Monday, June 30, 2014

A CHEGADA

Esta parte é terrível... O gigantorme tem de aterrar... eventualmente.
Começámos a baixar de altitude e começo a sentir todos os meus órgãos na cabeça! Começo a sentir o corpo quente, as mãos frias mas a suarem que nem umas malucas, sinto que os meus pés fazem parte do aparelho e estão colados ao chão, parece que, como os órgãos estão na cabeça, tudo o resto está cheio de ar e passo o tempo a soprar como se estivesse a parir! É, sem dúvida, a montanha-russa mais confortável, mas não deixa de ser uma montanha-russa... A sorte é que tenho os dois bancos só para mim e as figurinhas tristes são abafadas pela falta de visibilidade... acho eu! Queria lá saber disso naquela altura...

Ainda pus um daqueles mini-vídeos Zen para me ajudar a relaxar... mas, a certa altura, desligam mesmo tudo. Parece que gostam de nos fazer sofrer... “agora tens de assistir a tudo!”
Leva uma eternidade entre descer o que parecem ser degraus e que te faz um frio na barriga, o espreitares pela janela, já de noite cerrada, com umas luzinhas poucas lá fora, porque ainda nem estás ainda a sobrevoar a cidade, até sentires o chão. Ao sobrevoar Maputo, já se vê a cidade cheia de luzinhas, sentes algum conforto, apesar de não conheceres... ainda! Depois, vês a pista! E tudo o resto à volta é terra batida com ervinhas... Dá uma segurança daquelas que nem queres estar ali pra ver! Mas, que remédio...
Ok, chegou ao chão! Ainda dás uns pulinhos, sentes uma travagem como quando um carro se atravessa à tua frente, e outra e outra... e sentes que os teus pés estão a ajudar a travar cada vez mais, o que te dá um misto de sentimentos de segurança (como se alguma vez pudesses controlar isso) e de dever cumprido, porque ajudaste a parar o gigantorme... claro que sim! No final, resulta mesmo, ajuda-te a esquecer o medo e o nervosismo para te concentrares na coisa mais estapafúrdia de parar um avião com os teus próprios pés no lugar de mero passageiro...

Parou! Obrigada, meu Deus, obrigada, meu Anjo da Guarda pela protecção e segurança deste voo, por estar sã e salva!
Devemos ter ficado uns 15 minutos lá dentro até começarmos a sair, ainda para mais, eu estava lá ao fundo... Novamente a tripulação à porta:
- Bem-vinda a Maputo! Boa noite e obrigada! - Após a estafa da viagem e do trabalho, continuam com big smiles! Que profissionalismo!
Saímos pela manga e, ao pôr os pés em terra firme (sim, entrei com o pé direito), temos umas escadas em frente e, do lado direito, um corredor largo, quase às escuras, completamente vazio, com janelas de um lado e doutro... parecia uma cena de um filme de terror... daqueles hospitais frios e assombrados... bbbrrrrrrr
Claro que segues a “manada” e desces as escadas para a “civilização”. Como eu já tinha sido instruída pelo meu amorzão, sabia que tinha de preencher uma folhinha e ir para uma fila. Não havia nada que enganar: peguei numa folhinha cor-de-rosa - estavam espalhadas por todo o lado, até andavam a voar... saco de uma caneta e, já numa das filas (porque era tudo para o mesmo), preencho. Sabichonazinha...
Devo ter esperado uma bela meia hora na fila, aquilo parecia que não andava, que coisa tão lenta! Tanto à minha frente, como atrás de mim, estavam umas mulheres que não eram moçambicanas, mas que eram da cor dos nativos de Moçambique. E, às tantas, chega uma ao pé delas:
- O qui vócês tão áqui á fázer? Naum vês que ás prétas tão tódas alí dáquele ládo, náquéla fila?! Vámos embora!
- Á é?! Intão vámos!
Pegaram nas trouxas e bazaram “pá fila dás prétas”! Tavam mesmo no gozo pah! Foram a rir, todas contentes.

