Thursday, July 31, 2014

Dia 29: 22 Julho 2014


Antes de mais nada hoje o dia é dedicado ao meu Gyzmo!!! Faz aninhos hoje e eu sinto tanto a falta dele... AMO-TE MUITO MIAUZINHO! Espera por mim meu xuxuzinho, tenho muitas saudadinhas tuas! Tenho saudades de Portugal, saudades de estar num espaço conhecido, saudades de viver numa cidade menos suja e destruída, saudades de ver gente conhecida, saudades de vocês todos... Após um mês a coisa começa a complicar...
Hoje o dia no trabalho não foi mesmo a coisa mais bonita de se viver. Há dias menos bons, o que nos alegra é que amanhã pode ser melhor! E é bom que seja! Porque estes dias assim dá vontade de fugir p'ra nunca mais voltar. Se fosse coisa de computador faria "ctrl alt del compels you" e a máquina obedecia... mas o diabo não está na máquina...

À hora de almoço fomos a casa e estava o rastafari à porta. O JG costuma cumprimentá-lo. Ambos com a mão fechada, tocam apenas nos nós dos dedos. Sempre achei que fosse uma coisa de gajos, de homens. Ou até que não fosse normal uma rapariga fazer igual. Mas hoje o rastafari disse mesmo:
- Taca aqui, sister. Também tens de aprender a cumprimentar assim! - Ganda smile
Fiquei super surpreendida e muito, mas mesmo muito, contente! Não esperava.
O Al (rastafari) é uma pessoa impecável. Sempre com um grande sorriso, muito simpático, atencioso... vê-se que é uma boa alma!

Em breve será dia de despedidas e, por isso, aproveitámos o facto de ser 3ª-feira, dia da pizzaria Mimmos fazer promoção de duas pizzas na compra de uma. Bora à pizza! Como a promoção é famosa o tempo de espera é de 1h. Sempre dá para ficar um pouco a descansar, beber um copo enquanto se espera. Ficámos os quatro de conversa até estar na hora.
Por haver muita gente por ali à espera das pizzas há sempre muitos vendedores de rua a vender amendoins ou cajus em saquinhos transparentes do tamanho que cabe numa mão em conchinha. Também há batiques que são estes tecidos pintados por eles, que são lindos


Isto aqui vende-se em qualquer lado! O do nosso quarto é que tirámos porque eu estava a fazer alergia. Mas vai ser lavado, espero que o desenho não desapareça... Muitos são pintados a aguarela!
Mas, quanto aos vendedores, temos de dizer que não queremos e, mesmo assim, muitos não largam o osso. Por vezes torna-se cansativo, especialmente quando já não estamos nos nossos  melhores dias. Mas tento sempre compreender que é o ganha-pão de muitos e, apesar de tudo, fazem sempre grandes sorrisos! Depois dizes que não e eles desmancham o sorriso, mas enquanto existe uma possibilidade (é até dizeres que não queres mesmo) até os dentes brilham! Estejas a pé, no carro parado no trânsito, sentado no restaurante... onde for! "Eles andem aí..."
Durante o dia vemos muitos carrinhos onde vendem fruta pela rua e para melhorar a deslocação usam estes carrinhos



Andam por todo o lado. À noite são mais peças de artesanato e petisquinhos.

Chegámos a casa e fomos logo comer, já estávamos esganadinhos.
Não houve tempo para mais nada de mais a não ser para sentir saudades...

Wednesday, July 30, 2014

Dia 28: 21 Julho 2014

Segunda-feira é sempre o dia mais chato... Vens do descanso e queres continuar a descansar e a passsear e a não ter horários... e chega a segunda-feira que estraga tudo!
Acontece-me frequentemente ter insónias de domingo para segunda-feira, e foi o que aconteceu esta noite. Estive quase para me virar ao contrário... ah sim, tenho um truque para quando tenho insónias: Viro a cabeça para os pés e os pés para a cabeça. É tiro e queda! Funciona lindamente! No verão é perfeito, não tenho de me tapar... muito. No inverno é um pouco mais chato, mas nada melhor que dormir com aqueles edredons que não ficam presos no colchão... é só rodar! Et voilá!
Estas insónias são mesmo chatas, raramente tinha em Portugal a não ser quando havia muito calor. Aqui ainda não senti o calor dos 40 e tal graus e já tenho disto... alguém vai sofrer muito... Mas aqui parece que sinto comichão a toda a hora, sinto que o cabelo cai mais (tenho de tratar disso) e depois pica, sinto calor, depois frio, a almofada ora está baixa, ora está alta, sinto os músculos tensos e o pior... é a "xinfrineira" aqui da vizinhança que só ouves lá longe de olhos fechados! Parece que quando tenho os olhos abertos não os oiço com tanta frequência mas quando os fecho... ai ai ai... É pessoal que vive em barracas e que passa o tempo a beber... e não é água! Os homens trabalham, as mulheres ali ficam a tratar da comida, da roupa e da loiça. Há noite é forró até cairem p'ro lado! A maior parte das vezes até estão divertidos mas também se chateiam. Já andaram à pancada ali e tudo! Epa, matem-se, esfolem-se mas deixem-me dormir...

Escusado será dizer que acordei cheia de sono. Mas passa com a brisa da manhã. Noto que a cada dia tenho mais responsabilidades, o que é normal. Aqui, ao contrário de Portugal, começo logo a liderar uma equipa. Embora não seja a minha área é algo desafiante, especialmente por conhecer pouco os costumes e as formas de comunicação. Estou habituada a perceber as pessoas porque falamos todos a mesma língua. Aqui fala-se muito português mas também há muita gente que fala xangano. E é quando falam entre eles, nativos, que me sinto estrangeira. Mas é como tudo, as pessoas ficam muito entusiasmadas quando mostramos interesse em aprender. Mesmo o português por vezes é difícil compreender porque muita gente fala mesmo muito baixinho. E eu pergunto:
- Desculpa?! Não percebi...
E ficam com uma cara que parece que têm medo de repetir como se tivessem dito alguma asneira.
- Não ouvi, repete, por favor.
Lá repetem mas mais a medo!
Saber cumprimentar, despedir de alguém ou saber pedir alguma coisa é muito bom e faz parte da integração. E a isso é que eu considero saber estar fora do nosso país. Porque ir para fora e manter-me à parte não me faz sentir que pertnço aqui, não me faz sentir em casa.

À hora de almoço estávamos no shopping. Quando almoçamos lá podemos pedir comida de outros restaurantes que eles não se importam e ainda lá vão buscar para nos servir à mesa. Costumamos ir a um que, para variar, é de muçulmanos. Digo isto para vos explicar que aqui existem certas diferenças. Assim como há supermercados de muçulmanos que não vendem carne de porco nem bebidas alcoólicas, também há restaurantes ou outro tipo de comércio que, para que os muçulmanos possam frequentar, têm de ter uma espécie de uma licença: Halal. Se é halal podem lá ir.


Talvez assim se veja melhor...


Então aqui sabemos que não vendem bebidas alcoólicas e nunca vamos comer carne de porco vinda desta cozinha. O JG andava com apetites de comer um shoarma e pediu isso porque o restaurante do lado tem. O empregado que nos atendeu, por acaso até foi o que está na fotografia. Então ele foi perguntar o preço e voltou. Depois foi formalizar o pedido. Entretanto eu recebi o meu almoço. 15 minutos depois voltou ao restaurante do lado e trouxe os molhos, como se fizessem muita falta sem o resto, e informou que estaria quase. Mas até aqui tudo normalíssimo. Eu é que já tinha comido quase tudo e estava impaciente porque o JG nunca mais comia nada. Mais 15 minutos depois veio com o shoarmazito. Era uma coisa pequena, mas muito saborosa, por acaso. Claro que o molho branco era maionese, não era o maravilhoso molho de alho a que estamos habituados...

