sala. E eu disse: «Ninguém está aqui obrigado. Se quiserem podem sair. Mas se vieram para aqui é porque queriam aprender. Portanto, quem está aqui para aprender?!» E todos levantaram o braço bem esticadinho. «Então vamos aprender!»

Para mim foi, de tal forma divertido, que o tempo passou a correr! Foi quando fomos tirar as fotografias de grupo e umas miúdas, das mais crescidas, que estavam ao meu lado, estavam a rir-se e a olhar para mim. Vi que, timidamente, juntavam o braço delas ao meu.
- Sou muito clara, não sou? - Disse eu a sorrir
Era um sorriso tímido, o delas, mas muito curioso. Juntámos as mãos e, mesmo as palmas, faziam diferença, ainda mais ao sol. Deixei-as tocar na minha mão e no meu braço como se eu fosse um bicho estranho... e sou! Em toda a vida delas, não devem ter visto "caras pálidas" muitas vezes nem tão perto. Eu não me importo de ser um "bicho estranho" para estas mentes curiosas.

Rapidamente ficámos só nós, os voluntários, os professores. Fizemos o levantamento do que poderia fazer falta. Demos sugestões, ideias... temos de avançar com alguma cautela pois tudo é novo para nós. Há pormenores a que não damos muita importância e que podem fazer diferença. Por isso, vamos em frente, sem medo, mas com cuidado. Vamos tentar educar também no sentido ambiental. Sabemos que muitas destas crianças não comeram nada e pouco falta para a hora de almoço. Por isso, a sua atenção é reduzida, por isso, a aprendizagem não se pode aplicar a 100%... Mas sabemos que fazemos diferença aqui, sabemos que a nossa presença é bem-vinda e apreciada, sabemos que estas crianças vão passar a semana, ansiosas, pelo dia de aulas... porque, ao contrário de muitas que têm tudo de mão-beijada, estas crianças querem aprender!

Cheguei a casa perto da hora de almoço e estava pedrada de sono. Dormi a sesta, coisa que é muito raro em mim. Não gosto. Depois sinto-me sempre meia atordoada. Apaguei por duas horas e não me parece que tenha trocado de posição. Foi como que um "como está fica, licença". Mais tarde, quando o JG chegou a casa fomos ver o filme "Taken". E depois do jantar vimos o "Taken 2".


São filmes que até são bons mas que têm algumas imperfeições tão básicas que acabam por se tornar ridículos... Por exemplo: um carro em perseguição que bate noutros carros de frente, de lado, é amolgado e, mesmo assim, continua sem vidros partidos, sem amolgadelas, faróis intactos, parece um carro novinho. O facto de ele nunca (ou raramente) levar um tiro quando anda só com uma pistola e os outros disparam metralhadoras na direcção certa. Mas o tipo sabe encolher-se bem... enfim... A história é boa.

Monday, March 30, 2015

Dia 201 - 23 Fevereiro - Um dia que amanheceu triste

Foi um acordar triste ao saber que um dos nossos amigos de cá partiu para sempre...
Já não o via há uns dias pois tinha viajado para Pemba em trabalho. E ter sabido hoje já foi tarde porque partiu no dia 21. Quando o coração não aguenta não há muito a fazer. É triste... muito triste!

Tinha coisas para fazer e fui tratar de tudo antes de parar pelo MT, local de paragem obrigatória e onde estavam sempre os seus amigos. Fui entregar um currículo por causa de um anúncio que vi. Confesso que não tenho grande fé neste local, mas já fiz a minha parte.
E sim, a seguir fui para o MT. Ontem foi o dia em que as pessoas souberam, hoje, apesar do pesar, havia conversas animadoras e habituais para não se falar sempre do mesmo. O que é bom, porque... bem, a vida continua e não há muito a dizer, apenas se sente a tristeza...

Apareceu o Mãos de Farinha a quem fiz muitas festinhas para delícia de ambos. Estive de conversa com o Makobo com quem combinei para nos encontrarmos amanhã de manhã. Vou começar a dar aulas uma vez por semana a meninos num dos bairros mais pobres da zona. Vamos ver como corre amanhã. Já estou ansiosa. Começo a dar em doida por estar tanto tempo sozinha e em casa.

Vimos o filme "Horrible Bosses 2". É uma comédia parva mas divertida. E há dias que este tipo de filmes é  melhor que se pode ver...

Friday, March 27, 2015

Dia 200 - 22 Fevereiro - Oscars Night Fever!

Dia calmo, "caloriado" e salpicado com alguns pingos de chuva. Ligámos a uma amiga que mora aqui perto e fomos "beber um café" aos libaneses. O "beber um café" tem muito que se lhe diga. É uma coisa social que a sociedade inventou como uma desculpa para ir a qualquer lado, beber ou comer alguma coisa. Porque, assim como nas telenovelas e nos filmes de "domingo à tarde", é a comer que as pessoas conversam. Não bebo refrigerantes porque não gosto. Só fazem mal, têm demasiado açúcar e alguns têm "bolhinhas". Comer bolos também não aprecio. Além de que, cá podem até ter bom aspecto, mas não sabem ao que aparentam. Prefiro doces a salgados. Portanto comi o belo do gelado que adorei da última vez! E voltei a adorar desta.

O filme de hoje foi mesmo filme de "fim-de-semana", "Alexander and the Terrible, Horrible, No Good, Very Bad Day". É um filme da Disney. Muito direccionado para crianças e para a fantasia do "inacreditável".

Não era o filme mais apropriado para hoje já que esta é a grande Noite dos Óscares!... mas aqui não consigo ver... só vai dar num canal pago (bem pago).
Lembro-me de fazer directas a ver esta noite em directo, sem legendas. Em bruto! Lembro-me de nascer o dia e eu ainda estar pregada à televisão, sem sono nenhum, a assistir toda aquela noite tão esperada... e pela melhor frase de todas... "... and the Oscar goes to..."
Pois, que vença o melhor!

Thursday, March 26, 2015

Dia 199 - 21 Fevereiro - Compras! Já sentia saudades...!?!?!

