Fui a uma reunião da Makobo de forma a conhecermos melhor como funciona e a partilharmos as nossas ideias. Há que puxar pela criatividade. Há que ajudar quem não tem esperança nem forças... Há pessoas no mundo que têm tão pouco que é difícil imaginar... Moçambique é um país cuja população tem, maioritariamente, menos de 18 anos. A natalidade aqui é brutal. O pior é que, quando muitos nascem, são abandonados ou maltratados ou abusados... por quem os devia proteger... E muitos acabam por contrair doenças incuráveis, por passar fome, por sofrer física e psicologicamente, por viver na rua onde a lei do mais forte regula a sobrevivência. Passa-se aqui e passa-se em toda a parte do mundo! Só não vê quem não quer!
Cresci numa sociedade onde existem os direitos da criança. Lembro-me, vividamente, de fazer um trabalho - ainda antes do tempo dos computadores - para a escola primária, em cartolina vermelha. Recortei imagens de crianças em revistas e jornais, recortei letras, escrevi textos e passei-os a caneta, em folhas brancas, a seguir recortadas/ ou queimadas à volta e, coladas na cartolina. Lembro-me de olhar para aqueles corpinhos magricelas, aqueles rostos sofridos, aqueles olhos cheios de vida tão diferente da minha, aquelas almas condenadas desde que concebidas... Ainda assim, tinham sorrisos no rosto! Eu tinha menos de 9 anos na altura, devia ter, mais ou menos, a idade daquelas crianças que recortei. E recordo-me de pensar "que felicidade é esta?! Por que sorriem quando não têm... nada, nem comida?!". Achei que era algo natural nelas, o facto de sorrirem - porque uma criança não sabe fingir um sorriso verdadeiro. Fiquei com aquela imagem na cabeça. Não me lembro dos rostos, mas ficou a ideia de uma imagem, perturbantemente, feliz. Lembro-me de ter achado isso muito confuso e de me questionar porque seria? O que faria uma criança sorrir sem ter casa, abrigo, comida, cuidados, brinquedos, escola, amor... mas tinham muitos irmãos e tinham a sorte de terem sido fotografadas, o que pressupõe que tenham sido acolhidas... pelo menos, tenho esperança que sim.
Na manhã seguinte tivemos o curso de novo. Foi muito bom e reconfortante voltar a rever estes novos amigos. Desta vez tínhamos uns balões à nossa disposição. Estavam destinados a um propósito, claro. Mas é inevitável ficar quieta com um balão nas mãos. Tanto eu como o JG não deixámos aqueles balões em paz. Ainda mais com um balão cheio numa mão e uma caneta na outra... Não tardou para que a tampa da caneta ficasse presa nos dentes... e as mãos ganharam vida própria!
Já depois do exercício, em plena aula, sentados na respectivas cadeiras, ao lado um do outro, eu e o JG brincávamos cada um com o seu balão. Mas estávamos atentos e relaxados, sem pensar muito nisso. Até que uma das colegas interrompeu a aula e, pelos vistos, estava de olho em nós...
- Peço desculpa mas... - disse com um sorriso - Tenho que realçar que o nosso casal está tão feliz e em sintonia... Estão os dois a brincar com os balões como se fosse a coisa mais natural do mundo! É bonito de se ver!
Então e não é?! Lembro-me de ter corado e sentir-me mesmo apanhada de surpresa. Ainda assim, não largámos o nosso entretém. É viciante ter aquele brinquedo à frente... Acho que a criança que há em mim vai viver sempre muito alegre e muito presente em toda a minha vida.
Foi já perto da hora de irmos embora que alguns colegas começaram a receber SMS com a listagem do novo governo estabelecido. E a concentração foi-se... Já ninguém estava "ali" na sala. Estava tudo com a cabeça cá fora, desejando chegar a casa e ver as notícias.
E a nossa tarde foi passada em casa. Não estava muito interessada nessa coisa da política. A mim não faz diferença, nem posso votar aqui. E como não davam mais nada na televisão virei-me para o computador e descobri um novo jogo do Facebook, Celebs Pop. Bem, descobri-o e acabei-o. Manteve-me entretida o resto do dia e noite até acabar os níveis...
Cresci numa sociedade onde existem os direitos da criança. Lembro-me, vividamente, de fazer um trabalho - ainda antes do tempo dos computadores - para a escola primária, em cartolina vermelha. Recortei imagens de crianças em revistas e jornais, recortei letras, escrevi textos e passei-os a caneta, em folhas brancas, a seguir recortadas/ ou queimadas à volta e, coladas na cartolina. Lembro-me de olhar para aqueles corpinhos magricelas, aqueles rostos sofridos, aqueles olhos cheios de vida tão diferente da minha, aquelas almas condenadas desde que concebidas... Ainda assim, tinham sorrisos no rosto! Eu tinha menos de 9 anos na altura, devia ter, mais ou menos, a idade daquelas crianças que recortei. E recordo-me de pensar "que felicidade é esta?! Por que sorriem quando não têm... nada, nem comida?!". Achei que era algo natural nelas, o facto de sorrirem - porque uma criança não sabe fingir um sorriso verdadeiro. Fiquei com aquela imagem na cabeça. Não me lembro dos rostos, mas ficou a ideia de uma imagem, perturbantemente, feliz. Lembro-me de ter achado isso muito confuso e de me questionar porque seria? O que faria uma criança sorrir sem ter casa, abrigo, comida, cuidados, brinquedos, escola, amor... mas tinham muitos irmãos e tinham a sorte de terem sido fotografadas, o que pressupõe que tenham sido acolhidas... pelo menos, tenho esperança que sim.
Na manhã seguinte tivemos o curso de novo. Foi muito bom e reconfortante voltar a rever estes novos amigos. Desta vez tínhamos uns balões à nossa disposição. Estavam destinados a um propósito, claro. Mas é inevitável ficar quieta com um balão nas mãos. Tanto eu como o JG não deixámos aqueles balões em paz. Ainda mais com um balão cheio numa mão e uma caneta na outra... Não tardou para que a tampa da caneta ficasse presa nos dentes... e as mãos ganharam vida própria!
Já depois do exercício, em plena aula, sentados na respectivas cadeiras, ao lado um do outro, eu e o JG brincávamos cada um com o seu balão. Mas estávamos atentos e relaxados, sem pensar muito nisso. Até que uma das colegas interrompeu a aula e, pelos vistos, estava de olho em nós...
- Peço desculpa mas... - disse com um sorriso - Tenho que realçar que o nosso casal está tão feliz e em sintonia... Estão os dois a brincar com os balões como se fosse a coisa mais natural do mundo! É bonito de se ver!
Então e não é?! Lembro-me de ter corado e sentir-me mesmo apanhada de surpresa. Ainda assim, não largámos o nosso entretém. É viciante ter aquele brinquedo à frente... Acho que a criança que há em mim vai viver sempre muito alegre e muito presente em toda a minha vida.
Foi já perto da hora de irmos embora que alguns colegas começaram a receber SMS com a listagem do novo governo estabelecido. E a concentração foi-se... Já ninguém estava "ali" na sala. Estava tudo com a cabeça cá fora, desejando chegar a casa e ver as notícias.
E a nossa tarde foi passada em casa. Não estava muito interessada nessa coisa da política. A mim não faz diferença, nem posso votar aqui. E como não davam mais nada na televisão virei-me para o computador e descobri um novo jogo do Facebook, Celebs Pop. Bem, descobri-o e acabei-o. Manteve-me entretida o resto do dia e noite até acabar os níveis...
Lembro-me bem desse trabalho...!
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