Chegámos estoiradinhos a casa ao final do dia... caminha!
Hasta mañana baby!

Tuesday, July 29, 2014

Dia 27: 20 Julho 2014

Começou por ser um belo dia de ronha... dormimos até mais tarde e soube tããããão bem!
O problema é que era dia de compras e se formos à tarde arriscamo-nos a encontrar prateleiras vazias, tipo “fim do mundo”.
Eram já perto das 12h quando nos levantámos. Foi despachar rápido, apanhar a sogrinha e bora. Fomos ao supermercado que eu acho mais confuso por ter mais gente. É bom sinal ter mais gente, significa que deve ser mais barato e deve ter coisas melhores. Uma coisa é certa, tem TUDO! Acabou por ser menos confuso porque éramos quatro e fomos nos revesando. Ainda assim, é preciso paciência para andar ali... é muito cansativo andar aos “esses” para passar pelas pessoas, parece um labirinto em mutação constante. Depois das compras ficámos à espera que o JG trouxesse o carro até à entrada para carregarmos tudo. Torna-se bem mais simples do que corrermos o risco de sermos atropelados a tentar endireitar o carrinho cheio e pesado.
Já no carro começou a conversa do “a Rita tem de começar a conduzir aqui”... ai ai ai ai ai... não estou a gostar...
- Mas agora não, aqui é muita confusão.
- Agora não, mas quando formos és tu que nos levas aos Continuadores.

Descarregar as compras é das coisas mais cansativas e indesejáveis do fim-de-semana. Queres é descansar e lagartar, mas tens sempre de carregar sacos e pesos até ao 2º andar... é um sobe e desce, carrega o saco, tira do saco, arruma no lugar... cansa ainda mais com o calor que faz a essa hora. Até me esqueço que é inverno aqui. Mesmo em dias mais frescos em que vês o pessoal - e atenção que não estou mesmo a exagerar – de gorro de lã, luvas bem grossas, cachecol tipo manta e casacões como se fossem pa neve, é um dia, quanto muito de primavera mais fresco. Porque a seguir faz sol, daí a umas horas faz um calorão que não te aguentas mas eles continuam equipados para a neve! Este pessoal na Serra da Estrela morria congelado!
Claro que depois de arrumar tudo me atiro para cima da cama pronta a ficar o resto do dia! Já não é a primeira vez que voltamos aos tempos do infantário: hora da sesta! Não é uma hora marcada mas apetece buéééé... Não é preciso ficar muito tempo, basta relaxar o corpo, fechar os olhos e deixar que o momento Zen faça o seu trabalho... Momento MoZen! (Mozambique + Zen) 5 minutos fazem milagres, mas não apetece levantar. Além do mais já tinham falado em por-me a conduzir... não quero mesmo nada. Isto faz-me confusão. Há muito mais gente que não sabe conduzir e fazem com cada coisa que me arrepia! Ainda esta semana houve uma cena estúpida e desnecessária. Numa estrada com passeio e estacionamento dos dois lados, onde existem duas faixas no mesmo sentido e só se anda mesmo num sentido. Estava esse cromo estacionado de um lado, deixou que o chapa, que ia à nossa frente, se aproximasse e atravessou-se no meio da estrada! Mesmo na horizontal! Claro que travou tudo a fundo. Mas pensam que houve assim grandes buzinões e reclamações?! Nada disso... é normalissimo! E querem-me por a conduzir... socorro!!! Esta terra já tem carros a mais, para mim é uma terra para se andar de tchopela!

Bem, depois do momento MoZen fomos passear ao Jardim dos Continuadores e consegui safar-me de levar o Junior! Nem sei bem como... O passeio é sempre muito agradável, o contacto com a natureza no meio da cidade sabe bem, é um escape. E o jardim é mesmo lindo! Na altura em que foi construído devia ser maravilhoso! Tem um laguinho seco, cheio de lixo e pedrgulhos, que devia ser azulinho e com patinhos. Tem uma ponte de madeira que passa por cima, um espaço coberto por árvores com mesas e bancos para piqueniques, um pequeno palco, pequenos trilhos para caminhar e muito espaço que deveria ser todo verde, hoje é mais castanho da terra batida. Ainda procurei o gatinho que lá estava no outro dia, mas não o vi. Fizémos compras para os sogrinhos levarem, há coisas lindíssimas e apetece comprar um pouco de tudo!
Na volta pensei que não me safava mas, como iamos buscar umas coisas que faltavam, ou seja, iamos para a confusão, lá me safei! Hehe Mas foi só até deixar os sogrinhos em casa... Ainda tentei:
- Não os podemos deixar subir tão carregados, coitadinhos... olha as cruzes dos teus pais!
Claro que fui gozada por todos! Não se pode ser preocupada pah... Bem, ok, vou conduzir... Tomei a atitude de quando tirei a carta: Mais vale acompanhada que sozinha! Ora então tenho muitas coisas diferentes: é um carro um pouco mais alto, mas mais pequeno, é de mudanças automáticas, a faixa lenta é a da esquerda e - a pior parte - tem o volante do lado direito! Enchi-me de coragem e lá fui! Liguei o carro, o JG explicou-me as mudanças. Os pedais são fáceis, é só acelerador e travão, muito básico. Não tenho de por a primeira para arrancar, é só carregar no acelerador. E lá fomos... Claro que assim que apanhei o primeiro semáforo joguei o braço contra a porta do meu lado... isto só quem conduz compreende... era para trocar as mudanças! Mas não precisa de nada disso, é só carregar no travão e manter sempre a mudança no "D" (drive). Fomos só até ao fim da rua, virámos para a rua da frente e voltámos. Mas para virar eu ia sempre em contra-mão (mas em contra-ãe daqui mesmo)... sinto-me sempre na faixa errada. Mas é uma questão de começar, só que a confusão do trânsito (ou do tráfico como dizem cá) faz-me um stress... Quando chegámos até entrei para a garagem que é um espaço muito apertadinho e com buracos onde podes ficar atolado. Ena ena! Maningue nice! (legenda: Muita fixe!)

À noite, mais nomes do Top Moz Moçambicando: Moz Afro; Boy Flord; Kaio Jackson; At Chiruze; Honny; 4000; Linda Cuambe... De resto nada de novo.

Beijos e abraços!

