FAROL I

Toca o despertador e tenho sono... mas é para ir ao Farol... BORA!

Salto da cama e começo a preparar tudo. Ao contrário do que tenho feito sempre ao longo da vida, não preparei nada... se for vou, se não for não vou... sem horários, sem rotinas, só eu... sinto-me livre!

Para que não fiquem dúvidas, estou mesmo na Ilha do Farol!

Uns quilometrozinhos a andar e encontrámos um bom spot... sossegado, com vizinhos lá longe, aguinha já ali, solinho, sombra... Perfect!

Depois vieram os "avecs"! E acabou o sossego!

Bem sei que todos os anos o Algarve sofre uma invasão abundante vinda de Portugal (porque isto não é considerado Portugal, é o Reino dos Algarves), de Espanha, de França e de todo o resto do mundo! Mas há certas alturas em que se nota uma maior afluência de uns ou de outros... e este ano noto que há muitos "avecs"! Não tenho nada contra franceses, nem espanhóis, nem ninguém de parte nenhuma, mas na praia notam-se logo as pessoas que não são cá do Reino. Não sei porquê, têm um gostinho especial em estender a toalha na nossa sombra! Devem ter frio e gostam de ficar encostadinhos! Andei "bué da bué" para estar tranquila, não tinha vizinhos num espaço de 50 passos ou assim, e vêm estes cromos, passam pela multidão, andam que se fartam por areias virgens e espetam as quinhentas sombrinhas a dois passos da minha! Sim, quando chegam é para ficar o dia e montam ali o estendal como se fossem ficar por um mês! Levam 1h até se despirem e começarem a desfrutar e já sabemos que vão embora 1h antes...

Enfim, respirei fundo, insultei-os internamente e fechei os olhos... O mar fala mais alto!

Por acaso não, eles gritam a conversar, têm tudo embrulhadinho em sacos barulhentos, não largam os telemóveis... até os oiço a comer e beber! Acho que é pior que sala de cinema! Mas ainda bem que não dura o tempo todo, eventualmente "arróxam"... e vá lá, não há crianças!

Acho que também dormi. O que é certo é que apanhei uma corzinha típica do farol. Embora um pouco vermelha, estava protegida e fui pondo protector o tempo todo. Estava um ventinho, não desconfortável, mas suficiente para não ter tanto calor para ir à água. Além de que não havia muita gente dentro de água... significa que estaria gelada. O que é discutível com certeza e muito, mas mesmo muito, relativo. Mas sim, não fui à água durante o dia inteiro. Não me importo, assim tenho de lá voltar para "picar o ponto"!

Praia, Praia e mais Praia! - Armona

Já que cá estou e em pleno mês de Agosto há que aproveitar para aproveitar os bons dias de sol e calor, com preferência pelos dias mais calmos, os que não fazem parte dos fins-de-semana... Por isso, aqui ficam algumas das viagens que fiz enquanto cá estive, até para "meter nojo" a mim mesma quando estiver bem longe...

Quarta-feira, dia excelente para uma ida à praia. Levantei-me bem cedinho e fui apanhar o barco a Olhão. Comprei o bilhete e aqui vou eu a caminho da Armona.

Depois de chegar dei de caras com a maré tão baixa que quase dava para ir até Marrocos!

Fui andando até encontrar o meu spot! Não fui muito para cima para estar mais perto da água, mas sabia que ela havia de vir ter comigo. A meio do dia já estava a poucos metros da água, ao final do dia estava deitada na toalha com os pés de molho...

Dia sossegado mas não estou satisfeita. Eu queria ir para o Farol! E ainda vou!

Um verão com férias obrigatórias!

Ok...

É oficial! Estou em Portugal! Sinto-me um bocado acabada de cair do céu...

Tenho papelada para tratar mas também tenho um verão com sol, calor e muita praia!

Os aspectos negativos de estar de volta são estar longe do JG e o dinheiro que é necessário gastar... tudo o resto é muito bom! Ainda por cima tive a minha avó cá em casa por duas semanas. Aproveitámos para passear muito e muito e muito... nunca é suficiente mas deu para matar as saudades e ver aquele sorriso lindo a quem devo a existência de parte da minha família! Adoro-te Vovó Donalda!

O problema de viver no Algarve é ter uma enchente de patos-bravos por todo o lado, por isso, opto por só ir à praia nos dias de semana... oh que chatice, são mais do que os dias do fim-de-semana... Só mesmo "pa meter nojo"! hehehe

Vou tratar de papelada, vou aproveitar o sol, aproveitar os amigos e a famelga!

