Friday, October 03, 2014

A VIAGEM DE REGRESSO - Parte III

Não há duas sem três! (partes)
Chegada a Madrid fui logo à wc no terminal de chegada, o 2. No avião não dá jeito por ser muito claustrofóbico e ter de pedir licença à pessoa do lado. Ainda assim, o lugar à janela, antes ou depois da asa, é sempre o melhor!
Aliviada e já de mochila às costas com o bilhete na mão dirigi-me às televisões das partidas para ver qual o meu terminal: é o 1. Ok... há-de ser já aqui ao lado. Comecei a olhar à volta para ver indicações mas não dizia para que lado era, só indicava letras. Fui perguntar a um segurança. Indicou-me que deveria seguir sempre a letra B e que seria só ir em frente o tempo todo. Alertou-me ainda de que seria um pouco longe. Pffff depois do que andei em Lisboa já estou calejada!

Comecei a andar na boa, é só seguir as indicações. Já fiz o check in online, por isso, estou descansada da vida. ... AI que aquilo é mesmo muito longe! Afinal é na ponta oposta do aeroporto! Quem é que se lembra de fazer terminais tão longínquos?! Gente burra pah! Ao menos que disponibilizassem uns carrinhos tipo os de golfe para o pessoal ir andando, ou então uns Segways

Ou ainda pode ser umas coisas deste género... Que fixe!


Bem, a certa altura a mochila começou a pesar e dei por mim em posição de Corcunda de Notre Dame. Achei que seria uma boa altura para apanhar um carrinho e pousar a mochila. Daí para a frente comecei a empurrar um carrinho que deslizava como uma bailarina de patinagem no gelo! Se tivesse mudanças até eu ia lá em cima! Andei que me fartei, posso calcular que tenha sido 1,5km até ao terminal de partida. Pelo caminho ia passando por lojas e restaurantes. Não que tivesse muita fome, até porque ia ter direito a refeição no avião, mas "apetece-me algo..." Não tenho Ferrero Rocher mas  um pouco mais à frente tenho um Burguer King que vende uns sandys (odeio a palavra) muito apetecíveis nesta altura!



Foi uma boa escolha?! Oh se foi! Claro que tive de pedir em espanhol:
- Hola! Un Sandy de fresa, por favor - só assim me entendem.
A parte do pagamento é que foi diferente. Para pagar tinha de inserir as moedas (ou notas) numa máquina que estava no balcão, em frente à registadora dele. É prático e diferente!
Bem, peguei no meu "bombom" e fui sentar-me numa mesa com o meu carrinho ao lado. Tinha ainda bastante tempo até começar a entrar. Mas sabia que não ficaria descansada enquanto não estivesse mesmo à porta... Digamos que estava semi-relaxada.
Quando fui sentar-me perto da entrada estava ainda muita gente para entrar noutros vôos. Uma fila enorme de gente mesmo ali à minha frente. Até andou rápido e ainda havia pessoas a correr para a entrada. Algumas já atrasadas. Às tantas comecei a reparar que continuavam a chamar por uma pessoa. Já andavam 4 funcionários a correr o aeroporto de uma ponta à outra aos berros pelo nome da pessoa e o destino do vôo. Mas ninguém respondia nem aparecia. Sem exagero, só meia hora depois, no mínimo, é que apareceu uma senhora acompanhada por duas funcionárias com caras de poucos amigos acompanhadas de um ar discreto de vitória. Parecia cena de faroeste quando o xerife e o ajudante prendem algum bandido e o levam para a única cela da aldeia.

Eu continuava sentada a olhar para um balcão vazio de gente... paisagem oca e fria... Só quero entrar para descansar sem medo de perder uma coisa tão grande que voa sem bater as asas... A poucos metros de mim estavam umas máquinas de vending com sandes empacotadas (daquelas que parecem tão emborrachadas quanto sabem), pacotes de batatas fritas, chocolates, sumos e águas... muitas águas... e eu estava cheia de sede. Olhei para lá como as pudesse comprar só com o olhar e assim viessem ter até mim e me saciassem a sede... ena ena, 'tou cá com uma preguiça...