Sunday, July 27, 2014

Dia 26: 19 Julho 2014 - O taxi falho-me de grande & Jardim dos Profs

Hoje era uma primeira prova: sou a responsável de abrir a loja hoje às 9h!
Muito importante: tenho de chegar a horas! Levantei-me com uma hora de antecedência, já tinha tudo pronto. Meia hora antes ligámos para o táxi me vir buscar às 8h40. Este não é o Sr. LG, é outro que trabalha com a empresa. Tava tudo na boa, a correr bem, desci com a sogrinha porque ela também esperava a boleia dela. Já a 10 minutos da hora liguei de novo ao táxi, afinal já se estava a atrasar e a mim!
- um minuto, um minuto! – HUM! Um minuto... quero ver isso...
Claro que não vi nada disso! Voltei a ligar e o desgraçado diz-me que o rapaz ainda estava no aeroporto!!! WHAT?!?!
- Esqueça! Vou apanhar um tchópela e mesmo assim já não chego a horas! – o c*****!!! Vou chegar atrasadíssima por causa deste monte de m****! Tou mesmo lixada, piursa da vida! Uma coisa tão simples... não me podia ter dito que não podia vir?! Que raiva de gente! Só mesmo se precisar muito é que lhe volto a ligar... e mesmo assim prefiro o chopela! Mais rápido, mais barato e sempre ali! Idiota!
Quando cheguei já estavam todos à minha espera, coitados. Contei-lhes o que se passou, compreenderam claro. Mas eu é que fico mal com esta treta e sei que eles têm os minutos contadinhos, as câmaras com as horas a registar quando entram, eles é que se levantam ainda de noite ou quase para cá estarem a horas! E eu não estava cá à hora quando moro muito mais perto... Não me sinto bem com isso. Sim, eu sei que foi o taxi que falhou, mas eu podia ter previsto isso e também falhei... Aos olhos deles e aos meus, eu é que falhei! Mas enfim, depois entrámos, a manhã correu bem, sem grande movimento e démo-nos todos muito bem!

Quando saí fui almoçar com o JG que me foi buscar. Almoçámos no Shopping. Nada de mais mas come-se bem e não é muito caro. Por ali passam mil e uma pessoas por dia, de quase todos os cantos do mundo. Aliás, aqui vê-se um pouco de tudo, mas o que me continua a fazer confusão são as muçulmanas de burca integral! Só lhes vejo os olhos, pouco, muito pouco, as mãos e é quando não estão nos bolsos, e os pés, calçados, claro, a passarinhar muito rápido pela multidão. São, geralmente, baixinhas e andam de sapatinho raso. O que aqui compreendo perfeitamente e faço igual. Andar de salto aqui é um pesadelo, mas há quem o faça!
Agora aquelas burcas fazem-me mesmo confusão! Existem lojas que só vendem roupa para muçulmanas, existe uma publicidade na TV que é só de burcas, provavelmente mais agora por causa do ramadão. É que nem consigo dizer se são bonitas ou feias, se são novas ou velhas, gordas ou magras... parecem uns cortinados ambulantes! Fazem-me lembrar aqueles truques de magia com uns lenços gigantes a cirandar à volta do mágico. Depois do nada aparece um coelho ou um cavalo, só que ali não aparece mulher nenhuma! Até podia ser um homem!

Depois fomos até ao Jardim dos Professores! Sim, vamos lá muito. Tá-se bem! É agradável e tem vista para o mar. Fomos de chopela. Como eu deliro com aquilo! Foi a primeira vez que fui acompanhada com o JG! O “chopelador” foi atestar o depósito a meio da viagem. Perguntou-nos primeiro mas como não tínhamos pressa, tá-se bem. Deixou-nos no final da rua, no Jardim dos Professores. Fomos comer um geladinho e descansar a alma, recuperar baterias... aqui faz muita falta recarregar baterias para a alma! Estar longe da família e dos amigos, da nossa terra, por muitos defeitos que tenha a nossa terra é a nossa terra.
Quisemos voltar a pé para casa e eu, que ainda não conheço bem os “cantos à casa” alinhei na cena... maldita hora! Tenho a sensação que percorremos a cidade toda a pé umas 5 vezes! 'Tou que nem posso com uma gata p'lo rabo! O problema nem é só o andar, é teres sempre atenção onde pões os pés para não torceres, não caíres num buraco qualquer, porque está tudo aberto, não encheres os pés de areia e, o mais importante, não seres atropelada! Porque até pelo passeio os chapas andam para passar nos vermelhos! Mais prioritários que as ambulâncias!
Óbvio que depois de chegar a casa já não voltei a sair! Estava capaz de dormir até ao dia seguinte! Isto de trabalhar aos sábados de manhã faz muita diferença, não é só mais umas horinhas... é o levantares-te cedo, com despertador a semana toda, quase! Aqui o fim-de-semana não sabe ao mesmo, é quase que uma hora de almoço alargada. Mal dá para descansar, mal dá para aproveitar o dia e meio, quando te estás a habituar toca o despertador à 2ª de manhã! Odeio despertadores!

Beijoooooooos

Saturday, July 26, 2014

Dia 25: 18 Julho 2014 - Albinos

Esta manhã foi diferente de qualquer uma das outras. Não vos vou adiantar nada para já... Terão de ficar na expectativa até se saber das coisas. Quando actualizar eu publico noutro post ;)

À tarde estive a trabalhar no computador o tempo todo. Há coisas que sei há outras que vou aprendendo consoante é necessário. Todos os dias se aprendem coisas novas.
Em Portugal é raro verem-se albinos, mas aqui é frequente. Hoje vi uma mulher albina totalmente branquinha (já vi muitos às manchas), de cabelo muito fininho lilás ("provavelmente" pintado), sem pestanas nem sobrancelhas porque muitos também têm alopécia, umas feições muito características, grossas, um olhar tímido, envergonhado... Já não é tanto, mas em África há muita superstição relativa aos albinos. Hoje em dia já são mais aceites na sociedade mas continua a haver muita gente que os vê como uma maldição ou coisa do género. Por vezes nem sabem bem explicar porquê. Há locais em África, não sei precisar onde, que comem albinos para dar sorte... horrível! Vi uma vez um filme sobre isso. Entre duas equipas de futebol, uma desse país onde os comem e outro de uma equipa inteira de albinos... M-E-D-O!!! Mas era precisamente sobre essa diferença e de forma a acabar com esse preconceito.

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9a/Albinisitic_man_portrait.jpg

Eu tento não olhar muito, não os fixar mas como não é habitual para mim vê-los quero observar a fisionomia. Têm as feições de grossas da maioria dos africanos, só que numa pele muito clara, parece que manchada por lixívia! Não sei se são a maioria, mas muitos que eu já vi têm alopécia, sem sobrancelhas ou pestanas, e um cabelo muito ralinho, parece até descolorado. Gosto de observar tudo e a fisionomia das pessoas faz parte... Também isso nnos ajuda a distinguir certos traços de personalidade, assim como os seus gestos, olhares, tiques, movimentos... Se calhar, se não fosse tão observadora não tinha tanto para escrever... ?!

Hoje é sexta-feira, nota-se logo na rua porque está sempre muito mais gente ao final do dia. À tarde começam logo a enfrascar e ficam com as bancas de venda na rua até ao dia seguinte! Já nem vão a casa, ficam a curtir a noite! É o "forrobódó"! Ao passar de carro vê-se um pouco de tudo: miudas vestidas de crescidas com mini-roupas (calções que parecem cueca e tops que parecem soutiens!), com malinha e todas pintalgadas para sair à noite; pessoal enfrascado até à ponta dos cabelos, uns já caídos, outros a caminho; há sempre meia dúzia de pila de fora a fazer xixi para qualquer lado, aqui não há vergonha nenhuma, já tive oportunidade de ver muito "pau preto"...; fogueirinhas por todo lado; crianças a brincar no passeio perto dos carros a passar a grande velocidade; crianças mais pequenas embrulhadas nas capulanas às costas das mamãs... É uma vida que existe a toda a hora mas é mais vivida mais intensamente ao fim-de-semana, faz lembrar os festivais de música: muito calor, muita confusão, muita possibilidade de haver assaltos, muita "póseirada", cheiros de coisas chamuscadas ou queimadas, muita bebedeira...