Tenho já a viagem de volta marcada mas não o digo por aqui.

Portanto, quem quiser, o meu número continua o mesmo e a net sempre disponível ;)

Até lá, podem encontrar-me por aqui...

Beijos!!!!

Dia 42: 4 & 5 Agosto 2014 - O meu pontapé de saída

E hoje vou, forçosamente, embora... Sinto um misto de tristeza, alegria, frustração, entusiasmo, injustiça... é uma viagem agridoce! Ainda tenho muita coisa até apanhar o avião, serão 42 dias muito bem contados já que cheguei de noite e é de noite que vou partir de novo.

Tenho tudo organizado e programado para ir embora. Apanhei a roupa, lavei a loiça, varri a casa, arrumei o que estava fora do sítio, deixei a mala à porta assim como o lixo para deitar fora. Embora o vôo seja às 22h45 programei para sair de casa às 19h. Tenho de lá estar 2h antes do vôo e não tenho mais nada para fazer em casa, vou andando para o aeroporto, diminuindo as probabilidades de ficar em terra.

Pouco antes das 19h já o Sr. L me estava a ligar:

- Minina, quândo quiser déxér o L xtá qui baixo!

Oh que fofo! Já tinha tudo pronto, foi mesmo só pegar no saco do lixo, na mala gigante, pousar no patamar, apagar as luzes, fechar a porta, trancar a porta, fechar a grade, por o cadeado e fechar o cadeado... e agora, descer às escuras! Foi um trinta e um... Abracei a mala, pendurei o lixo no dedo mindinho e fui apalpando terreno, descendo com um andar muito parecido a este...

Só não caí... por pouco! 

Quando, finalmente, cheguei lá abaixo abri a porta e estava lá o Gom.

- Boa noite Gom!

- Bôa nôite... Minina!!! Dixeu sózinha!!! Divia têr chámádo o Gom! Êu ia buscar á mála lácima!

Sorri feita parva... realmente não "xalembrei" disso! Depois de tanto esforço... ora bolas! Que burra! Falta "d'alembradura"!

Ele abraçou o malão e já o ia carregar mas pedi-lhe para ir deitar o lixo fora e que eu levava a mala, afinal tinha rodinhas. Mas não me deixou! Pegou no saco do lixo, foi por num canto, voltou a abraçar a mala e só a largou dentro da mala do táxi! Que posso eu querer mais?!

O Sr. L estava fora do carro a ajudar a por a mala e até me abriu a porta para entrar no taxi. Senti-me uma verdadeira princesa e muito protegida!

Olhei para a janela de casa como que a despedir-me... em breve estarei de volta.

Dali fomos directos para o aeroporto mas estava um "tráfico" (não dizem tráfego) infernal. Já parados à porta do aeroporto tirei o dinheiro para pagar mas não tinha trocado e o Sr. L não tinha troco. Propus ir por a mala a enrolar com o plástico de forma a ter trocos. Fui e estavam mesmo ali à porta, mas ainda assim não tinha uma nota de 50 mt. Não me importo, com um sorriso no rosto disse ao Sr. L que logo me fazia um desconto de 50 mt. Ele disse-me para o lembrar se ele se esquecesse! Depois despediu-se de mim... abraçou-me várias vezes, pediu-me para voltar rápido, mas para voltar mesmo: "pêssôas cómu á minina fáiz muita fálta!"... parecia mesmo comovido. Eu fiquei!

Quando voltei a entrar no aeroporto estavam poucas pessoas à entrada do terminal mas eu conhecia uma delas... era a nutricionista que conheci na Casa do Gaiato!!! Que fixe! Vou ter companhia!

E fizemos muita companhia uma à outra! Parecia que nos conhecíamos há anos! Havia sempre conversa e só não houve mais porque estávamos as duas mesmo muito cansadas. Fez-me lembrar aquelas noitadas que tinha com as minhas amigas até começar a ver o sol nascer... a verdade é que só chegámos a Lisboa pelas 10h da manhã... Ficam umas fotografias da viagem...

A neve na janela...

O sol a nascer lá ao fundo...

A sensação de chegar a Lisboa é: parece que nunca saí de cá! Adaptei-me num piscar de olhos e ainda achei tudo tão limpinho... a verdade é que as nossas opiniões diferem consoante as perspectivas... e como!

Dia 41: 3 Agosto 2014 - Almoço de Rainha

Hoje acordei sozinha... Mas com uma chamada do meu amor! Tinha acabado de chegar ao hotel, ligou para me descansar, está tudo bem. Levou a noite inteira em viagem. Bem sei que não vai sozinho... mas vai sem mim e eu aqui sem ele... Ai como custa!

