Espreitei pela janela e está vento. O céu está cinzento e parece estar frio. É melhor levar as calças de ganga, uma t-shirt e um casaquinho. Nada de coisas muito quentes porque vou ter calor, com certeza. Hoje deve ser daqueles dias em que faz calor de manhã, chove à hora de almoço, frio à tarde e trovoada à noite!
- Bom dia Nora.
- Tchilé!
- Hum?! Isso é...?
- Bom dia!
- Ah! Tchilé, Nora! Obrigada!
Tomámos o pequeno-almoço e fui tomar banho! Hoje sim! Já temos água! Finalmente!
A caminho do MT reparei que estava algum frio e muita claridade, apesar do sol estar escondido. Troquei para os óculos escuros e devia parecer uma espécie esquisita de Stevie Wonder. É impressionante como chego sempre cheia de calor e transpirada! E só tenho uma t-shirt e um casaco fininho!
O pessoal (clientes/amigos), que está lá de manhã, está sempre mais descontraído. É com este pessoal que aprendo certas expressões. São pessoas que, como eu, vão descobrindo curiosidades peculiares. Um dos fornecedores veio entregar material. Os empregados vinham carregados e precisavam saber onde poderiam deixar a mercadoria. E eu expliquei:
- Podes deixar ali ao fundo, do lado de cá...
Eles riam-se e fiquei curiosa. Depois do rapaz avançar perguntei o que se passava.
- Só tens de dizer "lá"! - Dito com a boca bem aberta e a língua enrolada nos dentes, como que a explicar como se faz o som do "éle", como dizem os franceses. - E podes apontar, mas o pessoal compreende logo. Se dás muita informação baralham-se!
E, realmente, é verdade. A vontade de querer mostrar trabalho faz com que, muitas pessoas, oiçam só algumas palavras e não a tarefa em si. O que, no final, dá uma grande asneirada. De facto, comecei a tomar atenção à forma como os colegas faziam para indicar qualquer coisa e, entre eles, dizem "lá".
Este pessoal vai tomar o pequeno-almoço, ou só um café, para acordar, antes de se dedicarem ao trabalho - que nunca apetece. A conversa é, regra geral, sempre animada. Hoje, em particular, porque havia quatro revistas "cor-de-rosa" para ler. Embora fossem todas diferentes e compradas hoje, cada uma tinha uma data diferente! É frequente aqui haver revistas à venda de há 3 meses atrás! Convém sempre ver as datas... É como os produtos no supermercado, convém sempre ver a validade. Pelo menos nos produtos em que está marcada...
Ler estas revistas dá para ir matando algumas saudades de casa, mas, como diz a Cal, ironicamente, «estou muito mais culta depois de ler isto». Até percebo que sejam coisas aberrantes que vendam mas... É notícia os VIPS irem à praia em família?! É assim tão importante ler sobre duas amigas que saem à noite para se divertirem? Só porque são conhecidas? E a secção que pede fotografias dos leitores com os seus ídolos e aparece um rapaz ao lado de uma miúda, ex-concorrente da Casa dos Segredos?! Ídolo?! A busca incessante da fama, do estrelato, do palco... ou só de ser conhecido... é tão doentia! Parece que não existe outra forma das pessoas terem personalidade a não ser que tenham de a expor, de se validar perante o público... Poucos são os que encontram em si a verdadeira essência da felicidade... existir!
Depois de alguma animação o pessoal foi para o trabalho. E eu, para o meu posto.
O Capri é um dos trabalhadores que mais gosto. Além de ser profissional, é muito querido, atencioso e simpático! Gosto muito dele! Quando o vi esta manhã, não estava à espera:
- Bom dia, Capri! Estás a trabalhar de manhã hoje?
- Bom dia - sempre com um sorriso - sim e vou estar toda a semana de manhã! Estamos juntos!
- Que bom Capri! Estamos juntos! - sorri
- Sim, estamos juntos! - sorriu ainda mais.
O "estamos juntos" é algo muito importante para os Moçambicanos. Significa estar em sintonia, em concordância, implica cumplicidade. Também vai buscar algo ao facto de as pessoas gostarem uma da outra, sentirem algum tipo de afinidade, amizade. Ou, ao fazerem as pazes, também o dizem, como que "estamos bem?" ou "estamos em paz?".
Sou daquelas pessoas curiosas, que gosta de conhecer, o máximo possível, daquilo que me rodeia. Vivi numa realidade diferente de tantas pessoas no mundo. Quando era mais nova tinha a mania de imaginar que, do outro lado do mundo, havia uma menina idêntica a mim, a viver e a fazer as mesmas coisas que eu. Como que uma realidade paralela. Hoje, sei que as coisas não funcionam dessa forma e, por isso, tenho ainda mais curiosidade em conhecer o que, para mim, é desconhecido. E, aqui, satisfaço muitas curiosidades.
A meio da tarde, no bar, comentei que estava frio. Um dos rapazes respondeu-me:
- Bom dia Nora.
- Tchilé!
- Hum?! Isso é...?
- Bom dia!
- Ah! Tchilé, Nora! Obrigada!
Tomámos o pequeno-almoço e fui tomar banho! Hoje sim! Já temos água! Finalmente!
