Saturday, January 31, 2015

Dia 150 - 3 Janeiro - Dia de Festa

Hoje queríamos ter levantado bem mais cedo mas é tão bom dormir...
Às 9h espreitei pela janela e estava tudo nublado. O que é que apetece nestas alturas?! Voltar para a cama, pois claro. Foi o que fiz! Quando saímos do quarto eram já 11h30. Tomámos o pequeno-almoço no alpendre, com a mesa que já lá estava e as cadeiras. Levámos só a comida e desfrutámos. O sol já brilha e o céu está bem azulinho. Poucas são as nuvens que surgem lá bem longe. O mar está com a maré mais baixa que nos outros dias e, depois de rebentarem, as ondas esticam como a massa dos coscorões como se levassem com o rolo da massa em cima.




Cada vez que vamos ao banho levamos menos coisas. Hoje fui só mesmo de bikini e chave de casa. Nem toalha, nem protector. Tomamos um banho por dia. Parece pouco?! Talvez... mas é um banho de hora e meia. A sair e a entrar, a pular, a mergulhar. Hoje o mar está um pouco mais mexido. Cheguei a ficar de ouvido entupido. Cada vez que saímos da água, porque a corrente nos arrasta para o lado direito, voltamos a andar pela areia, sentimos o vento mais fresco cá fora e, quando entramos, nem refresca. Está um autêntico caldo! Faz lembrar a minha lógica da garrafa de água. Há muito que digo, em tom de brincadeira mas fundamentado, que a água do mar é como a água de uma garrafa que anda connosco o dia todo. Quando abrimos a garrafa, que estava apenas pousada num frigorífico, ela está bem fresca. A garrafa vem connosco, vamos bebendo um pouco e, vai ficando menos fria. Se a agitarmos ela fica choca! Já fica quente. Ora, se o mar está mais agitado, também fica mais quente! Faz sentido ou não faz sentido?
No banho o JG apanhou uma pedra do tamanho de uma mão grande, é rugosa, preta e, curiosamente, não faz barulho de pedra, agora que a pousei no chão. Ele encontrou também uma coisa que parece uma caneta e que vou usar mais à tarde.



Hoje faz anos o sogrinho, por isso, é mais um dia de festa. Que mais pode alegrar uma pessoa do que viver na praia em dias de calor e sol e água boa e paz e tanta coisa boa?! Almoçar umas lagostas talvez ajude...




Esta vista maravilhosa privilegiada que temos do rio enquanto almoçamos é fenomenal. Embora haja alguns defeitos – porque todos os locais têm defeitos – podemos dizer que estamos num local privilegiado. Do lado do mar está mais ventoso, ainda assim, não menos apetecível.
Estamos cheios. As lagostas eram realmente bem carnudas e saborosas. O vinho alegrou o ambiente e a vontade de ir para a praia arrastou-nos para o alpendre onde ficámos um pouco até fazer a digestão. Apesar de estar vento, está menos que nos últimos dias.

Quando demos por nós estávamos a correr para a água de novo! Ui ca bom! Ficámos lá o resto da tarde até nos cansarmos de andar à reboleta pelas ondas! E sim, é de propósito!


Ao final da tarde começaram a juntar-se um grupo de mal formados no nosso alpendre. Até estavam já sentados nas nossas cadeiras quando voltámos para casa. Tinham já o fogareiro aceso, estavam a descascar batatas e cebolas... cerveja a potes, whisky, mesmo para miúdos que nem 14 anos tinham e, até vinho de mesa, daquele de pacote, lá tinham e estavam a beber. Mas são pessoas que não interessam a ninguém... São mal educados, provocadores e sem escrúpulos. Estavam a sujar toda a praia, a deixar embalagens na areia e restos de comida. E o barulhão que fazem o tempo todo aos gritos?! Até nos chegaram a pedir o que fosse que tivéssemos no frigorífico! Olha bem a lata destes bostas?!
Claro que pegámos em nós e fomos andando para o restaurante, mesmo ainda sendo cedo. Mas foi o melhor para não nos stressarmos nem nos enervarmos com aquela gentinha. E foi a forma de apanhar estas lindas fotografias sobre o rio.



Foi a noite em que apanhámos mais mosquitada ao jantar. Andavam que nem doidos varridos a picar até por cima da roupa! Estão destemidos! Já nos besuntámos todos com repelente, mas eles investem na mesma e, só depois de picarem é que morrem. Eu também morreria... só a pôr o repelente me dá vontade de ir ao greg! Aquele cheiro horroroso entranha-se na garganta e faz-nos tossir. Imagino o “strikinight” que dá aos mosquitos! Por muito grandes que sejam. Jogámos cartas, ao STOP mas, ainda assim, andávamos todos às chapadas por causa dos “pica-pica”.

