Acordei bem cedo para tratar da papelada que me obrigou a regressar a Portugal.
Na noite anterior preparei tudo ao pormenor, inclusive a ordem necessária para entregar... nada pode falhar. Era algo que tinha de fazer sozinha. Assusta-me depois do que se passou mas sei que é um receio que tenho de enfrentar sozinha. E estava decidida a tratar disto já, "ou vai ou racha"!
Saímos de casa de Júnior e fiquei na rua certa, um pouco mais abaixo. Fui andando a manter a mente livre de sombras assustadoras. Não demorei nem 5 minutos a lá chegar e, como de costume, havia gente que nunca mais acabava! Comecei por me dirigir ao balcão onde se compram os impressos. Estava uma pessoa ao balcão de conversa com outra pessoa do meu lado. Aguardei a minha vez pacientemente e sempre com um sorriso no rosto. Não tenho pressa e nada temo. Se estou ali cedo vou ser atendida e pronto. Claro que houve duas senhoras que me ignoraram como se eu fosse transparente e puseram-se à minha frente. Olharam como se vissem através de mim, o que pode ser considerado de vidro, cascata de água, uma pedrinha minúscula de diamante (mesmo demasiado pequena e insignificante) ou um fantasma que só aparece para quem quer. Com qualquer uma destas hipóteses faço já uma história do caraças! Mas só me ignoraram mesmo e puseram-se à minha frente.
Reparei que a senhora ao balcão olhou para mim, sabendo perfeitamente que a seguir seria eu, mas deixei-a olhar aqui para o diamante. Não fiz um único olhar enrugado até porque só há uma coisa que danifica um diamante... Depois de atender as outras senhoras, a que estava no balcão dirigiu-se logo a mim a perguntar-me o que eu queria. Pedi o impresso, pedi desculpa por não ter trocado e agradeci. Afastei-me um pouco para poder preencher tudo direitinho e sem pressa. Guardei as papeladas excedentes e dirigi-me então à fila.
Não estava tanta gente como eu imaginava. Até foi tranquilo. Claro que esperei uns 45min. mas é normal. Na altura até me esqueci de perguntar quem era o último da fila já que estavam duas pessoas, com bastante espaço atrás e achei que a penúltima seria a que estava à minha frente - a última sou eu!
Foram chegando mais pessoas e todas elas perguntavam:
- Quem é a última pessoa da fila?
Bem, o primeiro que chegou eu disse que era eu e percebi que havia ali pessoas sentadas que estavam já na fila, mas fiz questão não me aproximar muito da pessoa da frente para deixar sempre espaço. Daí para a frente o último que se acuse, até porque facilmente se perdia a conta. As pessoas perguntam, fixam o que está à sua frente e vão lá para fora ou até vão tratar de outras coisas e voltam pouco depois. Sem dúvida que a cena do...
... serve perfeitamente! Palavras para quê?!
O ar-condicionado estava mesmo virado para mim e estava a incomodar-me. Fartei-me de espirrar, tapar a garganta... Oh well, já estou mal mesmo! Quando chegar a casa faço um cházinho daqueles!
Aguardei pacientemente pela minha vez tal como antes e vi duas pessoas dirigirem-se à minha frente, as quais deixei, gentilmente, entrar na fila pois já sabia. E elas também repararam... pouco depois veio um senhor que começou a passar pelo meio te tudo e todos até chegar atrás do que estava a ser atendido e eu não tive de dizer uma única palavra nem demonstrar uma única reacção de desagrado. Uma das que veio para a minha frente, para o lugar dela, virou-se logo para esse senhor:
- Desculpe mas a fila é toda esta gente! E esta senhora está atrás de mim!
Ohhhh! Senti-me finalmente alguém! Senti-me reconhecida pela minha forma de estar, pela minha maneira de ser! Senti-me "enturmada"! Apeteceu-me abraçar aquela senhora e agradecer-lhe! Mas não me esqueci dela ;) Um dia... vou ter essa oportunidade!
Houve mais pessoas depois a concordar com ela e o senhor não teve outra hipótese senão render-se às evidências e pedir desculpa. Só nessa altura perguntou quem era o último da fila. E eu não me quero esquecer mais disso!
Bem, o tempo foi passando pacificamente até que, já encostada ao balcão, mas já há tanto tempo que estava distraída com o que se ia passando do outro lado do balcão. Aí é onde as pessoas levantam os documentos. Aprendi que para levantar o meu vou precisar do recibo e de uma cópia. A cuscar também se aprende!
Era eu:
- Bom dia!
- Bom dia! Tem os seus documentos?