À minha volta não acontecia mais nada de jeito, a não ser umas taralhoucas atrás de mim a gozarem em inglês com os nomes que iam sendo anunciados pelos altifalantes. Em frente às máquinas estavam dois homens... da minha idade, mais ou menos, já posso chamar homens e não rapazes... que confusão que isso me faz... enfim! Estavam esses dois homens e olhar para as máquinas como se estivessem a observar umas verdadeiras obras de arte. Um deles tinha a carteira na mão, mas estava indeciso entre um pacote de batatas fritas e um chocolate... acabou por levar os dois! O outro ficou ainda mais uns minutos de pernas abertas, braços cruzados, ombros ligeiramente inclinados para a frente e a espreitar por cima dos óculos! De vez em quando dava um passo atrás, depois ao lado para ver a outra máquina, voltava para a mesma... e ali ficou uns 10 minutos! Até se ir embora sem comprar absolutamente nada! Nem uma água! A sério?! Talvez não tenha percebido como a coisa funciona ou então... lá na cabeça dele deve ter feito todo o sentido!

Eu começava a ficar com sono, por isso, resolvi finalmente levantar-me para comprar a água bem fresquinha e talvez isso me faça acordar. No balcão já estavam os funcionários de conversa animada, mas ainda não chamavam ninguém. Comecei também a pensar nas horas de vôo que ia ter pela frente e levantei-me como que de um pulo! Não querendo fixar a obra de arte para não estragar meti uma nota para ficar com moedas trocadas, saqueei (muito mais aventureiro do que só tirar) o troco e a garrafa de água. Depois coloquei-me a modos que na "fila" para a entrada. Estava apenas um senhor ao meu lado, encostado às máquinas, mas de lado, e eu seria a seguir a ele. Sorri como que a cumprimentar e dar a entender que o vi e que não me vou por à frente dele.
Já só faltam uns minutos para começarmos a entrar e vem uma "caramela peneirenta" por-se à nossa frente! Ai o caneco! Não sou transparente! Ça m'énerve!


Mas respirei fundo... bem fundo... e voltei ao "afinal vamos todos para o mesmo destino"... Só que ainda estava a respirar fundo e aparece quem?! A descontraída que, em Lisboa, passou à frente na segunda fila! Ai a baixinha não me larga! E aqui vai fazer a mesma coisa... Ainda fez pior: foi direitinha ao balcão com cara de cachorrinho perdido fazer perguntas e ali ficou até se começar a entrar!


Comecei a rir para não me dar um fanico!
Foi pouco depois que tirei o meu passaporte do bolso e o senhor que estava ali ao meu lado me perguntou:
- É Portuguesa?
- Sim, sou - sorri. Quando estamos num país estrangeiro estas pequenas coisas fazem diferença e sentir que pertencemos a "um grupo" é muito acolhedor.
- Não sabia mas reparei pelo seu passaporte... Vai para onde, se não é indiscrição?
- Não, claro que não... vou para Maputo.
- Ah, eu também.
- Sim?! Boa! Veio de Lisboa?
- Sim e aqui já tive um stress...
Bem, a partir daqui havia sempre conversa. O que foi bom pois o tempo passava mais depressa. O stress dele é que teve de sair e voltar a entrar no aeroporto porque ainda não tinha o check in online feito. Mas como não sabia, andou o mesmo que eu até ao terminal para só depois o informarem que tinha de sair e voltar a entrar... então teve de fazer o caminho de volta para sair e depois entrar... Ora, se para mim foi cansativo ali chegar nem imagino o stress dele! A partir daqui vou chamá-lo de Epsil.

