Thursday, September 25, 2014

A ida a Lisboa - Papeladas & Burocracias I!

Acordei exactamente na mesma posição em que me deitei e parecia ter sido há 5 minutos... Foi o Peter que me acordou e eu estava tão compenetrada na coisa que me babei!
Mas tinha que tratar das coisas e isso fez-me acordar fresca que nem uma alface apesar do sono que me perseguia. Além disso, ia hoje para casa! Levantei-me e vesti-me mais depressa do que abri os olhos! Quando dei por mim estava de mochila às costas, pronta para sair de casa. Despedi-me das meninas que entretanto se levantaram. São daquelas pessoas que surgem na nossa vida mas que sabemos que o mais certo é nunca voltar a ver... Apesar de ser bom conhecê-las, a pessoa nunca quer criar laços muito fortes.
Desci com o Peter e a sua bike. Ele acompanhou-me até ao autocarro e despedi-mo-nos. Eu só iria tratar do que não pude tratar ontem e seguiria para casa. Vamos ver se hoje alguma coisa corre como planeado! Até breve Peter, obrigada por tudo!

No autocarro já sabia onde ir ter, tinha tirado as fotografias e já conhecia melhor o caminho a pé. Easy! Nem foi preciso pedir indicações ao motorista. E melhor do que isso tudo: o bilhete que tirei ontem para os autocarro tem a duração de 24h. Como menina responsável que sou guardei o talão - até porque diz mesmo que é conveniente guardar o comprovativo da compra - e estavam lá as horas a que o tinha comprado. Ou seja, continuei sem pagar a mais pois ainda estava válido!

Cheguei ao meu destino, até já estou a ver a "minha rua". Quanto não valeu ontem ter vindo até aqui... Fui toda feliz até ao consulado mas antes de lá chegar começo a ver cabeças... instantaneamente começo a contá-las... 1, 2, 3, 4... ah ok, 'tá-se bem!
Isto porque só são atendidas as primeiras 30 pessoas. Há somente 30 senhas para pedir visto. Se fores o 31 é melhor voltares no outro dia!
Eram 8h11 quando olhei para o telemóvel. Não uso relógio porque tenho pulsos muito fininhos e, geralmente, dançavam-me no pulso, nunca estavam virados para o lado certo e, pior, puxavam-me os pêlos e isso dói!
Bem, isto supostamente só abre às 9h, por isso, sei que vou esperar. Foram chegando mais pessoas e todas iam perguntando quem eram os últimos da fila. Uns sentavam-se no passeio, outros falavam ao telemóvel com auriculares... Parecem maluquinhos! Especialmente quando estão a olhar para ti e a dizer coisas do género "tá?" e tu ficas na dúvida se estão a falar contigo, se é com a pessoa ao teu lado ou atrás de ti... e depois vês os fios e sentes-te a pessoa mais transparente porque, embora olhassem na tua direcção, não te estavam a ver e podias estar ali a fazer o pino, com hula hups em cada perna, a servir bananas numa bandeja... que ninguém dava por ti!
Depois tens a mãe e a filha a lerem uma revista cor-de-rosa para fazer tempo. Coxixam o tempo todo sobre a vida dos outros. Ou as amigas que falam alto para todos acompanharem a conversa, só baixam o tom quando é para dizerem nomes feios... guess what?! Ouve-se na mesma! Ainda há os que fazem vida disto. São pessoas que tratam de papelada das pessoas que vão para outros países. Ou a título particular ou através de agências de viagens. Andam geralmente de mota para não apanharem trânsito. Chegam como se aquilo fosse tudo deles, conhecem a maioria das pessoas que vão cumprimentando como se de fãs se tratassem - apertam as mãos mas nem olham para as pessoas (alguns...). E há os tímidos... enfezadinhos, com roupas decentes mas mal vestidos porque usam as calças clarinhas subidas como se fossem saias de princesa, depois parece que atravessam as cheias porque em baixo ficam curtas... As camisas escuras por dentro das calças, claro, mas com os botões todos apertados até ao pescoço, sem gravata... que sufoco! Para completar usam sapatilhas porque andaram muito ou ainda vão andar e é muito mais confortável; uma sacola a tira-colo para o lado direito e outra para o lado esquerdo! Aposto que o dinheiro está algures dentro das cuecas!

