Thursday, June 18, 2015

Dia 217 - 11 Março - Voltando a um passado que não vivi...

Queria ter ido bem cedo para o MT mas... a vontade é muito traiçoeira... Levantei-me cedo, mas fui-me deixando ficar sem sair... Nem estava com o computador ligado, como de costume, deixei-me simplesmente a ver TV. Saí só mais perto da hora de almoço porque o JG passou para me apanhar e irmos almoçar ao MT. Por lá a conversa não falta, umas vezes sem sentido, outras com demasiado...
À conversa com o Doll ficámos chocados com algumas coisas que se passam neste país. Ainda mais pela impotência (não por querer ficar distante, mas por, realmente, não poder fazer nada) de qualquer pessoa que não seja de cá. Não vou descrever a situação macabra porque é mesmo muito susceptível de ferir pessoas sensíveis (e não sensíveis...).

Numa de espairecer um pouco, ainda combinei com a Cell encontrarmo-nos por ali. Ela ainda vai demorar um pouco e eu aproveitei para ir a casa e voltar. Tinha ficado de trazer um dossier e deixá-lo no MT para a Cal.
Chegámos quase ao mesmo tempo e ali ficámos mais um pouco de conversa, eu e a Cell. Incrível como já nos conhecemos de vista, por aqui, há meses. E a coisa nunca se proporcionou para nos começarmos a dar tão bem. E estamos cá desde a mesma altura! A meio da tarde a Cell deu-me boleia para casa já que fica a caminho da dela.

Pouco depois chegou a sogrinha que verificou que não tínhamos mais água engarrafada para beber e desci. Sei que há, aqui em baixo, uma mercearia, daquelas à antiga... mas nunca entrei. É de indianos, os verdadeiros comerciantes cá da terra. E, de facto, é daquelas antigas. Não que as tenha frequentado muito num passado distante, mas pelo que me descrevem... vou tentar levar-vos "ao cheiro do antigamente"...

A entrada começa por uma porta estreita, com grades, como qualquer outro estabelecimento da zona. O chão é de azulejo já gasto e escuro, tornando o espaço pequeno em cubículo. Mesmo sem arrastar, o som ao pisar este chão é como se estivesse a chinelar sem levantar a sola do chão. Não vejo paredes, só estantes e prateleiras de madeira grosseira, escura, tábuas bem resistentes, cheias até ao tecto! Tudo tem o seu lugar e cada espaço está bem aproveitado... tem mesmo de estar. Cheira ao "pó de ser antiguidade". O balcão é robusto e preto. Atrás da máquina registadora, também ela das antigas, altas, com gaveta, existem diversas caixas com doces e gulodices. A luz que se espreme para entrar ali dentro vem da porta e do pouco espaço que a janela permite. Por isso, os candeeiros, uma espécie de umas tigelas de metal viradas para baixo, estão sempre a trabalhar, seja de manhã ou de tarde. Não se pode olhar directamente porque reflecte e encandeia. Mas ajudam, e trabalham em conjunto, com os raios de sol meios tímidos que se esforçam por entrar.
Num canto lá em cima destoa uma TV das novas, espalmadas, mas a forma tão arcaica como se vê a programação retorna há uns belos anos... a imagem está desfocada, um pouco a dar para o verde e com muitas falhas. Não é motivo para não deixarem de a ver, todos os trabalhadores e patrão, estão atentos como se fosse a única forma de estarem conectados ao mundo!
Vendem de tudo um pouco: latas, frascos, garrafões, caixas, embalagens, pacotes e pacotinhos... de tudo menos frutas e legumes pois isso vendem mesmo aqui à porta, no passeio. Sou atendida por um dos trabalhadores e, enquanto ele vai buscar o que pedi, pago ao patrão que não sai da caixa registadora. Quando acabo de receber o troco tenho tudo o que pedi à minha espera e a disponibilidade para me levarem as compras até "ao carro, senhora". Mas não preciso, obrigada!
Ao sair, sinto-me acabada de chegar de uma máquina do tempo... tempo esse que nunca vivi a não ser por descrições de lembranças e recordações, encantadas por uma certa saudade...

1 comment:

  1. Fiquei comovida... Senti-me, talvez até mais do que tu, porque vivi nesse tempo, transportada a outras eras...! E era eficiente, tás a ver?! Bela descrição!

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