Quando voltámos para o quarto vimos e sentimos a lixeira que os bostas lá deixaram. Que nojo de gente... Que nojo de pegada que deixam... Há garrafas vazias por todo o lado, de vidro ou plástico. Há areia molhada com espuma que tresanda a bicho apodrecido... Ainda assim, o céu está limpo, vemos estrelas a brilhar bem lá longe, avistamos barcos no horizonte e a lua brilha quase cheia como se fosse um pirilampo. O reflexo da lua tilinta nas ondas pequenas que dançam naquela imensidão de frescura pacífica que é o Índico. Aproveitando a parte boa da noite, ainda desfrutámos da oferta que o sogrinho recebeu, pelos seus anos, do dono do resort.

Só tenho pena de ainda não ter uma máquina como deve ser para tirar belas fotografias destas noites maravilhosas... Mas como gostam de dizer aqui... hei de ter...

Friday, January 30, 2015

Dia 149 - 2 Janeiro - Caravelas Portuguesas

Acordei às 5h48 com o som agitado das ondas. Havia já luz no quarto e fui espreitar pela janela. Mesmo quando nasce, o sol ilumina este mundo com um dourado de encandear. Forma um caminho cintilante pelo mar... like the yellow brick road to the Wizard of Oz...




Voltei a deitar-me e fui acordando de hora em hora, mais ou menos, uma vezes por haver mais luz, outras com vozes de pessoas, às vezes com calor, outras com frio... mas a preguiça é tanta que não me apetece levantar mesmo. Até que, por motivos fisiológicos, todos somos obrigados a levantar de manhã para vazar aquele balão que enche, a conta-gotas. Há quem se levante, tipo zombie, de madrugada para o despejar. Pessoalmente, não me levanto de madrugada para isso, nem às 5h48 arrumei esse assunto. Só quando estava mesmo a “rebentar as águas” é que me arrastei para fora da cama.
Nesta altura demos conta de que havia muitos chineses a desfrutar do nosso alpendre. E não se calam! São tão “mecanizados” a falar que parecem matracas a digitar palavras na máquina de escrever. Não são melódicos como os Franceses ou energéticos cantaroleiros como os Italianos. Nem mesmo “formigas trabalhadoras” como os Espanhóis ou modelos de passerelle como os Ingleses. Até os Alemães, que são tão tanques de guerra em luta de boxe, têm mais encanto pela naturalidade.
Mas não duraram muito tempo porque lhes foram dizer que as casas estavam alugadas e era uma falta de respeito estarem ali, e acho muito bem. Num hotel também não vou acampar para a porta dos vizinhos.

Fomos tomar um cafezinho rápido e viemos, quase que a correr, deixar as coisas na cubata e correr para o mar só de chinelos e bikini. Levámos apenas uma toalha para os dois e não havia nada que nos impedisse de mergulhar nesta água cálida que chama por nós a cada gota que se desfaz na areia. Bem podes fazer a fita do “está fria” porque nem para ti cola! Eu deixei-me ficar à entrada, com os pés de molho, por dois minutos... tive de entrar porque já estavam a ficar quentes! E, lá dentro, é tão fácil esquecer as horas... Ficámos mais de uma hora de molho e só saímos por acharmos que estaria na hora de almoço. Coisa social essa que nos “corta o barato”... Afinal ainda faltava algum tempo pois os sogrinhos tinham pedido para assar um peixorro de 3kg para o almoço de nós quatro. Deu tempo para secar, comer qualquer coisa, tomar banho de água doce, arrumar e limpar o quarto - já vos disse que viver na praia dá muito trabalho?! Aproveitei também para tirar umas fotografias desta vida tão difícil...





Aproveitei para comer umas lichias e partilhar convosco...







Agora estou, sentada no degrau, de portátil no colo, de frente para o mar, de cabelo ao vento a sentir a brisa suave na pele... As ondas começam a encher a praia pelo som e pela maré que vai subindo. Os diferentes tons de azul sobressaem mais agora. Os locais começam a chegar à praia com geleiras e trouxas de capulana para almoçarem. E nós também vamos almoçar agora.

