Saturday, November 01, 2014

Dia 72 - 17 Outubro - Voluntariado Gratificante

Antes de me levantar apercebi-me de alguma confusão fora do quarto. Foi o senhor da fumigação que voltou. Tivemos de o chamar de novo porque as térmitas continuam a passarinhar por aí como se não tivesse sido nada com elas! Mas desta vez foi só para a cozinha.
Levantei-me uma hora depois. Acordei com o despertador e apercebi-me da ventania que uiva como gente grande! Assim que pus os pés no chão senti areia... como é que é possível haver tanta areia no chão?! Eu já há dias que sinto demasiada areia na cama mas penso que será da roupa ou dos sapatos... mas hoje as minhas dúvidas dissiparam-se: cai do tecto! E sabem porquê e como é que eu confirmei?! Porque tinha o portátil no chão e estava coberto de areia! Ora, ninguém andou a pisá-lo nem ele andou no forrobodó! E o Topo Giggio está proibido de entrar no nosso quarto!

Depois de me despachar desci com a sogrinha e fomos as duas tomar o pequeno-almoço ao sítio do costume já quer era a caminho para ela e onde eu ia ter, à Plataforma Makobo. Pedi uma meia-de-leite e uma torrada. Aqui e na África do Sul é costume servirem as meias-de-leite de uma forma específica. Numa chávena maior vem o café, uma quantidade como se fosse café cheio e, à parte, o leite num jarrinho do tamanho de um iogurte! Senti-me a brincar às casinhas!

Bem, está na hora! Fui ter à Plataforma e fomos de conversa até ao Hospital Central. Subimos quando chegou outra rapariga, ou seja, éramos três pessoas. Assim que chegámos ao andar onde estavam os miúdos vieram logo dois com os braços no ar, uns sorrisos do tamanho do mundo e saltaram para o nosso colo! O responsável pela Plataforma Makobo trazia sacos com jogos e material para a dinâmica, já vinha carregado o suficiente. Quanto ao resto podem ver como foi nas últimas 40 fotografias deste álbum!


Começámos por fazer uns puzzles, passámos ao reconhecimento dos animais, ao desenho e à pintura. Nunca nos podemos esquecer que aquelas crianças estão internadas num hospital e, por isso, a disposição pode nem sempre ser a mais animada. Mas hoje acho que tive sorte pois a animação, a energia e a diversão estiveram em sintonia naquela hora que passou a correr! Pareceram-me uns míseros 5 minutos! E o facto de estarem à nossa espera é porque passam as noites ansiosos por aquela hora de convívio!
É gratificante, é recompensador, é de encher o coração porque tudo ali é... bonito!

Voltei para casa às 12h. Foi só preparar o almoço para irmos os dois dar uma volta. Hoje vamos pelo outro lado. Fomos, sem rumo, por ruas e ruelas. Anda-se bem quando vamos bem calçados, hoje fui de sapatilhas, não podia escolher coisa melhor. Íamos de conversa animada, sempre na galhofa, como de costume, super descontraídos. De repente... ai que ainda tenho arrepios! Apareceu, em plena rua, em plena luz do dia, vindo de uma das árvores que enfeita os "passeios" esburacados e cheios de lixo, em direcção ao caixote do lixo... um ratito aos saltinhos!!!


Ao mesmo tempo que guinchei uns balbúcios idênticos a «yyyyyyyyuuuuuuuuukkkkkkkk rrrrrrrrraaaaaaaatoooooooo» a minha pose devia ser igualzinha a esta. O JG, assim que se apercebeu, começou a puxar-me pela mão, mas parecia eu que estava proibida de dar mais passos!
Epa, o tipo não era propriamente horripilante, mas é um rato e o estigma arrepia! «Se fosse um gatinho estavas já agarrada ao bicho!» dizia o JG. Não estava agarrada ao bicho porque ele não me deixava! Começava logo a dizer coisas como «sabes lá as doenças que o bicho tem». Mas vontade não me faltava... Elmyra Duff, remember?!

Já tinha andado mais uma meia hora e ainda me ria feita maluquinha por causa do Topo Gigio!

Fomos tomar café a um dos mais conhecidos que eu ainda não tinha visitado. Não achei nada de mais mas já piquei o ponto. Na maior parte das vezes eu nem bebo café, prefiro uma água bem fresquinha por causa do calor. O JG, que tem sempre vontade de aprender coisas novas e faz questão de se "enturmar" costuma pedir em changana:
- Boa tarde! Nacumbela um café lacutala e mát(h)e. Kanimambo!
Ou seja, «Boa tarde! Estou a pedir um café cheio e uma água. Obrigado!»
Podem conferir em:
ou
É claro que os empregados se riem, não porque esteja a dizer mal, mas porque raramente, ou mesmo nunca, viram um Português a falar changana. Mas percebem perfeitamente e trazem o que é pedido! Ah, é verdade, agora nunca mais aconteceu trazerem um café de cada vez... tenho saudades disso... mas também nunca mais fui aos cafés que frequentava antes.

O vento estava a ficar mais forte. Quando nos levantámos do café demos uns passos e começámos logo a ficar com os olhos cheios de pó. Eu já chorava involuntariamente por não conseguir manter os olhos abertos. Bem podia por o casaco à frente da cara, o braço... às tantas nem sabes porque te penteias! Senti-me, como muitas das outras vezes, um cordel desembrulhado!


Mas como até tinha capuz, resolvi o assunto e enfiei o "barrete"! Seguia muito direitinha para aquilo não sair (porque não tem nada a prender), de mãos dadas com o JG, quando passámos ao lado de uma das árvores que estão no passeio. Se eu tivesse dado um passo mais à frente os ramos tinham caído em cima da minha cabeça e não à minha frente, a milímetros do meu nariz! UFA! Agradeci logo a todos os meu anjinhos da guarda!
- Imagina que aquilo me partia os óculos?!
- Ah o teu problema são os óculos?! A cabeça não?!
- Não! Os óculos são muito mais caros...
- Claro... mais ponto, menos ponto...
E a parvoeira voltou...

Já em casa fui preparar o jantar: pescada cozida com batatas, cenouras e feijão verde. A preparar tudo o resto menos o peixe cortei o dedo com o descascador de batatas! Mas que coisa! Pareço a minha avó! Mas quando os sogrinhos chegaram a casa:
- 'Bora jantar fora a qualquer lado?
- Ok!
Não me importo nada! Aqui não temos esse hábito e, de vez em quando, sabe bem desanuviar! O que fiz fica para o almoço de amanhã. Fomos despachar. eles comeram todos um franguinho e eu deliciei-me com um prego no prato que assim uma coisa fenomenal ali no Piri-Piri. Vem acompanhado de batatas fritas e pão fresco, molinho e um molho que já me faz babar só de pensar. A carne corta-se como manteiga e é tão saborosa...

O restaurante estava cheio de gente e mal nos ouvíamos a pensar! Lá fora não se podia estar devido ao vento. Ao menos hoje não deve chover, só se for mais tarde.
Por ser sexta-feira costuma dar sempre um filme no canal STV. O de hoje é coreano e não tem assunto nenhum...

1 comment:

  1. O que eu me ri, Elmyra...! :D Consigo ver e compreender perfeitamente!
    E adorei a tua excited face com a perspectiva do filme! :P

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