Fiquei reduzida à fila dos brancos com espanhóis atrás, sempre a reclamarem da lentidão. E eu devia parecer uma girafa porque, por trás do balcão onde esperávamos para ser atendidos (a fronteira), era o espaço onde se ia buscar as malas. Estavam os tapetes rolantes com as malas. E eu estava toda espichada a tentar ver as minhas.
Chegou a minha vez!
- Boa noite! - mostrei o passaporte, o bilhete e a folhinha cor-de-rosa.
- Boua nôiti... - (muito baixinho) – O indicador direito - (ainda mais baixinho)
- Desculpe?!
- Indicador direito! - a apontar para um detector de finger tips (raios, não me lembro do nome em português)
- Ah, sim, claro – pus o dedo
- Agora o isquerdo – sorri e troquei – Pódi passáar
- Obrigada!

Já tinha topado os meus chourições e fui direitinha buscar um carrinho. Nesta altura, veio a D. Maria Clara ter comigo. Para quem não sabe, a D. Maria Clara foi uma senhora que conheci em Faro quando fui levar as 4 vacinas.
Só a vi quando saía já da sala das vacinas, com as tirinhas dos pensos nos braços, à mostra. E esta senhora que aguardava a sua vez, assim que me viu:
- Ai coitadinha! 4 de uma vez!!! - saltou da cadeira e dirigiu-se a mim – Doeu, filha?! Ai coitadinha...
- Não! O melhor é não olhar, espreite pela janela. Passa num instante! – A última bem que doeu, mas não podia dar parte de fraca! Sabia lá eu que estava condenada a não conseguir mexer o braço esquerdo na semana seguinte...
Escusado será dizer que a conversa do “vou para Maputo” prolongou-se por irmos para o mesmo sítio. Disse-lhe onde iria trabalhar, o marido dela disse que tinha nascido lá e vivido até aos 40 e tais, mas que nunca mais queria voltar e, por isso, ela viria sozinha, mas que teria cá alguém, blá blá blá... Enfim, foi como conheci a D. Maria Clara.
- Olá, D. Maria Clara! Veio esperar-me ao aeroporto? - disse, na brincadeira – Ou só chegou hoje?
- Olá, Rita! - disse, a sorrir – Vim cá hoje porque me perderam uma mala e venho ver se chegou. Já vi a sua sogra, a D. Gina (G), e o seu marido, o João (JG), estão lá fora à sua espera!
- Boa! Obrigada! - Beijinhos e um até logo!

Já com o carrinho, fui sacar os meus chourições e daí para mais uma fila... Quero sair daqui! Tive de tirar os chourições novamente e colocar noutro tapete para passar no raio X. Mas porque é que não há um onde se possa pôr o carrinho e pronto?! Do outro lado da máquina, toca a pôr os chourições no carrinho de novo...
Nova etapa: estavam umas 3 ou 4 filinhas, tipo de supermercado, para revistarem tudo e eu pensei “A sério?! Vou mesmo ter de desenchouriçar isto?!”. Sorte ou destino... veio um polícia ter comigo:
- Boua nôiti! – (muito sorridente)... não sei se desconfie ou se alinhe... - O'xeus dócumentus, pour fávor.
- Boa noite! - (alinho!) - Está aqui o passaporte.
- Então istá tudo bêm? - sempre com um big smile
- Sim... - (com sorriso tímido)
- Máis digo “bêm” de sáúdi, si tá tudo bêm di sáúdi
- Ah isso sim, fora o nervosismo de aterrar, está tudo bem.
Resumindo, foi dando conversa na boa, perguntou se tinha coisas novas, o que tinha dentro das malas, confiou em mim e disse-me que poderia sair. OBAAAAAA!!!

Foi quando vi o JG e a G a sorrirem para mim, ainda do outro lado do vidro. Parecia eu que estava de quarentena. Vira à esquerda, em frente, mais esquerda e direita... ABRAÇÃO! Beijos e abraços e abraços e beijos. Larguei o carrinho e senti-me entregue!
Quando chegámos ao Júnior (o jipinho que anda sempre em “contra-mão”, como todos os outros, porque aqui conduz-se como em Inglaterra), fui surpreendida pelo “Boss” (tradução: moço, rapaz) mais LINDO do mundo, com um bouquet de 10 lindas rosas moçambicanas! Obrigada, meu amor! 