O peixe era delicioso! Chama-se peixe manteiga. A carne é macia, perfeitamente branca e suculenta. Veio a acompanhar com batatas fritas e a salada de repolho que fazem aqui tão bem. Pedimos um vinho verde bem fresco que deslizou perfeitamente com esta refeição. Para rematar pedimos cafés e eu acrescentei ainda um copo com gelo, adivinhem para que foi... Pouco bom, sim!
Tivemos companhia ao almoço de alguém que já cá está há alguns anos. Pessoa que fez uma grande aventura (para nós). Veio a pé desde o batelão até ao mar e percorreu todos os outros lodges. Sempre a pé! Maluquice! Por entre outras conversas veio à baila a fauna da costa... acrescentou logo que só hoje viu logo dois tubarões aqui na costa, “mas eram pequeninos”. Pequeninos ou não... !!! Tubarão!!! E eu que andei doida varrida a saltar e a pular pelas ondas... E... e... eles andem aí?! O meu coração disparou quando ouvi isto. Ainda continuaram a dizer que também havia Caravela Portuguesa, ou seja, aquelas minúsculas alforrecas com tentáculos compridos e um veneno horroroso que faz doer cada nervo do corpo... Não sei se tenho mais medo do tubarão “bebé” se da Caravela venenosa. Prefiro nem pensar muito nisso para não provocar qualquer tipo de atração...


Quando voltámos para o quarto sentámos cá fora, ou meio fora, já que eu fico no degrau. A praia está cheia de gente. Temos até pessoal no nosso alpendre, de novo. São menos que os chineses todos juntos, mas fazem barulho na mesma e trazem vinho para começar o dia... Tiram fotografias a tudo, posam de todas as formas possíveis e imagináveis. Parecem autênticas crianças a espetar e a torcer tudo o que o corpo consegue aguentar, até faz confusão. O vento sopra bem mais forte agora e o mar está bravo que nem touro enfurecido. Os grupos aqui à volta são um pouco mais calmos e tentam meter conversa connosco, mas não podemos dar grande conversa nem confiança porque depois não “largam o osso” e nós queremos ter espaço e paz. Não é por mal, mas quando não temos conversa com as pessoas, fica aquele ambiente desconfortável de quem não tem nada para dizer e passa o tempo em silêncio a tentar magicar alguma coisa menos absurda para desbloquear a conversa. É aqui que faz todo o sentido, qualquer ideia absurda, que a Rádio Comercial inventa nos sketches de Desbloqueadores de Conversas. Por muito absurdo que nos pareça, aqui seria perfeito!

Estamos ainda cheios mas apetece ir dar um passeio para encontrar silêncio e paz. E fomos! Sem blusa, apenas com um calção, óculos de sol e chave de casa. Começámos a nossa caminhada em direcção ao mar. Seguimos pelo lado direito da costa e começámos por ver uns fios azuis agarrados a umas bolhinhas de ar transparentes... são as Caravelas Portuguesas! Mas tantas que estão na costa! Ao longo de todo o passeio tivemos de andar sempre com algum cuidado para não as pisar. Achei piada a um búzio roxo e peguei nele. Tinha uma espécie de espuma a sair, mas era consistente, devia ser o bicho. Estava morto, claro. Mas, ainda assim, peguei num pausinho e tentei tirá-lo. Foi quando começou a jorrar um líquido da mesma cor e começou a escorrer-me pelos dedos. O que achei estranho visto que o bicho era completamente transparente. Larguei-o e fui lavar as mãos. Não sei se me vai fazer comichão ou alergia. Mas, mesmo depois de lavar, fiquei com os dedos manchados! Ficou o percurso do líquido ao escorrer. Já chegámos há meia hora e continua a cor roxa! Mas não me fez mal... até agora.

Com o que mais delirei foi mesmo com a quantidade de caranguejos a sair dos buracos na areia em direcção ao mar, para se banharem e, provavelmente, procurarem alimento. São imensos, do tamanho de caixas duras de óculos de sol. Correm desenfreadamente para as ondas, antes de as sentirem param e esperam que elas os apanhem. Depois de levarem com a onda em cima, eles enterram-se e, ainda esta onda está a voltar ao mar, já eles correm para a próxima. Divertem-se ali e eu a vê-los. Parece um namoro... Começam por fazer olhinhos e vão, apaixonadamente, de encontro ao grande amor! Depois, fazem a dança do “quero mas não sou fácil de apanhar”, e aguardam. Quando conquistam o grande amor, a paixão é imensa e tão forte que atordoa qualquer um! Fazem dessa paixão uma dança que os enamora para a vida inteira. Uma emoção que não querem perder e da qual é difícil separarem-se... Por isso, voltam até não poderem mais... por hoje! Amanhã há mais!

