Monday, November 24, 2014

Dia 94 - 8 Novembro - A Caminho da Macaneta

A manhã foi para arrumar as coisas à pressa. Tratar do almoço, atestar o Júnior com as tralhas, apanhar a sogrinha a caminho e seguir viagem. Estávamos todos contentes pelo retiro, afinal são três dias que temos para descontrair.

Como vamos para fora da cidade grande os cuidados devem ser redobrados. Sabemos que "lá fora" não existem tantas bombas de gasolina, supermercados, rede de telemóvel ou internet... Mas se é um retiro, então que o seja na sua essência!
Não havia grande trânsito. A estrada para lá... bem... tem algum alcatrão nos buracos! A zona de obras que está a ser construída tem a terra vermelha alisada o que nos permite apanhar zonas boas! Mas há outras que... Nossa Senhora! Se tivesse algum ossinho fora do sítio, com estes solavancos já estaria como nova!

Optei, ponderadamente, por não tirar fotografias já que pareceriam quadros borrados devido ao movimento brusco. Tenho pena, porque tudo merece ser fotografado. A estrada que estão a construir será uma espécie de auto-estrada. Depois de passarmos essa parte, já mais perto do nosso destino, começamos a ver bancas a vender tudo aquilo que possam imaginar. É vago quando o digo desta forma, mas é mesmo a melhor forma de o descrever. Vi cabos, fichas triplas, ramos de flores feitos, óculos de sol, telemóveis, capas para telemóveis, comidas e bebidas. Nada que não veja na cidade grande, mas aqui vi mais coisas... Vi colchões coloridos, com desenhos ou com flores. O que não me fez grande sentido na altura já que os tapamos com os lençóis. Mas depois comecei a pensar... muitas empregadas domésticas aqui não sabem para que servem tantos lençóis. Será que os desenhos nos colchões servem como decoração?! Será por não usarem roupa de cama?

Chegámos perto do local onde vamos apanhar o batelão para atravessar o rio Incomati. Passámos por um jardim destruído, coberto de lixo... triste de se ver. Ainda assim, era possível imaginar a beleza que deve ter sido há uns anos... É bonito este espaço se imaginarmos o que já foi um dia... Estamos em Marracuene. A estrada está toda esburacada, mesmo em muito mau estado. Parece que caiu ali uma bomba há dias... Faz lembrar um filme de guerra. A única coisa bem conservada ali é esta casa que deve pertencer ao Estado ou a alguém do Governo.


Mais à frente estávamos já na fila para apanhar o batelão. Havia alguns carros à frente, mas não demoraria muito. A distância a atravessar faz-se em 5 minutos. Leva mais tempo para carregar e descarregar os carros. Mas, se tudo correr bem, de 15 em 15 minutos, há travessia. O batelão estava a chegar mas, como leva apenas 7 carros ou 5 carros e um tractor com carga, nós ficámos para a travessia seguinte. Começaram a sair carros, outros a entrar, pessoas a pé... Mesmo que entres de carro, no batelão, tens de sair de dentro do carro. Não podes ir lá dentro.


Nós saímos do carro. Já havia miúdos a vender amendoins em saquinhos, cajus e a quererem moedas a qualquer custo.
- Boiss! Tomo conta!
- Não tomas nada conta. Eu estou aqui! Vá, compro-te uns amendoins. Mas não tomas conta do carro.
O "tomar conta" é ficar a guardar para depois levar uma moedinha. Mas nós estamos ali! Não precisa "tomar conta". Muitos ainda lavam os carros... ou melhor... sujam mais! Só para dizerem que o lavaram e pedirem mais moedas. Sai mais caro porque depois é que tens mesmo de o lavar!

