Sunday, September 03, 2017

Um só dia

Basta um dia para tudo mudar na nossa vida. Hoje passei um pouco pelo facebook e reparei em inúmeras publicações que mudam a vida de uma pessoa. Não a minha... hoje não foi a minha vida que mudou. Pode ser lá para terça, quando sair o vencedor do euromilhões... Just saying...

Em apenas um dia milhares de pessoas vêm as suas vidas alteradas pelas mais diversas razões. Um só dia pode mudar a nossa vida. Como o dia 11 de Setembro de 2001 em New York ou o Natal de 2004 na Thailand com um tsunami... Acordar para um dia banal e... nem imagino o fervilhar de emoções... E depois há aqueles dias em que assumimos novos papéis na nossa vida! Somos pais, avós, tios...!!! Nascem crianças todos os dias que alteram a nossa vida! E o fervilhar de emoções é o oposto.

Nesta altura fala-se muito sobre a morte da Princesa Diana. Também eu gostava muito dela e lembro-me bem do dia e da hora em que soube da tragédia e o quanto me chocou. Lembro-me de saber sobre isso às 7h15 da manhã quando entrava no barco dos meus primos para um passeio pela Ria Formosa. E senti um aperto no coração! Não era comigo, não era da minha família, não me era nada... era apenas uma pessoa conhecida, uma boa pessoa que foi infeliz a maior parte da sua vida e cujas alegrias foram os seus dois filhos. É triste, é injusto, é uma infelicidade que estas coisas aconteçam... e sentimo-nos impotentes mesmo sabendo que nada poderíamos fazer! Mas dói... dói por compaixão, dói porque somos humanos e sentimos algum tipo de sentimento por alguém que nem sabe que existimos, mas que acompanhámos durante anos e vimos as inúmeras vidas que essa pessoa mudou! Se podemos mudar o passado?! Infelizmente não! Mas podemos aprender com ele. E podemos observar e destacar que, naquele momento infeliz do acidente, enquanto aquela (e as outras) vida terminava ali em sofrimento e desespero, havia inúmeras a rodear para conseguir a melhor e mais valiosa fotografia de tamanha desgraça! É desumano e inqualificável! E após 20 anos... as notícias são cada vez mais em torno da desgraça alheia, são chocantes e quanto mais polémicas mais vendem. E este fanatismo, esta sede de mostrar a realidade sem filtros é equiparável à sede por sangue dos vampiros! Não há respeito pelas vidas dos outros... e só achamos o contrário quando é a nossa vida que está em jogo!
Não me parece que a imprensa tenha aprendido grande coisa, infelizmente. Mas esta coisa da internet tem a sua vantagem... é mais fácil deixar a nossa opinião, mesmo que, por vezes, seja apenas a politicamente correcta. Tal como aconteceu na polémica reportagem da Judite de Sousa naquele incêndio infernal...

No dia-a-dia de uma vida dita "normal" as pessoas querem exibir as coisas boas das suas vidas e "escondem" do "público" as coisas menos boas, as coisas das quais sentem vergonha. Falam dos seus filhos ou netos, das suas habilidades novas, das aprendizagens e das saídas que estas novas gerações têm quando menos esperamos, e que nos desarmam... Mas não falam, nem escarafuncham, sobre a morte do pai ou de qualquer outra pessoa próxima! Informam... podem até falar, mas não metem o dedo na ferida porque nem elas sabem que tipo de reacção isso pode despoletar. E preferem sofrer em segredo.
O que se vê na imprensa é precisamente o oposto! O que se passa de bom não é "explorado"! E devia! Porque mudar a forma de pensar das pessoas está muito relacionado com o que se passa na sociedade, com o que vemos, ouvimos, seguimos pelo que observamos... O mundo está fútil, isolado, dependente da opinião alheia, das modas... E a nossa personalidade é, por vezes, posta de parte para sermos aceites pelos nossos pares. E fazemos coisas com as quais não concordamos. E depois vem o arrependimento, mas as acções foram aplicadas e as consequências sofridas!

É verdade que muitas coisas boas que surgem despoletam inveja e alguns sentimentos menos bons. E que as coisas más que acontecem desencadeiam uma enorme onda de solidariedade e dão esperança num futuro melhor. Mas isso é algo com que cada um tem de lidar. A imprensa e as pessoas famosas têm uma responsabilidade acrescida pois são idolatradas por mentes jovens ou mais frágeis. E o que é noticiado, muitas vezes, não tem em conta o respeito pela vida alheia, não existe humildade em restringir os factos sem escarafunchar na dor. E isso não está correcto.

E sim, estamos neste mundo a viver uma vida de cada vez e a aprender todos os dias! Mas podemos ser sempre melhores que no dia seguinte e tentar minimizar os estragos das consequências dos nossos actos do passado. E sei que uma grande maioria de nós tem aquele dia (seja da semana, do mês, do ano ou da vida) em que queremos arranjar uma solução para um mundo melhor! Mas a impotência de uma simples vida pouco faz a um Mundo Inteiro. Por isso, vamos "minando" aqui e ali e fazer pequenas diferenças de cada vez.

No dia-a-dia vejo o meu filho e sinto orgulho! Vejo amor, carinho, ternura, importância, cumplicidade, sorrisos, alegria, pureza, bondade, malandrice... e ganho o dia num segundo!
Hoje vi publicações menos boas no facebook, mas também vi imagens de filhos de amigos e muito amor. Vi a ternura de uma recém-tia orgulhosa. Vi a felicidade de um casal numa simples saída sem os filhos em que os avós fizeram de babysitter. Vi a ternura e o orgulho de um pai a fotografar os seus filhos, dois mais velhos e um recém-nascido. Vi a diversão de quem não tem mais nada para fazer e partilha coisas que achou piada (tenham piada ou não). Vi a cumplicidade de duas irmãs. Vi o sucesso de alguém que alcançou uma nova etapa na vida. E fiquei feliz! Porque vi o que havia de melhor para ver...