Tinha posto despertador, mas acordei bem antes de tocar e sem quaisquer problemas. Fui logo despachar-me, apanhar a roupa e por outra máquina a lavar. Quero deixar tudo pronto e bonitinho.

Fui tratar do mata-bixo e sentei-me na sala a vegetar...

Estava já combinado e fui almoçar com amigos. Fomos à zona fina da cidade comer... de tudo! Era self-service. Havia uma mesa de entradas, outra de saladas, outra de comidas quentes, outra só com leitão e, a minha perdição, a mesa das guloseimas!

 

 

Como é óbvio não vou publicar a mesa dos doces porquedepois ficam com água na boca, por isso, fica a parte mais saudável da coisa! Posso dizer que comi um pouco de (quase) tudo, enchi o pandulho e ainda tive direito a uma caipirinha! Foi um almoço muito agradável! Até me esqueci que estava em África.

Depois ainda fui à loja ajudar com a publicidade para a próxima semana. Deu para me despedir de alguns dos colegas que lá estavam a trabalhar. Sempre gostei de me dar bem com as pessoas, especialmente colegas, aqui não vai ser diferente. Acho que, se é para passar 8 horas por dia com as mesmas pessoas, então que essas 8 horas sejam agradáveis, bem dispostas e bem aproveitadas! Vou ter saudades.

Cheguei a casa já bem tarde e não consegui fazer o que queria. Mas enfim, amanhã talvez consiga...

Como estou sozinha faço o que me apetece! Jantei "tárdji", vi filmecos na televisão e à hora que devia estar deitada eu estava aqui...

Dia 40: 2 Agosto 2014 - Lágrimas e mais lágrimas

Hoje madrugámos porque o meu JG foi embora bem cedinho... e como chorei... Custou-me horrores!

Embora ainda tivesse uma hora e meia até me levantar, escusado será dizer que não dormi mais nada. À hora de levantar, fui despachar-me e fui trabalhar.

Quando cheguei a casa já a tarde ia meio e passei o resto do dia enfiada em casa, com neura...

Estive pela net e houve quem me tentasse animar mas não dei muito por isso...

Aproveitei para por roupa a lavar. Meti tudo dentro da máquina só que a dita cuja não queria trabalhar de novo! Raios, que hoje não "toupataturar"! Percebi que estava a fazer mau contacto e fui procurar uma chave de fendas. Peguei no adaptador e desmontei-o. Apertei os parafusos de dentro e voltei a montar. Não sei se teve medo de mim, mas funcionou. Começou a lavar. Mais ou menos uma hora depois fui estender a roupa. Tenho de tratar disto antes de ir embora.

Aproveitei para fazer logo a mala e organizar tudo para não deixar as coisas todas para o fim e não ter tempo para nada. Já sei que não vou ter tempo na mesma... Fiz a cama com lençóis lavadinhos, troquei as toalhas, lavei a loiça... mesmo fadinha do lar. Tenho de me entreter...

Mais para a noite a coisa melhorou porque falei com o JG e depois com a família pelo Skype. Mas ainda assim fui deitar-me numa cama vazia...

Dia 39: 1 Agosto 2014 - Despedida inevitável

Acordámos ainda tensos por causa dos acontecimentos. Temos coisas a tratar e temos de as resolver hoje. Fomos para a loja, mas rapidamente saímos porque não tinhamos cabeça para mais nada e fomos tentar saber para quando e por quanto estavam os bilhetes de volta. Eu vou ter mesmo de ir embora e cedo porque o meu visto termina daqui a uns dias, e os vôos não são todos os dias. A informação que nos deram no balcão da companhia aérea em nada tinha a ver com a o que tinham dito ao telefone. Entrámos em parafuso e começaram a chover telefonemas nossos para as mamãs! Após umas longas horas de espera, a coisa resolveu-se... mas é drástica!

Trabalhámos o dia todo, mesmo até ao final e ainda mais! Chegámos a casa estoirados. Este stress deixa-nos de rastos... O JG ainda tinha de arrumar as coisas dele. Tadinho, até aqui tem sido incansável para me deixar bem entregue. Não descansou um segundo até ter a certeza que eu ficava bem, sem problemas pendentes para resolver. Mesmo sabendo que não dependia dele. É o meu anjo da guarda! Obrigada meu amor!