Dia de fim-de-semana só começa com uma dose de café!
Para variar está um dia de sol de fazer inveja onde, nesta altura do ano, faz um briol descomunal. Quando chegámos ao MT reparámos numa cara conhecida... estava lá o escritor Mia Couto! Achei piada pois penso muitas vezes nele. Pelos livros que escreve, por ser conhecido pelos temas do que escreve, porque temos livros dele em casa, porque já li alguns dele e porque não contava vê-lo... Claro que não fui feita doida varrida e enlouquecida falar com ele. Mas devo tê-lo fixado sem me dar conta porque ele me cumprimentou quando se foi embora. Cumprimentei de volta, com certeza. Mas senti-me corar como se tivesse sido apanhada a fazer algo mesmo muito embaraçoso! Senti o meu rosto ainda mais quente com o corar do que com o sol...

Também por lá andava um cachorrinho de dois meses. Parecia ser um Labrador, de cor bege. Brincava com tudo e todos. Adorava festinhas e passear-se pelo jardim. Os degraus, mesmo que fosse só um, eram a sua maior dificuldade. Para subir ainda se aventurava de alguma forma, mas para descer tinha muito medo. Andei de olho nele o tempo todo mas ele só queria brincar pelo jardim e eu não queria ir para o sol.

Ficámos por lá mais tempo porque havia uma pequena trituradora da cozinha que não funcionava. O JG agarrou-se à máquina e, como qualquer homem da minha vida, só descansou quando a deixou a funcionar. Desde tenra idade que estou habituada a assistir a estas situações, tanto o meu avô como o meu pai eram iguais. Eu ganhei o bichinho da curiosidade em saber como as coisas funcionam porque estava sempre como assistente das ferramentas. Aprendi que há sempre uma solução para tudo na vida. Só temos de saber como as coisas funcionam e aprender a lidar com elas. E esta máxima a tudo se aplica... Seja às máquinas, às situações complicadas da vida, às pessoas...

Quando saímos dali foi para pagar mais uma mensalidade da internet. Mas a senha que tirámos tinha cerca de 40 pessoas à frente e, por isso, optámos por ir às compras e voltar a seguir. Deu para experimentar umas roupas, brincar com chapéus e, enquanto o JG estava na fila para pagar eu fiquei perto da saída a observar de fora. Estava uma senhora a querer trocar roupa mas não se colocava na fila e queria passar à frente de todos. Ninguém a deixava passar e ela não saía dali. Mesmo depois da senhora da caixa lhe dizer para ir para o fim da fila. Esta falta de respeito e de civismo acarreta muito mais que uma simples acção. Não é um caso isolado. Para não falar que tinha uma criança a dormir ao colo, embrulhada em capulana, e ela estava com o mamilo de fora, tipo "self-service". Choca-me aqui pela ironia da coisa... São tão rigorosos em certos sítios onde não as mulheres não podem andar de ombros à mostra, onde as mini saias são mal vistas, na praia o uso de bikinis é quase visto como uma coisa perversa, mas uma mulher andar com a mama de fora é perfeitamente natural...

Claro que, já a nossa senha tinha passado e tirámos outra mas, desta vez, só tínhamos 6 números à nossa frente. Aqui comentei com o JG a confusão que me faz algumas pessoas não levantarem os pés para andar. Arrastam os chinelos como se afagassem o chão. Com a mesma velocidade de uma festinha carinhosa... Dá-me vontade de lhes pegar nas pernas para levantar!

Já a caminho de casa, quase a atravessar a estrada o JG chamou a minha atenção para um ratito morto, mesmo à minha frente. Ora... entre o ficar bloqueada nos movimentos por não saber onde pôr o meu pé que ficou a meio do passo, no ar, e não querer olhar mas tê-lo à minha frente, pode dizer-se que não foi o melhor momento do meu dia. Segundo o JG passou uma miúda que se fartou de gozar comigo. Confesso que não a vi mas imagino que, quem quer que passasse, gozasse com aquela figurinha. Com um pé colado ao chão, outro no ar à procura de destino, com as mãos agarradas ao JG como que a minha salvação (atenção que foi ele quem me disse para olhar), uma pele de galinha com cada poro ou pêlo eriçado, uns olhos esbugalhados num rosto contorcido de uma mistura entre horror, pânico e nojo, tudo isto ao som de um maravilhoso guinchar histérico como quem não quer estar ali... Até eu gozava!

Fui, mais uma vez, a conduzir para irmos às compras. Não me importo e tenho muitas saudades de conduzir, confesso. Mas tenho muitas saudades de conduzir num país onde as regras de trânsito são cumpridas. Aqui, enerva-me.
Lá dentro, seguimos uma lista infindável de coisas a comprar. Em dado momento, estávamos ambos a ler a lista quando a luz falha e tudo fica às escuras. Sim, isso para mim é mesmo "o horror... a tragédia..." Agarrei-me com unhas e dentes ao JG. Fico de tal forma nervosa que o meu coração parece entrar numa maratona sem mim! Sinto formigueiro nas pontas dos dedos, calafrios e não consigo fechar os olhos. Também digo muitos disparates por causa do nervosismo. A minha sorte é que a coisa não demorou, mas podia voltar a acontecer e não me quis separar mais do JG. Andei colada a ele que nem lapa.
Quando saímos o carrinho ia bem cheio. Não temos tudo, para não variar, mas temos o essencial. E não foi assim tanta confusão como poderia ser. Já tinha saudades de vir às compras.

Wednesday, March 25, 2015

Dia 198 - 20 Fevereiro - Nachos Time

Levantei mais cedo do que tinha programado, já que só tenho de sair para almoçar. Ainda não eram 9h e já tinha tomado o meu banho da manhã e estava já a tomar o pequeno-almoço. A Gel hoje não veio trabalhar, pelo que, estou sozinha em casa!
No MT veio o Patas de Farinha pedir miminhos...


Uma das coisas que se diz aqui e, acho que é característico, é "uma hora de tempo". Se eu disser, por exemplo, «daqui a uma hora venho buscar o pão», a pessoa vai ficar baralhada e a olhar para mim com o maior ar vazio! E depois há de dizer «é uma hora de tempo?!». Havia de ser uma hora do quê?! Mas que confusão que isto me faz...