Andámos a ver mais ou menos a distância da coisa. Deve ser como atravessar o Gilão. É já ali! Como tínhamos tempo andámos a cuscar as redondezas para não ficarmos dentro do carro. Cheguei a ver um dos últimos carros a não conseguir entrar sozinho. A maré está a subir e, por isso, os homens puxaram o carro para cima, de forma a não bater com a parte da frente no chão. Isto porque a rampa do batelão desce mas fica mais longe e, por isso, o carro quando entra vai embicar no chão. Abaixo explico melhor. Pouco depois o batelão, já cheio, começou a andar. Mas em vez de ir em frente começou a ir para o lado direito... Na brincadeira o JG disse:
- Oh, já vai à deriva!
- Não pode!...
Ai pode, pode! E não é que estava mesmo?! Começou tudo a sair dos carros e a seguir o batelão com os olhos. O motor nem estava ligado, estava a seguir a corrente, cheio de carros e de gente! Passaram uns miúdos que diziam que o homem que conduz o batelão estava em terra! Então...?! Mas...?! TIA!!!



Só parou quando atolou na areia! Deu à costa! Achámos que a coisa iria correr mal daí para a frente e agradecemos não estar lá dentro. Vimos um barquinho a remos a ir em direcção ao batelão. Foi buscar pessoal com sacas de farinha ou arroz e levou até à outra margem. Muito mais rápido que o batelão! Nem queria acreditar que aquilo estava mesmo a acontecer... Todas as pessoas em terra se riam, mas duvido que o sentimento fosse igual a quem estava lá dentro.
Resolvemos que a coisa iria demorar um pouco mais do que 15 minutos, por isso, fomos beber um copo para o café e comer os "minuins".


Quando o batelão chegou a maré já tinha subido um pouco mais. Embora tivesse passado apenas uma meia hora. Mas foi suficiente para descarregar o pessoal pelo lado mais alto. Eu explico... abaixo vão conseguir perceber o que digo. A margem é composta por uma rampa que vai ter à água e uma parte mais alta onde o barco pode atracar. E, quando a maré sobe, a rampa do batelão não consegue chegar a "porto seguro" através da rampa, mas somente através da parte mais alta.
Entrámos a pé e fomos para um canto, longe de atrapalhar os carros a estacionar lá dentro. Nestas fotografias vê-se como a água é turva e castanha. É água de rio, areia lamacenta, lodo por baixo.


Ainda estamos atracados e a margem é já ali.



Esta é a parte mais alta de onde saímos agora. O edifício amarelo é o café onde comemos os amendoins. E, do lado esquerdo...


... está esta rampa! Como o batelão não se pode aproximar mais, devido à altura da rampa, entrar e sair só se torna possível na parte mais alta.


Se puser a mão ali dentro perco-a de vista!


A viagem foi mesmo curtinha. À chegada compramos umas bolachas para petiscar à noite e seguimos viagem. Ainda me é tudo novo. Os meus olhos absorvem a informação mas transbordam... Há muita confusão na chegada e queremos despachar.
Já dentro do carro a estrada é sempre em frente. Não há muito que enganar. Olho para um lado e para o outro e é campo a perder de vista com milheirais ou descampado. De vez em quando vê-se manadas de vacas a passear, até pela estrada. Ou até cabrinhas a escalar troncos cortados ou caídos. Os animais vivem livres. A estrada é de terra batida oferecendo-nos, por isso, muitos saltos e "ais"!
Pelo caminho vejo barracas onde vivem pessoas, barracas de palha ou de canas... faz lembrar a história dos 3 porquinhos! Há miúdos nas bermas a dançar quando passam os carros para lhes darmos dinheiro.
- Istou a pidir! - Gritam.
Outros acenam, simplesmente. Há certas zonas em que já não é terra batida, é solta mesmo. Um carro que não seja 4X4 vê-se aflito e pode ficar atolado.
Do lado direito está o rio, do lado esquerdo vemos dunas e sabemos que o mar está do outro lado. À nossa frente está já a cancela com dois guardas. Estamos a chegar ao nosso resort...

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