Não andámos muito, mas foi o suficiente, para chegar a uma zona onde tínhamos mar de um lado e rio do outro, separados apenas com uma extensão de areia de poucos metros, sem árvores. Depois disso começávamos a ver casas... mas não são casinhas. Acho que posso dizer que são casas de luxo. Para já porque só se pode ir a pé ou de barco até lá, ou moto-quatro. E depois porque são casas pré-fabricadas em cima de estacas com alguns metros de altura. E são lindíssimas. Rodeadas de janelas, com alpendres espaçosos de madeira, telhados também de madeira, com vistas privilegiadas para mar e rio. São casas que, segundo consta, são apenas de férias e visitadas pelos donos apenas uma vez por ano! Que desperdício...
No caminho de volta tivemos a companhia de um cachorrinho que veio a correr na nossa direcção. Tem uma trela vermelha e vê-se que está bem estimado e tratado. É simpático e quer brincadeira, mas não queremos dar muita confiança para ele não vir connosco, com receio que se perca ou que lhe façam mal. Só podia pertencer a uma daquelas casas. Ainda lhe perguntei no caso de o adoptarmos se ele vinha com casa incluída, mas acho que não...

Já estávamos no quarto quando vieram limpar e fazer a cama. À nossa porta continuam grupos de pessoas. Agora já nem sei dizer quais os mais alcoolizados... Deambulam aos “ésses”, cumprimentam toda a gente com uma grande festa esbracejada, uns olhos semicerrados e um sorriso que leva o tempo todo a compor-se por causa da “gravidade”. Naaaa, é mesmo só demasiado álcool. Há uns que falam até pelos cotovelos dos poucos que estão calados. Nem se percebe porque falam changana. Alguns dos sons são só “hehh”, “hum!”, “hou”, “hihh”, “uah” ou “mon”. O resto da conversa é tão rápida como uma dactilógrafa doutorada! Mas aposto que o conteúdo da conversa é bem mais limitado.

Lembram-se do peixe de 3kg que comemos ao almoço?! O que sobrou foi o nosso jantar! Voltámos a levar o peixe para aquecerem, pedimos mais umas doses de batatas fritas e de salada, umas bebidas e desfrutamos duplamente deste belo peixinho. Tivemos foi de nos besuntar com repelente porque a mosquitada anda faminta. Para mim o pior não foram os mosquitos foi mesmo ter esfregado os olhos ainda com o protector no rosto... Os meus olhos choravam. Jorravam lágrimas de sofrimento impiedoso. Sentia o ardor que picava como se fossem agulhas a espetarem. Fechava os olhos para comprimir as dores mas parece que picava mais. Estive verdadeiramente aflita e tive de ir à wc lavar a cara por duas vezes até melhorar. Fiquei sempre com os olhos sensíveis e vermelhos, mas já os conseguia manter abertos.

Há um grupo, numa mesa ao nosso lado, que nos tem “feito companhia” nas refeições. Aliás, acho que eles estão sempre aqui porque os vemos de manhã, ao almoço e ao jantar. Quando chegamos já cá estão e quando vamos embora eles continuam. São uns 8 ou 10, com crianças e tudo. Mas estavam aqui só dois homens e chegou uma mulher. Foi quando um deles perguntou:
- Então e os outros? - Ao que ela respondeu:
- Hão de vir...
Que mania que têm de responder isto... Não responde a nada e ficam na mesma porque, quem pergunta, já sabe que os outros, eventualmente, hão de chegar! O que  me ri...

Depois do jantar fomos os quatro para um quarto só jogar às cartas, beber um copo de Amarula, comer um bolinho... De fundo ouvimos as ondas a tocar lindas melodias ao tocar na areia. A sério, isto é mesmo bom!

Já no quarto, acendi a TV porque é a única forma de termos luz no quarto e termos a possibilidade de a desligar sem ter de levantar para desligar o interruptor na parede. Mas, para nosso espanto, desta vez, a TV começou a apanhar canais e conseguimos, finalmente, ter TV no quarto! Melhor que isso, conseguimos ver um filme que eu queria ver há muito tempo, o “Rush”! Filme este que é verídico, sobre as disputas entre dois mediáticos pilotos de F1, Nikki Lauda e James Hunt.


Faz-me lembrar o meu pai e leva-me ao passado, à minha infância... de certa forma conforta-me... Esqueço-me de tudo o que está à minha volta e vivo aquelas corridas como se fossem agora, neste momento... Só eu e ele existimos!

Thursday, January 29, 2015

Dia 148 - 1 Janeiro - Primeiro dia do Ano em beleza

Levantámos com o som das ondas lá fora e não apetecia sair da cama já tão cedo. Estávamos confortáveis e o som lá fora é tão relaxante... Abrir a porta e ver logo o mar é das coisas que me faz mais feliz!
Estavam uns rapazes a puxar as redes. São redes fininhas que arrastam pelo fundo do mar. Apanham muito peixe mas também estragam a fauna. Porque os peixes pequenos que aproveitam só para consumo próprio (porque sabem que ninguém os vai comprar) já não vão crescer nem procriar. Mas este pessoal não se preocupa com isso nem existe ninguém aqui que os controle. As gerações futuras não vão conseguir viver da pesca...