- Sim, tenho! - e mostrei tudo. Esta fase também me foi ensinada: nunca dar documentos que vão ser automaticamente analisados numa mica, é considerado desrespeito. A mica serve apenas para os manter, minimamente, seguros, presos com um clip e depois retiro-os da mica e entrego. O clip mantém os documentos arrumadinhos e fica nos serviços. Eu só queria fazer as coisas como é de costume. Não quero ser nem mais nem menos que ninguém. Mas não tinha um clip porque não tínhamos mesmo cá em casa. De manhã não tinha tempo para comprar um senão chegaria tarde e hoje é sexta-feira. Mas eu queria arranjar um... Para espanto dos meus espantos, "alguém" depositou um clip mesmo aos meus pés na fila de espera! Obrigada!
O senhor foi muito simpático e não colocou qualquer obstáculo, nem tinha porquê já que estava tudo certo. Confirmei vezes sem conta todos os documentos necessários. Fez-me algumas questões normais, que reparei terem sido feitas a outras pessoas. Et voilá!
- Pode passar ao pagamento.
Foi quando me dirigi à tesouraria. Aqui dói! Ficar mais leve é um alívio relativo, muito procurado por muitas mulheres, até para mim naquela altura por querer tratar do processo, mas há sempre o senão que faz sempre muita falta! A senhora foi muito simpática comigo. Estava numa sala pequena isolada da confusão, pacificamente à minha espera já que não estava lá ninguém! WOW! Este foi o meu dia!
Depois do pagamento aguardei pela minha vez. Nesta altura estava encostada à parede no hall de entrada, entre a sala da tesouraria, a sala de espera e entrega de documentos e o corredor para o qual seria chamada de seguida. Mas comecei a ouvir algum "entusiasmo" em certas vozes vindas da sala de espera. Eram duas pessoas na fila que de "gladiavam" pelo 1º lugar! Bem sei o quanto pode ser enervante mas... não podemos chegar a estes extremos em lado algum, especialmente quando nós somos os estrangeiros!
Ela era portuguesa, ele era o senhor que anteriormente tentou passar à frente de todos... as pessoas cá fora diziam que a senhora tinha razão, lá dentro estavam atrás dela e não tinham como saber. Pessoalmente não sabia porque não a vi e, pelo que diziam, a senhora esteve sempre à porta (bem atrás de mim e longe da minha vista já que estava lá muita gente) e tinha razão. Mas ninguém foi capaz de confirmar e apoiá-la. Até porque, a certa altura, a pessoa acaba por perder a razão com a forma como se expressa. Qualquer um dos dois fez fincapé e não quis dar o braço a torcer: o senhor, já todos sabíamos que tinha passado à frente, a senhora começou a gritar como se a sua vida dependesse disso! Foi tal peixeirada que o senhor que estava a atender fugiu e disse:
- Resolvam isso, não são crianças! Discutam sozinhos. Quando resolverem eu volto!
É fácil de imaginar a reacção das restantes pessoas que estavam na fila, né? Afinal todos pagavam por aquilo! Uns tentaram chamá-lo à razão, mas ele não saía dali, ela já discutia com quem quer que se metesse no caminho até que começou a ouvir um senhor mais velho. Não fiquei para ver mais já que fui chamada e desatei a correr pelo corredor.
- Ana Rita!
- Sou eu! Quem me chama? - havia três gabinetes. Um senhor que estava no corredor apontou para o gabinete que chamava por mim e sorriu. - Obrigada!
Quando entrei no gabinete estava um menino de uns 4 ou 5 anos anichado a um canto, atrás da secretária, ao lado da mãe. Como eu me lembro de acompanhar a minha mãe quando ela tinha reuniões! Ou mesmo quando eu não tinha aulas e ia chatear o J.A. (a propósito, muitos parabéns!). Era um aluno da minha mãe que se sentava sempre à frente e adorava a minha mãe. Ora, a mãe é minha! Tenho de disputar! Reacção natural do ser vivo! Eu escrevia ou desenhava no quadro parvoeiras que os fazia rir ou distrair. Chamava a atenção para mim... Nas reuniões ficava caladinha a entreter-me com o giz no quadro. Bons tempos que não voltam... hoje as crianças começam logo a escrever em computadores e Ipods, tablets e Iphones... qualquer dia nem sabem para que serve um afia-lápis!
Enfim, de volta ao gabinete. Mais uma vez fui muito bem atendida! Não me farto de o dizer porque foi mesmo verdade!
A secretária estava cheia de gadgets. um computador, com teclado, dois monitores, um para ela outro virado para eu ir confirmando os dados, uma máquina fotográfica com luzinhas tipo estrela de Hollywood, um detector de impressões digitais e um mini ecrã digital com uma caneta para assinaturas digitais. Ao lado do teclado a senhora ia teclando os meus dados e eu confirmava no ecrã.
O menino estava, visivelmente, entediado por não ter "com quem" nem "com que" se entreter. A mãe, de vez em quando, dizia para ele estar quieto. Mas o ar de tédio eram tão chapado que nem com joguinhos no telemóvel ele ficava.
