Dia 1: 24 Junho 2014 - As primeiras impressões

Acordei pelas 7h com os miúdos do infantário das traseiras aos berros! SOCORRO!

Levanto-me decidida a fechar a janela e a tolerar o calor... quando me aproximo apercebo-me de que, afinal tava já tudo fechado... Oiço o JG:

- Deixa lá, é só até te habituares...

Que remédio... voltei para a cama. Mas faz-me confusão não conseguir dormir horas seguidas, acordo sempre e vou dormitando.

Levantámo-nos já tarde... eram 9h e picos. As janelas não têm estores, por isso, os cortinados são quem nos protege da luz madrugadora. Além dos cortinados normais existem também outros cortinados espessos e completamente pretos que tapam a luz. Essa parte não me faz confusão, mas o barulho dos miúdos a cantarem o hino... ai soninho...

O JG tirou este dia para estar comigo, ele tem sido incansável comigo. Sempre a explicar-me tudo, a dar toda a informação para não me perder (como é muita vou mais devagar), a apresentar-me a toda a gente... a tudo! Não podia estar melhor entregue! É o meu amor! :D

Quando saí do quarto conheci a Sal, a empregada cá em casa que só sai depois de almoço. Deixa sempre comida pronta. Miúda nova já com dois filhos, simpática e muito sorridente.

Tomámos o mata-bicho (tradução: pequeno-almoço), aveia com leite. Era pouquinho mas daí a pouco é hora de almoço.

Saímos de casa para o JG me mostrar onde ficava o local de trabalho dele. A G tinha levado o Júnior e fomos a pé até à sede. Estava o Júnior estacionado mesmo à porta. Antes de entrarmos o JG disse-me:

- Agora não cumprimentes toda a gente com dois beijinhos senão não saímos daqui. Não é preciso e eles não estão habituados a isso.

- Ok.

Assim que entrámos estava a responsável pela contabilidade, a Sh, que foi extremamente simpática e prestável, que veio direitinha a mim para me dar dois beijinhos! Hahaha Teve a sua piada! Mas foi só ela que já está habituada isso, os restantes só “olá” e “prazer”, acompanhado de sorrisos.

Ainda lá ficámos uma hora ou assim porque havia trabalho e o JG estava a ajudar. Eu não estava era à espera de ver ali tanta gente a trabalhar... é uma loja pequena mas que tem um armazém enorme e daquela portinha para o armazém só saia cada vez mais gente nova... Deviam estar ali entre 10 a 15 pessoas.

Dali pegámos no Júnior e fomos até ao Shopping. O trânsito ao contrário faz-me formigueiro... deixa-me quase tão nervosa como quando aterrei de avião! Eu tremia por todos os lados e o “andar em contra-mão” é deveras assustador! São pessoas a meterem-se à frente dos carros, verde ou vermelho é quase igual, passadeiras só mesmo as zebras lá pró meio do mato, crianças quase a levarem com carros em cima... eu sei lá...

Nos passeios... bem em vez de passeios é terra batida. E quando se vê passeio está partido ou desfeito, esburacado, com poça de água parada cheia de lixo e mosquito... Chamemos bermas da estrada. Nas bermas existem pessoas sentadas no chão a vender de tudo: fruta, legumes, hortaliças, capas de telemóveis, carregadores, sofás, pufs, artesanado, relógios, doces, óculos, triângulos para os carros, autocolantes, tabaco... you name it! E se não estão sentados no chão estão com uma caixa de madeira por baixo ou até a vaguear por aí ou pelo trânsito. Nem precisas sair do carro que eles vão à janela. Existem ainda uns miúdos com uns coletes amarelos que vendem umas chapinhas com uma raspadinha que é o carregamento do telemóvel. Compras de 50 meticais (mzn), por exemplo, raspas, colocas o código e já tens saldo! ;) Prático!

Já perto do shopping o trânsito foi de me por os cabelos em pé! A regra aqui é que não existem regras! É o salve-se quem puder! E quem tem prioridade é sempre alguém menos tu! Estejas de carro ou a pé! Não me posso deixar traumatizar... Estacionámos! Que alívio!

Na loja fui apresentada novamente a mais outros 10 trabalhadores. A loja é um pouco maior e tem coisas lindíssimas! E trabalho para fazer é o que não falta!

Fomos jantar os três: eu, O JG e a G, a minha sogrinha. Não posso chamar “mãe emprestada” e “sogra” porque soa mal, “sogrinha” é um termo carinhoso que sempre chamei. A minha sogrinha tem sido impecável também. Apesar do trabalho ocupar muito tempo, como é óbvio, tem dado muitas dicas e ajuda sempre que pode!

A primeira refeição foi um hambúrguer por opção minha, muito bom. Também estava cheia de fome, o mata-bicho tinha sido pouquinho mas também porque a fome não era muita na altura. Mas como sabia que daqui iríamos dar uma voltinha a pé...

E fomos! Descemos do shopping até à beira-mar, um espaço tipo calçadão mas esburacado e com lixo. Vê-se muitas caricas no chão como estou acostumada a ver pastilhas elásticas, mas em maior quantidade. Percorremos 4 das avenidas principais até apanharmos o Júnior. Depois seguimos para o Jardim dos Professores. A meio do caminho o JG teve de encostar porque recebeu uma chamada e eu lembrei-me logo da minha mamã...

Chegámos ao Jardim dos Professores e fomos comer um geladinho ao Café Acácia (porque o emblema-mascote da cidade são as acácias, árvores lindas). É um espaço muito agradável, mais In. Tem uma vista linda sobre o mar, ou melhor, o oceano. Assim que chegámos, na mesa ao lado estava o Stewart Sukuma http://pt.wikipedia.org/wiki/Stewart_Sukuma, cantor famoso aqui. Depois demos uma voltinha pelo jardim, relativamente pequeno, mas agradável. E ainda fotografei informações importantes.

 Daqui voltámos para casa. Estamos cansados e eu queria arrumar as minhas malas. Jantámos em casa comida feita pela Sal. Era matapa mas não achei grande piada porque parecia que tinha areia. O aspecto é tipo esparregado e o sabor não é mau mas quando se morde é como quando se morde areia. Comeu-se!
Esperámos umas horas e ao final da noite fomos buscar o T, o meu sogrinho, ao aeroporto. Vinha todo satisfeito!
- Bem-vinda a Maputo!
- Bem-vindo digo eu! Hehe
Já era tarde e foi só voltar para casa e dormir, parece que o ar nos cansa mais.
Mas como amanhã é feriado e dia de jogo do mundial (são loucos por futebol, seja ele qual for) há festa nas traseiras... xinfrineira até mais não!

Mando daqui bem pertinho um beijo de boa noite a toda a minha família, aos meus amigos e, claro à minha mamã que está incluída na família mas tem um lugar muito próprio, bem como o Gyzmo, o Simão e o Tarik. ABRAÇÃO!