O final do dia foi diferente. Fomos ter com os sogrinhos ao Mundos e jantámos nachos com queijo derretido por cima, carne picada e molho de piri-piri por cima. É daquelas coisas que até se pode fazer em casa e acrescentar uns cogumelos e o que mais souber bem ou apetecer! O problema de fazer aqui é que, só os nachos de sabor normal, custam mais de 10€! É uma loucura!

O filme de hoje foi o "NightCrawler". É horrível pensar que, neste mundo, existem mesmo pessoas assim! E pior, safam-se, impunemente, de actos cometidos sem qualquer pudor!

Tuesday, March 24, 2015

Dias 195, 196 & 197 - 17, 18 & 19 Fevereiro - Descanso Merecido

Estes dias aproveitei para actualizar algumas modificações no blog. Espero que tenham gostado.
Leva tempo, é preciso testar, configurar, gosto de pedir opiniões... e como tenho tempo, aproveito agora para o fazer.

Pouco antes da hora de almoço perguntei à Gel se sabia estrelar um ovo. Disse-me que sim e eu, inocentemente, acreditei e pedi-lhe para fazer dois. Preocupei-me mais em explicar a frigideira adequada - já que ela já estava com a frigideira mais velha, e gasta de todas que só usamos para fritar, em riste. Expliquei também que usamos a espátula de plástico, já que a de metal vai riscar a frigideira boa. Que com esta frigideira, anti-aderente, não é preciso deitar muita gordura... enfim, achei que a coisa sairia perfeita. Esqueci-me do fundamental... Quando voltei, já a babar-me só de pensar em molhar o pão na gema, entrei em pânico! Coitada, até acho que a assustei, mas tive de reagir... foi mais forte que eu. Os ovos estrelados viraram panquecas! Ela estava, toda satisfeita, a virá-los! Já não restava gema líquida, nem eram ovos mexidos. Eram ovos-panqueca!

Ainda deu tempo para ir tomar o café do costume e passear um pouco. A caminho de casa passei pelo talho que ainda estava fechado. A esta hora já devia ter aberto para a tarde. Quando cheguei a casa pedi à Gel para ir comprar pão e águas e, quando voltasse, reparasse se o talho estaria aberto. Estava. Desci com ela e fomos as duas comprar carapaus para amanhã e um chouriço para, ainda hoje fazermos ervilhas com ovos.
No balcão pedi à rapariga que lá estava um chouriço.
- Tenho este de vaca.
- Não tem mais? Outra variedade?
- Não...
Foi quando chegou o patrão. Um senhor que conheço do MT. Não muito alto e bem preenchido, como um verdadeiro homem do talho. Cumprimentou-me, claro, e perguntou o que eu queria.
- Quero um chouriço para fazer ervilhas com ovos.
- Mas estes são de vaca.
- Pois, por isso, estava a perguntar se tinha de outra qualidade - Foi quando ele se virou para a rapariga que me tinha atendido:
- Achas que esta senhora tem cara de muçulmana?! Vai lá buscar os chouriços de porco.
Bem, tive pena da rapariga, mas ela também me disse que não havia outros... mas porquê?! Talvez tivesse preguiça de ir lá dentro... enfim, é daquelas coisas que não dá para entender muito bem.

Depois só me faltava comprar coentros. Coisa que até eu tenho dificuldade em distinguir, mas bora lá. Fui com a Gel até ao mercado. A primeira banca tem molhinhos miseráveis de coentros a 10 meticais. Ainda escolhi o menos amarelado. Queria o outro todo verdinho, mas esse era salsa...
Já em casa, estive a explicar à Gel como se faz as ervilhas com ovos. Preparámos os ingredientes necessários e depois foi-se juntando. Só acrescentei foi demasiada água, mas estava saboroso.

No primeiro dia terminámos de ver o filme "Only Lovers Left Alive". Mais um de vampiros. Achei-o demasiado parado e com pouca história. A vantagem é ter alguns bons actores. Questiono-me se gostaria de viver eternamente... Há a possibilidade de morrer com uma estaca de madeira no coração. Mas... não poderia comer nem beber todas as delícias que o mundo me oferece agora, não poderia apanhar banhos de sol na praia, só poderia viver à noite e sempre com receio de ser descoberta... não seria uma seca?!


No segundo dia não vimos filme mas comemos bolo de chocolate que eu fiz esta tarde.

Monday, March 23, 2015

Dia 194 - 16 Fevereiro - ZUMBA

Que dia tão produtivo!
Saí bem cedo de casa. Fui direitinha ao notário tratar do que me faltava. Estava mais cheio do que qualquer outra altura em que lá estive. Mas devo ter demorado o mesmo tempo. Estão cerca de 7 pessoas sentadas atrás de diversas secretárias, que estão atrás do balcão. Depois anda um em pé a chamar pelas pessoas e mais uns quantos que não sei precisar a deambular lá por dentro. A uma paga-se o serviço e entregam-se os documentos. Essa passa os documentos a outro colega e eles ali andam a pular como que "de nenúfar em nenúfar" até estarem numa pequena pilha e serem transportados até ao selo branco. Daí passam para as mãos do que chama por nós e ouvimos o nosso nome. Mas os documentos não chegam todos de uma vez. Ou sabes o que entregaste e esperas ou vais embora e deixas algum esquecido. O melhor de tudo?! É que nem é preciso mostrar os documentos originais! Só é necessário entregar a cópia e é logo autenticada, cada folha por 5 meticais.

Bem, tive de andar bastante hoje. Passei pelo local da formação para levantar o certificado e segui para tratar da documentação necessária. Na volta, já sem pressas, passei por uma mercearia de um chinês e comprei guloseimas. Já há algum tempo que me estava a apetecer comer alcaçuz ou, em inglês "licorice". Eu mostro...