Em casa foi tudo normal. Vejo mais televisão porque a net é controlada e não podemos estar os quatro em três computadores... O canal favorito é mesmo um experimental. O tal em que as legendas são brasileiras com um atraso de imagem vrs som... É hilariante ver filmes mais dramáticos... Nos loooooooongos intervamos continuam a dar os anúncios do "Top Moz Moçambicando" e tenho nomes novos: Hullo Grénio, Helcides, Boy Flord, The Best Family (4 membros). Continuam a ser muita bons! É de jogar os dedos à goela...

São 22h e estamos cheios de sono, o nosso corpo pede a cama como se fosse já meia noite! Começa a ser já tarde para nos deitarmos. Parece que precisamos mesmo de mais horas de descanso. É estranho porque  dia parece que passa a correr, aliás, toda a semana parece que passa a correr, mas acabamos o dia sem sentir que tenha sido proveitoso, ainda assim, estoirados. Vou nanar!

Beijinhos e boa noite

Friday, July 25, 2014

Dia 24: 17 Julho 2014 - Curiosidades

Esta noite tive muita tosse... Vou deitando a porcaria fora mas a tosse insiste em ficar e o pó que voa por todo o lado não ajuda. As manhãs são mais frescas, com muita humidade, então tenho de me proteger bem.
Quando voltámos a casa para almoço a Sal já cá não estava e estranhámos. O combinado é ela sair só às 13h e, caso tenha de sair mais cedo, liga-nos ou manda sms. Era 12h45 e no telemóvel nada a registar... Almoço metade pronto, mesa mal posta... ligámos:
- Tinha di saír... - e pronto.

Hoje não aconteceu nada de  mais, por isso, vou contar mais curiosidades de cá.
Quando um vendedor de rua se dirige a um homem trata-o por Pai ou Boss, se for mulher é Mãe ou Dona. As mulheres aqui são mães bem cedo, eu aqui tenho idade para ser avó! Acham muito estranho que eu ainda não tenha tido filhos, devem achar que tenho algum problema.

A luta da noite: vais fazer a depilação para a wc e precisas de luz, a lâmpada até está boa mas, de vez em quando, dá-lhe o ámók. Então estás em frente ao espelho e, de repente, pensas que piscaste os olhos por demasiado tempo... e piscas e piscas... tás mesmo às escuras!

Não me tenho lembrado de vos contar o que já assisti na TV...
Nas notícias não é assim tão raro vê-los a confessarem os crimes em directo. Roubaram ou mataram alguém, descrevem a cena toda ao microfone e a olhar para a câmara e dizem que fizeram mal, mas que fizeram e que podem voltar a fazer. Normalíssimo!
Quanto a anúncios de televisão... Anúncios de carros nem vê-los, não vale a pena, são tão baratos que não compensa pagar os anúncios. São, essencialmente, de bancos, telemóveis Samsung (muitos Galaxy mas que dizem "gáláks") ou então do "Desafio Total" ou do "Top Moz Moçambicando"... a sério, tentem procurar estes programas no youtube... tão a ver o "Ídolos"?! Tem sempre uma parte dos piores?! Aqui esses piores são os melhores... da casa deles! Os nomes "artísticos" de alguns são: Ubaka, Like This, Pro Ligth (lê-se pró laigt), K2, 

Há pouco assisti a um apresentador que de repente passa a entrevistado! Começou a apresentar o programa e o que estavam ali a fazer, mudei de caanal só para ver o que estava a dar noutro e, quando voltei, estava uma rapariga com uma folha amarfanhada a pegar no microfone a entrevistá-lo!
- Quando é que começou a desenhar?
- Dêsênhár é uma fátálidadi dá minha família... mêu pái dêsênháva, mêu ávô dêsênháva...
Opa, são umas atrás das outras...

Há canais que se vêm bem com a antena "ferrinho" em cima da TV, outros em que temos de pousar no movel do lado e ainda assim, vê-se bem, mas é com o som e a imagem em discordância... Mas afinal há alguma coisa aqui que funcione bem?!

Vou beber um chá para acalmar esta tosse teimosa...
Durmam bem ;)

PS: O chá funcionou bem!
Só a ventania que está na rua é que me acagaçou... portas a chiar... ainda bem que não estou sozinha!

Thursday, July 24, 2014

Dia 23: 16 Julho 2014 - Curiosidades e o Viajante nú

Hoje acordámos sozinhos em casa embora fosse dia de trabalho. Quando me levantei lembrei-me que estaria na hora da Sal chegar, mas não a ouvi bater à porta. Ainda não vos disse que campainha existe... mas como é óbvio não funciona! Então fui abrir a porta pois tinha sido avisada que ela batia muito baixinho... é igual quando fala. Às vezes acho que estou mesmo muito surda! Há pessoas de 8 e outras de 80... uns murmuram a falar, outros berram como se não houvesse amanhã! Mas, ainda assim, perfiro os que murmuram... falam uma língua mais perceptível, os que berram... bem... berram! Aqui fala-se português e xangano ou changahan, ou changane, ou... pércébéu?!
A Sal... coitada, tanto como agora, que nunca mais voltava a falar dela, também esta manhã estava, pacientemente, à espera que lhe abrisse a porta... Sugadita, encostada à parede, pacientemente em silêncio... Tão, e bater à porta, não?!

Como sabem, nestes dias de trabalho não há fotografias a não ser por alguma coisa extraordinária que não é muito difícil de encontrar...
O dia de trabalho foi calminho, sem contar com o final do dia que é quando alguém se lembra de fazer asneira e lá temos todos de rectificar... Bem, à pala disso andei de tchopela de novo, na esgalha! Hehe Lembras-te daqueles e-mails que falam das diferenças entre os dias de hoje e dos anos 70/80/90?! Cujo título, geralmente, é "Eu sobrevivi"?! Pois faz-me lembrar isso... Aquela coisa vai de porta aberta, apanhas uma pedra de um lado e lá vais como que uma pastilha elástica cuspida antes de entrares na aula. E vais observando o trânsito mesmo por dentro... deve ser como estar dentro dum furacão... Vês os chapas em andamento com portas abertas e pessoal, lá dentro, com os rabos colados aos vidros, ou a entrarem e a sairem pessoas em andamento. Vês pessoas a atravessarem a estrada mesmo ali ao teu lado e quase que são atropeladas. Reparas nos nomes das milhentas lojas de roupa: "Beauty", "Gestante Moderna" (para grávidas, claro), "Loja das Damas" (só com roupa para muçulmanas... burcas e lençóis para te embrulhares) ou o "Rei do Chinelo". Reparas nos milhares edifícios enormes que existem só de Ministérios: do Interior, da Educação, da Cultura, do Trabalho, da Saúde... e milhentos mais, cada um do seu. Ouves businadelas por todo o lado, ou porque não andam, ou porque o sinal ainda está vermelho quase a passar para verde, ou porque está a sair do estacionamento, ou porque viu alguém conhecido, ou porque travaste um pouco, ou porque passaste para o outro lado para ultrapassares, ou porque viraste, ou porque sim e porque não! Depois ainda tens as pessoas que passam a vida a varrer a terra que está na rua...