Como amanhã ele vai embora saímos de casa para um jantarinho de despedida. Queriamos ir ao Wine Lovers mas é preciso reservar pois não tinham mesas disponíveis. Então fomos ao Meia Tigela, que até acabou por ser mais agradável. Tinha um DJ a pôr música e estava uma noite agradável, já que estávamos na esplanada. Havia muita gente a jantar lá mas estavamos muito concentrados um no outro... revoltados com toda esta situação, embora aliviados por termos conseguido arranjar uma solução, mas mesmo muito tristes...

Dia 38: 31 Julho 2014 - Frustração & Tristeza

Hoje tentámos, por tudo, arranjar uma solução que não me obrigasse a ir a Portugal já que não andamos a nadar em moedinhas como o Tio Patinhas. Horas de desespero, de angústia, de esperança mas não havia outra solução! Antes de almoço já sabíamos que eu teria de voltar eventualmente.

Não vimos mais nada à frente, só pensámos nisto, não havia cabeça para pensar em mais nada... Será possível que não há outra solução?! É... não há mesmo!

À tarde fomos trabalhar e à noite viémos para casa tentar pensar com a cabeça mais fresca...

Estamos mesmo desorientados!

Dia 25: 18 Julho 2014 - A manhã oculta

Esta manhã tinha ficado oculta porque ainda não estava nada certo. Mas agora já posso contar...

Levantei-me um pouco mais tarde porque tinha uma entrevista às 10h numa Instituição muito conceituada. Já tinha enviado e-mail e foram muito rápidos a responder-me e a marcar uma entrevista. Mas quando é difícil arranjar emprego na área o desempregado desconfia... Estava confiante, embora nervosa, de que iria correr bem.

Liguei ao taxi (o Sr. LG, já nosso conhecido, um senhor mesmo muito querido e simpático) para me vir apanhar às 10h40. Despachei-me e desci mesmo na hora. Quando cheguei lá abaixo o taxi ainda não estava e foi quando me lembrei da conversa ao telefone... naquela das "vinte para as dez" disse "10h40", porque não podia dizer como pensei e troquei-me toda! Que raio de hora pa ser burra! Liguei logo de novo a pedir desculpa e a suplicar para ele estar ali... agora! Disse que vinha, claro, mas a cidade é grande... ai desespero!

Cheguei a tempo, mesmo em cima da hora! UFA!

Entrou com o taxi pelo estacionamento para me deixar mesmo à porta da recepção. Como tinha pressa e o Sr. LG me vinha buscar depois da entrevista disse que eu logo pagava tudo junto quando me viesse buscar. Agradeci, como é óbvio! Saí a correr e cheguei à recepção.

Quando cheguei dirigi-me a uma das recepcionistas:

- Bom dia, tenho uma entrevista com a Drª MS marcada para agora, as 10h.

- Bom dia. É á primêira veiz? - com esta bloqueei um pouco...

- ... hum... sim...?!

- Entãm pódi sentár - Fiquei mesmo a batar mal mas percebi que a senhora pensava que era uma consulta... fez-se luz!

- Desculpe, mas não é uma consulta, é uma entrevista de trabalho!

- Aaaahh! Então á minha culega vái êncáminhar à sinhóra! - e virou-se para uma colega que tinha acabado de entrar - vai ajudar a senhora, tem uma entrevista de trabalho!

Segui-a até ao final do corredor, onde perguntou onde estava a Drª, como tinha ido para o gabinete, um colega veio comigo até a encontrar-mos a meio do caminho, já no jardim do instituto. Comecei a sorrir para a Drª.

- És a Ana Rita? - com um sorriso muito doce

- Sim, sou Drª.

- Vem comigo minha querida.

Daqui para a frente foi uma entrevista normal, avisou-me que teria de tratar da papelada para a equivalência, o que é normal, se estava disponível para um trabalho a tempo inteiro, de 8h e perguntou quanto eu pensava receber, entre muitas outras coisas.

Fomos então ter com a  directora do instituto para nos conhecermos mas, como estava um pouco ocupada, e para aproveitar o tempo, a Drª MS foi mostrar-me todo o instituto por dentro. Passámos por todas as portas e corredores, vi todos os pacientes, conheci alguns médicos e até os blocos operatórios vi! LINDO!

- Estás pronta para dar apoio às famílias dos utentes, internados ou não? Para trabalhar com crianças, adultos e idosos?

- Estou pronta para tudo!

Quando voltávamos para o gabinete da directora já ela estava perto do carro. A Drª MS ainda se apressou um pouco para chegar mais rápido e disse apenas:

- Drª, esta é a Ana Rita!

- Muito prazer Drª! - disse a directora para mim! Aqui já sou Drª!!! BIG upgrade! E ainda nem tenho o emprego!

