Monday, December 01, 2014

Dia 96 - 10 Novembro - Macaneta III

... Mas o dia acordou luminoso! Como se a noite tivesse sido tranquila! É caso para dizer, a esbracejar com as palmas apontadas para a frente, olhos bem abertos, em tom de magia, «tu não viste nada...»!

Era madrugada mas não sei que horas eram quando acordei, novamente, com o coração aos saltos. Ouve-se a palha do telhado a ceder com passos dos macaquinhos a saltar lá por cima. Entre o sobressalto, o entusiasmo e o facto de não estares habituada a isto, a adrenalina ferve-te pelas veias como que uma aventura "in a life time"!
Acordei às 5h55. Lembro-me bem da hora porque me ficou gravada na memória de só ter cincos. Estava entusiasmada e acordei com vontade de saltar da cama. Hoje vamos embora e quero aproveitar cada segundo! Lá fora oiço cantorias de pássaros, oiço andorinhas e outros coloridos. Oiço insectos a zumbir e o que me parecem ser grilos, embora seja de dia. Oiço a natureza e sinto-me em paz! Não aguento, vou mesmo sair e dar uma espreitadela!





Está tudo calmo, não vejo ninguém em lado nenhum. É demasiado cedo para os hóspedes e os empregados devem estar lá dentro. Poucos são os vestígios da noite anterior. Embora cá haja calor e algumas chuvas, nada me faz lembrar que estamos a poucas semanas do natal. Mas olho para o chão e vejo um pouco do que me faz lembrar "casa"... Uma folha caída, rija por estar seca, mas molhada pela chuva de ontem... afinal isto parece um estranho outono...


O sol começa a aparecer do lado do mar e os raios de sol começam a aquecer o dia. O céu está azul... vai estar uma manhã excelente de praia. Consigo ouvir as ondas a rebentar aqui atrás. Não está bravo, está vivo! No topo deste cubata pousa um pardalito como que a dizer «bom dia». Sinto-me a Branca de Neve!




Antes de voltar a entrar já começo a ver gente. Acabou o "meu" momento. Já dentro da cubata, o JG dorme "protegido" pela mosquiteira. Mas está um bicho na rede. Não consigo distinguir se dentro ou fora. Parece-se mesmo com uma formiga, mas maior. É composto por 3 bolinhas, duas antenas e algumas patas. Mas tem uns 2cm de comprimento. Não sei o que é mas, para mim, é um formigão! Estou a observar calmamente, sem fazer barulho, para tentar perceber se está dentro ou fora da mosquiteira. Se estiver fora, melhor, é mais fácil tirar. Se estiver dentro tenho de "estrangular" a mosquiteira para o tirar. Só que o JG sente-me ali e, ao mesmo tempo que acorda com a minha presença, o formigão cai em cima dele... O pior nestas coisas é que não conhecemos os bichos nem sabemos o que nos podem fazer. Não sabemos se picam ou se têm veneno, nem como o nosso corpo reage. Claro que aqui ele teve mesmo de sair da cama para tirarmos o formigão.
Estou com sono de novo. Só mais um pouco...

O nosso amigo havia de dizer alguma coisa quando chegasse. Mas nós queríamos ir para a praia aproveitar o máximo possível. Ao mesmo tempo, estamos que nem lagostas por causa de ontem, por isso, temos de ter cuidado e não nos expor demasiado ao sol. Assentámos debaixo das árvores, onde faz sombra e uma brasa descomunal! Aqui estamos rodeados de areia a ferver, a água que refresca um pouco, está lá longe... sentimo-nos de sequeiro... Mas, eis que chega o nosso amigo! Toca a besuntar o protector solar em cada "pixel" de pele e fomos quase que a correr para a água devido às altas temperaturas da areia. Nem sei dizer quanto tempo levámos ali de molho... Sei que, a certa altura, fui buscar as nossas coisas para mais perto porque já não íamos voltar para o "castigo"!

Estávamos de conversa dentro de água, entre brincadeiras, mergulhos voluntários, outros forçados pelas ondas agitadas... até eu sentir qualquer coisa a roçar-me no pé! AAAAHHHHH Por milésimos de segundos fiquei em pânico! O meu primeiro reflexo foi gritar e saltar para o colo do JG! Foi, já colada a ele, que me senti numa posição um pouco ridícula mas, ainda assim, não o larguei. Não sabia o que era. Ele também não e agarrou-me. Mas começou a investigar com os pés e também sentiu. Achamos que seria uma casca de coco ou qualquer coisa do género. Saímos da água todos... eu ao colo, pendurada como um macaquinho...


