Monday, June 30, 2014

A CHEGADA

Esta parte é terrível... O gigantorme tem de aterrar... eventualmente.
Começámos a baixar de altitude e começo a sentir todos os meus órgãos na cabeça! Começo a sentir o corpo quente, as mãos frias mas a suarem que nem umas malucas, sinto que os meus pés fazem parte do aparelho e estão colados ao chão, parece que, como os órgãos estão na cabeça, tudo o resto está cheio de ar e passo o tempo a soprar como se estivesse a parir! É, sem dúvida, a montanha-russa mais confortável, mas não deixa de ser uma montanha-russa... A sorte é que tenho os dois bancos só para mim e as figurinhas tristes são abafadas pela falta de visibilidade... acho eu! Queria lá saber disso naquela altura...

Ainda pus um daqueles mini-vídeos Zen para me ajudar a relaxar... mas, a certa altura, desligam mesmo tudo. Parece que gostam de nos fazer sofrer... “agora tens de assistir a tudo!”
Leva uma eternidade entre descer o que parecem ser degraus e que te faz um frio na barriga, o espreitares pela janela, já de noite cerrada, com umas luzinhas poucas lá fora, porque ainda nem estás ainda a sobrevoar a cidade, até sentires o chão. Ao sobrevoar Maputo, já se vê a cidade cheia de luzinhas, sentes algum conforto, apesar de não conheceres... ainda! Depois, vês a pista! E tudo o resto à volta é terra batida com ervinhas... Dá uma segurança daquelas que nem queres estar ali pra ver! Mas, que remédio...
Ok, chegou ao chão! Ainda dás uns pulinhos, sentes uma travagem como quando um carro se atravessa à tua frente, e outra e outra... e sentes que os teus pés estão a ajudar a travar cada vez mais, o que te dá um misto de sentimentos de segurança (como se alguma vez pudesses controlar isso) e de dever cumprido, porque ajudaste a parar o gigantorme... claro que sim! No final, resulta mesmo, ajuda-te a esquecer o medo e o nervosismo para te concentrares na coisa mais estapafúrdia de parar um avião com os teus próprios pés no lugar de mero passageiro...

Parou! Obrigada, meu Deus, obrigada, meu Anjo da Guarda pela protecção e segurança deste voo, por estar sã e salva!
Devemos ter ficado uns 15 minutos lá dentro até começarmos a sair, ainda para mais, eu estava lá ao fundo... Novamente a tripulação à porta:
- Bem-vinda a Maputo! Boa noite e obrigada! - Após a estafa da viagem e do trabalho, continuam com big smiles! Que profissionalismo!
Saímos pela manga e, ao pôr os pés em terra firme (sim, entrei com o pé direito), temos umas escadas em frente e, do lado direito, um corredor largo, quase às escuras, completamente vazio, com janelas de um lado e doutro... parecia uma cena de um filme de terror... daqueles hospitais frios e assombrados... bbbrrrrrrr
Claro que segues a “manada” e desces as escadas para a “civilização”. Como eu já tinha sido instruída pelo meu amorzão, sabia que tinha de preencher uma folhinha e ir para uma fila. Não havia nada que enganar: peguei numa folhinha cor-de-rosa - estavam espalhadas por todo o lado, até andavam a voar... saco de uma caneta e, já numa das filas (porque era tudo para o mesmo), preencho. Sabichonazinha...
Devo ter esperado uma bela meia hora na fila, aquilo parecia que não andava, que coisa tão lenta! Tanto à minha frente, como atrás de mim, estavam umas mulheres que não eram moçambicanas, mas que eram da cor dos nativos de Moçambique. E, às tantas, chega uma ao pé delas:
- O qui vócês tão áqui á fázer? Naum vês que ás prétas tão tódas alí dáquele ládo, náquéla fila?! Vámos embora!
- Á é?! Intão vámos!
Pegaram nas trouxas e bazaram “pá fila dás prétas”! Tavam mesmo no gozo pah! Foram a rir, todas contentes.