Falaram um pouco sobre mim, sobre a entrevista, porque o CV já tinha sido visto pelo que percebi. E a directora só disse:

- Então faz o parecer positivo e passa a pasta para a ANG, dos recursos humanos - e piscou-me o olho! Apetece-me fazer o pino... mas não sei se acredito...

Fomos então ter com a ANG que encontrámos a meio caminho. Voltou só a dizer que eu era a Ana Rita. Só pelo nome já sabiam quem eu era, o meu CV deve ter andado a vaguear pelo instituto... Cumprimentou-me muito bem, afinal foi com ela que troquei todos os e-mails. E ficou a saber que só faltaria o parecer da Drª MS para me enviar a informação toda por e-mail com os valores, horários e quando teria de me apresentar. Salientou que estar disponível a tempo inteiro era muito bom. Terei de tratar da papelada mas posso ir tratando e exercendo ao mesmo tempo... Para já fico à experiência por 6 meses e depois... Sei lá o depois, interessa-me o AGORA!!!

E pronto... fiquei um pouco nas núvens, sem querer tirar muito os pés do chão...

Dia 36: 29 Julho 2014 - Guloseimas

O dia de hoje começou bem mais calminho, já não era eu a abrir a loja...

Tive de vir almoçar sozinha a casa, ainda apanhei salpicos de chuvinha... aqui a chuva de inverno tem sido daquela do início do verão em Portugal, chateia porque molha os óculos e suja os carros. Até estava fresquinho e tinha o casaco vestido, mas depois de andar um pouco a pé sinto-me um forno...

Deu para descansar um pouco do stress, relaxar os músculos, estender-me no sofá... Quando saí de casa lembrei-me que estava a seguir os passos normais daqui... mas que, até há bem pouco tempo, não eram tão normais assim... Abres a porta, abres o cadeado, abres a grade e empurras, fechas e trancas a porta, fechas a grade e o cadeado... Como é que já acho isto normal?!

Quando desço tenho, mesmo à porta, uma carrada de banquinhas de vendedores, uns de artigos de telemóveis (carregadores, capas...), outros de verduras, mas no chão, estendidas sobre um lençol, temos o rastafari, e há um senhor, a quem falamos sempre que tem uma banquinha com guloseimas... e eu ando a namorar uns bombons há uns dias... slpet slept! Claro que fui lá direitinha. Até porque lembro-me destes bombons dos livros da Turma da Mónica! E em Portugal não era muito fácil encontrá.los... não sei se alguma vez tinha comprado disto...

6 meticais depois, meti-o na mala e fui embora toda contente!
A tarde vai passando e o tempo melhora um pouco. Mas sair do trabalho já de noite é coisa que nunca gostei. Saí do inverno para vir para o inverno... onde está o meu verão?!
Já em casa fomos tratar da casa. Já que temos de ser "faxinêros" então que seja antes de me "lagartar" no sofá! Lavar loiça, apanhar, dobrar e arrumar roupa, fazer jantar... já estou cansada e só estou a descrever. Começámos a jantar antes das 19h30... e lagartámos. Só aqui comi o bombom!!! NHAM NHAM

Fui fazer um cházinho que costumamos fazer antes de nos deitarmos. Costuma ser roibos já que é característico da África do Sul e muito apreciado por estas bandas com um cheirinho de leite. O que adoça a coisa pode ser mel, que usamos em casa, ou açúcar castanho. Aqui o açúcar parece a nossa areia da praia, não necessariamente a mais fininha. É mesmo mascavado, granulado, escuro. É muito bom. Curiosamente, o mais refinado é também o mais caro. O leite gordo é o mais apropriado pois até há quem ponha natas em vez de leite.
Quando abri o frigorífico para por o leite lembrei-me de outra coisa de que não falei ainda. Conhecem as lichias? Provavelmente conhecem melhor como a fruta nos restaurantes chineses. Bolinhas brancas, com uma ligeira casquinha por dentro, também comestível, embebidas num sumo conservante por serem enlatadas... Aqui existem lichias nas árvores! Mas a época delas é no natal, portanto ainda não as vejo, mas existe o sumo de lichi! É Santal e vende-se como água! É bommmmm! Nem sou muito de refrigerantes mas aquele suminho sabe mesmo bem.
Mas agora para a noite fresquinha sabe mesmo bem é um chá bem quentinho... já está a dar um filminho de terror, só faltam mesmo as pipocas e a trovoada lá fora! Já agora, se não for pedir muito, um sofá mais confortável...