Já passava das 21h quando entrámos e devíamos ter ido às 20h45. Desde que não perca o próximo... mas já estou mais descansada a partir do momento em que tenho outra pessoa que sei que vai para o mesmo local que eu!
Vou conhecer agora a Ethiopian Airlines. Assim que passámos no balcão para entrar descemos as escadas para nos dirigirmos ao autocarro que nos levaria ao avião. Fomos sempre de conversa mas eu estava atenta à viagem. Entrámos no avião com lugares dispersos, claro. Mas não havia problema. Trocámos contactos para o caso de não nos cruzarmos mais e cada um se sentou no seu lugar.
O primeiro impacto é muito bom! Avião largo - como eu gosto dos de longo curso - dois lugares à janela de cada lado, dois corredores com 3 ou 4 lugares no meio. Estes já não me dão a sensação claustrofóbica, posso espernear à vontade. Ora, como eu não gosto de ir na asa nem vou em primeira classe, os meus lugares são mais limitados, mas já percebi que as pessoas não gostam dos lugares de trás, coisa que eu não me importo, desde que não sejam mesmo os últimos. Estou mais perto da cozinha para pedir um café ou uma água, mais perto das wc, não o suficiente para cheirar mal, e existe mais a possibilidade de ter um lugar vazio ao meu lado!
Quando me sentei comecei a analisar a coisa: comandinho no braço direito (ou esquerdo, conforme o lugar, eu cá vou sempre à janela); tem direito a phones, mantinha linda, almofadinha mais recheada que a da TAP, jornal e bué da filmes! Não é muito diferente da TAP nesse aspecto, embora a TV pareça um pouco mais "rústica". Apertei o cinto logo quando me sentei e esperei que entrasse mais gente. O avião dividia-se em primeira classe, sempre separada, e a classe turística que estava também ela dividida em duas partes iguais por causa das saídas de emergência a meio. O Epsil tinha ficado na primeira parte da classe económica, eu fiquei na parte de trás... completamente sozinha!!! UAU! Nem acredito que não entra mais ninguém! E não entrou! Começámos a andar...

Lá fora está escuro como breu! Apagaram as luzes cá dentro para nos concentrarmos ainda mais no levantar... brrrrr que arrepios. Não gosto disto! Mas como tem de ser despachem mas é! Ainda nem acredito que estou sozinha ali... hehe
Só quando se ouve o "plim" é que podemos desapertar os cintos e começar a deambular. Foi quando o Epsil veio ter comigo para continuarmos a conversa. Ele sentou-se numa ponta dos lugares do meio e eu no lugar do corredor ao lado do meu original, à janela. E a conversa continuou o tempo todo. Fizemos companhia um ao outro. Foi pouco depois que começaram logo por distribuir as refeições e calhava bem porque já tinha uma certa fome. O Epsil pediu vinho, eu optei pelo sumo e água. Vinho tinto faz-me sono e eu sei que não consigo dormir, não sou muito adepta do masoquismo... Já o sumo - que também não sou grande adepta - tem açúcar para me ajudar a ficar acordada. As refeições são muito boas! Já as televisões deixaram muito a desejar já que não funcionavam, mas como tinha companhia para a conversa...

De Madrid voámos até Roma para uma paragem técnica. Não sabíamos se haveria ou não alteração de avião. Acho que a viagem foi, mais ou menos de duas horas, mas passou realmente depressa por causa da conversa. Obrigada pela companhia Epsil. Foi já pouco antes de aterrarmos que disseram que a paragem serviria apenas para abastecer de combustível e que só teríamos de permanecer uma hora dentro do avião até levantar de novo.
Nunca fui a Roma, nem posso contar com esta "visita de médico" já que não vi absolutamente nada a não ser luzinhas da cidade. Bolas, vejo mais pelo google earth ou maps do que assim! Já perto de terminar a hora de descanso começamos a ver pessoas a entrar no avião.
- Isto vais mesmo encher.
Ora bolas, e eu a pensar que tinha isto só para mim!
O Epsil voltou para o lugar dele e eu não queria ninguém ao meu lado. Aquilo foi enchendo, atestando... mas fiquei sozinha! Sou cá uma "vaqueirosa"! hehe (tradução: sortuda)
Foi só depois de levantarmos vôo novamente que fui dizer ao Epsil que estava sozinha, que se ele quisesse poderia ir para o lugar ao lado do meu. Eu fui logo à wc também pois já parecia um balão...
Não estava muito má, pode-se dizer que mal foi usada até aqui, mas como não pretendo voltar a usar a wc... Quando voltei o Epsil não estava lá, mas chegou poucos minutos depois, também foi à wc.