Não é tarde nem é cedo. Comprei um pacote disto, chocolates e um pacote de oreos. Estou a precisar de açúcar, desesperadamente, como um vampiro de sangue!
Já em casa, almocei com o JG e fiquei a descansar o corpo desta manhã atribulada. É porque, cada dia a tratar disto são 6km que faço, debaixo de um sol abrasador e com um calor que me faz transpirar como se tivesse saído do duche sem ver uma toalha...

Estava nervosa mas fui fazer a minha primeira aula de zumba a convite da Lua. A Lua é a minha nova amiga que conheci nos cursos que fiz e com quem me dei sempre muito bem. Por um lado estou entusiasmada porque até gosto da coisa. Por outro, sinto-me nervosa porque sei que não vou conseguir acompanhar a aula por falta de treino. Enfim, mas eu quero ir! E fui. "Roubei" uma das t-shirts do JG, porque são mais largas e confortáveis, levei uma toalha média e uma garrafa de água. Estou pronta, vamos a isso!

Estava animada. Eu gosto disto! Portei-me melhor do que esperava e aguentei a aula toda. Acompanhar os passos é, obviamente, mais complicado, mas não estive mal. No final da aula a Lua apresentou-me à professora, com quem troquei logo contacto também. E viemos andando todas na galhofa. É já noite e está um pouco de frio, ainda mais nesta zona perto do mar.
Descemos as escadas e, mesmo nos últimos dois degraus... nem sei explicar bem como... pus mal o pé e perdi a força na perna e... bem, não há forma mais simpática de dizer a coisa... esbardalhei-me escada abaixo e só parei no chão! Claro que, por dentro eu ria-me à gargalhada...


Mas, por fora, estava super envergonhada e só queria sair dali! Did this really happen?! Todas pararam de falar, ficaram em silêncio e depois só me perguntavam se eu estava bem. Eu levantei-me num pulo só, compus-me e saí do local onde caí. Numa de "se eu sair deste plano faz de conta que nunca aconteceu". Acho que é automático... Eu ria-me mas não queria dar uma de histérica, por isso, fui contida até ao carro. Estou muito bem de saúde, foi mesmo só a vergonha do momento porque, por dentro, estou que nem posso para rir à gargalhada. E o pior, sei que elas também deveriam estar prontas a rebentar!
Em casa não me contive e tive mesmo que rir, ainda mais a escrever isto... tive um ataque de riso! Por isso, amigos, quando caírem à minha frente e eu, em vez de vos ajudar, me rir à gargalhada, é perfeitamente normal! Não é por maldade, é como o meu corpo reage no automático... Quando me recompuser eu ajudo...

E não, não comi tudo num dia! Hoje só comi meio pacote de alcaçuz. Nem toquei no resto!

Friday, March 20, 2015

Dia 193 - 15 Fevereiro - Pós Valentines Day

É fim-de-semana, a festa continua!
Fomos almoçar aos libaneses mais uma vez e, desta vez, tivemos a companhia de um conhecido nosso que, como nós, vive actualmente por terras africanas. Comemos uma pizza Regina e, para rematar, optei por comer um gelado e não podia ter escolhido melhor! Qual não foi o meu espanto, quando perguntei ao rapaz pelos sabores:
- Temos morango, chocolate, mistura...
- Mistura?!
- Sim, mistura de morango, chocolate e baunilha, numa só bola.
- É isso mesmo! Uma bola de mistura.

Não tardou a chegar uma taça azulinha destas, com uma bola de mistura, mas que equivale a duas! Deliciei-me e, tenho a certeza, que vou sonhar mais vezes com isto! E sabem que mais?! É só mais 10mt que um café no MT! Não bebo mais café aqui!


Depois disso voltámos para casa e deixámos que o dia de ontem se prolongasse por hoje! Com as parvoeiras de um e as parvoeiras do outro passamos a dia a rir que nem uns parvos!
Ontem ainda houve uma situação caricata que acabei por não vos contar. Aqui qualquer carro pode ter uma frase, uma expressão qualquer, à escolha, seja carro particular ou chapa. Vimos um carro que dizia "Bull Cheat"... Nem vou explicar... quem entende inglês percebe a piada da coisa. O pior é que não tenho a certeza se é escrito de propósito ou não!

Thursday, March 19, 2015

Dia 192 - 14 Fevereiro - Dia dos Amigos!... ou será dos Namorados?!... ou será Carnaval?!



Não levantámos cedo. Mas sabíamos que queríamos fazer alguma coisa diferente. E já se tinha falado em irmos ao Catembe. Então vamos ao Catembe!
Saímos de casa um pouco apressados para podermos aproveitar ao máximo o dia. No passeio, mesmo por baixo da nossa casa há algumas galinhas, das traseiras, que se aventuram e passam o dia a chafurdar na terra das árvores. Quando passámos uma delas assustou-se de tal forma que parecia um espanador do pó stressado! E eu assustei-me porque não a vi antes! Foram milésimos de segundos até eu gozar comigo própria daquela situação caricata. Mas também não havia muito tempo, temos de apanhar o chapa. A esta hora não vão muito cheios, há que aproveitar.

Na rua vê-se muita gente a vender flores por causa do dia de hoje. Além de flores, tudo o que tenha corações, o que seja vermelho ou rosa. É um dia mais vivido que o Natal! Dentro do chapa fiz adeus a uma menina que olhou para nós como se fossemos ETs! Como que "algo não está certo ali" mas, ainda assim, acenou de volta. Passado pouco tempo já sorria.

Já perto do porto, fomos a pé até chegarmos e apanharmos o Mapapai, o barco mais pequeno que faz lembrar os que fazem a travessia e vão para o Farol e restantes ilhas. Bem, este também nos levou ao Farol... mas é outro... Eu transpirava lá dentro como nunca antes visto. Parecia que estava dentro da sauna e ainda assim era pouco. Toda a minha pele brilha e se transforma em água.