Este sofá parte-me toda! Literalmente! Olhando para ele até parece confortável, tem bom aspecto, almofadinhas fofas... sento-me e parece uma rocha! É curto de fundo e de dois lugares onde, duas pessoas sentadas ficam encostadas uma à outra. Mas é bem melhor que nada. Só que eu sou daquelas pessoas que gosta de "ninhos"... e namoro uns pufs que vendem aqui no meio da estrada. Sim, vemdem pufs no meio da estrada... Mas aqui não quero comprar muitas dessas coisas. Alugar ao máximo, comprar o mínimo, é o meu lema.

Agora estou a escrever aqui e a ver anúncios no tal canal experimental. Vou ouvindo nomes do Top Moz Moçmbicando e anotando para vos mostrar. Os de hoje, que não são repetidos, são: Manigga Izzo; Fi Lady. Isto não tem mesmo ponta por onde se lhe pegue. Mas como não existe muito mais ou melhor... A parte boa é que tenho mais tempo para me dedicar à escrita.

Amanhã talvez haja novidades... ;)

Dia 35: 28 Julho 2014 - Fim do ramadão e as aventuras do alarme e da máquina da roupa...

Hoje fui abrir a porta da loja. Era eu a única responsável para atender clientes e orientar as coisas. E abrir a porta implica chegar a horas para não por o trabalho dos outros em causa. Saí de casa já perto da hora e só a meio do caminho consegui arranjar um tchopela. Bora! Cheguei a horas! Muito bom!

A seguir abri e tirei o cadeado da entrada, abri o cadeado da grade da porta e a seguir tinha de abrir a porta e desligar o alarme. Já me tinha sido explicado, mas foi só uma vez à pressa, confesso que não esperava, tão cedo, ter de fazer aquilo. Enchi-me de coragem e abri a porta. Tenho um minuto para calar esta coisa... qual quê!!!! Tirem-me deste filme... Afinal havia ali mais botões do que eu me lembrava, fixei um código errado e aquela porra começou a apitar!!! Lá fora estavam os empregados todos a gozar o prato, o telefone tocou e pensei que fosse a patroa, não... muito pior... era uma cliente que não se calava! E o alarme continuava no seu melhor... muito discreto! A meio da chamada toca o outro telefone, era da empresa dos alarmes. Eu disse quem era mas não lhes tinha sido dito que estaria ali outra pessoa. Muito calmos disseram-me para ligar à patroa. Achei-os muito simpáticos até. A seguir tive de desligar a cliente, despachei-a porque, enquanto estava ao telefone com os dos alarmes, a mulher não se calava do outro lado, parecia uma galinha aflita! Liguei e consegui desligar aquilo. Finalmente! A seguir ligam dos alarmes de novo:

- Já conseguiu desligar o alarme? - mais sabem eles...

- Sim, já, obrigada.

- Como se chama?

- Ana Rita.

- Ok.

Achei que já estaria tudo bem... Mas a seguir liga a patroa de novo:

- Disseste que te chamavas Ana Rita?

- Sim, é o meu nome.

- É que antes eu só lhes tinha dito que eras Rita e eles já iam a caminho daí de armas na mão.

- !!!!!!

Os "simpáticos" estavam a ver se me caçavam! Senti-me um coelho quase a cair na armadilha! Ainda tenho o coração nas mãos e sinto-me a ensurdecer...

O resto do dia foi muito tranquilo. Até porque hoje foi dia do fim do ramadão, EId al Fitr. Muitas lojas estiveram hoje fechadas, muita gente faltou hoje embora o dia seja de tolerância para os muçulmanos. Era quase um feriado. Só que aqui, sendo um país com uma diversidade tão grande de religiões, crenças e culturas, os feriados religiosos, tornam-se em dias de tolerância por parte do estado. Amanhã já devo ouvir as rezas de novo. Há mesquitas por todo o lado e com as colunas de som ouve-se em toda a cidade, mas a ideia é mesmo essa. Bem podem celebrar, andavam a passar uma fominha... hoje foi o dia de comerem até não caber mais!

Vamos tratar do jantar e da roupa.

Voltei só mesmo para vos contar a "aventura" da roupa hoje... Pusemos a roupa a lavar na máquina e fomos fazer o jantar. Aqui as casas têm um depósito e uma bomba de água, a água também é contadinha, assim como a água quente porque temos um termo-acumulador. Como temos a bomba de água, e essa coisa faz um barulhão a trabalhar, eu estranhei que estivesse tão silenciosa enquanto lava a roupa. Fui espreitar... Estava desligada! A estúpida! Quem mandou?! Carreguei nos botões e nada. Fui ver a tomada que é com ligação de África do Sul, assim:

Mas tem um adaptador só que a tomada já queimou, eventualmente (mas mesmo, não é como a casa), e o adaptador estava cmpletamente derretido e não fazia contacto...