Apesar de me sentir ridícula, a aflição e confusão que me faria pôr os pés na água faziam-me perder a vergonha! Ficámos então de conversa à beira mar. Entretanto os sogrinhos andavam a apanhar ameijoas e eu fui ajudá-los. Já andavam com um saco de plástico que eu passei a segurar enquanto eles se divertiam a apanhar. Era só jogar as mãos que vinham duas ou três de uma só vez! Torna-se um vício! Devemos ter apanhado uns dois quilos.

Ainda na praia o JG chamou a nossa atenção para duas crianças à beira mar. São, com certeza, muçulmanos e devem ser duas meninas. Já tínhamos visto que, as mulheres muçulmanas, vão para a praia todas vestidas. A mais ousada que vimos tinha uns calções compridos de banho, geralmente, usados por homens, e uma camisola justa de manga comprida, preta. A maior parte usa calças e camisolas. E terem o cabelo solto e à vista já é muito ousado. São culturas diferentes, opções de vida estranhas para nós, bizarras até. Foi o caso destas duas crianças. Estavam vestidas de dourado, um só fato, tipo de mergulho, de calças e parte de cima com mangas compridas!



Nem todos percebem porque nos rimos, mas eu explico... para quem viu o filme Charlie and the Chocolate Factory, vai identificar aqui umas personagens bem caricatas... os Oompa Loompas!!!! É o que estas crianças parecem! Os Oompa Loompas são anõezinhos energéticos, trabalhadores na fábrica, que não param um segundo, porque o seu alimento preferido é o cacau!


Quando voltámos da praia encomendámos o almoço para meia hora depois. Fomos só despachar e pôr as malas no carro. Enquanto almoçávamos passou um rapaz a vender peixe. Tinha um peixe enorme e outros tantos mais pequenos. Ficámos com todos!
Para voltar dividimo-nos pelos dois carros, eu e o JG viemos com o amigo que chegou esta manhã, enquanto os sogrinhos já podiam ir mais à vontade no Júnior. Apesar de seguirmos em carros separados, voltamos para o mesmo local, pelo que, vamos todos juntos na mesma.

À saída do resort tínhamos a cancela. Desta vez estava "arranjada". Já não era só um arame preso de um lado ao outro. Agora era uma verdadeira cancela. Mas tinha certas dificuldades em abrir porque... Bem, do lado esquerdo estava o apoio da cancela, do lado direito havia um contrapeso feito em cimento, em forma de quadrado. Esse contrapeso estava na ponta direita da cancela mas, pelos vistos, não era peso suficiente porque havia um rapaz a segurar naquele cimento todo para não o deixar cair e podermos passar. Se ele deixasse cair a cancela passaria a ser um poste e, provavelmente, nunca mais levantavam aquilo do chão. Então, o rapaz estava a estragar as costas, os músculos dos braços, as mãos, a esforçar demasiado o coração e os pulmões... para abrir uma cancela que, sinceramente, tive receio de passar lá por baixo!

A caminho do batelão fui tirando fotografias...






Uma hora de fila para apanhar o batelão basta isto.


Não resisti a tirar esta fotografia. Apesar do mau estado de conservação (ou falta dela), esta carrinha deve ter bastantes anos.



As bancas à "entrada" da Macaneta.


A fila que se prolonga... o tempo está a piorar. Já chuviscou, faz muito vento e o céu não passa de nublado.


Estamos quase lá.


As fotografias em Marracuene.



O jardim de que falei quando viemos.



A viagem de volta foi muito melhor. Vamos mais à vontade, menos apertados e muito mais confortáveis... todos nós! As fotografias que se seguem são da auto-estrada! Está a ser feita.







Estamos já perto de Maputo. Vamos entrar pela outra ponta da estrada da Costa do Sol. É triste ver tanto lixo a estragar a natureza. Até tampos de sanitas vemos pendurados nas árvores.




Assim que chegámos a casa só comi qualquer coisa e fui logo para o MT, como tinha combinado. O JG veio comigo pois era já noite. Acabámos por jantar por lá. Está de chuva. Conseguimos ver relâmpagos que iluminam o céu, troveja de vez em quando mas... está muito calor!
Cheguei a casa pelas 22h30. Foi mais cedo do que esperava e vieram trazer-me a casa, claro. Estou cansada... preciso de dormir!

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