Entre nervosa, eufórica, cansada e a absorver muita informação... não sei definir bem o que sentia nesta altura... Era já noite cerrada quando cheguei e, 00h quando cheguei perto deles, aqui já é como se em Portugal fossem umas 3h... é tardíssimo, portanto. Embora o fuso horário seja como em Espanha, mais uma hora que em Portugal, aqui é normal levantar às 6/7h, começar a trabalhar às 8/9h, sair por volta das 17h, que já é quase noite, e deitar pelas 22h.

As primeiras impressões
Está tudo calmo, sem grande confusão no aeroporto, que é pequeno, nada comparado com o de Lisboa e mais pequeno que o de Faro. Fez-me lembrar talvez o da Ilha Terceira, nos Açores mas não é tão pequeno. Não dei tanto pelo cheiro como o João, mas vê-se que a terra é vermelha, mesmo como se vê nos filmes. Parece até mais compacta e nutrida.
Já no Júnior para sair do aeroporto, o João ia em contra-mão e isto é o que me faz mais confusão. Passámos no guichet para pagar o estacionamento, ou melhor, para pagar para ir ao aeroporto. Notas e moedas estranhas... As notas são plastificadas e algumas têm uma bolinha transparente que dá até para espreitar. As moedas nem tanto, uma tem uma forma diferente, mas é estranho porque não as conheço.


Ao sair do aeroporto, o trânsito ao contrário faz-me confusão. Vou vendo as bermas com barracas com publicidades variadas, mas a que se vê mais é da Coca-Cola. Muito lixo por todo o lado. Embora a viagem de carro fosse um pouco longa e os meus olhos quisessem acompanhar as novidades, o meu cérebro estava cansadamente bloqueado...
Quando chegámos à rua, saímos do carro em frente à garagem (umas portas de madeira podre), e a Gina disse-me:
- É este o prédio. Estás a ver o 2º andar, aquela janela ali?! É a nossa casa!
- Ahaaam... ardeu?! - escusado será dizer que me gozaram!

Por uma questão de segurança e privacidade, daqui para a frente, não vou colocar nomes nem locais. Apenas coloco uma letra ou um conjunto de letras que identifiquem uma pessoa.

Pouco depois, apareceu o Gom, o porteiro da noite aqui no prédio. É um senhor desdentado, já com uma certa idade ou então muito estragadito, mas muito simpático, tímido e prestável. Aparece sempre que nos vê, para ajudar e, claro que não somos parvos, também para ver se lhe damos alguma coisa. Aqui é normal.
Apresentaram-me a ele:
- Rita, este senhor é o Gom. Gom, esta é a Rita – Disse a G
- A Rita é a minha mulher, Gom – disse prontamente o JG. É tão lindo!
Ele sorriu para mim, estendemos a mão para nos cumprimentarmos e eu dei-lhe dois beijinhos. O que achei normalíssimo. Mas, depois, fui gozada cá em casa por ter dado dois beijinhos ao Gom. Ora, vi-o a chegar-se e pensei que fosse isso, não se deve deixar uma pessoa pendurada. Afinal, o homem ia buscar as malas... Mas, na altura, não me apercebi de nada. Deixa lá, ele não se importou muito. E, embora só com um dente, farta-se de sorrir!
Pegou nas malas como se de plumas se tratassem, e aí vai ele até ao segundo andar! Uma de cada vez claro! Mas na boa! Eu já não podia com uma gata pelo rabo...

Subimos as escadas, reparei que cada andar tinha 2 portas e todas elas com grade, parece uma prisão, mas tem de ser. O nosso é um segundo andar, mas é penthouse!
Estávamos estoirados e fomos logo deitar, só tomei um banho antes, xixi, cama... Até amanhã!

Já cheguei, mamã! Já falámos :) Está tudo bem.
Sleep tight, Baby night!