Enquanto me despachava o JG começou por ir “pondo a mesa”, literalmente. Levou a mesa e as cadeiras para o nosso poialzinho, levou as loiças e a comida do pequeno-almoço e, quando lá cheguei, já estava tudo pronto. Ah... isto sim, é qualidade de vida! Já de bikini vestido, com uma camisa de praia e uns óculos escuros e estamos a tomar o nosso pequeno-almoço na praia!

Embora apeteça dar um mergulho, está ainda nublado e não muito apetecível com aquelas redes todas ali estendidas. Enquanto eles as recolhiam voltei ao quarto. Dei uma limpeza no chão e uma arrumadela no quarto. Isto de “viver na praia” traz muita areia para casa e dá muito trabalhinho! Também remodelei um pouco o quarto porque temos uma fileira de cabides mesmo por cima da cama. Assim, afastei um pouco a cama da parede, para dar mais espaço e poder pendurar coisas nos cabides. E arrumei as nossas roupas no único local que tem para arrumar: a solitária mesa-de-cabeceira.

Já estava a fazer falta o café da manhã e, por isso, fomos à “vila”. Como quem diz, “fomos ao restaurante tomar café”. Estavam com a mesma música de elevador que estava ontem à noite. Este DJ é o melhor na cabeça dele! Nem da rua!
Depois do café adivinhem o que fizemos... Praia, claro! Nem podia ser outra coisa! Pegámos nas toalhas, no chapéu de sol, na mochilinha da praxe para telemóveis, protector e chave de casa. E saímos, o JG de calção e chinelo, e eu de bikini, uma camisa de praia e chinelo. Nem é preciso muita roupa, nem água, nem mais nada! Estamos a segundos de casa.



Nem sei bem precisar o tempo que estivemos dentro de água. A temperatura do mar deve ser entre 23º a 25º. O mar também está um pouco batido, agitado o que o faz mais animado e apetecível. Foi já em terra que vi, nem sei quantos homens e mulheres, a puxar as redes do mar para apanharem peixe. Leva tempo e são precisos mesmo muitos porque é preciso muita força.


Temos de colocar bastante protector solar. E várias vezes. Aqui queima e não e pouco. Basta lembrar da última vez que cá estivemos. A diferença é que também não ficámos muito tempo a torrar ao sol porque temos o nosso poialzinho.
Mas antes de subir fui molhar os pés porque vi um peixe a dar à costa. Estava já morto. Foi apanhado nas redes e jogado fora por ser tão pequeno... mas, entretanto, morreu! Estava eu em terra quase seca quando, do meu lado esquerdo, sai um caranguejo, do tamanho de um punho fechado de homem. Saiu de um buraco que nem reparei e foi a fugir em direcção ao mar. Parava perto da água, depois avançava quando a onda recolhia e não lhe tocava, até desaparecer enrolado nas ondas. Voltava a vê-lo várias vezes na rebentação. Depois de molhado ficou bem mais vermelhinho. O gajo estava branco de seco. Andava ali divertido e eu a divertir-me com ele. De vez em quando, passavam moradores da zona que o viam e investiam para o apanhar, mas ele foi mais esperto e escapou sempre. Nesta altura, a água já me banhava e foi quando fiquei ainda mais impressionada com os peixes que são apanhados nas redes. Observem bem o tamanho do que veio dar à costa depois de tirarem as redes do mar...


Pouco depois fomos almoçar. A comida é boa mas o serviço é demasiado lento. Estivemos 1h30 à espera de sermos servidos, meia hora para sermos atendidos e podermos fazer o nosso pedido. É pena porque assim nem conseguem segurar os clientes. Não somos só nós, vimos vários clientes a queixarem-se do mesmo. Mas enfim, estamos aqui para relaxar e é isso que temos de fazer. Afinal, a nossa cubata, desta vez, é do lado do mar e oferece-nos a oportunidade de ficarmos mais isolados da “vila”. Não fosse o facto de esta cubata não ter cozinha e nem lá íamos a não ser para tomar café.


É impressionante o que atravessar do rio ao mar faz de diferença de tempo meteorológico. Ao almoço, do lado do rio, estava uma paz completa. Sem vento nem brisa, um quente ameno, por vezes sol, outras nublado, mas uma temperatura equilibrada. Quando chegámos à cubata estava uma ventania que até fazia confusão. Já não dá para fazer praia como de manhã. O sol está mais tímido e as nuvens brilham no seu esplendor. O sol parece uma “silver pearl”. O vento não traz frio, mas é cada vez menos confortável ao longo da tarde.