Quando saímos, estava um pouco mais fresco, ainda assim, nada que refrescasse muito. Depois de atravessar o pontão o caminho passa a ser pela areia e, até chegar à beira-mar, temos de atravessar uns poucos metros em areia solta, como em qualquer praia. Mas esses "poucos metros" transformam-se em longas e distantes milhas quando um nadinha de areia nos queima os pés por estar tão quente. E não, não estamos descalços! Vamos de chinelos, até porque todo aqueles espaço está imundo! Cheio de lixo, de vidros partidos, sacos de plástico, embalagens cortadas... enfim, parece uma lixeira.
Só acalma quando metemos os pés dentro de água! Até parece que faz "fssssss"! É um alívio imediato. A verdade é que, por muito (que não é mesmo quase nada) que se sinta uma leve brisa, mal dá para nos sentirmos frescos! Sentimo-nos a derreter desta forma


Almoçámos no Farol e lá ficámos a derreter e a ver os barcos a passar. Pedi uma garrafa de 1,5l bem fresca mas... bem, havia tempo de a beber e, no final, já estava morna. Parecia eu que estava a beber uma cerveja!
A vista daqui é muito gira. Conseguimos ver os prédios e localizar algumas zonas. Apesar de haver muitos prédios altos, Maputo tem também muitas zonas verdes. Cá, de longe, a vantagem é que não vemos o lixo que a cidade tem! Ainda parece mais bonita.




A primeira página do menu. Ficámo-nos pelos camarões e as lulas fritas. Nem apeteceu mais nada. Ficámos saciados, só queríamos era mais líquidos!


Lá ao fundo, um cruzeiro que contrasta com a pobreza que aqui se vive e se respira...


A volta foi um pouco mais atribulada. Ainda na praia veio um rapaz de conversa connosco até à ponte. Ele até estava entretido a jogar à bola mas, quando nós dois passámos (dois molungos), ele deve ter-nos visto como dois cifrões ambulantes. Eu só estava à espera de quando ele iria pedir alguma coisa... Estava muito animado, de conversa sobre futebol... yada yada yada... mas quando chegámos à ponte:
- Boss, tou à pidir 10 meticais... vim até aqui, a fazer companhia...
Claro que nos rimos e dissemos que não tínhamos dinheiro. Mas a lata, a cara-de-pau deste pessoal... é impressionante! E, são estas pequenas situações, que me enervam. Fora da cidade tenho a ideia que não acontece tanto, mas aqui, é tão... nem sei bem como adjectivar estas situações porque são deprimentes, melgas, cara-de-pau... tem uma certa piada no início, mas depois tira-nos do sério. A mim tira!
Ficámos desorientados de tal forma que atravessámos a ponte sem comprar os bilhetes, mas a pensar que podiam ser comprados no próprio barco. Nada! Assim que chegámos tivemos de voltar para trás e comprar os bilhetes na bilheteira.
A fotografia abaixo foi tirada já perto de chegar ao final da ponte e podemos avistar o batelão (amarelo) e o mapapai (azul).


Como tivemos de voltar para trás fomos quase os primeiros a entrar. Estávamos a observar o cruzeiro que ali está estagnado a fazer inveja num país de pessoas pobres. É impossível ficar indiferente a tanto luxo!

Ainda o nosso barco não tinha atracado e estava a dar a volta ao batelão e eu comecei a observar como as pessoas viajam naquele barco tão grande. Leva carros e pessoas. As pessoas podem ir numa zona sem tecto ou lá dentro. Eu pensava que não era possível ir lá dentro. Aliás, nós já viajámos ali, mas fomos na zona dos carros como a maioria das pessoas, achávamos nós. Confesso que fiquei impressionada com a quantidade de gente que seguia naquele "Titanic". O espaço fechado tem poucas janelas e essas são redondas, pouco maiores que uma cabeça. Vê-se cabeças por todas as aberturas possíveis e imaginárias. Parecem sardinhas em lata! Estava tão cheio que nos fez lembrar, imediatamente, os comboios carregados de judeus, no tempo da Segunda Guerra Mundial, dos campos de concentração nazi... A diferença?! As pessoas aqui tinham sorrisos nos rostos.

Pouco depois, um senhor que seguia connosco no mapapai exclamou:
- Olha ali peixe tão grande!
- Peixe?! Ah, são golfinhos!
- É, um peixe grande... São dois!
- São golfinhos, men...


Vimos mesmo golfinhos! YUPIIIII

Para sair do porto parecia uma coisa do outro mundo. Havia gente que nunca mais acabava. Tinham fechado os portões de entrada dos carros e saída de multidões. Vimo-nos aflitos para sair. Tivemos mesmo de empurrar as pessoas, caso contrário ficávamos ali até amanhã!

Na volta para casa, entrámos no chapa de novo. Ia quase vazio... até começar a encher! Sentámos os dois lá atrás, no último banco, onde estava já uma rapariga. Numa das paragens entrou tanta gente que passámos a ser 4 atrás, 4 à nossa frente, mais outros tantos, uns sentados e outros em pé, dobrados, claro. À frente, seguiam mais dois e o condutor. Era mais ou menos isto...


Comecei a sentir algo idêntico a claustrofobia... Tirem-me deste filme... Mas fui, calminha, sugadita, sem entrar em pânico... Olhava pela janela e convencia-me que podia fugir dali se aquela coisa tivesse um acidente... Enfim, chegámos são e salvos!

Estamos completamente transpirados! Parece que entrámos no banho, vestidos e nos pusemos a assar! A roupa cola e custa a despir. Fui direitinha para o banho. Só liguei a torneira da água fria e, mesmo assim, saía quente! Parece estar a uns 21º. Só ao sair do banho é que refresca um pouco, em frente ao ar condicionado, mas nada que se pareça com isto...


Foi só, ao chegar a casa, que a minha mãe me diz "Feliz Carnaval". Ah é Carnaval?! Nem me dei conta disso... Então, se hoje me mascarasse, seria de maçaroca de milho...



Foi ao jantar que tivemos a impressão de ver um tímido relâmpago lá fora, mas logo a seguir tirámos a dúvida porque ouvimos um trovão, como se alguém andasse a arrastar móveis no piso de cima. Depois disso continuámos a ver alguns relâmpagos mas não mais trovões. Abrimos a janela e sente-se um bafo quente e húmido, acompanhado de ventania que deixa adivinhar uma breve tempestade daquelas... Não demorou a cair chuva. Começam umas pingas bebés e rapidamente crescem e se transformam em pingões, como que aqueles homens que gostam de ir ao ginásio toda a vida! Não, it's not "raining men"! São só pingas muito grossas, ?!