Não demoraram a distribuir uma nova refeição. Faz sentido comer já para as pessoas poderem dormir. Nesta altura eram já umas 2h ou perto quando começámos a comer. Desta vez pedi vinho! Ganda maluca! Mas pedi sumo na mesma... é porque sou muito "espertinha das ideias"! Mas o vinhito é bom!





À nossa frente iam mãe e filha de uns 3 ou 4 aninhos. Claro que chorou até adormecer mas não incomodou muito. Acredito que deve ser bem mais enervante para a mãe do que para qualquer pessoa. Sou daquelas passageiras que sorri para a mãe como que a compreender a sua aflição e a atenuar o seu stress. Não sou mãe (ainda), mas tenho uma certa facilidade em colocar-me no lugar dos outros, o que me privilegia no que toca a ser compreensível.

Bem, uma das mantinhas confesso que estava já na minha mochila, a outra estava a abraçar-me tipo écharpe. É macia, gira e tão minha que nem vou ler o que diz o plástico onde vinha guardada...


De Roma voámos para Addis Ababa, na Etiópia como é óbvio. Nesta viagem o pessoal dormia e eu lutava contra o sono já que qualquer tentativa para dormir me custava horrores. Chamei então a hospedeira para por os filmes a funcionar. Aquilo dava erro e eu estava a entrar em pânico por não ter diversão que me mantenha acordada. Comecei a lembrar-me de um programa antigo que deu na TV, no início dos Reality Shows. O programa era passada em centros comerciais, acho, e o objectivo acho que era ganhar um carro, já não me lembro bem. Sei que havia um carro e, à volta, estavam todos os concorrentes, uns 10 ou 12. A partir do momento em que se dava início tinham de estar sempre a tocar com uma das mãos no carro, nunca poderiam tirar as duas ao mesmo tempo. Cada concorrente tinha uma pessoa ou várias que ajudavam para poderem comer e faziam massagens nos poucos e contados momentos de pausa para irem à wc. Lembram-se disso?! O que é certo é que as pessoas chegavam a passar mais de 48h ali. Começavam com toda a energia do mundo, muito sorridentes, aos saltinhos como se fossem correr a maratona. Até começarem a esmorecer, a empalidecer, a escurecer os olhos, um ar estoiradíssimo, qualquer posição incomoda, uns olhos de carneiro mal morto (coitadinhos dos carneiros)... E assim estava eu... linda de morrer!

O que vale é que conseguiram por os vídeos a funcionar! Mas é dos que não se consegue fazer pausa, ou seja, tenho vários canais, todos eles a dar filmes ao mesmo tempo. Se estou a ver um, não posso ver o outro. Além disso quando conseguiram activar já aquilo ia a meio e não conseguiram por do início. Ai ai ai ai ai...
A certa altura o "João Pestana" sorria para mim como o Diabo... Acabei por me render e encostar a almofada à janela. Mas não tinha posição suficientemente boa. Comecei a por a cabeça de lado encostando a orelha, mas escorregava. Depois coloquei o cotovelo no braço da cadeira e apoiava o queixo na mão... está muito frio. Tapava com a manta mas se a pele não estava em contacto com a "parede" escorrega. Descobri a melhor: encostar a testa na almofada. Literalmente afucinhar na janela! Foi como consegui "cuxilar" de vez em quando. Não era mais do que 10 ou 15 minutos de cada vez acho. Uma vez acordei a babar-me pelo canto da boca, outra a bater com a testa no vidro porque a almofada resvalava, outra devia já estar a sonhar que estava a cair e saltei da cadeira... quero uma cama!!! Estava a entrar em parafuso! Não há posição que aguente.


Estávamos já a prestes a chegar e o Epsil foi para o lugar dele. Tinha a mala lá. Havíamos de nos encontrar lá fora. Olhei então pela janela e comecei a ver a Etiópia. Comecei por ver diversas bolinhas que são casas assim


ou algumas até assim


até começarmos a sobrevoar a cidade e, deixem-me que vos diga, é muito mais desenvolvido do que alguma vez imaginei! Addis Ababa (ou em inglês Adis Abeba) é uma cidade enorme e pareceu-me muito bonita. Surpreendeu-me pela positiva!


