Tuesday, January 20, 2015

Dia 136 - 20 Dezembro - Cheiro a Cão

Sábado, dia de descanso e relaxamento. Há sempre tempo para café, para pasmar em frente à televisão, petiscar sabores que mal se conjugam e vegetar no computador.

Mas o auge do dia de hoje foi quando fomos dar de comer ao Mustafá. O Mustafá é um cachorrinho-guarda por quem ficámos responsáveis de tomar conta nesta altura. Temos ido todos os dias brincar um pouco com ele e dar-lhe de comer. Fica sempre muito animado com companhia, o que é normal, e quer sempre mostrar as suas habilidades. Corro com ele de um lado para o outro. Atiro coisas para ele ir buscar. Faço festinhas... É tão bom conviver com animais! Fazem-nos esquecer as agruras do dia a dia. Tal como nós, os animais são feitos de bondade pura. Mas nós, humanos, somos contaminados por uma sociedade com crenças incutidas que nos bloqueia e nos desvia do nosso caminho.


É de nós que ganham medo, é de nós que sentem na pele todos (ou quase, mas, sem dúvida, a grande maioria) os maus sentimentos na vida! Falo de tristeza, de abandono, de fome, de frio, de dor física, de solidão... E porquê?! Porque o Ser Humano não sabe conviver em absoluto! O melhor início de vida que se pode ter é juntar, no mesmo Lar, uma criança, um animal de estimação e um vaso, plantado com uma árvore, no início da gravidez ou no dia do parto. E passar a todos, sem excepção, o valor da vida de cada um! É o que pretendo fazer na minha vida...
Bem sei que nem todos serão capazes de o fazer. Nem todos os seres humanos têm a vontade de o fazer. Mas todos temos, em nós, a capacidade e a opção de escolha para o fazer! Somos adultos, conscientes, responsáveis pelas nossas atitudes e escolhas.

Depois da brincadeira veio a sede e o apetite. Foi o momento do Mustafá beber água fresquinha e comer uns belos quitutes que lhe trouxemos. A maioria dos cães rosna se nos aproximarmos da sua comida, mas o Mustafá é como os meus gatinhos, ele QUER companhia mesmo ali ao lado! Chego a tirar uns quantos biscoitos com a mão e ele come da minha mão. No fundo, ele sabe que eu não vou querer comer aquilo. Nos primeiros dias o Mustafá comia com alguma sofreguidão e depois vomitava. Acontece quando não tem sempre comida (ou aquela comida de que gosta) e, por isso, come enquanto há tudo aquilo que pode. Então resolvemos colocar só um pouco de comida de cada vez. Ou então, enquanto ele comia eu retirava a tigela de minuto em minuto (mais ou menos) para que ele conseguisse respirar, engolir e comer mais devagar. E, depois dessa fase, passámos à fase seguinte: enchemos a tigela com comida para dois dias. E, no dia seguinte, ele não tinha comido nem metade. Mas não tinha fome, só "sede de companhia". Só tenho pena que esta nossa vinda tenha os dias contados... mas é assim mesmo. Só temos de aproveitar cada momento!


Já perto da nossa saída, passaram uns rapazes em cima de uma MyLóve. Vinham desde o fundo da rua a deitar bombinhas de Carnaval, possivelmente até a largar mau cheiro, mas não será pior que o normal... Claro que as pessoas se assustam, estejam na rua, nos carros ou no conforto das suas casas. Alguém que se assustou com isso gritou, ali bem perto de nós:
- Seu filho de um branco!
... Deve ter sido o maior insulto que se lembrou...

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