São 9h e chega pessoal que trabalha ali mas não tem a chave e ficam cá fora de conversa com os que fazem vida disto. Muita conversinha de chacha, muitos sorrisinhos peganhentos como que a besuntarem mel para colar mais depressa. Faz parte do biz... Eu compreendo e até acho piada, mas estou farta de estar à espera, cansada e quero ir para casa. 9h15 chega o boss cá do sítio. Pensamos que vai abrir agora... começa a entrar o pessoal que lá trabalha... mas o portão continua fechado. Afinal acho que só abre às 10h! Foi quando começámos a entrar. O boss veio ao portão.
- Bom dia. Tem os papeis? - Tens de mostrar logo tudo ali à entrada, ele dá uma vista de olhos e entrega-se a senha (um cartão plastificado com o teu número). Sou o 6! O ser humano fica em êxtase com coisas tão estúpidas...

Entrei, sinto-me uma VIP! A casa tem um acesso do lado direito onde os clientes aguardam por ser atendidos. Claro que esbarrei logo com a porta. Tento abrir, nada, empurro, puxo... nada! Estavam dois jardineiros encostados a uma pá gigante a olhar para mim com cara de gozo...
- Tem de bater à porta!
- Ah... pois claro. Obrigada. - cara de tacho!
Coisa esperta a porta fechar e ter de bater à porta para abrir... já é difícil conseguir senha! Deixar a porta aberta, não?! Enfim, respira fundo e conta até mil... zen! Sento-me mas rapidamente vou ao balcão pedir uma ficha para preencher. Sei que é necessário e o boss disse para pedir quando entrasse. Estavam outras pessoas ao balcão do lado esquerdo com uns pedidos demorados e a senhora começou sem perceber bem o que pediam. Levei uns 10 minutos só à espera de poder pedir a folha, depois foi só pegar numa folha de um monte que estava mesmo ali e entregar-me! Porque é que esses documentos não estão do lado de fora?! As pessoas têm de os preencher!
Sentei-me e fui preencher. Rapidamente tinha tudo pronto mas estava mesmo cansada e estava ali qualquer coisa mal, mas ok, pergunto quando for a minha vez. Não demorou até ser chamada. Claro que tinha ali uma coisa mal e tive de preencher outra folha. Cheguei-me para o lado e preenchi outra. Entretanto tinha ali as fotografias que tirei ontem, mas eram 4 e deram-me uma tesoura.

Ontem, quando fui comprar a roupa para hoje aproveitei e fui a uma daquelas máquinas de fotografias rápidas que estava na estação de combóio em frente ao MacDonalds. Mesmo a jeito. Aproveitei as 3 oportunidades para escolher a melhor. E uma delas até foi com língua de fora... Alguma tinha de ser com careta senão não tem piada. Já é suficientemente mau ficar parada, a apontar para o centro e a fingir um sorriso à espera de levar com o flash. Mas, foi rápido e eficaz.

Bem, recortei as fotografias, preenchi a folha como deve de ser e aguardei que ele me chamasse de novo. Entreguei a papelada e perguntei se havia algum documento que tivessem de carimbar para apresentar cá relativamente a trabalho. Disseram-me que eu é que tenho de saber essas coisas... Really?! Enfim, paguei e vim embora com o recibo para vir levantar uns dias antes de viajar. Nesta altura já estava combinado entregar esse recibo à minha amiga nutricionista. Ela viria depois levantar o meu visto e, como iria levar-me ao aeroporto no dia da viagem, entregava-me os documentos.

Saí, agora sim, aliviada. De repente sinto o cansaço todo de uma só vez. Respirei fundo e até me deu vontade de chorar pelo stress todo. Mas não chorei, sorri como se o dia finalmente brilhasse para mim! Agora só tenho de ir ter aos autocarros a sete rios para apanhar o meu para casa. Nesta altura já o bilhete diário de ontem não está válido. Mas como tenho tempo vou andando e fui ter novamente ao pé de casa do Peter. Aqui é um centro onde tenho o MacDonalds e aproveitei para comprar o almoço e onde há muitos autocarros a seguirem para zonas diferentes, pode ser que algum vá directo. Mas não, tenho de apanhar dois. Perguntei e o motorista ajudou-me, disse que quando fosse para sair me dizia para eu poder apanhar o outro. E foi impecável. Quando saí tinha duas paragens, mas estava meia lerda de cansaço e só vi a primeira. Fui direitinha ver o percurso dos autocarros e nenhum deles falava em sete rios... comecei a entrar em pânico e a ver-me perdida algures no meio de... nem sei onde estou! Mas depois olhei para o lado!... Há alturas na vida em que uma pessoa se sente tão burra mas tão burra... e depois olhas à volta para ter a certeza que ninguém se apercebeu como se tivesses dado um trambolhão! Ainda é pior... Se for preciso, quando encontras a solução, até te ris da parvoíce anterior e aí sim, as pessoas olham para ti como se fosses um bicho do outro mundo!... Ah, who cares!? Sinto-me tão cansada que me sinto a viver tudo isto através de um filme na TV, como se pudesse fazer o que me apetecesse porque na verdade estou em casa... Não, não estou! A paragem ao lado tinha todos os autocarros para sete rios...

