Wednesday, March 04, 2015

Dia 176 - 29 Janeiro - JÁ SOU GENTE!!!

Eu nem quero acreditar nas alterações do dia de hoje! Estou eufórica!
Recebi uma chamada ainda nem 7h eram. Nem olhei para o número e rejeitei a chamada! A esta hora nem sei bem quem sou, quanto mais atender chamadas... Demasiada informação para tão pouca hora do dia... Eram 9h30 quando o telefone tocou novamente, com o mesmo número. Era dos serviços que-não-vou-dizer-o-nome, o Sr Peixe. Disse-me para ir ter com ele daí a duas horas e que tinha o documento que aguardo há tanto tempo. Nem quero acreditar!

Já estava semi pronta para sair, por isso, despachei o resto. Mas tive de fazer algum tempo visto que era só daí a duas horas. Andei a engonhar pela net e saí mais perto da hora. Já me tinha mentalizado que havia de ir de tchopela. Fiz parte do caminho a pé até encontrar um tchopela. Estava muita gente ali ao lado, uns a discutir, outros curiosos a querer saber o que se passava... todos distraídos com qualquer coisa e eu, tenrinha, a tentar chamar a atenção para um qualquer que fosse o motorista! Óbvio que não sabia quem era! Lá se vira o rapaz.
- Desculpa mamã.
- Não tem problema. Quanto é até ao sítio-que-não-vou-dizer-o-nome?
- 100mt.
- Bora.
Este é o valor de tabela. Preço acessível. O pior é quando não se pergunta e eles fazem o preço que querem. Por isso, temos de saber alguns truques.
Cheguei lá bem a tempo. À entrada do edifício está sempre um porteiro que não nos deixa passar a lado nenhum se não dissermos primeiro para onde vamos. Se for preciso, fazem perguntas a mais (que não têm nada a ver com o serviço deles) para gozar connosco, ou para verificarem se estamos a mentir. Seja lá porque for, it's none of your business!


Lá subi as escadas e, quando lá cheguei... eu já devia esperar isto, nem porque fico tão chocada... ele não estava lá! Perguntei a alguns colegas que me disseram que ele estaria noutro edifício e para entrar em contacto directo com ele. Peguei no meu telefone e liguei para o Sr. Peixe.
- Sr. Peixe, estou aqui à hora que me indicou e disseram-me que o senhor não está por cá.
- Pois, é verdade... tive de sair... e estou noutro edifício que-também-não-vou-dizer-o-nome. Mas pode vir aqui ter.
- Onde?
Resumindo a conversa - porque senão não saio daqui - explicou-me mais ou menos onde era, só que, ao mesmo tempo, ia falando com outras pessoas e eu já não estava a perceber nada. Parecia conversa de doidos. Até que passou um colega e eu pedi que falassem os dois. Quando ele desligou (o colega) disse-me para voltar "noutra hora".
- Mas a que horas?! Porque o Sr. Peixe disse-me para estar aqui a esta hora. Eu tenho compromissos que adiei e já não vou poder faltar para estar aqui noutra hora que nem sei qual!
- Venha às 14h... - Mas disse-o com uma cara de... "se tiveres de esperar a tarde inteira não é problema meu"...
- Diga-me uma coisa, isto é para levantar o documento. Não pode entrar em contacto com ele e ver se o documento está aqui?! Porque se estiver só facilitamos o trabalho a todos.
Foi a um gabinete para falar com outro, onde tive de explicar tudo de novo. E, claro, não ajudou em nada, só me enfurece mais...

Quando desci lembrei-me que ele me disse para ir ter onde ele estava, mas deixei esse pensamento um pouco de lado e fui aos serviços centrais. Dirigi-me lá, só mesmo para confirmar as minhas suspeitas duvidosas. O documento não estava nos serviços centrais. Resta-me ir ter com o Sr. Peixe. Foi quando tive que ir falar com o "none of your business"...


Não tive que engolir sapos já que nunca lhe faltei ao respeito. Mas tive de lhe perguntar onde seria o outro edifício para poder ir ter com o Sr. Peixe.
- Mas se ele lhe disse para ir ter com ele, então ele é que devia ter explicado onde era.
Ai o caneco... Enfim, resmungando lá explicou (ou tentou) com a ajuda de uma outra colega que foi, surpreendentemente, muito simpática e atenciosa comigo! Mas tudo se resumiu ao:
- Vai de tchopela?! Então ele sabe onde é! - Se calhar devia ter começado por aqui...

Mais uma voltinha de tchopela até chegar ao novo destino. Na hora do pagamento ele não tinha troco e eu, precisando dele na mesma para voltar, perguntei:
- Esperas por mim e levas-me de volta? Assim pago tudo junto.
- Pode ser.
O pior é que eu não sei quanto tempo vou demorar... mas ele deve saber melhor que eu porque acomodou-se lá dentro, um outro rapaz sentou-se lá para aproveitar a sombra... e eu liguei:
- Sr. Peixe, estou aqui em baixo, à porta do edifício.
- Ahhh... - ele não esperava que eu lá chegasse - Agora estou aqui no 9º andar a tomar um chôpe... Vou já descer... Aguarde 30 minutos.
- HEIM?! 30 minutos?! - Are you kidding me?!
- Sim, podia dizer 25 mas vamos apontar para os 30 minutos.
Lembrei-me que não estou no meu país onde, provavelmente, eu subiria e entrava de rompante onde quer que fosse... segurei-me e, nem disse nada ao tchopela... vai passar num instante, ou como dizem cá, há de chegar...

Estava à porta e veio um polícia-segurança dizer-me que não podia estar ali parada e pediu-me para me chegar para o lado. Fez isso com toda a gente. Sem stress.
Passava já dos 30 minutos quando resolvi entrar no edifício e perguntar lá dentro. Estava eu já entre a rua e a entrada, no limbo, portanto, quando o polícia-segurança me chama:
- Mamã!!! Não pode entrar assim - e ponta para o decote e ombros dele. Eu estava vestida com calças e uma blusa de alças grossas, com os ombros à mostra e um decote que nem é muito pronunciado. Ok, confesso que tive vontade de rir pela peculiar ironia da coisa... mas aqui é TIA... Esbocei um sorriso e ri às gargalhadas para dentro. Saí dali e voltei ao meu antigo posto. Mas lembrei-me que ando sempre com uma écharpe na mala. Tirei-a e embrulhei-me nela.
- Assim posso entrar?
- Assim pode - socorro que estou a ter um ataque... de riso...
Lá dentro disse que estava à espera do Sr. Peixe:
- Tem de voltar a entrar em contacto com ele. Tem que insistir - ... A minha mente fica tão cabeluda nestas alturas... O que me apetece proferir verbalmente pulula cá dentro como se cada palavra tivesse tomado viagra!

Ok, back to the phone now...
- Sr. Peixe, estou aqui em baixo à sua espera. Estou aqui fora na rua.
- Mas entre no edifício, como posso entregar o documento se estiver aí fora? - REALLY?!?!?!
Entrei de novo e, como que por magia, ele estava mesmo ali! Pediu-me então o recibo original do documento, foi lá dentro e ainda achei que o tipo me desaparecia de vez com tudo... Mas não, trouxe-me o dito recibo, já rascunhado e entregou-me o documento que aguardo há meses! Eu nem queria acreditar! Agradeci-lhe, claro. Virou costas e foi-se embora. Saí dali toda feliz.
- Tchopela, vamos embora! - Lá teve de sair o rapaz que estava sentado à sombra.
Deixou-me no MT onde acabei por almoçar com o JG.

Pessoal, já sou gente em Moçambique!

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