Vimos o filme "Babadook". Meh... não tem grande assunto. Parece mais um filme de terror para crianças! Assim como o "Champomi" está para as bebidas alcoólicas de celebração.


Resumo do dia: Fomos almoçar à praia, com uma vista privilegiada sobre a cidade de Maputo, num local exótico com uma abundante e rica vida selvagem. Tivemos direito a passeio à beira-mar e de lancha com a companhia de golfinhos. E à noite ainda houve espectáculo audio-visual e cinema! Querem melhor programa para um Dia dos Namorados?!

Wednesday, March 18, 2015

Dia 191 - 13 Fevereiro - Sexta-Feira 13

O dia, para mim, começou no MT. Sexta-feira anima qualquer pessoa em qualquer parte do mundo e, por isso, hoje havia logo muita gente bem-disposta! Comecei por ver um dos nossos amigos e reparar no calor que ele devia sentir por estar vestido com uma camisa preta num dia tão "caloreado" como este!
- Já reparaste que hoje estou todo vestido de preto?
- Já. Porquê? Vais a algum funeral? Com este calor...
- Então eu vou-te explicar... hoje é sexta-feira... e é dia 13. Portanto é Sexta-Feira 13! E numa Sexta-Feira 13 as pessoas têm medo de se cruzar com um...?
- ... Gato preto?!... Ah! O que tu não fazes para te chamarem de gato...
- hehehehehehe
Não se aprende nada aqui...

À noite, depois do jantar, fomos beber um copo e, quando chegámos a casa, antes de estacionar, encontrámos um bicho estranho com uns 10cm de comprimento. Na altura, por ser já noite, não conseguimos tirar fotografias mas era muito parecido com estes...


Pois... são horrorosos! Chamam-se "water bugs", neste caso, "giant water bugs". Em português encontramos como "baratas do mar" ou "escorpiões do mar". Podem ser encontrados perto de piscinas aqui em África... Acho que dá para imaginar como reagi...


O JG já chegou a ver outros bichos estranhos que, felizmente, ainda não tive o (des)prazer de me cruzar com eles. Desde formigas laranja ou vermelhas do tamanho de dedos mindinhos, formigas voadoras, vespas com o dobro do tamanho a que estamos habituados, lagartos do tamanho de iguanas, borboletas do tamanho de um palmo... enfim, o Mundo é grande e as espécies são aos milhares!

Tuesday, March 17, 2015

Dias 188, 189 & 190 - 10, 11 & 12 Fevereiro - Papelada, papelada e mais papelada

Em cada um destes dias fiz 5km só para tratar da papelada. 2,5km só ida, 5km ida e volta. Em nenhum dos dias fiz o caminho igual. Conheci caminhos novos, edifícios antigos, uns mais bem conservados que outros. Zonas mais calmas e outras mais agitadas. Passei por inúmeras bancas de frutas e verduras. Estava a preparar-me para tirar uma fotografia a um dos edifícios mais emblemáticos da cidade quando, este rapaz, me pediu para lhe tirar uma fotografia.
- Mãe, tira a mim, tira a mim! Banana é muito boom!
Adorou! Estava super animado!


Depois tirei ao edifício: Vila Algarve. É uma pena que esteja tão degradada e seja, hoje em dia, habitação de sem-abrigo. Mas, se algum dia, alguém pegasse neste edifício, podia fazer deste espaço um autêntico palacete! É linda!


Todos os dias tenho o privilégio de falar com a minha mãe e matar algumas saudades. Como os meus bebés não falam e a minha comunicação com eles é muito à base das festinhas, abraços e beijinhos, a coisa aqui complica um bocado. Mas o Skype ajuda. Hoje, assim do nada, a minha mãe desatou a rir à gargalhada e virou a câmara para eu ver o que se passava... e deparámo-nos com este lindo cenário!


Não é que não haja outras caminhas, o que não falta ali são caminhas, mas este ano resolveram disputar aquela! Enquanto um já lá estava, embrulhadinho na manta, no outro achou que a manta era um bom spot! Transformaram uma única caminha num beliche!

Como passaram vários dias e a parte burocrática da coisa não é para aqui chamada, vimos alguns filmes. Um deles foi o "Taken 3". Porreirito e tal. Não achei nada de mal e achei até que estava com os padrões um pouco baixos tendo em conta que o actor principal é o Liam Neeson. Mas, ainda assim, dei o desconto já que eram apenas alguns pormenores. Mas se este é o 3, ainda há o 1 e o 2! E, se a experiência melhora, tenho algum receio de ver os anteriores...


No dia seguinte tinha alguma pressa para voltar das burocracias e, por isso apanhei um Chapa 10! O porquê do nome não faço ideia. Mas é como que um mini bus, é mais espaçoso, menos claustrofóbico e o mesmo preço dos outros: 7mt. O caminho que quero fazer não é muito longo, mas ainda devo poupar 1,5km. O problema é ser sempre (ou quase) ao sol. Faz com que chegue, onde quer que seja, completamente desapresentável! Nem sei como algumas pessoas conseguem andar de camisas pretas e de manga comprida! Ou de fato com gravata e casaco! Que sufoco!


É claro que as nossas sessões de cinema, em tantos dias, não se podiam ficar por um só! Desta vez vimos o "Playing It Cool". Filme de "domingo à tarde" ou "de gaja", uma comédia romântica que, em inglês eu descreveria apenas como sendo "amusing".

Monday, March 16, 2015

Dias 186 & 187 - 8 & 9 Fevereiro - Tarefas coordenadas

Hoje fomos almoçar aos libaneses e comemos pizza. Para nosso espanto (ou nem tanto), a comida é muito boa e os preços são muito mais em conta! A comida é halal... significa que é "Muslim friendly", por isso, a pizza não tem chouriço nem outros enchouriçados. Então encontrei uma espécie de "chouriço esponjoso" cor-de-rosa, chama-se poloni. Acho que deve ser como se faz a soja: deve ser vendido seco (tipo comida seca para cão) e depois fica banhado em água para absorver e ficar molinho, amigos dos dentes. E o resultado é esta esponja com sabor. Não é mau, é diferente do que estamos habituados. Mas também não sei dizer quais os ingredientes que a esponja tem... O resto da pizza é o que outras pizzas, no resto do mundo, têm: queijo derretido, azeitonas, pimento verde, pimento vermelho, cogumelos, molho de tomate, frango e massa, claro.