Nós estivemos entretidos. Voltámos a pôr a mesa no alpendre, com umas cadeirinhas, e ali ficámos a jogar Monopoly no computador. Acho que o pessoal da nossa geração se lembra bem deste jogo. Eu ficava horas esquecidas a jogar, até sozinha jogava! No computador não tem a mesma piada, mas mata o bicho e a coisa é viciante seja de que maneira for!




São quase 18h e sentei-me agora no degrau da porta da nossa cubata. O JG está sentado cá fora com a mesa. Eu estou ao lado dele mas sentada à porta, com uma perna dentro e outra fora, encostada à ombreira da porta de entrada e o portátil ao colo. Sinto a minha veia de escritora a pulular e não resisto a descrever o que vejo e o que sinto... Vejo a areia dourada por causa dos últimos raios de sol que espreitam pelo telhado de colmo da nossa cubata. De fundo temos música ao vivo de uns vizinhos com uma viola. Ao menos têm gosto musical idêntico ao nosso, o que se pode dizer ser de uma extrema sorte! Ainda mais de fundo e, já romantizado com o nosso coração e mente, temos o som das ondas a deslizar umas por cima das outras na rebentação. A maré está a baixar e as ondas formam filas pequenas, quase que em câmara lenta, até se desvanecerem umas nas outras. O mar apresenta um verde prateado, com uma fina linha branca marcada pelas ondas da rebentação. O céu... está em tom azul bebé, com algumas nuvens que misturam cores como que numa tela. Variam entre o branco no meio, um púrpura muito suave no contorno, acompanhado de tons laranjas e rosas. A restante paisagem completa-se com árvores de vários tamanhos, num verde seco, com palhinhas penduradas em vez de folhas. O ar respira-se por sobrevivência e para limpeza da mente e da alma. É puro e queremos aproveitá-lo ao máximo. O vento começa a pôr cada poro do nosso corpo em sentido e a necessidade de tapar a garganta faz-nos procurar um aconchego. Mas nem assim queremos sair daqui... voltamos a sentar nos mesmos locais, só que agora, com os nossos lenços/ècharpes abraçados ao pescoço. Nada nos tira daqui! A não ser a mosquitada faminta, que não tarda a aparecer, que nem piranhas...



Já recolhidos por causa do frio nem demos pelo tempo passar e chegar a hora da janta. Está já tudo escuro lá fora e o vento veio para ficar, pelos vistos. Dentro dos quartos está-se bem. São acolhedores e bem quentinhos nestas noites frescas. De dia também são relativamente frescos quando, lá fora, o sol morde e nos faz sentir o cheiro de carne a assar... Juntámo-nos todos num só quarto para jantarmos juntos. Trouxemos umas latas de atum, temos pão, paio, queijo, manteiga, sumos, frutas... que queremos mais?! Ainda estamos cheios do almoço tardio e tudo! Enquanto petiscámos mantivemos a janela aberta para não nos sentirmos tão encarcerados. Não se consegue ver bem o mar, mas com alguma habituação dos olhos à pouca luz dá para ver as almofadas espumosas que centrifugam até à rebentação. Ouvir este som tão zen, sentir o vento no rosto e com o relaxamento todo que isto provoca, estamos capazes de dormir e dormir e dormir e dorm... zzz zzz zzz zzz...

Wednesday, January 28, 2015

Dia 147 - 31 Dezembro - TIA: NNFL = This Is Africa: No Need For Logic!

Foi hoje o último dia do ano e foi tão atribulado... Levantámos cedo pois havia ainda muito a preparar. Fazer as malas de cada um, preparar as comidas e loiças a levar, porque a cubata, desta vez, não tem cozinha. Entre tudo isso e preparar o almoço, o tempo passa a correr sem nos dar segundas hipóteses no caso de esquecermos alguma coisa.
Ao atestar o carro é que vimos o quanto vamos carregados. A suspensão fica mais em baixo do que quando nos sentamos todos. Também é sinal de que precisa de ser trocada mas não será agora, seguramente. Eram já 14h quando saímos de casa felizes da vida: Vamos para a Macaneta!