Sunday, June 29, 2014

A VIAGEM – parte II

Ora aqui vou eu com o carrinho, os chouriços, o passaporte e o bilhete na mão, sem pensar muito no assunto. Entrei no aeroporto e estou por minha conta! Hora de ser uma mulherzinha!
Sigo a manada de gente que leva a casa às costas e sigo para o tapete rolante. O carrinho agarra tão bem ao tapete que, depois, não queria sair e estava a ver que seria atropelada pelos que vinham atrás! Tá-se bem...
Pelo que já conhecia, de quando fui levar o João ao aeroporto, segui logo para a fila dos check-in, que parece uma lagarta gigante composta por pessoas. Andamos ali a passear dum lado para o outro, até chegar a um balcão que, no início, estava a 5 passos...

Os meus Chourições!

Como já tinha feito o check-in online, a coisa foi rápida ao balcão, mas a rapariga que estava à minha frente... xassúis! Até tive de mudar de balcão. Daqui, fui ao balcão da TAP levantar aquilo a que tenho direito (DICA: mostras o bilhete no balcão da TAP e eles dizem o que podes escolher): uma revista cor-de-rosa, a LUX e o jornal Correio da Manhã! Toda contente, meti aquilo na mochila e só os voltei a ver já cá em casa e no dia seguinte...

Como ainda tinha tempo, fui comer alguns dos quitutes que a minha mãe galinha preparou para eu trazer. Enchi o pandulho até não poder mais e tive, obrigatoriamente e muito contra mim própria, que deitar o restante fora... ironia das ironias, venho para um país onde tanta gente passa fome e sou obrigada a deitar comida fora... que dor no coração!

Terminado o lanchinho, entrei para de onde não poderia voltar atrás e vi-me novamente metida numa gigante lagarta, mas esta em constante movimento e a passar sempre pelas mesmas pessoas. Até compreendo quando aquilo está cheio, mas quase vazio torna-se ridículo, cansativo e divertido! Fim da fila: hora de despir pos tabuleiros! Tudo o que tiveres nas mãos, nos bolsos, malas, casacos, écharpes, cintos, tudo o que tenha metal... bota no tabuleiro! E se dentro da mochila levas computador ou algum aparelho, tira pra fora. Ca chatos! Afinal para que serve o raio X?! Não é a visão do Super-Homem?!
No final da palhaçada, chegas a ver pessoas a pegarem nas coisas à pressa, descalças, descabeladas, com tudo nas mãos e com as calças a cair, escada acima porque estão a fazer a última chamada!
Arrumei calmamente as minhas coisas noutro local, subi e deparei-me com lojas por todo o lado! Um shopping! De onde veio isto tudo que nunca tinha visto antes?! O que é que eu fiz?! Fui aos testers dos perfumes! É coisa dji póoooobre, memo...

Bem no meio, havia então um salão (GIGANTORME) de espera, com lojas e cafés de lado e as televisões com as partidas dos aviões. O meu estava com atraso de 1h: 10h50. Ainda fui até bem lá ao fundo saber o que tinha de fazer a seguir e perguntei:
- Bom dia, para entrar para o avião passo por aqui?
- Bom dia! Sim, tem de passar a fronteira por aqui e depois segue então para o seu terminal. A que horas é o seu voo?
- Bem, era para as 9h50 mas está atrasado e aponta para as 10h50... para já!
- Então, basta vir para aqui pelas 9h30.
- E mesmo que eu passe já, depois não posso voltar aqui?
- Não aconselho, porque tem de ir dar uma grande volta... tem de ir por ali e depois passar lá por trás...
- Ah, ok ok... às 9h30, estou aqui então. Obrigada!

Dei meia volta e voltei ao “shopping”. Cansada como estava e com o carrego da mochila, sentei-me num banco que parecia ter íman... ali fiquei até às 9h30. E que bem que soube!
Estava num lugar estratégico: mesmo em frente às televisões com as partidas, para o caso de haver outro atraso, com um lugar de um lado e mesa do outro, para não ficar emparedada entre outros dois passageiros, e ainda estava virada para quem ia chegando. Muito espertinha das ideias...