Bonito... agora tenho a máquina cheia de roupa, detergente e água, não a posso lavar nem a posso deixar ali até amanhã para comprar um adaptador novo.

- JG pergunta ao vizinho se tem um adaptador que nos empreste.

Ele foi lá... o vizinho mora mesmo ao nosso lado, porta mesmo a dois passos da nossa, falamos da varanda, mas ele não estava na varanda... Só para terem noção da distância a que ele está... É já ali! Não, não é... Só para bater à porta do vizinho é preciso: destrancar a porta, abrir a porta, abrir a porra do cadeado, abrir a merda da grade... para depois bater à porta do vizinho e ele não está! Ninguém merece... Solução: espremer a roupa com as "manitas" e por na corda, amanhã, com novo adaptador, salta pa dentro da máquina de novo!

Beijos e abraços

Dia 34: 27 Julho 2014 - Casa do Gaiato

Hoje levantámos cedo para ir à Casa do Gaiato!

Quando saímos de casa os meus sentidos multiplicam-se, especialmente estes olhos curiosos!

Fui tirando algumas fotografias a caminho já que não passo por aqui todos os dias.

Desta ponte vi pessoas a lavar a roupa lá no rio.

Quando estávamos a chegar, ainda lá longe, o JG disse que estávamos a chegar e eu olhei à volta... não havia absolutamente nada! Olhei melhor e havia algo lá bem ao fundo que parecia ser o tecto da igreja. Só pode ser aquilo! E era! Mas ainda demorámos uns bons 20 minutos a lá chegar.

O caminho depois da estrada é só em terra batida até uma barreira com segurança. O senhor veio cumprimentar-nos e perguntar quem éramos. Só depois de ligar para a Irmã e confirmar que nos esperavam é que nos deixou entrar. Acho muito bem.
Assim que passámos a barreira havia uma "piscininha"para lavar as rodas dos carros de forma a não levantar muito pó. Tipo aquelas nas piscinas para lavarmos os pés antes de entrarmos na piscina grande. Mas que grande ideia!

Até chegarmos lá acima passámos por campos de cultura, pela fazenda, pela criação de animais, pelas oficinas... eles aqui aprendem um pouco de tudo o que é óptimo. Acabam por sair daqui mais bem preparados que muito boa gente.

Quando chegámos estava já a decorrer o baptizado de 16 meninos, então fomos logo para a igreja. Nunca vi uma igreja tão linda! Tão simples, mas tão completa! Por ser assim tão ampla dá aquela sensação de que acolhe todas e quaisquer pessoas... que é precisamente o que defendem lá: todas as pessoas são muito bem vindas! Não houve momento em que não me sentisse lá bem. Mesmo na igreja, já que, embora seja baptizada, não sou praticante e defendo que a religião é algo sagrado sim, mas para cada um. É algo íntimo, pessoal e intransmissível! Não gosto de coisas impostas e a religião, a fé, a crença são sentimentos, opções de vida ou formas de estar que só cada um saberá orientar em si. É o meu ponto de vista. Claro que respeito todas as outras formas de ver e sentir as coisas.

(fotografia retiradada internet, não foi do dia que falo)

A celebração foi fenomenal. Trouxe o livrinho com as músicas todas, algumas em changana que cantarolei com eles. Embora tenha a parte mais séria, com a transmissão de valores e a parte mentora do conceito de baptismo, também dançaram, cantaram, vibraram... aquilo sim, é uma celebração! Adorei cada momento!
Logo quando chegámos o F veio ter connosco. O F é um gaiato, um dos mais velhos, que já não vive lá, mas que continua a ir aos fins-de-semana por sentir-se em casa. Ali tem a família dele, os irmãos, e foi o primeiro amigo do JG quando chegou a Moçambique. O F tem a nossa idade, minha e do JG, e é um rapaz impecável. Faz tudo o que pode para ajudar nas actividades, está sempre atento e foi o nosso anfitrião durante a celebração e toda a tarde, bem como a Irmã Quitéria. Quando estavam já a sair da igreja a Irmã Quitéria veio cumprimentar-nos. Já conhecia o JG e conheceu-me a mim. Foi um amor de pessoa, nem eu esperava outra coisa.