Claro que antes tínhamos de parar para tomar café. Estacionámos no Marés porque fica já de caminho. O estacionamento não estava muito cheio mas o primeiro lugar que vimos vago foi onde fomos estacionar, mesmo sendo um pouco apertado. Nem reparámos que o carro do nosso lado direito também tinha estacionado pouco antes de nós e queriam sair lá de dentro. A rapariga que estava do nosso lado abriu a porta e viu que tinha pouco espaço por causa do espelho que está de fora. Foi quando o JG disse que podia fechar esse espelho para ela ter mais espaço. Mas ela não percebeu e espremeu-se de tal maneira que saiu aos pulinhos. Mas a descrição do JG foi a melhor de todas... «parecia ela que estava a nascer de novo»!


O caminho, como já sabemos, é atribulado por causa dos buracos da “estrada”. Sendo “estrada” um caminho alternativo, sem outra opção de escolha (sim, eu sei bem o que estou a dizer embora vos pareça contraditório... lembrem-se TIA, não precisa fazer sentido), de areia pisada, alguma solta outra calcada, uma zona seca, outra molhada... Desta vez estava um pouco pior devido às chuvas dos últimos dias. Há mais buracos que o costume, ou seja, há menos estrada direita naqueles buracões todos. Mas, de tal forma, que tivemos de percorrer outro caminho, alternativo sim, mas com buracos na mesma, só que menos fundos... alguns! Aproveitei para tirar fotografias da vista em algumas zonas.


Isto deve ser um ponto de venda de alguma coisa, mas até podia ser um observatório de aves!






As "lagoas" que encontrámos pelo caminho...



Pelo caminho, fartamo-nos de rir com algumas das coisas que íamos encontrando. Uma delas foi uma carrinha pintada com muita publicidade a uma empresa que não chegámos a perceber o que fazia. Dizia: "Hospital, Engenharia e Incineração". Ora, que raio de coisa é esta que junta estas três combinações?! Outra foi a “Farmácia BBV”. Esta pertence ao banco espanhol antes da fusão com a “Argentaria”, com certeza. Vimos ainda este autocarro... faz lembrar o que se vê em alguns filmes, o choque que é encontrar coisas destas... e aqui, é tão banal! Afinal eles existem mesmo!


Íamos entretidos pelo caminho com o destino, com os dias de férias, com o nosso relaxamento num futuro tão próximo que nem demos por já ter passado naquele cruzamento onde era suposto virarmos! Só demos por isso quando a sogrinha exclamou «olha essa planície tão linda... é de perder de vista!» Ora, nesta altura, depois de já termos visto mar lá ao fundo, o facto de já não o vermos de novo significava que algo estava muito errado nesta paisagem! Claro que tivemos de voltar para trás. Aqui já estamos muito fora da nossa rota.

Eram 16h quando nos pusemos na fila para o batelão. Ainda nem conseguíamos ver o rio, nem o batelão. É porque temos mais de 30 carros à nossa frente. Significa que existe uma hipótese, não tão remota assim, de passarmos a passagem de ano na fila de espera...
Alternávamos a estadia no carro com o passeio até ao batelão. Havia gente a reclamar da demora, outros com projectos para a construção da ponte como alternativa ao batelão que só leva sete veículos de cada vez. Havia vendedores de paréos, óculos de sol, de cajus (que comprámos), de chapéus de palha, de camisas e camisetes (ou seja, t-shirts). Estes vinham às janelas dos carros insistir nas vendas. Outros, estavam apenas sentados nas bancas à espera que alguém lhes comprasse alguma coisa. A fila andava quase um metro de cada vez e havia sempre muitos carros a passar à frente. O ambiente começou a ficar agitado e as pessoas revoltadas com tanta gente a passar à frente. Que pouca vergonha! Foi de tal forma que alguém chamou a polícia e foram mesmo lá intervir. Mandaram carros embora e tudo. Claro que, depois de se irem embora, a coisa voltou ao mesmo, mas já não com tanta frequência. Nós fomos controlar a entrada no batelão e havia pessoal a boicotar a entrada de carros de chicos-espertos que tentavam passar à frente. Enquanto aqueles ali estiverem acaba-se a mama. Eu estava com cara de má e a comentar em voz alta o quanto aquilo era vergonhoso. Mesmo que alguns passem à frente porque são do Estado, o que já por si acho mal, ao menos que estejam identificados, mas nem isso. É mesmo à cara podre.


Ainda consegui tirar aqui umas fotografias a este amiguinho, enquanto avistávamos o nosso destino lá longe...


Achei piada este miúdo a brincar com aquele círculo em metal e um pauzinho. Andava todo feliz, de um lado para o outro. Não precisa de iPods, nem consolas, nem computador... estava feliz! Às vezes é tão fácil e tão simples... porque é que temos de complicar?!