Nestas alturas, é quando podemos olhar, com olhos de ver, o que se passa à nossa volta. Porque ali estão todas aquelas pessoas, milhares todos os dias, muito juntas, debaixo de um só tecto para, daqui a poucas horas, estarem em lugares tão opostos e com culturas e climas tão diferentes... De vez em quando, passavam umas de chinelinho de dedo, um calção quase cueca, muito leves e fresquinhas, a seguir passava outra de bota de cano alto com pelo, casaco de pelo... um autêntico Yeti!
Devido à altura em que foi o voo, em pleno Mundial do Brasil, também estiveram sentados nos bancos vizinhos (mesmo à minha frente) alemães com os equipamentos do Mundial. Não eram os jogadores, claro, mas parecia até que pertenciam a uma equipa de empinar a cerveja até caírem pro lado...
E tinham de estar presentes também os bifes! Uma família inteira: pai, mãe, filha de 6 anos e filho de 8. O pai nem o vi, mas teria de lá estar porque o miúdo disse entretanto “I'll ask dad... dad?”. A mãe estava ao meu lado, a filha entretida no banco de trás e o filho apareceu com um tablet aberto nos jogos, tinha 3.
- Mom, let me play that game I like...
- No, I'm not installing another one, play those you have.
- But why? Why? Why? I want to!
- Play one of those.
- But I want to! Why not? Why? Why?
- Play one of those.
- But why? Why? Why? I'll ask dad... dad?
Puto mimado! Farta de ouvir aquilo, fui andando para a fronteira.

Não estava quase ninguém e não esperei mais de 1 minuto. Entreguei o passaporte:
- Ora então a Farense vai para onde? - Diz o “fronteiriço” com um big smile
- Maputo – respondi com um sorriso de “afinal, como sabes que sou de Faro?!”
- Faça favor, senhorita!
Duh... o passaporte é um chibo! Sou tão noob (tradução: novata) nestas andanças...
Estavam três senhoras com mais idade já alapadas numa bela carripana que lhes ia dar boleia até ao terminal e o resto do people a fazer quilómetros. Doem-me os ombros do peso da mochila...
Mas foi só até chegar ao tapete rolante onde andas e até ficas zonza porque só estás a andar mas, com o tapete, vais a uma velocidade estonteante! Loucura! Como tinha tempo, ainda vim para trás só para passar lá de novo! Hehe!
Aí há umas janelas gigantormes! Onde se vê a pista e onde estava um avião a piscar-me o olho (porque no lugar do piloto estava uma cortina ou o que era). Ainda fui até ao terminal, só para ter a certeza onde ia entrar e voltei para a janela, que era já ali. Ainda pensei que aquele fosse o meu, mas este ia para Brasília e era o terminal 42. O meu terminal era o 42A, mesmo ao lado. Então, fiquei bem centrada à frente do bicharoco, só com a janela gigantorme a separar-nos.



É como olhar para um navio bem de perto... são construídos pelo Homem e são gigantormes (ainda mais que a janela). Mete respeito, já que vou colocar a minha vida dependente de uma máquina, muito embora sejam os pilotos a comandar. É algo fora do nosso controlo, é... algo de aventureiro e assustador... quase como andar de carrossel só que este é bem mais caro e tem outro propósito.
Ainda devo ter aqui ficado uma hora até chamarem finalmente ao terminal.
Quando lá tinha ido, as pessoas estavam todas sentadas, nada de filas, tudo muito calmo. Mas agora até parecia um sítio diferente. Coloquei-me numa fila que já me pareceu grandinha, mas apercebi-me que era a fila da 1ª classe e dirigi-me à outra... fui andando, andando, andando... não pode ser!!! Umas 5 vezes mais de fila! Oh well... uma coisa tão grande e ainda não está na hora... não se perde sem mais nem menos. Já não era a última, portanto, eu ia embarcar na mesma. Esperar aqui ou esperar lá dentro, é igual. O maior problema era mesmo a mochila às costas.