Chegámos às 7h pelo que vi o sol nascer eventualmente entre sonhos.
A confusão no aeroporto já esperava só não esperava que fosse um aeroporto tão grande. Mas lá dei com aquilo. O terminal não era na outra ponta como o de Madrid, era só descer as escadas! Já lá estava o Epsil que tinha feito uma tentativa de ir à wc no aeroporto.
- Estavam tão porcas, sujas e mal-cheirosas que desisti.
Obrigada pela dica! Vou no avião mesmo! Quero lá saber da claustrofobia...
É que num continente de terceiro mundo onde a Sida é tão comum começas a pensar duas vezes antes de correres certos riscos, especialmente em locais públicos.

Foi aqui no terminal que me apercebi que vinha com a manta abraçada a mim... ainda! Significa que saí do avião com a manta à mostra! Mas ninguém me disse nada... só que não fiz mesmo de propósito, até porque a "roubada" estava na mochila... esta não era suposto ser tão "in your face"... é caso para dizer: Ups! hehehe


Não esperámos muito até conseguirmos entrar para o autocarro. Onde estávamos tínhamos o balcão à nossa frente, as portas tipo de saída de emergência por trás e os autocarros lá estacionados, mesmo ali. Começámos a sentir-nos fora de contexto quando as televisões que mostram as partidas vão alternando da página 1 para a página 2. Começam em inglês e passados uns segundos passa logo para árabe! E em árabe permanece por muito mais tempo. E tu ficas especada horas esquecidas a olhar até aparecer em inglês, mas como fica tão pouco tempo, sentes-te a pessoa mais burra dali porque tens de esperar que a mesma página em inglês passe 3 e 4 vezes até conseguires espremer a informação necessária!

Eu tinha combinado com a minha mamã e o JG que daria só toques quando aterrasse e levantasse vôo de novo, mas ali foi impossível. Não havia rede, Tentei com ambos os cartões, português e moçambicano e nada.
Quando chegámos ao novo avião foi uma desilusão completa: só tinha um corredor e 3 lugares de cada lado. Que sufoco! Parece um autocarro mais largo. Aqui cada um foi para o seu lugar. Não dava para estarmos os dois juntos porque o avião ia cheio. Apesar de eu ter sido, provavelmente, a única pessoa com um lugar vazio ao meu lado, assim como a chinesa que ia no lugar do corredor. Mas como era tudo tão apertado e o Epsil ia melhor no lugar onde estava do que se fosse para um dos lugares espremidos. Chamo espremidos porque é o do meio de 3 lugares. Teres uma pessoa ao lado já não é bom, ter uma de cada lado é um horror, digo eu! É porque não consigo encostar-me a lado nenhum. Compreendo aquelas pessoas que, nesses lugares, afucinham no banco da frente! Agora imagina que cais para o lado de cansaço?! Eu hein?! E o lugar do corredor com os carrinhos sempre a passar ou as pessoas... Quanto não vale a janelinha...

Fiquei logo de olho na wc mas só podia lá ir quando ouvisse o "plim". E teria de passar por cima da chinesa. Ouvi o "plim" e vieram logo dois homens com aspecto um pouco sujo... ai a minha sorte... mas enfim, serão só os primeiros e não fazem grande mossa. Pulei por cima da chinesa e eu seria a segunda a estrear a wc do lado direito. Ai ca nojo! Será que o homem é cego?! Não deve ter acertado uma única gota do aquário que tinha na barriga! E que grande aquário! Havia mijo por todo o lado! Ainda abri a porta a pensar que a outra estaria melhor, mas vi outro com o mesmo aspecto entrar e já não era o primeiro, achei que estava na menos porca.


Havia mijo nas paredes a escorrer, nas bordas da sanita, no lavatório, o chão estava a modos que alagado... acho que lá dentro da sanita deveria ser o local mais limpo daquela pocilga. Comecei a tirar papel para limpar as mãos (que é mais grosso) e a passar pelo sabonete líquido e a limpar, pelo menos o que eu iria usar. Depois tirei mais uns quantos e pus no chão para ensopar e não levar o mijo nas solas para o meu cantinho das próximas horas. Levei mais tempo nas limpezas do que no que me levou ali. What a bad experience! E isto foi só do primeiro!