Ah, ainda não vos falei do viajante nu... de vez em quando vemos um gajo (é sempre o mesmo) descabelado, com uma camisa e um casaco rasgados, sem calças e acho que sem mais nada mesmo, descalço... ou seja, da cintura para baixo é só pele! Atenção que o facto de eu dizer descabelado é mais o que parece ser um ninho de ratos, e não estou a gozar! É pobre com certeza e deve viver na rua, mas também tem parafusos a mais ou a menos... faz lembrar o Veríssimo de Olhão... Anda sempre direito, com muita pressa, sem se meter com ninguém, mas com muita energia e determinação, como se tivesse algum objectivo. E, de vez em quando, deve-se esquecer do objectivo... porque vai a 100 km/h e pára! E ali fica como se estivesse perdido... Dá-me pena, claro, mas também é uma pessoa imprevisível que evita o contacto com as pessoas. Verdade é que já o vi umas 4 vezes, sempre em locais diferentes na cidade.

À hora de almoço é sempre bom chegar a casa e ter a mesa pronta e um cheirinho de comidinha feita... está tudo pronto, é só por no prato! Assim dá-nos tempo para descansar antes de voltar na parte da tarde.
Esta coisa de vir para África tem ainda outra situação caricata que nunca te lembras a não ser quando te deparas com as dificuldades do dia-a-dia. Os nomes... raros, mas mesmo muito raros são os nomes perceptíveis... então fixar os nomes dos colegas torna-se pior quando nem os sabes dizer. Além de, quando ouves alguém a chamar outro alguém, é sempre murmurando... Então, ao facto de trocares os nomes das pessoas quando mal as conheces, acresce o saber pronunciá-los! Escrevê-los então "tá quiét"!

Uma das coisas boas são as bancas dos frescos na rua. Tenho pena de não ter fotografias, mas é muito descarado. Estão nos passeios, em bancas da Vodacom. Vou tentar descrever a coisa ao pormenor, mas têm de dar largas à imaginação... No passeio, encostado a um muro, de uma casa, de uma loja, do que for. A estrutura é, de lado, em triângulo, com uns 2m de altura e de fundo. Para cima está a pala que fecha quando encerram ou faz de tapa-sol enquanto estão a trabalhar. Do lado direito tem uma pequena porta onde só entram ou saiem quase de joelhos. De frente estão as frutas e os vegetais. Mas aqui têm de imaginar um dos lados do cubo mágico, tem 9 quadradinhos. Os 8 quadradinhos à volta têm os frescos em caixas que não vemos porque estão cheias e inclinadas (porque de lado aquilo é um triângulo). O quadradinho do meio é onde colocam uma cadeirinha e está o vendedor! Quando querem fechar é só baixar a pala e a portinha ;)

E pronto, chegámos a casa já com jantar feito porque tinha sobrado comida do almoço. Assim, aproveitámos para deitar cedinho ;)

Hêlêlêêêlê (só percebes se tiveres visto o anúncio da mcel, publicado anteriormente)

Wednesday, July 23, 2014

Dia 22: 15 Julho 2014 - No Zambi

Hoje acordei sozinha numa cama gigante...
Foi, por isso, um dia dedicado ao trabalho e pouco mais. Nem fui almoçar a casa. Tive almoço de trabalho no Zambi, valha alguma coisa diferente. Comi o prato do dia: Caril de camarão. Resumindo foram 3 camarões com arroz branco e molho de caril com amendoim. Aqui, tudo é caril desde que pique um pouco na língua e tenha amendoim. É bom! Não fiquei com fome, mas esperava uma coisa mais bem servida. Já o prato da carne achei que tinha uma apresentação maravilhosa. Eram umas fatias pequeninas de pato, com morangos por cima, laranja, arroz e salada. E devia estar mesmo delicioso, fica para a próxima. Depois veio a sobremesa... confesso que tive dificuldade em escolher porque qualquer descrição me fazia babar... Acabei por escolher a tarte de caju com uma bola de gelado... NHAM! Veio um prato gigante... tão a ver o tamanho dos individuais?! Aqueles paninhos que pomos por baixo dos pratos... era desse tamanho! Comprimento e largura! Vinham duas fatias de tarte, daquela fofinha por baixo e melosa por cima, com cajus semi-inteiros em fóssil mergulhados no caramelo, uma bola de gelado cremoso (mas mesmo cremoso... tem exactamente a mesma textura de um iogurte grego, aqueles bem batidos). Ainda tinha um rolinho de massa fininha, estaladiça com creme de caju por dentro e uns fios de ovos em cima,  tudo isto salpicado com "crumble" de caju. Babou?! Eu também babei! Mas depois comi tudinho! Só não lambi o prato... fica para a próxima!
No final já tinhamos alguma pressa pois já passava da hora de entrada. Então pedimos a uma, dos mil e quinhentos empregados, para trazer os cafés.
- Como? - perguntou ela muito baixinho
- Não sei se pode ser consigo ou se com o seu colega que nos atendeu... pode trazer-nos os cafés ou prefere chamar o seu colega?
- Sim...
- Sim o quê? Qual das opções?
- Desculpe, não percebi o que a senhora pretende...
... Achei que estavam a contar alguma piada... É impressionante a capacidade de responder que "sim" a tudo sem perceber! Depois, ou a coisa corre mal ou estas pessoas são logo desmascaradas! Acho que há muita gente que tem dificuldade em perguntar ou admitir que não perceberam. Ou então, têm receio de algum tipo de preconceito... mas as outras opções não são as melhores... ainda não percebi bem. Mas não acredito que simplesmente não queiram saber.

Depois voltámos ao trabalho... de pandulho cheio dá cá uma sorna...
Mas saí mais tarde pois havia coisas urgentes a fazer. Como o JG também vai chegar bem tarde vim actualizar aqui as novidades. Entretanto já tenho novidades, mas só as revelo depois de saber como correu... suspense! Sorry... mas o segredo do negócio é mesmo o segredo!

Uma pessoa sozinha vai observando coisas que de outra forma não captava...
Sabes quando é normalíssimo engolires um pouco de água depois de lavares os dentes?! Esquece... aqui ou ficas a seco ou corres o risco de ficar de c....eira... Acho que tenho tido sorte... if you know what I mean...
Aqui a TV passa, como já vos disse, coisas que parecem do século passado. Desde os anúncios (não os que publiquei antes), aos programas e mesmo a apresentação dos cenários dos noticiários. Mas mesmo os filmes que dão... podem até ser actualizados, mas têm legendas em brasileiro... e ver um drama em inglês, com "jet lag" (divergência entre som e imagem) e legendas em brasileiro torna-se uma autêntica comédia... parece uma telenovela mexicana! Mas sempre é melhor que nada! Ao menos dão filmes decentes... muito embora em condições indecentes... Ah, e sim, voltámos à antena de ferrinho... A televisão parece um autêntico Teletubbie!

Ah, sim, aqui há um canal só da Igreja Maná... acho que isto nem merece comentários... por muito que respeite as crenças de todas as pessoas, prefiro não comentar... Vá, ok, é deprimente ver como as pessoas acreditam numa coisa tão, flagrantemente, falsa! Já fechei a boca!

Beijinhos!

Tuesday, July 22, 2014

Dia 21: 14 Julho 2014 - SAWABONA

Esta madrugada o JG saiu de casa às 4h... foi apanhar o avião para trabalhar. Qua falta que ele me faz... sinto-me perdida sem ele...
Levantei-me poucas horas depois para ir trabalhar e o dia iria ser o normal... e foi! Mas, como qualquer um deles, tem sempre umas características únicas...