Pouco a seguir a mim, estava uma senhora com um pequeno trolley. Estava na fila e não estava... Para quem não sabe, primeiro despacham a fila da 1ª classe e só depois a de 2ª e 3ª e 4ª e... só há 1ª e o resto. Então, estavam a terminar de despachar a da 1ª e essa tipa vai toda lampeira para o fim da 1ª classe. Sim, claro que entrou. Mas está muito mal! A p***! Se soubesse, também tinha lá ficado, oras! Mas com a minha sorte, mandavam-me para o final da outra... raios!
Estava sempre ao telefone com a minha mamã e ela acompanhou todas estas aventuras até a bateria nos cortar o pio. Ainda tentei ligar de novo o telemóvel, mas estava mesmo mal porque já nem ligava. Estava mesmo quase a chegar a minha vez. Apresentei o bilhete, o passaporte e buts!

Dali, descemos as escadas para apanhar o autocarro que nos iria levar ao abiôn! Quando cheguei ao final das escadas, estava um autocarro que parecia os chapas de Maputo. Só para terem uma ideia, os chapas são umas carrinhas assim



onde nem consegues ver quantas pessoas vão lá dentro. Muitos, até andam de porta aberta porque não fecha, de tão cheio que vai! Eles metem-se lá dentro como peças de Tetris!
O autocarro tinha 3 portas e já não havia espaço a não ser que empurrasse as pessoas. Ora... virei-me para o segurança que estava ali:
- Vem outro?
- Sim, vem. Pode passar cá para dentro e aguardar.
Lá fora, estava vento e entrei para o edifício de novo. O senhor até colocou uma baía para ninguém bazar. O pessoal estava muito sossegado... ou então eu estava já muito zen...
Devemos ter esperado uns 15 minutos até chegar outro. Fui logo a primeira e sentei no primeiro lugar perto da porta. Sem dar por isso, aquilo estava outra vez a abarrotar e ficaram mais pessoas à espera do próximo. Bolas! Ia mesmo cheio! Voltas e mais voltas, quando chegámos, o outro autocarro ainda estava a descarregar e, só depois de se ir embora, é que o nosso abriu as portas. Baza!


Começámos quase que em procissão a subir as escadas. E estava o pessoal todo a receber-nos. Sei que faz parte do protocolo e é bonito de se ver, sentes-te importante! Mesmo que sejas um pé rapado! Mostrei o bilhete:
- Bom dia – sorri
- Bom dia! – ganda smile – À direita, sempre em frente.
Já sei, já sei, fui eu que escolhi o lugar estrategicamente... bem lá no fundo. O que é mau, porque és das últimas a receber a comida e comes o que há, já não tens hipótese de escolha, mas é bom porque não vais na asa e, por isso, consegues ver a vista e, por haver menos confusão e já vão perceber...
Cheguei ao lugar e já tinha dois marmelos ao lado. O meu lugar era o 38, uma das pontas dos lugares do meio. Aquele tem dois corredores. Já lá estava uma mantinha, uma almofadita e uns fones à minha espera; sentei-me. Coloquei o cinto e já não devíamos esperar muito até iniciar a viagem. Pouco depois, ouvem-se os motores com um pouco mais de força e o comandante:
- Bom dia! (blá blá blá) Estamos só a aguardar que retirem as malas de alguns passageiros que não vão viajar connosco e seguiremos logo de viagem.
Olhei para o lado e estavam dois lugaritos à janela, cada um com a sua manta, almofada e fones, vazios e já sem ninguém a chegar... e a parva sou eu?! Qual quê!!! Antes que alguém se lembrasse disso, tirei o meu cinto, peguei nas minhas coisas e atirei para lá! A seguir fui eu! AAAAHHHHH Coisa boa! Uma viagem de 11h com uma janela, dois lugares, dois tabuleiros, duas televisões, duas luzes, três mantas, três almofadas e três fones só pra miiiiiiiim!!! ALAMBAZEI-ME!
Não ia propriamente entrar um passageiro a meio da viagem...

Quando o avião começa a mexer, faz-me confusão mas o bicho tem de fazer o seu trabalho e ai de mim querer atrapalhá-lo! Vai sorrateiramente até à pista e liga o turbo! Xássuis!








Levantámos voo... parece que tenho os órgãos cá dentro todos trocados... Agarro-me à cadeira como se isso me protegesse e prego os pés a fundo para abrandar... a nossa mente gosta de gozar cagente...








