Tuesday, September 30, 2014

A VIAGEM DE REGRESSO - Parte II

A nutricionista chegou com os pais de carro. Foi quando vi o "sacalhão" que ia acompanhar o meu "malão enxôrissád"... nem sei como coube tudo no carro, mas "cabeu"! O "sacalhão" tem só coisas para oferecer aos meninos da Casa do Gaiato.
Seguimos para o aeroporto. O vôo é às 15h50 mas como é internacional tenho de lá estar entre 2h a 3h antes para fazer o check in. No estacionamento vi que o "sacalhão" tinha rodinhas, mas para mim não iria fazer muita diferença já que o avião o transporta e não eu - sorriso campeão!
No aeroporto fomos direitinhos comprar um cadeado para por no "sacalhão". Ainda queríamos pesar porque deveria estar com excesso de peso e, por isso, não "enxourissámos". Já com o cadeado na mão fomos de corrida até aos check ins, onde estava também a balança, daquelas industriais, claro. Fez-me lembrar a balança onde peso os miaus no veterinário. Tinha excesso e ela começou a tirar coisas menos importantes que poderiam ir mais tarde. Por curiosidade fui pesar as minhas: 24,700kg no "malão" e 9kg na mochila... ai "Jasus", na minha balança isto não estava assim! Bem, respirei fundo... na pior das hipóteses tirava-se o peso a mais do "sacalhão", mas não queríamos tirar de lado nenhum, só que também não queríamos pagar excesso de peso.
Ainda faltava algum tempo para fazer o check in, mas fui perguntar quais as minhas filas: olha que bom, são as últimas, mesmo ao lado da balança! Fomos logo para a fila mas ainda esperámos uma hora até abrirem. Entretanto a fila ia crescendo tipo nariz de Pinóquio ou pé de feijão... Deixei de ver o fim! O que ia acontecendo, e nos ia entretendo, eram as filas secundárias que iam surgindo assim como quem não quer a coisa. À nossa frente estavam uns tipos que não se calavam e reclamavam com os que se colocavam em segunda fila. A verdade é que, quem tinha crianças, podia passar à frente, assim como os de classe executiva e quem tenha pago a opção de entrar primeiro. Mordomias que o dinheiro compra, mesmo para quem tem crianças. Além desses à nossa frente havia também um espanhol engravatadinho, de fato cinzento claro, cara de mafioso e cabelo "lambido p'la vaca"! Aquele cabelo todo escovadinho para trás, com gel "êmonte" que não mexe nem por nada, perfeitinho tipo cabelo de Ken. Levava com ele um troley pequeno. Típico "empresário executivo", um título muito em voga que não diz nada e, na maioria das vezes, se define por "sou burlão", "tenho uma vida dupla", "procuro um ricaço para enganar" ou somente "procuro trabalho". Frases que podiam servir para a próxima casa dos segredos ou "secretos" (de porco preto) ou "degredos"... whatever...
Bem, o lambidinho foi ao balcão reclamar da segunda fila e dizer para que começassem a chamar pela fila original, a nossa. É que a certa altura a vergonha já não era nenhuma! Houve uma mulher que veio lá do "cú de Judas" mais um bocadinho, sem malas nem bagagens, só com um saquinho, discretamente e com a maior lata do mundo e do outro meter-se à frente dos que estavam em segunda fila!!! Se isto não é lata é uma fábrica de enlatados! A nós até nos caiu o queixo. O espanhol começou a sorrir porque viu logo os da frente... que nos viram de queixo caído e desataram a rir. Depois não fizeram mais nada, começaram a dizer em voz alta: "isto realmente... há uma fila que não é respeitada (e aqui viraram-se directamente para ela) por ninguém! As pessoas acham que podem passar à frente dos outros só porque sim..." Serviu-lhe a carapuça! Eu estava numa de "vamos todos no mesmo avião, ele não vai embora sem nós" mas a lata e a descontracção de algumas pessoas é realmente abismal.
Quando chegou a minha vez respirei fundo e lancei-me descontraída até ver o que me diziam pelo peso. Se houvesse problema seria só mesmo ali já que o check in já tinha sido feito online. Passou tudo com o limite de peso sem qualquer problema! OBAAA! Só não bati palminhas para não dar muito nas vistas, mas fiz um like quando me virei para eles! Depois seguiram-se as despedidas rápidas pois o tempo urge! Obrigada nutricionista e pais! Muito obrigada mesmo!