Fiquei reduzida à fila dos brancos com espanhóis atrás, sempre a reclamarem da lentidão. E eu devia parecer uma girafa porque, por trás do balcão onde esperávamos para ser atendidos (a fronteira), era o espaço onde se ia buscar as malas. Estavam os tapetes rolantes com as malas. E eu estava toda espichada a tentar ver as minhas.
Chegou a minha vez!
- Boa noite! - mostrei o passaporte, o bilhete e a folhinha cor-de-rosa.
- Boua nôiti... - (muito baixinho) – O indicador direito - (ainda mais baixinho)
- Desculpe?!
- Indicador direito! - a apontar para um detector de finger tips (raios, não me lembro do nome em português)
- Ah, sim, claro – pus o dedo
- Agora o isquerdo – sorri e troquei – Pódi passáar
- Obrigada!

Já tinha topado os meus chourições e fui direitinha buscar um carrinho. Nesta altura, veio a D. Maria Clara ter comigo. Para quem não sabe, a D. Maria Clara foi uma senhora que conheci em Faro quando fui levar as 4 vacinas.
Só a vi quando saía já da sala das vacinas, com as tirinhas dos pensos nos braços, à mostra. E esta senhora que aguardava a sua vez, assim que me viu:
- Ai coitadinha! 4 de uma vez!!! - saltou da cadeira e dirigiu-se a mim – Doeu, filha?! Ai coitadinha...
- Não! O melhor é não olhar, espreite pela janela. Passa num instante! – A última bem que doeu, mas não podia dar parte de fraca! Sabia lá eu que estava condenada a não conseguir mexer o braço esquerdo na semana seguinte...
Escusado será dizer que a conversa do “vou para Maputo” prolongou-se por irmos para o mesmo sítio. Disse-lhe onde iria trabalhar, o marido dela disse que tinha nascido lá e vivido até aos 40 e tais, mas que nunca mais queria voltar e, por isso, ela viria sozinha, mas que teria cá alguém, blá blá blá... Enfim, foi como conheci a D. Maria Clara.
- Olá, D. Maria Clara! Veio esperar-me ao aeroporto? - disse, na brincadeira – Ou só chegou hoje?
- Olá, Rita! - disse, a sorrir – Vim cá hoje porque me perderam uma mala e venho ver se chegou. Já vi a sua sogra, a D. Gina (G), e o seu marido, o João (JG), estão lá fora à sua espera!
- Boa! Obrigada! - Beijinhos e um até logo!

Já com o carrinho, fui sacar os meus chourições e daí para mais uma fila... Quero sair daqui! Tive de tirar os chourições novamente e colocar noutro tapete para passar no raio X. Mas porque é que não há um onde se possa pôr o carrinho e pronto?! Do outro lado da máquina, toca a pôr os chourições no carrinho de novo...
Nova etapa: estavam umas 3 ou 4 filinhas, tipo de supermercado, para revistarem tudo e eu pensei “A sério?! Vou mesmo ter de desenchouriçar isto?!”. Sorte ou destino... veio um polícia ter comigo:
- Boua nôiti! – (muito sorridente)... não sei se desconfie ou se alinhe... - O'xeus dócumentus, pour fávor.
- Boa noite! - (alinho!) - Está aqui o passaporte.
- Então istá tudo bêm? - sempre com um big smile
- Sim... - (com sorriso tímido)
- Máis digo “bêm” de sáúdi, si tá tudo bêm di sáúdi
- Ah isso sim, fora o nervosismo de aterrar, está tudo bem.
Resumindo, foi dando conversa na boa, perguntou se tinha coisas novas, o que tinha dentro das malas, confiou em mim e disse-me que poderia sair. OBAAAAAA!!!

Foi quando vi o JG e a G a sorrirem para mim, ainda do outro lado do vidro. Parecia eu que estava de quarentena. Vira à esquerda, em frente, mais esquerda e direita... ABRAÇÃO! Beijos e abraços e abraços e beijos. Larguei o carrinho e senti-me entregue!
Quando chegámos ao Júnior (o jipinho que anda sempre em “contra-mão”, como todos os outros, porque aqui conduz-se como em Inglaterra), fui surpreendida pelo “Boss” (tradução: moço, rapaz) mais LINDO do mundo, com um bouquet de 10 lindas rosas moçambicanas! Obrigada, meu amor! 



Entre nervosa, eufórica, cansada e a absorver muita informação... não sei definir bem o que sentia nesta altura... Era já noite cerrada quando cheguei e, 00h quando cheguei perto deles, aqui já é como se em Portugal fossem umas 3h... é tardíssimo, portanto. Embora o fuso horário seja como em Espanha, mais uma hora que em Portugal, aqui é normal levantar às 6/7h, começar a trabalhar às 8/9h, sair por volta das 17h, que já é quase noite, e deitar pelas 22h.