A certa altura do dia vi uma coisa "orrorózamente" mal escrita... até vou dar o contexto para ver se chegam lá... "não exi-te em contactar"... Ai que dor!!! Dor de olhos porque viram, dor de cérebro que não assimila, dor de coração que não acredita... Juro que "fiquessei" aquela palavra uns segundos (que me pareceram horas esquecidas) por não acreditar no que os meus olhos viam... ainda pisquei sem grande "hêizito"... (hihihi)

Ao final do dia de trabalho, estávamos já do lado de fora, quando chegou uma carrinha de caixa aberta, tipo as "máilóv"... As "máilóv" são carrinhas deste género


E chamam-se assim porque transportam pessoas na parte atrás, aberta. Só que não é uma nem duas... é todas as que couberem, de tal maneira que para não cairem têm de se agarrar uns aos outros, do tipo "anda cá mái lóvi (my love)". Faz-me lembrar algumas aulas de expressão dramática, com aqueles exercícios de cooperação de grupo...

Mas agora mais a sério, estávamos já a sair e chegou uma "máilóv" com um condutor e um moçambicano, cor de chocolate de culinária, sozinho atrás, já bem mais velho e com alguma dificuldade de movimentação. O condutor tirou uma máquina do banco da frente e passou-a ao moçambicano que a trouxe para a loja. A entrada tem uns degraus, como muitas outras lojas. Epa... aquilo tocou-me... o senhor, com as mãos carregadas e o corpo a suportar aquele peso todo, descalçou os chinelos que tinha calçados e subiu os degraus. Já se vinha embora mas tinha de levar um papel, por isso, aguardou. Estava a dar-me pena daquela pessoa... fez-me lembrar aqueles animais abandonados, que vivem na rua, cheios de medo de quem quer que se chegue perto... Tinha um ar sofrido, sem um único sorriso, um olhar pesado... Vi que deve ter sofrido a vida inteira e, provavelmente, não tem nada seu... Fiz questão de ser eu a entregar-lhe o papel para ver como o recebia e não tive dúvidas da sua humildade, respeito e bondade... tive pena daquela alma... precisa de alguém que o ajude... mas sei que como ele há muitos pelo mundo fora! Ele recebeu aquele papel como a maioria recebe algo. Seja esmola, seja papel, seja o pagamento, seja o que for que recebam com respeito pela pessoa que lhes dá: com as duas mãos juntas, em forma de concha, ao mesmo tempo que o seu corpo se curva para a frente e a cabeça baixa... e ainda ouves:
- Muito obrigado senhora.

Depois foram-se embora e o cor-de-chocolate foi outra vez atrás! Que dó! Ainda me foi explicado que assim era para, quando parassem nos semáforos vermelhos não roubassem a mercadoria atrás... mas não me convenceu. Os semáforos aqui é das coisas que funcionam lindamente (quando funcionam), porque não demoram muito, 30seg e tá feito o baile! Até poderia ser essa razão há uns anos, mas hoje em dia... não sei... não fiquei satisfeita!

Tudo isto me fez lembrar esta pequena história:

"Há uma tribo africana que tem um costume muito bonito.
Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas... que ele já fez.
A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom, cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade.
Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros.
A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro.
Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente:"Eu sou bom". Sawabona Shikoba!

SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer:
"EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".
Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA,que é:
"ENTÃO, EU EXISTO PRA VOCÊ"


Chegámos a casa mas fiquei hoje a jantar sozinha, por opção, mas satisfeita por saber que tomei a opção correcta em ficar em casa ;) Assim, também aproveitei para actualizar o blog para vocês, meus fiéis leitores! ;)

Aproveito para vos agradecer todas as mensagens, o vosso encorajamento, o entusiasmo e por gostarem, verdadeiramente, de o ler! Beijinhos a todos com muitas saudades!
Beijos e abraços à família, aos amigos, aos meus bichinhos que tantas saudades tenho de lhes passar a mão plo pêlo e à minha mamã galinha que está sempre do outro lado pronta para saber notícias minhas ;)

Monday, July 21, 2014

Dia 20: 13 Julho 2014 - No Clube Naval

Esta noite passei mesmo muito mal! Não conseguia respirar, tinha o nariz sempre entupido e quando me assoava só saia água a muito custo. Estava impossível e sentia o coração a mil com falta de descanso e esforço a mais... os pulmões sentia-os pesados, ora demasiado cheios, ora demasiado vazios. Não tinha posição, nem como respirar pela boca pois a garganta doía como se tivesse engolido vidros, os lábios secos secos secos... pareciam casca de árvore! A cabeça... bem, a dor que sentia na cabeça era mais suave que as de garganta... sempre me ensinaram a ver o lado bom das coisas...
A meio da noite o JG foi fazer-me um cházinho com mel, bem quentinho. Não é um amor?! Vestiu-me até um casaco dele para enquanto estava, sentada na cama, a beber o chá, não apanhar frio nas costas. Escusado será dizer que não dormi "porra nenhuma" (como se diz no Brasil... Sim, aqui a coisa mais interessante que dá na STV são as novelas brasileiras de há três décadas).

Levantámo-nos, por isso, às 12h. Tinhamos um almoço combinado no Clube Naval, um dos locais mais famosos pelas elites, só frequentado por membros selectamente escolhidos ou pelos seus convidados. Tem ginásio, piscina (muito cobiçada), restaurante/bar... é um espaço fantástico, separado do mar por um muro, um edifício já com 100 anos de existência. E, sim, nós fomos lá almoçar! (grande sorrisão de orelha a orelha!)
Fui muito bem agasalhada, como é óbvio! Estava-se fantabulasticamente bem! A piscina ainda piscou o olho ao JG que quase "caiu" na tentação, mas eu não empurrei. A vista é para o mar e, isso para mim, não pode ser melhor! O mar transmite-me tranquilidade, física e mental. Preciso do mar e do sol para viver, assim como o meu corpo precisa de oxigénio e sangue.

Antes que esses dedinhos escrevam a pergunta que vos ecoa no cérebro eu vou já respondendo... comi o prato do dia: camarões à laurentina! Camarões de tamanho normal, uns 6cm de comprimento, banhados a laurentina (uma das cervejas mais famosas cá do sítio), com caril, um pouco de picante, especiarias e um arrozinho branco em forma de duna, no meio do prato, rodeado de camarões, uns com casca, outros com cabeça, outros nuzinhos como vieram ao mundo... ou talvez não... Estava bom! Podia estar muito melhor e ser mais bem servido, mas estava bom e não fiquei com fome. Só que, dada a fama do sítio e o valor das quotas, tinha uma expectativa bem lá no alto! Ainda assim, foi muito bom lá ir, fez lembrar "a minha casa"!
Verdade seja dita, é só portugueses ou estrangeiros lá dentro, moçambicanos só mesmo a servir às mesas, no portão de entrada e no estacionamento, do lado de fora. Faz-nos esquecer que estamos em Moçambique, e isso é estranho... não é muito bom, mas começo a perceber o conceito. É um ambiente diferente... mais elitista! Mas é descontraído e, talvez, tenha mesmo o objectivo de nos fazer viajar a casa...



Depois fomos passear ao Jardim dos Namorados. Deu para ver só um pouquinho porque fomos ter com um casal amigo, um dos contactos de Portugal. Mas deu para passear um pouco do lado de fora e passar por uma situação um pouco revoltante...
Ao longo do passeio, passámos por diversas pessoas com crianças, sem miúdos... e passámos por dois miúdos muçulmanos de uns 8 anos. Eu estava ao lado do JG e ia passar mesmo ao lado deles. Estava eu a observar que os miúdos não se afastaram de propósito para nós passarmos, e ao lado estavam os pais (só homens). Um dos miúdos ficou, de propósito, à minha frente a olhar para baixo, com uma pedra na mão, que atirou com força mesmo quando eu ia a passar ao lado dele. A intenção era acertar-me no pé (estava de sabrinas) e ainda começou a rir... Os pais fingiram que não viram mas a atitude de tão novos é tão triste... Senti uma revolta tão grande que só me apetecia dizer e fazer coisas que nem a minha consciência religiosa me permite demonstrar...