I'm on my own now... again!
Estava na fila para entrar para o terminal, mostras o passaporte, o bilhete e entras. Depois lembrei-me... tenho ainda uma sandes aqui que não pode passar comigo... mas também não quero deitar fora porque é de croissant muita BOM e... apetece-me! Parei no corredor, saquei o farnel da mochila e "morfei-o" mesmo ali antes de entrar para o raio-X. Calhou bem, até já tinha uma certa e determinada fome.
O vôo está marcado para daqui a 1h45, como é para Madrid fizeram a coisa mais perto da hora, mas dá-me o stress porque não posso atrasar nenhum! Tenho mais duas escalas para fazer e tem de correr bem ou... corto os pulsos com uma colher de plástico! (não tentem fazer isso em casa... não resulta e é estúpido)
Ainda na fila para o raio-X comecei a tirar coisas dos bolsos e a por na mochila, incluindo anel, fio, relógio e cinto (se tivesse). Depois só tive de tirar o portátil e pronto. Depois de passar ponho o meu material todo num só tabuleiro e levo para a mesa em frente para me compor, assim como as pessoas que saem dali quase despidas porque tiraram o cinto e têm as calças a cair, com a fralda da camisa toda amachucada e de fora; em meias porque os sapatos têm aros de metal; descabelados por causa da pressa e da azáfama... vê-se de tudo.

A seguir tenho as escadas. Já estou uma Pró do aeroporto de Lisboa. Para quem não sabe, ao cimo das escadas começam as lojas. Aquilo é um mundo que faz muitas pessoas voltarem para trás porque não querem comprar nada e têm medo que lhes cobrem só a entrada. Mas aqui a Pró vai em frente e dá a volta na maior das descontras. Passo pelos restaurantes e só quero mesmo chegar ao meu terminal para sossegar o stress. Passei pela fronteira e estou em terra de ninguém. Andei mais uns quilómetros (é tudo lá loooonge) e cheguei ao meu terminal.

Sento-me de frente para o balcão ainda encerrado, estou pronta. Lá fora chove, está cinzento, é o Outono a chegar.
Esperei ainda uns bons 45 minutos. Ia observando uma família de italianos. Um casal jovem com três crianças: 10, 6 anos e um de meses. Os miúdos andavam a brincar por todo o lado, o pai deambulava com o carrinho vazio e a mãe entretinha o caçula com aquelas caretas parvas que toda a gente faz para as crianças. Ao meu lado sentou-se uma rapariga aficcionada pelo seu portátil. Quando chegou já o tinha aberto, quando foi embora levou-o aberto, na mão e não parava de teclar. Ainda sentada ao meu lado falaram pelo microfone sobre o nosso voo... oh que surpresa, está atrasado! O stress é bruxo! Encontra-me em todo o lado.
- Qué passa? Está atrassádou? - perguntou-me ela em "espanholez".
- Si, una hora.
Foi quando ela se levantou como se fosse procurar outro voo. Entretanto fomos entrando, claro que já não ia sair a horas porque a hora já tinha passado e ainda nem estávamos dentro do avião. A fila começou a formar-se novamente atrás de mim... começo a sentir que tenho uma cauda mentirosa... (porque cresce como o nariz do Pinóquio, só que para trás de mim) Ainda não tinha começado bem a viagem e já estava estoirada. Afinal levantei-me às 6h!

Meteram-nos no autocarro até ao avião e depois subimos pelas escadas para dentro do avião. Senti-me um pouco claustrofóbica... bem sei que é uma viagem de curso pequeno, só até Madrid, mas... ai que sufoco. É mais pequeno que andar de autocarro. Dois lugares de cada lado e a classe executiva só está dividida por cortininhas minúsculas que pareciam um colete aberto ali pendurado, com buracos para os braços e tudo. Mais uma vez respirei fundo e comecei a apreciar as ironias... Ao meu lado vinha o espanhol lambido e à minha frente a espanhola aficcionada pelo portátil, já com o portátil no colo.

A minha sorte é que o voo é mesmo só de uma hora e demorou pouco até respirar ar puro de novo.
Hola Madrid! Qué tál?

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