Mais uma vez a viagem começou com uma refeição, desta vez ligeira, afinal eram horas do pequeno-almoço!


Aproveitei para tirar algumas fotografias da viagem.





Aqui vê-se bem um vulcão! Nunca vi nenhum tão "perto"!



As nuvens são tão fofinhas quando não causam turbulência




Ah, este avião não tinha televisões individuais, mas tinha daquelas penduradas no tecto que funcionavam! Então consegui ver os dois filmes que tinha visto em metades na viagem anterior. Grandes conquistas...
A meio da viagem, mais ou menos, começaram a servir a refeição. Confesso que nesta altura já não tinha grande fome, eu queria era uma cama... mas comi na mesma o que cabia. As loiças são de plástico rijo, são tão fofas que as trouxe também. Dão jeito para arrumação, porque sim, porque me apetece, porque são mesmo "cutxicutxi" e porque estou cheia de sono, não me digam nada!
A refeição era sempre frango ou bacalhau. Eu já não podia ver frango e pedi bacalhau. Havia uma tacinha à parte com o arroz e outra com a sobremesa. Como não tinha muito mais para fazer comecei a observar a chinesa que estava com os 3 chineses nos bancos ao nosso lado, depois do corredor. Eram divertidos, estavam sempre a sorrir entre eles. Devia ser das primeiras vezes que andavam de avião. Ela tinha o tabuleiro dela em cima da prateleira e ia provando a comida antes de comer mesmo. Então retirou todas as tampas de todas as tacinhas. Depois de provar o prato quente provou a sobremesa... meteu uma colher na boca e provou como se fosse uma criança a provar papa pela primeira vez, metade fica lá, a outra metade vem para fora com a língua... fez uma careta de "blarg" e o que tinha ainda na colher foi misturar ao arroz! Aqui quem fez "blarg" fui eu! Fez da sobremesa o molho do arroz. A lógica deve ser: se tem arroz fica bom. Eu não podia vomitar porque o castigo era ter de voltar àquela pocilga!

De barriga cheia a chinesa quis dormir, andava a tombar sentada então descalçou-se!!! Vá lá que estava de meias, mas ainda assim a posição veio piorar a coisa e a minha sorte foram os filmes e a janela! Ela recostou-se ao braço do lado do corredor, encostando a cabeça ao banco e pôs os "xulés" no banco que nos separava, mas um joelho encostado aos bancos da frente e o outro ao banco que nos separava! Estava de "xulés" apontados para mim e de perna aberta! Sim, não tinha saia, era o que mais faltava! Mas mas mas... ?! Acho que nunca respirei fundo tantas vezes de seguida...

Vi os filmes e estava empolgada! Isto sim é o meu tira-sono! Mas foi sol de pouca dura já que os vídeos eram colocados quando se lembravam e em cassetes, depois daqueles não puseram mais nenhum e recolheram as televisões. Já não faltava muito, mas hora e meia é muito tempo para olhar "pó bneco"! Saquei a almofadinha de novo e toca a encostá-la à janela... não há posição! Apanhei um pouco de turbulência e andava às cabeçadas! Acordava como se me tirassem o chão, por causa dos poços de ar, e parecia eu que estava com a menopausa dos calores que isso me dava! E depois de dormitar uns minutinhos poucos é o suficiente para ter uns olhos desgraçados! Ainda bem que não ando de espelhinho no bolso... quem quiser que fuja!
Eu preciso é disto!
Tão bué da nice! Tem ouvidinhos e tudo! Despenteia-me mas quero lá saber!

Faltava meia hora antes de aterrar e tinha de ir à wc de novo. Desta vez fui à outra. Estava mais limpa, mas elas andaram a limpar e a repor papel. Só que o caixote do lixo estava caído e pedi que fossem por no sítio. É perigoso em todos os aspectos. Limpei o tampo como sempre faço e pronto, estava muito mais apresentável que da primeira vez.