Estivemos com esse casal amigo no cafezinho e depois é que fomos dar uma voltinha curta porque estava ventinho e frio. E o meu estado gripal não me permite piorar pela curiosidade, por muitos casacos que vista ou echarpes que enrole... Rapidamente viémos para casa, até porque o JG tinha de fazer a mala e deitar cedinho. Descanso é muito necessário, ainda mais depois da noite passada. Amanhã há mais! De certezinha!
Sódadinhas!!!

Sunday, July 20, 2014

Dia 19: 12 Julho 2014 - A publicidade

Levantámos cedo porque a manhã é de trabalho ainda e depois desta semana, que faltei tanto, tenho de fazer alguma coisa... hahahaha... (ar de frete) fazer alguma coisa... HUMPF! Às 13h30 estamos safos e começa o fim-de-semana! Não me sinto muito bem, ainda estou combalida e o tempo lá fora está soprado... não apetece mesmo nada sair. Acabámos por ficar em casa a teclar, mandar CVs e a ver TV.

Vou mostrar-vos um pouco de cá com dois dos anúncios mais famosos que dão a toda a hora: o "párraqué" e o "helelele". Quero comentários!

(caso não consigam ver, deixo o link para clicarem e verem noutra página: http://youtu.be/sZDGqvPZPqQ)


(caso não consigam ver, deixo o link para clicarem e verem noutra página: http://youtu.be/snjBhqMzpek)

Também tenho descoberto coisas hilariantes! Já ouvi várias pessoas, até na TV, dizerem "dábliu dábliu dábliu" como a Sónia...

(caso não consigam ver, deixo o link para clicarem e verem noutra página: http://youtu.be/4gXZ1sRcK2A)

O "tou a pedir qualquer coisa" é fenomenal! É que se disserem "passa aí qualquer coisa" ou "faz isto ou aquilo" ou "é um café, sff" ou simplesmente "a conta, pff", dá sempre confusão! Ou não percebem à primeira, o que é o mais comum, ou dá barraca na certa! A conta convém sempre conferir, os valores facilmente são diferentes. As tarefas são, muitas das vezes, mal interpretadas, outras mal transmitidas. Acho piada é que, cá em casa, já se habituaram a isso e, entre nós, às vezes sai o "tou a pedir..." hehehe Eu ainda não me adaptei a essa parte. Ainda estou muito verdinha.

A meio da tarde recebi uma SMS respeitante a um CV. Era do Zambi... o Zambi, meus amigos, é só o restaurante mais caro de Maputo! O mais famoso, o mais IN, o mais frequentado pela elite nacional e mundial! Foi um contacto pessoal pois foi relativamente ao meu nome, mas o contacto está feito e, em breve, teremos oportunidade de falar de negócios. Seja como for ligámos e fomos lá à noite para conversar um pouco. Vamos ver no que dá. O ambiente é mesmo porreirinho, perto do mar, mas eu estava sempre com o nariz entupido... acho que estou a piorar.

Saturday, July 19, 2014

Dia 18: 11 Julho 2014 - A volta para Maputo

Levantámos perto das 9h já que o pequeno-almoço era servido até às 10h.
- Aposto que somos os únicos a tomar o pequeno-almoço a esta hora... - bem dito, bem feito! Aqui já é considerado tarde, levantar ao 12h então é perder o dia! Comi que me fartei! Estava cheia de fomeca e a comidinha era saborosa!
Quando subimos ao quarto fomos tomar banhinho bem quente, sem problemas de acabar a água ou mesmo a água quente. É booooom! Quando saímos já levávamos a trouxa toda! Fomos ter ao consulado mas ainda era um pouco cedo e fomos beber um chá ao café do lado. Estávamos ansiosos porque se houvesse problema com o meu visto ou se atrasassem por alguma razão teríamos de ficar mais tempo... E se corresse tudo bem teríamos o resto do dia para passear! Correu tudo lindamente e nem demorámos mais do que 5min! MILAGRE!!!


Esta torre é a vista do consulado, acho que é uma igreja. pelo menos tem todo o aspecto disso.


Esta árvore é uma perdição de linda! Está à entrada do estacionamento de um dos mil e quinhentos shoppings que lá existem.


Fomos, todos contentes, ter ao shopping para fazer compras, almoçar e conhecer um pouco mais esta "civilização". Até porque, ao final do dia já iriamos estar de volta ao nosso "acampamento". Sim, não me farto de dizer que me sinto a viver como se estivesse a acampar, portanto num acampamento, por causa dos cheiros a churrasco, do pó no ar, da areia no chão, da água limitada, da água quente com tempo contado (só não dá para por a moedinha para ter mais), do tempo quase sempre quente, da praia já ali...



Sei de quem vais gostar de ver estas florzinhas, né mamã? Isto é a entrada para o casino, na parte de trás é o outro shopping onde vamos.



Aproveitámos para comprar umas almofadas melhores para nós, bem mais baratas do que em Moçambique e até de Portugal! Reparem bem na qualidade da loja onde comprámos duas almofadas de grande qualidade, anti-alérgicas, mais a dar para o carnudas... por 23 euros as duas! Tem muita pinta, não tem?



E fomos também às compras de comida e coisas. Aqui, ir a África do Sul é como aí ir a Espanha às compras. Só que ainda compensa mais! Tanto que muita gente até fica dum dia para o outro, especialmente devido ao tempo da viagem...
Depois das compras feitas fomos almoçar a uma Steak House. Na África do Sul a carne é suculenta, são nacos altinhos e parecem manteiga ao corte. Espetas com o garfo e pões na boca... derrete-se pela língua e o aroma espalha-se pela boca... Espero que não estejam com fominha... (Mutley laugh /Riso à Mutley) É BOM!!! Não fosse aquilo uma Steak House. Comemos que nos lambusámos! Vinha também acompanhado de batatinha frita e cebola frita, que é muita bom. Bebi uma Bloody Mary a acompanhar só mesmo para não ser só água.
Uma coisa curiosa foi podermos entrar no restaurante com o carrinho das compras. Se estamos dentro do shopping o carrinho entra em qualquer lado! Outra coisa curiosa é haver tantos empregados de mesa quantas mesas tem o restaurante! Aquilo é realmente grande mas das duas uma: ou estavam os turnos todos a trabalhar ao mesmo tempo, ou o nº de empregados no total é o dobro! As mesas nem estavam todas cheias, nem pouco mais ou menos, por isso, mais de metade estavam de conversa, ou encostados a um canto... E depois ainda há os responsáveis de zona ou chefes de sala, uns 5 ou 6. Ou seja, tens de ter o trabalhador A, outro trabalhador B para fazer o trabalho do A, um C para fazer o trabalho do B... outro para inspecionar o trabalho do A e ainda mais um para inspecionar o trabalho do B... Além do gerente e do dono! Que canseira...