Com os documentos que eu tinha entregue antes a senhora ia preenchendo os meus dados digitalmente. Eu ia corrigindo alguns erros ortográficos e ela agradecia-me pois à pressa as coisas podem correr mal e não quero ter problemas depois. A certa altura pediu-me para tirar os óculos de forma a tirarmos a fotografia. Pousei embora odeie esta parte. Depois apareceu a imagem no monitor.
- Quer tirar outra ou ficamos com essa?
- Ah não! Que horror! Tiramos outra sim! Não quero assustar logo as pessoas... - Tirámos uma segunda - Ok... está melhor! Ao menos não assusta à primeira vista... só à segunda...
Coloquei os dedos indicadores na caixinha, um de cada vez.
- Pode confirmar os seus dados - li tudo o que estava sobre mim no monitor, Parece-me bem.
- Ok, está confirmado.
Com os documentos que eu tinha entregue antes a senhora ia preenchendo os meus dados digitalmente. Eu ia corrigindo alguns erros ortográficos e ela agradecia-me pois à pressa as coisas podem correr mal e não quero ter problemas depois. A certa altura pediu-me para tirar os óculos de forma a tirarmos a fotografia. Pousei embora odeie esta parte. Depois apareceu a imagem no monitor.
- Quer tirar outra ou ficamos com essa?
- Ah não! Que horror! Tiramos outra sim! Não quero assustar logo as pessoas... - Tirámos uma segunda - Ok... está melhor! Ao menos não assusta à primeira vista... só à segunda...
Coloquei os dedos indicadores na caixinha, um de cada vez.
- Pode confirmar os seus dados - li tudo o que estava sobre mim no monitor, Parece-me bem.
- Ok, está confirmado.
- Pronto, está tudo.
- Dentro de quanto tempo posso vir levantar?
- Ui filha... dáqui a um mêis... - como quem diz mais...
Nem acredito que estou despachada!
- Dentro de quanto tempo posso vir levantar?
- Ui filha... dáqui a um mêis... - como quem diz mais...
Nem acredito que estou despachada!
Fui andando para ir ter com a sogrinha à loja. O JG vai lá ter eventualmente e sempre mato saudades do pessoal. Fui recebida com muitos sorrisos e muitos "bem-vinda de volta"! É tão bom!
Não durou muito até o JG chegar. Fomos os dois de carro dar uma voltinha. Mas não demorámos muito e eu também não me sinto muito bem. Porque sou eu alérgica ao pó?!
Agora estou à espera que a minha mamã me diga se chegou bem, que o pessoal aqui de casa chegue para jantarmos e que o chá aqueça. Estou gelada, mesmo cheia de frio, mãos de quem andou a brincar na neve, botinhas quentes de inverno, chinelinhos de pêlo, pijama relativamente fresco (!? TIA!), embrulhada na manta (muito jeitosa e quentinha por sinal) gentil e secretamente oferecida pela companhia aérea que me trouxe, a levantar-me constantemente para me assoar, com dificuldade em engolir saliva e água que fui buscar num copo, com moleza de "dói-dói" e dores em todo o corpo... é a despedida dos 31... Ah sim, estão 22º lá fora! Está frio, muito vento... parece que o tempo se sente como eu...
Não durou muito até o JG chegar. Fomos os dois de carro dar uma voltinha. Mas não demorámos muito e eu também não me sinto muito bem. Porque sou eu alérgica ao pó?!
Agora estou à espera que a minha mamã me diga se chegou bem, que o pessoal aqui de casa chegue para jantarmos e que o chá aqueça. Estou gelada, mesmo cheia de frio, mãos de quem andou a brincar na neve, botinhas quentes de inverno, chinelinhos de pêlo, pijama relativamente fresco (!? TIA!), embrulhada na manta (muito jeitosa e quentinha por sinal) gentil e secretamente oferecida pela companhia aérea que me trouxe, a levantar-me constantemente para me assoar, com dificuldade em engolir saliva e água que fui buscar num copo, com moleza de "dói-dói" e dores em todo o corpo... é a despedida dos 31... Ah sim, estão 22º lá fora! Está frio, muito vento... parece que o tempo se sente como eu...
Ainda vou fazer o bolinho para os meus anos amanhã. Mas falta-me farinha. O JG anda na rua e já lhe pedi para comprar farinha, mas sei que a estas horas é difícil... (passados 15 minutos) Ena ena, o meu amor arranjou farinha! Era o único ingrediente que me faltava cá em casa e, para quem não sabe, é o ingrediente secreto de qualquer bolo!
Depois do jantar, eu e o JG, fomos tratar do meu bolinho. Ver se fica uma coisa boa ou uma coisa esperta... Está a demorar a cozer... O forno é forte, mas por dentro está cru, vou deixar um pouco mais. (Umas horas depois) Ficou uma merda esperta!
Faltou a foto do bolinho!!! :D
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