As televisões começaram a fazer o que as hospedeiras faziam... é mais giro quando são eles a fazer, pah. Na televisão, é um vídeo a propósito do Mundial. Tem a sua piada, mas não é a mesma coisa.
Cada vez que falam ao microfone, as televisões param para podermos ouvir. Assim que pude, comecei a explorá-las! Às duas! 



Comecei pelos jogos, depois estive nas séries e, quando passei para os filmes, foi tudo de seguida! Nem dei pelas horas todas a passar. Foi um MUST!
Uma ou duas horas depois de entrarmos, devo ter recebido a primeira refeição. Já só havia bacalhau com batatas.
- Não se importa? Já só temos bacalhau...
- Ok, não tem problema - Vou reclamar do quê?! Ou isso ou não se come.
Vem um tabuleiro com uma saladinha, molho à parte, o prato do bacalhau com os talheres e o guardanapo, dois pãezinhos, manteiga, queijo em triângulo, umas bolachinhas de água e sal, um leite-creme. A seguir perguntam-nos o que queremos beber: foi um suminho que coloquei logo na mesa ao meu lado, para não atrapalhar o meu tabuleiro, hehehehe
Depois de levantarem os tabuleiros, serviram café e água. A meio da viagem, deram mais uma aguinha e foi já perto do final que vieram com a segunda refeição ligeira: um bolinho, dois pãezinhos, manteiga, uma sombrinha de chocolate, uma barrita de cereais, fatias de laranja, mais um cafezinho, um sumo e água. É tudo muito "inho" porque é tudo pequenino! Faz-me lembrar a história de uma família muito pobre onde até o motorista era pobre, o jardineiro era pobre, a empregada era pobre, o mordomo era pobre... Aqui a comida é pequenina, o copo é pequenino, os talheres são pequeninos, os pratinho e tigelinhas são pequeninos... Parecem coisas de e para crianças! Sinto-me a brincar às casinhas!
Não tive fome nenhuma, aliás, nem comi tudo, trouxe comigo as bolachas, a sombrinha, a barrita e uma manta... ups! hihihihi

De vez em quando, ia tirando umas fotografias... Enjoy like I did!





A certa altura, obrigam o pessoal a fechar as janelas, como coisa de infantário para dormires a sesta. Ora bolas, estava a apreciar a viagem e ainda estava um sol radiante! De vez em quando, espreitava, mas dava nas vistas, já que dentro do avião estava tudo a meia luz... seca! Não, não dormi! Com tanto filme... era o que mais faltava!
Quando abri a janela novamente, estava um pôr do sol lindo! Muito rápido mas maravilhoso! Não voltei a fechar e, daí a ficar noite cerrada, foi um segundo!
Ao seguir o roteiro da viagem, via que estávamos a passar por terra mas, pela janela, não se via uma única luz! De vez em quando, via-se algo, mas parecia ser uma casa aqui, outra lá bem longe... Até fazia confusão. De vez em quando, espreitava, mas passava-se muito espaço em que não se via mesmo nada.
E pronto, estamos quase a chegar...

Friday, June 27, 2014

A VIAGEM – parte I

Após um dia inteiro a fazer as malas e a embrulhá-las que nem chouriços, depois das mil e uma despedidas da pessoa que mais amo (mãe e João são dois amores diferentes, mas igualmente abundantes), bem como dos meus felpudinhos e do meu persigadorossaurozinho... aqui vou eu...

Sentada e aconchegada com dois lugares só para mim, fui-me entretendo a fazer daqueles porta-chaves entrelaçados.


Como ia lá ao fundo, não consegui ver o filme, porque as televisões são pequenas e não dá para ler as legendas. Além disso, estava uma tipa à minha frente cuja bateria do telemóvel tenho a dizer que é invejável... passou a viagem inteirinha no “teca-teca-teca-teca”! Mas é que não se calava um segundo! Ainda pior, para os restantes passageiros não ouvirem os namoros, anichava-se entre os dois bancos. Ora, aí era onde estava aquela pequena divisão dos bancos onde... EU OIÇO TUDO!!!