Bem, saímos do restaurante mais que satisfeitos mas a pensar já na viagem de volta. Se demorarmos o mesmo tempo que fizémos para cá, já chegamos "tááaaaaaardji". Saímos de Nelspruit já eram umas 15h e qualquer coisa porque ainda andámos um pouco perdidos, para a frente e para trás, saímos da cidade mas não era aquele caminho, então voltámos a entrar... Ena ena, não esperava voltar tão cedo! hihihihi Aproveitei para ir tirando umas fotografias.









Adoro a janela aberta. É muito comum ver estas situações. E, ao contrário daí, a polícia não diz nada. Em Moçambique nem é obrigatório usar cinto atrás. Na África do Sul já é.


OLHA o MAC!!! Saudadinhas de uma coisa familiar...



As pessoas à espera dos chapas.


O sinal de cima é "Do NOT STOP" e o de baixo significa que é proibido venda no passeio ou na estrada.


Um dos não sei quantos stands de carros. Porque é tão barato comprar carro... aqui ainda é mais barato que em Moçambique. É um pouco o que o JG diz: tirem a escola, dêm carros e telemóveis dos melhores... e temos montes de gente burra!


Tão a ver o frio do pessoal? Tão 27 graus...


Parece mesmo a américa... Não faz lembrar Miami?!


Esta árvore é uma curiosidade... não tem quase folhas, mas os ramos têm flores vermelhas nas pontas... não é linda?



Portugal por cá



Estão a ver a vedação? É só de um condomínio de casas...parece uma prisão!


Este rapaz a pé passa o dia no meio da estrada a pedir, esteja o sinal vermelho ou verde, ele está sempre lá, em pé ou de joelhos.


Agora sim, de volta à estrada. Não estamos muito longe das obras, por isso, vamos ficar retidos de novo, quase de certezinha... Mas aproveito para ir tirando as fotografias da paisagem.






Onde há fumo há fogo...




Crocodile River... ainda não vi nenhum Lacoste... DAMN!



Ui, sinais na estrada... estamos lixados...



Estamos já parados. Bem perto do rio. que vista linda...
As vendedoras com os amendoins



Enquanto estamos parados dá para ir vendo as vistas e ficámos mesmo ao lado de um memorial de pessoas que devem ter morrido ali, provavelmente até no rio. Tétrico... Demos por nós a sair do carro para tirar as fotografias, a olhar à nossa volta e ver outras pessoas, de outros carros a sairem também, mas não ali perto de nós. De vez em quando ouviam-se barulhos nas árvores, o que é normal, estava uma brisa. Mas eu sou uma assustadiça de primeira e acagáço-me com facilidade. Até o JG ouviu qualquer coisa mas nada de mostrar medo... a caguinchas aqui sou eu e comecei a rir-me... nervosinha...
- Achas que há animais aqui? - perguntei na esperança de ouvir uma resposta gozatória a compor o cenário mais horroroso.
- Nãã... mas se ouvires barulho fica aqui que eu vou para o carro! - é a tal regra que ele sempre defende: não tens que correr mais que o urso, só tens de correr mais que o outro que foge do mesmo urso que tu! (sorriso de orelha a orelha) Claro que não me descansou mesmo nada... mas não havia de aparecer nada ali, afinal estavam os vendedores com os amendoins por ali o tempo todo...
Então começámos a gozar com o medo, talvez para nos acalmarmos...
- Olha um tigre!
- Tigres em África, Rita?!
- Sim, claro, porque não?! Tá ali, oh! - apontei para o cerro à nossa frente. É claro que não vimos animais nenhuns a não ser mosquitos... mas foi tão emocionante quanto a aventura do javali e esta fica para a minha mãe contar...

Estamos tão cansadinhos e desejosos de voltar para casa. Está a ficar escuro e já não vou poder tirar mais fotografias. Mas a lua está magnífica... bem sei que não há fotografia que tire que defina essa beleza, mas amanhã vai ser lua cheia e está já bem brilhante!







Já vamos em quase 3h de viagem e ainda não chegámos a Moçambique... falta-nos a fronteira.
Desta vez fui muito decidida, além de estar desejando chegar a casa, cansada da viagem, não tinha pachorra para aturar mariquices.
Começámos pelo lado bom da fronteira, descansadinhos da vida, fomos nas calmas, correu tudo tão mais rápido. Mas é sempre assim, quando temos pressa tudo empata! Depois de tudo tratado aproveitámos para comer e ganhar energia. Bora em frente, temos pressa para descansar.
O ar decidido e confiante ajuda muito. Entrámos am Moçambique e a rebaldaria passa a ser moda! Mais confusão, mais barulho, mais pó, mais lixo... de forma estranha sentimo-nos melhor porque estamos mais perto de casa... Estacionámos logo e fomos para os balcões pedir os carimbos nos passaportes. Faz-me lembrar quando coleccionava cromos nas cadernetas. Aqui são uns "baita cromos, viu"! Estava sempre a querer preencher as cadernetas até ao fim. Mas esta "caderneta" é bom que dure mais que o prazo! É o que me vale longe de casa...
Depois passámos ao balcão de dar entrada dos veículos, também correu bem mas ainda tinhamos de mostrar o tiquet aos polícias que estavam cá fora. Mas aqui vai a dica: dá-lhes trabalho que eles dizem que está tudo bem!
- Boa noite. Quer ver o carro?
- Bôa nôiti... pódi sêr...
Andámos até ao carro, que não estava logo ali. Dissemos que tinhamos feito compras para casa, mostrámos os 10 ou 15 sacos e dissemos:
- Pode ver à vontade! - atenção que não perguntámos se queria ver. Foi mesmo de propósito para o que aconteceu. O homem viu tanto saco de coisas que não brilhavam de ostentação, que nem olhou para os bancos de trás.
- Não é prêciso, tá tudo bêm... - e foi logo andando.
É preciso ganhar calo nestas coisas... bem que eu digo ao JG:
- Sou o teu amuleto da Sorte!
Felizes e contentes lá fomos já pela noite escura que nem breu. Estávamos no júnior que já não tem suspensões, o que nos faz sentir a estrada toda. Ainda estávamos a sair daquela confusão toda, com lombas aqui e ali, já com pouca luz e mal sinalizado e oiço o JG:
- Epa... BURACO! - esperei um segundo ou dois e achei que tinha passado...
De repente, ouve-se um grande estrondo, vejo tudo a estremecer, o carro voa (deixou mesmo de ter os pneus em contacto com a estrada), nós saltámos dos lugares, e tenho a sensação que bati com a cabeça no tecto, as compras saltam, pulam e resvalam, tudo o que eu estava a mexer me saltou do colo... Parecia coisa de filme! Ou de desenho animado!
- Tão moh?!
- Era uma lombazita...
Claro que houve um silêncio tipo "WTF?!" bem longo, mas depois foi rir até mais não!

Durante o resto da viagem já não se via nada por causa da escuridão. Ainda tivémos de parar outra vez por causa de outras obras e ficámos uma bela hora à espera. Aí já não achei tanta piada porque não via nada lá fora. A sorte foi estarmos entre camiões e, mesmo desligados, eles mantinham as luzes acesas. Pela berma havia vendedores que nem os via. De vez em quando apanhava com cada susto...

Já me Maputo estavam os cinzentinhos a fazer uma operação STOP.
- Deixem-me da mão... - estávamos a metros de casa...
Mandaram-nos encostar, o JG sacou logo a papelada toda...
- Boa noite, está tudo aqui.
- Boa noite. Não era para você parar, pode seguir!
Nem queriamos acreditar...
- Queres dar um beijinho ao teu amuleto?!

Nunca pensei ficar tão feliz a chegar à casa que ardeu...
Descanso merecido!