Next stop: Sete rios!
... Não conheço nada disto... Nem foi aqui que apanhei o autocarro ontem! (respirei fundo... bem fundo) Comecei a ler tabuletas, não encontrava pessoas com malas que pudessem ir para o mesmo sítio que eu, vi a entrada do metro e enfiei-me lá para dentro. Podia dizer coisas para pedestres, coisas úteis! Nada, saí só do outro lado da rua... Vi o Jardim Zoológico, gostava de estar com paciência para lá ir, mas agora calha mesmo mal... Olhei para os edifícios à minha volta e havia um maiorzito que poderia ser o terminal dos autocarros. Depois de atravessar umas 10 passadeiras cheguei lá! Era mesmo! Pronto, são 12h, só tenho de esperar até às 15h10. Andei a fazer tempo, acabei por almoçar o hambúrguer que tinha na mochila, sentadinha no meu canto. Assim que o posto de informação abriu fui tratar da transferência de bilhete de ontem para hoje (já tinha sido tratado por telefone). Sem stress.

Basicamente andei a bezerrar enquanto esperava pela nutricionista que vinha ter comigo. Estava quase na hora de ela chegar e vejo uma senhora dos seus 70's a arrastar um malão quase maior que ela, mais dois sacos de desporto sem rodinhas... dava dois passos, parava, dois passos... fui lá, claro!
- Boa tarde! Posso ajudá-la?
- Boa tarde... Oh minha querida, obrigada!
- De nada, ora essa.
- Já me dói tanto as costas e eu tenho aquela doença dos ossos, sabe? - sorri, se não tens uma coisa simpática para dizer, cala-te!
- Não me custa nada ajudá-la. Vai onde? Bilheteira?
- Sim, tenho de comprar o bilhete.
Estive na fila com ela, afinal ia para o mesmo sítio que eu mas apanhou um autocarro mais cedo que eu. Já eram 13h e o dela saía daí a uma hora. Foi quando chegou a nutricionista e veio ter connosco. Pelo bilhete da senhora vi onde iria partir o dela e deixei as malas da senhora mesmo em frente.
- Muito obrigada minha linda! Isto hoje em dia, já não se vê tanta ajuda e faz tanta diferença...
- Não se preocupe, há-de haver sempre alguém a tomar conta de nós! Há sempre alguém! Faça uma boa viagem e peça ajuda para porem e tirarem as suas malas.
- Obrigada...

Eu e a nutricionista fomos para um lugar mais recatado da confusão por a conversa em dia enquanto não chegava a hora do meu autocarro. Dei-lhe logo o recibo para não me esquecer à última da hora. E como havia conversa! Passou num instante!
A viagem no autocarro é feita a ver um filme, mas cansa porque podiam ser dois filmes! Só me apetece dormir e não consigo. Ando, literalmente, com a cabeça aos tombos! Por não me lembrar de alguns momentos tenho quase a certeza que dormitei tipo KO! Sei que uma das vezes acordei por ter batido com a cabeça no vidro... dói. Outra foi o cotovelo que falhou.

Cheguei a Faro! Nem quero acreditar! Fui direitinha para o carro que estava mesmo ali ao lado. Estacionei e, depois de entrar em casa... não tenho sono! Será possível?! Andei de um lado para o outro e sono que é bom neps! Só mesmo à noite consegui cair dura na cama! E apaguei...
Mission accomplished!

1 comment:

  1. Adoro as comparações que fazes!
    E aquela da senhora das malas... Abençoada educaçãozinha que te deram...! ;) Mas também tem a ver com o teu carácter, claro, não é toda a gente que reage assim!
    Beijos <3

    ReplyDelete