Eram já 18h50 quando chegámos à outra margem. O sol parece já desce. Sentimo-nos como numa luta contra o tempo tipo Cinderela perto da meia noite. Quando chegámos já estava tudo escuro, eram quase 19h20. Fomos para os quartos, seguindo os empregados que nos acompanhavam, guiavam e ajudavam a transportar a bagagem. A lua iluminava um pouco o caminho. Os quartos são maneirinhos mas só amanhã tiro umas fotografias porque está já demasiado escuro e a iluminação não é das melhores. Já não o vejo mas oiço, o mar aqui ao lado a enrolar ondinhas que vêm rebentar ao nosso quintal...

Tomámos banho e fomos para o restaurante às 20h30. Acreditem ou não, somos os únicos clientes, apesar de haver várias mesas postas. E, pior que isso, ainda estão a montar a decoração da mesa de buffet! Está um empregado a “alfinetar” o que parecem ser umas alfaces à volta da mesa. Claro que não são alfaces, são umas tiras de papel encorpado, mas parecem, pela cor e pela forma. A comida ainda nem vê-la e o tempo a caminhar para a meia-noite... somos só nós preocupados com as doze badaladas ou mais ninguém aqui vai passar o ano?! Depois das 5h de viagem é normal que estejamos cheios de fome, mas também é normal que o jantar seja servido às horas de jantar normais... afinal não estamos em Espanha!



Foi precisamente quando começaram a chegar mais clientes que a comida começou a ser exposta e fotografada. Se estão a fotografar é porque está tudo pronto! Ainda estávamos a ver se algum anfitrião dava início à festa quando os que chegaram agora começaram logo a servir-se. Quais vergonhas, vamos mas é atacar. Tirámos um pouco de tudo para podermos provar as mais variadas comidas. Havia desde “Sea Food Linguini”, “Chinese Food Noodles”, chamuças, rissóis, panados de frangos, salada de frango e galinha assada que, pelo tamanho, parecia um peru!
A festa em si tinha apenas pessoas e comida, porque de festa não tinha mais nada. Desculpem-me a franqueza, mas agora vou descrever uma coisa menos boa... O suposto DJ era um puto armado em espertinho que não sabia pôr música de jantar e de socializar. Tem tanto de puto irritante como de incompetência naquela noz chocha. Foi o quanto gostei dele e da atitude. Por isso, nomeei-o, carinhosamente, por Bostinha. O som estava tão alto que não nos ouvíamos à mesa. E era uma mesa redonda de quatro pessoas. A passagem de umas músicas para as outras era uma palhaçada abismal. Chegou a passar do “Waka Waka” da Shakira para música de elevador! E de Anselmo Ralph para Celine Dion... E, quando reclamámos do som demasiado alto, pela terceira vez, ele fez birrinha de criança e só passou música de elevador até à meia noite. Agora imaginem a animação que foi... Claro que tivemos de pedir cafés para não dormirmos antes do culminar da festa mundial. E fomos buscar as cartas ao quarto para ver se o tempo passava mais depressa. Também não havia quem pegasse num microfone e puxasse pela animação. E o espaço é tão bem localizado... O problema é não ser bem aproveitado, mas enfim... Os gerentes são muito boas pessoas, simpatia não falta, mas é preciso um pouco mais para se tornar uma verdadeira animação. Aquele espaço tem muito potencial.






Tivemos de ser nós a puxar por nós mesmos. Quando demos pelas horas já só faltavam 10 minutos para as doze badaladas. A garrafa de champagne chegou em cima da hora. Pegámos nos copos, nas malas e na garrafa e fomos para mais perto do rio. Ali ao lado estavam os do restaurante a preparar o fogo de artifício... achámos mais conveniente, e seguro, ficarmos atrás de um dos carros que ali estavam estacionados. Opção bem prudente já que muitos dos que lançaram caiam e explodiam para o lado ou para onde quer que apontassem. Chegaram mesmo a apagar um pequeno incêndio nos arbustos com a areia que estava no chão... O auge do fogo de artifício foi mesmo a vista maravilhosa na outra margem do rio. Por toda a sua extensão havia fogos de artifício, uns maiores que outros, uns mais duráveis que outros, mas todos lindos de se ver! “Popavam” por todos os lados, de várias cores, uns em círculo, outros em salpicos, e durou bem mais de meia hora.


Este era o fogo de artifício local... assustador, não é?!


Dali fomos para os quartos porque o sono já nos rondava há horas. Foi quando falei com a minha mamã. Comemorei com ela duas passagens de ano pela diferença horária. Aqui não temos internet mas as chamadas telefónicas também não são assim tão incomportáveis. Estou longe mas, com uma simples chamada, posso estar mais perto.
Adormecer não foi difícil, nem foi pelo sono, foi pelo embalo do mar como som de fundo...