A caminho do MT reparei que estava algum frio e muita claridade, apesar do sol estar escondido. Troquei para os óculos escuros e devia parecer uma espécie esquisita de Stevie Wonder. É impressionante como chego sempre cheia de calor e transpirada! E só tenho uma t-shirt e um casaco fininho!
O pessoal (clientes/amigos), que está lá de manhã, está sempre mais descontraído. É com este pessoal que aprendo certas expressões. São pessoas que, como eu, vão descobrindo curiosidades peculiares. Um dos fornecedores veio entregar material. Os empregados vinham carregados e precisavam saber onde poderiam deixar a mercadoria. E eu expliquei:
- Podes deixar ali ao fundo, do lado de cá...
Eles riam-se e fiquei curiosa. Depois do rapaz avançar perguntei o que se passava.
- Só tens de dizer "lá"! - Dito com a boca bem aberta e a língua enrolada nos dentes, como que a explicar como se faz o som do "éle", como dizem os franceses. - E podes apontar, mas o pessoal compreende logo. Se dás muita informação baralham-se!
E, realmente, é verdade. A vontade de querer mostrar trabalho faz com que, muitas pessoas, oiçam só algumas palavras e não a tarefa em si. O que, no final, dá uma grande asneirada. De facto, comecei a tomar atenção à forma como os colegas faziam para indicar qualquer coisa e, entre eles, dizem "lá".
Este pessoal vai tomar o pequeno-almoço, ou só um café, para acordar, antes de se dedicarem ao trabalho - que nunca apetece. A conversa é, regra geral, sempre animada. Hoje, em particular, porque havia quatro revistas "cor-de-rosa" para ler. Embora fossem todas diferentes e compradas hoje, cada uma tinha uma data diferente! É frequente aqui haver revistas à venda de há 3 meses atrás! Convém sempre ver as datas... É como os produtos no supermercado, convém sempre ver a validade. Pelo menos nos produtos em que está marcada...
Ler estas revistas dá para ir matando algumas saudades de casa, mas, como diz a Cal, ironicamente, «estou muito mais culta depois de ler isto». Até percebo que sejam coisas aberrantes que vendam mas... É notícia os VIPS irem à praia em família?! É assim tão importante ler sobre duas amigas que saem à noite para se divertirem? Só porque são conhecidas? E a secção que pede fotografias dos leitores com os seus ídolos e aparece um rapaz ao lado de uma miúda, ex-concorrente da Casa dos Segredos?! Ídolo?! A busca incessante da fama, do estrelato, do palco... ou só de ser conhecido... é tão doentia! Parece que não existe outra forma das pessoas terem personalidade a não ser que tenham de a expor, de se validar perante o público... Poucos são os que encontram em si a verdadeira essência da felicidade... existir!
Depois de alguma animação o pessoal foi para o trabalho. E eu, para o meu posto.
O Capri é um dos trabalhadores que mais gosto. Além de ser profissional, é muito querido, atencioso e simpático! Gosto muito dele! Quando o vi esta manhã, não estava à espera:
- Bom dia, Capri! Estás a trabalhar de manhã hoje?
- Bom dia - sempre com um sorriso - sim e vou estar toda a semana de manhã! Estamos juntos!
- Que bom Capri! Estamos juntos! - sorri
- Sim, estamos juntos! - sorriu ainda mais.
O "estamos juntos" é algo muito importante para os Moçambicanos. Significa estar em sintonia, em concordância, implica cumplicidade. Também vai buscar algo ao facto de as pessoas gostarem uma da outra, sentirem algum tipo de afinidade, amizade. Ou, ao fazerem as pazes, também o dizem, como que "estamos bem?" ou "estamos em paz?".
Sou daquelas pessoas curiosas, que gosta de conhecer, o máximo possível, daquilo que me rodeia. Vivi numa realidade diferente de tantas pessoas no mundo. Quando era mais nova tinha a mania de imaginar que, do outro lado do mundo, havia uma menina idêntica a mim, a viver e a fazer as mesmas coisas que eu. Como que uma realidade paralela. Hoje, sei que as coisas não funcionam dessa forma e, por isso, tenho ainda mais curiosidade em conhecer o que, para mim, é desconhecido. E, aqui, satisfaço muitas curiosidades.
A meio da tarde, no bar, comentei que estava frio. Um dos rapazes respondeu-me:
- É, hoje só apetece coisas quentes para ficar arrumadinha... né?
Ora, "arrumadinha", neste contexto, será "aconchegada"! Mas fiquei um segundo, ou dois, a perceber se ele estava a falar a sério ou se estava a gozar comigo. Era mesmo a sério. Eu é que não estou, ainda, habituada a estes termos. E acho-lhes piada.
Vou "arrumar-me" para dormir bem quentinha!
Ora, "arrumadinha", neste contexto, será "aconchegada"! Mas fiquei um segundo, ou dois, a perceber se ele estava a falar a sério ou se estava a gozar comigo. Era mesmo a sério. Eu é que não estou, ainda, habituada a estes termos. E acho-lhes piada.
Vou "arrumar-me" para dormir bem quentinha!
Sleep Tight!
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