Mais à tarde fomos aos Jardim dos Professores comer um gelado. Por coincidência encontrámos um casal amigo, os Guivs, com o seu pequenino e juntámo-nos a eles de conversa. Não tardou a chegar um casal amigo deles, também com uma filha. A tarde foi bem passada e nunca faltou conversa. O bom tempo ajuda a estes momentos.

Ao final da noite a Julie ainda não tinha aparecido mas não deixei de lhe arranjar um pratinho de peixe... e, no dia seguinte, o pratinho estava vazio! OBA!!! Embora não a tivesse visto, ao menos sei que veio visitar-nos.

Por, de vez em quando, a Gel ter alguma dificuldade nas tarefas a desempenhar e, para a ajudar mesmo sem estar em casa, reservei o dia para preparar algo. Peguei em folhas brancas A4 e cortei-as em pequenos papelinhos, de 5cm por 3cm mais ou menos, para formar um bloco. Depois furei apenas um canto e juntei-as numa argola de chaves. Ordenadamente, anotei todas as tarefas a realizar durante o dia, todas as tarefas semanais e as que deve fazer de vez em quando. Bem, ela adorou!

Friday, March 13, 2015

Dia 185 - 7 Fevereiro - Novas Amizades

A nossa única varandinha proporciona-nos o direito de recebermos visitas de vez em quando. Hoje tivemos um pequeno encontro, durante a tarde. Fomos cuscados por um corpinho dócil mas receoso, observados por uns olhinhos meigos e brilhantes como berlindes, ouvidos por umas orelhinhas pontiagudas... Foi pouco tempo mas deve ter sido o pequeno encontro que faltava para o que aconteceu depois à noite...

Já tínhamos jantado e hoje até comemos umas costeletas, pelo que sobra sempre osso e gordura da carne. Era bem tenrinha. Já lavei a loiça e tudo, deixei a cozinha arrumada e limpa. Estava, por isso, já nos meus aposentos. Recostada, apoiada em almofadas e aconchegada com o portátil em cima de mim. Estava de conversa com a minha mãe por mensagem, mas a porta do quarto estava aberta, ainda estamos todos acordados. A sogrinha foi à varanda e viu a nossa visita debruçada sobre o grelhador ainda quentinho e cheiroso com restinhos de carne fumegante... Fugiu quando ouviu barulho. Teve medo. Mas a sogrinha chamou com jeitinho, ofereceu os ossos com bocados de carne que estavam ainda agarrados. Jogou pela grade e aquele pequeno ser aceitou. Foi quando eu cheguei... Estava a coisa mais doce a tentar roer os bocados mais molinhos! Aquele corpinho frágil estava do lá de fora, ainda com alguma receio, mas com uma vontade gigante de entrar... Eu chamava e a bichana roçava-se na grade, miava, espreitava pelo buraco da entrada (por onde ela entra e sai). Não demorou muito a render-se à vontade de ambas. Ganhou coragem e pulou a cerca!

Veio direitinha à minha mão pedir festinhas, veio roçar o pescoço nos meus dedos. Veio esfregar aquele corpinho frágil nos meus braços... Como é que posso resistir a tanto charme?! Enrolou-se nas pernas da sogrinha, rendeu-se a nós e nós a ela! Quando vinha cá dentro ela tentava entrar comigo. Miava a chamar por mim, fixava a porta e esperava, pacientemente. Uma das vezes que demorei um minuto, em vez de escassos segundos, ela miou, deitou-se de barriguinha rente ao chão, a fixar por baixo da porta - por onde consegue ver os nossos pés - com as orelhas muito atentas. Assim que me aproximei, vi as orelhinhas em riste! E quando espreitei a chamar por ela, olhou para cima e, assim que me viu, miou e afastou-se para que eu pudesse abrir a porta! Não há nada melhor que amor tão puro como este!

O JG diz, com uma certa razão, para não me afeiçoar... mas não resisto, é mais forte que eu! Se, por alguma qualquer infelicidade (esperemos que muito remota ou, preferencialmente, inexistente), eu tiver que sofrer por algo que lhe aconteça... sei que voltaria a fazer tudo igual porque, sempre que tive oportunidade, conheci e amei aquele ser, mesmo que por breves instantes! E não há nada que me faça arrepender disso!







Já escolhi o nome... Julie!

Thursday, March 12, 2015

Dia 184 - 6 Fevereiro - Fim do Curso

Hoje foi o último dia do curso, também é uma sexta-feira, início de fim-de-semana e nada melhor que ir jantar ao MT. Há alguns dias que vejo este felino a coleccionar festas e mimos por aqui, mas pensei que fosse passageiro.



O "Patas de Farinha", como lhe chamo, anda a conquistar o seu espaço à revelia do Meia Dose. Ao contrário do Meia que não nos liga nenhuma, o Patas de Farinha cutuca-nos com marradinhas. Como podem ver pelas fotografias este gatinho todo preto tem todas as suas patinhas brancas, daí o óbvio nome. Faz-me lembrar a história dos Sete Cabritinhos.
Se eu deixar a minha mão pendurada na cadeira, ele vai marrar para me pedir festas. Se eu começar a fazer uma festinha, é certo que ele não sai dali tão cedo. E isto é o meu entretém durante horas. Cheguei a tê-lo ao meu colo e, ao contrário de muitos outros gatos, este vem cheirar-me a cara como se me quisesse dar beijos! Não foge, quer é mais.
Quanto a comidas o Patas não tem qualquer pudor em chegar à tigela do Meia e servir-se como se para ele fosse servido aquele belo manjar. O pior é quando o Meia o topa e aparece ali... dá-lhe com cada corrida... Mas este vem ter com as pessoas, quer festinhas, quer atenção e não ignora um chamamento. Por isso, já foi adoptado por todos!