Depois do baptismo fomos convidados a almoçar com eles, bem como todas as pessoas que ali estavam! Lá está: todos são bem-vindos! E sentaram-nos na mesa com o Padre José Maria, a Irmã Quitéria e alguns dos professores dos meninos, com as suas esposas.
Nesta altura já tínhamos perguntado várias vezes por onde andaria o afilhado que a sogrinha apoia, o MP. Ele tem 4 aninhos. Tinha saído a meio do baptizado por estar com soninho. Mas já viria almoçar. Estávamos já sentados quando ele entrou no refeitório. É um miúdo lindo, como todos eles, mas é um pouco mais calmo que a maioria. Tem uma carinha mimosa, é muito tímido no início. Veio cumprimentar-nos e foi almoçar.
No final do almoço começámos a ver alguns miúdos mais novos a virem à mesa e encostarem-se às pessoas que estavam sentadas. Depois percebi... vinham despedir-se porque iam dormir a sesta e, ao encostarem-se, estavam a pedir um beijo de despedida, de permissão, de bênção... Começavam na Irmã, encostavam-se e esperavam um beijinho. Depois passavam à pessoa da cadeira do lado e faziam o mesmo. Até que veio o MP e ficou connosco um pouco mais de tempo. Todos os miúdos adoram o JG e ele adora crianças! É lindo de os ver...

Foram os gaiatos que fizeram o almoço, que serviram as mesas, que limparam e arrumaram tudo, deixando tudo pronto para o jantar. Ainda ficámos à conversa por bastante tempo até toda a gente se levantar. Quando saímos do refeitório já o MP tinha dormido a sesta e vinha ter connosco de novo. Um irmão dele, dos mais velhos, veio acompanhar-nos e mostrar o recinto, mas antes passámos pelo carro pois tínhamos trazido dois pares de sapatinhos para ele. Foi o irmão quem o sentou no carro e experimentou os sapatos. O MP estava radiante, embora fosse um sorriso contido, conseguia ler-se nos seus olhos que estava a adorar os sapatinhos novos!
Mostraram-nos todo o recinto, desde o refeitório onde almoçámos, a casa-mãe, onde vivem os mais novinhos, as casas 1, 2, 3, 4 e 5, consoante as idades, a escola, a igreja, a zona médica, onde têm consultas e ficam internados quando necessário. Têm tudo!
Os gaiatos são muito independentes, aprendem desde cedo a serem autónomos e a ajudarem-se mutuamente. Os mais velhos tratam dos mais novinhos, cuidam, protegem, amam... É mesmo muito bonito de se ver. Existe muito sentimento de entreajuda e protecção dos mais velhos pelos mais novos, um carinho entre todos. Sentem-se como irmãos e assim é pela vida fora já que, mesmo os mais velhos que já não vivem lá, voltam quase todos os fins-de-semana para ajudar no que podem e poder estar com os irmãos.

Adorei ter ido, adorei ter conhecido aqueles meninos e rapazes, a Irmã, o Sr. Padre, Adorei o recinto, adorei a igreja, adorei todo o conceito! Vou voltar! É uma promessa que faço!

Na volta demos boleia a três gaiatos que iam para Maputo, pois são mais velhos e não vivem já com os irmãos. Viemos o tempo todo de conversa. Já era de noite quando chegámos e vínhamos cansados, mas preenchidos por dentro.

À noite deu um concerto do Michael Jackson... que saudades! It makes me feel good! Adoro todas as suas músicas e mal consigo acreditar que já faz 5 anos que morreu... É dos poucos que admiro por ser tão profissional. Sabia dançar, sabia cantar, sabia compor... e juntava isso tudo na perfeição! Se havia coisas menos boas que fazia... não sei e tenho sérias dúvidas até que ponto o que se dizia e se acusava era verdade... Acho que a realidade nunca se saberá mas acredito que ele tinha realmente bom coração. Demonstrava-o nas letras, nas melodias, no entusiasmo, no parque de diversões que criou... acredito que ele quisesse dar a outras crianças o que ele nunca teve... e sim, acredito que há pessoas com bom coração!

Acredito também que nada acontece por acaso. Acredito que ter ido hoje à Casa do Gaiato e ver o concerto do Michael Jackson ao final do dia seja precisamente para compreender melhor o sentimento de "quero que tenhas o que eu não pude ter"! Porque é que o ser humano tem tendência para desconfiar das boas intenções e ter dificuldade em aceitar que existem boas pessoas?! Eu acredito! Chamem-me ingénua... nasci para aprender e melhorar a minha forma de estar a cada dia que passa. Se não acreditar nas coisas boas que a vida nos proporciona, como posso evoluir?!