Reparei que  estávamos a fazer a costa e demos a volta no Katembe mesmo antes de aterrar. «Isto já não é novo para mim» - pensei com um sorriso no rosto.

A aterragem foi das minhas piores... bateu no chão como que a cair e deu um saltinho da força do impacto. Ai a menopausa...
Estava finalmente em terra firme! O Epsil tinha já saído até porque ele ficava sempre em lugares à frente do meu. Encontrá-mo-nos já no aeroporto na fila para a fronteira. Devo ter sido a penúltima a sair do avião, estava mesmo lá atrás. Quando desci as escadas dentro do aeroporto fui logo procurar a folhinha para ir preenchendo na fila da fronteira. Foi muito mais rápido que na minha primeira vez porque já sabia que aquilo demorava e podia preencher na fila. A maior parte das pessoas preenchia primeiro e depois ia para a fila... Tá érrrrádo! Mas façam isso que eu despacho-me mais depressa...

O Epsil esperou que eu fosse buscar as minhas malas. Até foi ele quem as tirou da passadeira e pôs no carrinho. Foi mesmo impecável comigo o tempo todo. Passámos pelo raio-X das malas e voltei a colocá-las no carrinho. Depois o Epsil foi andando e os seguranças ficaram a olhar para ele mas a mim fizeram logo sinal, até porque eu tinha malas bem maiores.
- Precisas de ajuda? - perguntou o Epsil
- Não, obrigada, tá-se bem! - sorri - Boa tarde!
- Bôa tárdi... tá tudo bem com a sinhóra?
- Sim, estou cansada da viagem... saí ontem e só cheguei hoje.
- Ah pois... bem-vinda!
- Obrigada!
- Tem alguma coisa a déclárár?
- Não. Esta mala tem as minhas coisas e esta é para oferecer à Casa do Gaiato.
- Ah é pára us mininos... - e ainda se vira um que estava ao lado
- Foi aquela mala que vimos...
- Sim, é para os meninos. A Irmã já está à espera das coisas.
- Muito bêem... é tudo usado? Não tem coisas novas, pois não? - It's a tricky question... aqui sabes qual a resposta a dar.
- Não, é tudo usado. - Esquece os factos, restringe-te ao óbvio. É como a máxima de convidar as pessoas. Se não queres que a pessoa venha dizes "não queres vir, pois não?", mas quando queres que a pessoa apareça dizes "queres vir?" ou "vens, não vens?". O "não" no início da pergunta é fatal!

E pronto, vim embora toda satisfeita. Fui logo abordada por miúdos a quererem "ajudar", implica pagamento no final da "ajuda" e eu recusei todos já que, se consegui chegar ali consigo muito bem empurrar o carrinho até ao passeio! O Epsil estava lá fora à minha espera e ofereceu-me boleia. Mas o JG tinha destacado um táxi para me ir buscar e o pagamento já estava predestinado. Como o táxi ainda não tinha chegado e eu não conseguia fazer chamadas o Epsil deixou-me fazer chamadas do telefone dele. Pouco depois chegou a boleia dele e o meu táxi chegou pouco depois.

Há porta de casa o JG desceu e toda eu floresci!
Os meus olhos esbugalhados e caídos parecia que tinham botox, o meu sorriso iluminado era a única coisa verdadeiramente bonita mas o bafo de dois dias a esfregar os dentes sem pasta era pior que dragão... as costas endireitaram-se como um velhinho de bengala que se endireita cheio de dores para impressionar uma mulher mais jovem... ai as minhas cruzes! Já nem sabia o que mais me doía... Se o corpo ou o orgulho! Foi o JG que alombou com as malas escada acima, uma de cada vez claro. Uma delas eu fui arrastando até metade de um andar. Sempre fiz alguma coisa. Chegada a casa fui tomar um BANHO, lavar os dentes e deitei-me! Dormi a tarde toda e mais dormia se me deixassem até ao dia seguinte!

1 comment:

  1. Minha nossa... Isso não é uma viagem, é toda uma aventura só! Agora falta saber do trabalhinho e coisa e tal... Continua a escrever!

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