Finalmente chegámos e eu estava um pouco preocupada em como sacar os chourições... fui a correr buscar um carrinho de aeroporto e, quando cheguei, já não estava fila nenhuma e o motorista estava a tirar os chourições do autocarro, com um ar um pouco cansado... deve ter sido da viagem, coitado.
- São minhas! - gritei com um sorriso.
- Ena menina, tem aqui umas malas muito pesadas... Faz transporte de laranjas, é? - Afinal, o ar cansado era mesmo dos 40kg... fraquinho...
- He he... Antes fossem! Isto de imigrar não é fácil! Levamos a vida às costas. Vou para Moçambique e não posso vir todos os meses buscar roupa lavada – disse eu a sorrir. Tarik, como eu te compreendo... e ainda dizem que as tartarugas e os cágados são lentos...

Como cheguei antes da hora (ena ena), andei a vaguear um pouco. A forma mais fácil de vos explicar é mesmo esta: parecia um sem-abrigo podre de bêbado a empurrar um carrinho de tralha! Tal era o peso do bicho e a qualidade do carro...
A minha boleia não tardou e eu fui tentando chegar perto do carro. Consegui!
Já em casa, fui logo apresentada ao sofá que me iria receber durante a noite, hehe. Amigo muito confortável, deixem-me que vos diga!
Fui ajudar a Cris a preparar os comes, ainda vimos um pouco das notícias durante o jantar e, depois de estar tudo limpo e arrumado, ainda assistimos a umas séries de TV. Era ainda cedo quando a Cris me deixou sozinha na sala para que pudesse descansar. Ainda o jogo de Portugal não tinha começado. Então aqui deitei-me, acertei o despertador para as 6h20... (que dó), apaguei as luzes e deixei a televisão ligada para não pensar muito no futuro próximo e no que deixava cá... Tinha que me distrair um pouco e, embora cansada, estava ansiosa e isso é terrível para dormir.
Quando estava já quase a desligar tudo...
- GOOOOOLLLLLLOOOOOO! - eram os vizinhos do lado aos gritos pelo 1º golo do jogo marcado por Portugal. Tou feita ao bife...
Bem, fui dar uma espreitadela ao jogo, depois mudei para outro canal onde estava a iniciar um filme... oh damn! As televisões sabem que não resisto a um filme ou uma série a começar...
Lá fui vendo o filme e a espreitar o jogo de vez em quando. Já estávamos a perder e o tempo de jogo quase a terminar... quando empatam no último minuto!!! Muito gosta o português de sofrer...
Liguei à mamã e ainda ali estivemos um pouco de “teca-teca” até adormecer de vez.
Estava eu completamente ferrada, quando me entra no sonho uma musiquinha familiar e ali estava eu, no sonho, a curtir um som à maneira... É o despertador! Saltei do sofá com medo de me atrasar - afinal, um avião é muito grande para se perder e um pouco (só um pouco) inalcançável depois de levantar voo! - Acho que estava pronta em 5 minutos. Ouvi barulho na cozinha, abri a porta, era a Cris. Ao que eu, com o meu sorriso matinal, de orelha a orelha, exclamei:
- BOM DIA!
- Eh lá, já estás vestida e pronta... Bom dia!
Acho que impressionei pela rapidez estonteante com que me aprontei... mas há um truque e eu vou revelá-lo: Quando tens as malas “enchouriçadas” e peso de bagagem limitado, dormes com a mesma roupa com que te deitas e levantas! :D Muito espertinha das ideias! Está tudo controlado...
A curta viagem de casa para o aeroporto foi quase em silêncio, pois deu aquela pancada do “não sei quando volto a estar aqui” e a do “deixa-me olhar para tudo com atenção, pois pode ser a última vez que veja isto assim”... À porta do aeroporto fui buscar um carrinho, e este já andava muito bem e direitinho! Depois de ter as malas, foi o tempo das despedidas...
A Cris e o marido foram incansáveis e impecáveis comigo! Foram-me buscar aos autocarros, tinham um jantarinho à maneira e ainda se levantaram antes das galinhas para me levarem ao aeroporto! E o Diogo também foi muito simpático, até comentou futebol! ;) As melhoras, Diogo! Muito obrigada, de coração!