As primeiras impressões
Está tudo calmo, sem grande confusão no aeroporto, que é pequeno, nada comparado com o de Lisboa e mais pequeno que o de Faro. Fez-me lembrar talvez o da Ilha Terceira, nos Açores mas não é tão pequeno. Não dei tanto pelo cheiro como o João, mas vê-se que a terra é vermelha, mesmo como se vê nos filmes. Parece até mais compacta e nutrida.
Já no Júnior para sair do aeroporto, o João ia em contra-mão e isto é o que me faz mais confusão. Passámos no guichet para pagar o estacionamento, ou melhor, para pagar para ir ao aeroporto. Notas e moedas estranhas... As notas são plastificadas e algumas têm uma bolinha transparente que dá até para espreitar. As moedas nem tanto, uma tem uma forma diferente, mas é estranho porque não as conheço.


Ao sair do aeroporto, o trânsito ao contrário faz-me confusão. Vou vendo as bermas com barracas com publicidades variadas, mas a que se vê mais é da Coca-Cola. Muito lixo por todo o lado. Embora a viagem de carro fosse um pouco longa e os meus olhos quisessem acompanhar as novidades, o meu cérebro estava cansadamente bloqueado...
Quando chegámos à rua, saímos do carro em frente à garagem (umas portas de madeira podre), e a Gina disse-me:
- É este o prédio. Estás a ver o 2º andar, aquela janela ali?! É a nossa casa!
- Ahaaam... ardeu?! - escusado será dizer que me gozaram!

Por uma questão de segurança e privacidade, daqui para a frente, não vou colocar nomes nem locais. Apenas coloco uma letra ou um conjunto de letras que identifiquem uma pessoa.

Pouco depois, apareceu o Gom, o porteiro da noite aqui no prédio. É um senhor desdentado, já com uma certa idade ou então muito estragadito, mas muito simpático, tímido e prestável. Aparece sempre que nos vê, para ajudar e, claro que não somos parvos, também para ver se lhe damos alguma coisa. Aqui é normal.
Apresentaram-me a ele:
- Rita, este senhor é o Gom. Gom, esta é a Rita – Disse a G
- A Rita é a minha mulher, Gom – disse prontamente o JG. É tão lindo!
Ele sorriu para mim, estendemos a mão para nos cumprimentarmos e eu dei-lhe dois beijinhos. O que achei normalíssimo. Mas, depois, fui gozada cá em casa por ter dado dois beijinhos ao Gom. Ora, vi-o a chegar-se e pensei que fosse isso, não se deve deixar uma pessoa pendurada. Afinal, o homem ia buscar as malas... Mas, na altura, não me apercebi de nada. Deixa lá, ele não se importou muito. E, embora só com um dente, farta-se de sorrir!
Pegou nas malas como se de plumas se tratassem, e aí vai ele até ao segundo andar! Uma de cada vez claro! Mas na boa! Eu já não podia com uma gata pelo rabo...

Subimos as escadas, reparei que cada andar tinha 2 portas e todas elas com grade, parece uma prisão, mas tem de ser. O nosso é um segundo andar, mas é penthouse!
Estávamos estoirados e fomos logo deitar, só tomei um banho antes, xixi, cama... Até amanhã!

Já cheguei, mamã! Já falámos :) Está tudo bem.
Sleep tight, Baby night!

1 comment:

  1. S*** Apagou, antes de publicar!
    Adorámos, adorámos, adorámos!!!
    Bom, estive a ler em voz alta para a Mammy, Nô, Mafalda, Madalena. Todo o mundo adorou! Rimo-nos bastante com algumas coisas; tu tens piada a escrever!:D
    A Mammy diz:"Gostei do desportivismo com q estás a encarar a tua nova vida! Parabéns e força!"
    Beijos dos Bibis e dos Paulos q chegaram entretanto.
    A Marta está a estudar a toda a força, tem 6 exames dentro de pouco tempo...Logo fala contigo dp.
    Eu adorei, claro, saber das novidades da minha menina!
    Falta 1 foto da casa que ardeu...;)
    Beijões muito grandes,kida!
    Mum

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