Meia, tu põe-te a pau...

Wednesday, March 11, 2015

Dia 183 - 5 Fevereiro - Tantos aniversários!


Comecei o dia com esta bela imagem a desejar-me um "Bom Dia"! Estas boas e verdadeiras amizades que se fazem ao longo da vida são o que de melhor se pode ter! Aprendi que estas flores se chamam frangipani ou, em inglês plumeria. São maravilhosamente lindas e há por diversos locais da cidade. São super suaves ao toque, frágeis mas, simplesmente, fantásticas!

Hoje, especialmente, estão 40º! E a noite foi de chuva bem forte, com direito a espectáculo de trovoadão e relâmpagos! Literalmente, o barulho das luzes! Mas choveu tanto ou tão pouco que acabaram as nuvens e amanheceu um belo dia de sol e calor (a mais)!

A seguir ao almoço fui para o MT onde fiquei algum tempo. Já passava das 14h quando fui ao notário para autenticar uma cópia de documentos. Mais papelada a tratar. Para espanto meu, não demorei muito. Mas, quando cheguei a casa, transpirava em bica e atirei-me para debaixo de banho frio! Sem medo, abri a torneira... está quente! Nem assim dá para refrescar.

A tarde foi de curso, mais um dia a aprender e a partilhar experiências. De vez em quando ouvimos mais umas trovoadas, cai uma chuva... mas o calor teima em ficar e nem a chuva vem refrescar.

Tuesday, March 10, 2015

Dias 181 & 182 - 3 & 4 Fevereiro - Incongruências

Dia 3 foi feriado, Dia dos Heróis Moçambicanos.
Foi um dia calmo, sem grandes planos. Fomos tomar café ao MT onde estivemos a ler um livro de código. Existem algumas alterações na condução. Não só o lado em que se conduz, mas existem sinais diferentes. Uma das regras cá é que não se pode andar de carro com o braço fora da janela. O que não faz sentido já que as pessoas são transportadas nas "my Loves" e muitos dos carros andam a cair aos bocados. Enfim... E depois no livro aparecem imagens de sinalizações com o braço de fora! Há dias em que estes disparates têm mais piada, mas quando queremos ver um futuro aqui deixamos de achar piada ao que só faz sentido para o que dá jeito... e mais não digo...

Tenho-me esquecido de falar sobre algo que vi no outro dia... Passámos por um local onde se podia ler "Serviço Nacional de Salvação Pública". Percebi o que era pelo aspecto mas o nome não é tão sonante assim... Era um quartel de bombeiros! Será que custa muito chamar simplesmente de bombeiros?! Numa urgência será que chamam pelo "Serviço Nacional de Salvação Pública"?! Porque segundos faz muita diferença no que toca a salvar vidas! Enfim...

Monday, March 09, 2015

Dias 179 & 180 - 1 & 2 Fevereiro - O Tempo está a Mudar

Notam-se algumas nuvens no céu, deve haver alguma tempestade a chegar ou a passar pelas redondezas. Sabemos que no norte do país há cheias e muitas povoações isoladas. A energia falha e pode deixar de funcionar por dias e semanas seguidas. Sem acesso a notícias e tudo o resto, essas povoações são, muitas vezes, avisadas por som de tambores. Mesmo os telemóveis, a certa altura deixam de ter carga e não têm como os carregar... Não me consigo imaginar numa situação dessas... já não...
Já nos habituámos a que a água falte ao final do dia, de vez em quando. Mas durante a noite também não usamos tanto, e temos sempre uns garrafões em caso de emergência. Mas quando nos falta a electricidade é que atrapalha tudo, seja de dia ou de noite. Não há luz, não há água porque a bomba de água é eléctrica, não há televisão, não há internet, não há ar-condicionado, não há repelente de mosquitos na tomada, não há música, não se pode cozinhar no forno, não se pode aquecer o prato no microondas, os alimentos descongelam no frigorífico e congelador, os telemóveis e portáteis só têm a restante bateria... é desesperante!

Num destes dias dei a minha primeira consulta paga. É entusiasmante! Sei que a seguir a esta muitas se seguirão. Há outra motivação, há outro ânimo. E com um espaço próprio posso começar por aqui a minha carreira. Por cá a experiência é outra. Uma cultura diferente, infelizmente há mais casos com maior gravidade, situações, por vezes, de difícil compreensão porque a mentalidade é diferente. E isso dá-me uma bagagem majestosa. Sei que, um dia que me vá embora daqui, tenho à minha frente um portão aberto com oportunidades devido a esta experiência que me vai destacar de outros. Mas vai sempre um dia de cada vez.

À noite, a preparar o peixe grelhado para o jantar, queimei-me na grelha. Por isso, agora estou a escrever com o dedo espichado porque me dói mesmo muito. De vez em quando molho-o numa tigela com água e gelo que coloquei propositadamente ao meu lado. Mas assim que tiro e começa a deixar de sentir o fresquinho, começa a doer como se fosse explodir por dentro!

Friday, March 06, 2015

Dia 178 - 31 Janeiro - Em modo de Sábado

Não era muito cedo quando acordámos mas ainda faltavam umas horas para o almoço, por isso, fomos tomar um cafezinho até ao sítio do costume para fazer tempo. O início da tarde foi de compras até ao tejadilho e a tarde foi para relaxar... Fomos beber um chá ao Dhow.








Fazem um chá fresquinho muito bom. Pelo que nos apercebemos, em conjunto, os ingredientes devem ser:
  • Água com gás
  • Mel
  • Limão, sumo e rodela
  • Gengibre
  • Gelo em cubinhos
  • Umas folhinhas de Hortelã
Super simples! É doce, fresco e muito IN.
Quando saímos do Dhow ainda passámos no shopping para fazer umas compras rápidas no Mr Price, uma cadeia de lojas provenientes da África do Sul. São do género da C&A. Têm um pouco de tudo. e a qualidade não é má, tendo em conta que, hoje em dia, tudo é descartável e de pouca duração.