Tuesday, September 23, 2014

A ida a Lisboa - Papeladas & Burocracias I

A viagem a Lisboa estava já programada para assim que tivesse o bilhete de avião comprado. Assim que o tinha na mão iniciei a aventura de ir a Lisboa. Falta um mês para voar.
Só podia ser às 2ª, 3ª e 5ª, dias em que o Consulado aceita os pedidos de visto. Durante o fim de semana fiz o trabalho de casa: vi onde ficava o quê, os transportes que teria de apanhar, o bilhete diário para andar de metro e "chapa", as horas a que chegava e a que ia embora de novo... Estava tudo programado ao milímetro! Só podia correr tudo muito... mal!

Eram 5h45 quando saí de casa para apanhar o machibombo das 6h15. Estacionei o carro perto do terminal e juntei-me, meio irrequieta, aos restantes passageiros que por ali deambulavam ensonados. Eu, depois de acordar, fico mais fresca que uma alface! Só me saem parvoeiras da boca e, se fico calada, parece que tenho bicho-carpinteiro! Vinha cá fora ver as estrelas que dormitavam como a maioria das pessoas. Voltava lá para dentro na esperança de estarmos já a entrar... nada. O autocarro chegou pouco depois, vinha de outra ponta do Algarve para seguir viagem para a capital.
A viagem foi tranquila. Eu tinha pedido um lugar em que pudesse ver o filme, que passam em todas as viagens, para não ter de me limitar à minha insuportável paciência de me restringir ao meu lugarzinho insignificante! Vi o sol nascer e o mundo a acordar.

Quando chegámos fui direitinha ao metro para adquirir o bilhete diário de 6€ que me permitiria viagens ilimitadas em todos os metros e machibombos da rede durante 24h. Perfeito! Já cá canta! Meti-me no metro direitinha ao Consulado/Embaixada de Moçambique, que eram no mesmo local. Na saída do metro aquilo baralha-me mesmo por causa das milhentas saídas. Escolhi uma e perguntei a um polícia onde seria. Claro, só podia ser na ponta oposta. Tá-se bem, fui lá ter.

Estranho... sou a única pessoa!? Nem há fila! Dirigi-me ao balcão e disse que queria pedir o visto, mostrei a papelada toda... Vou resumir esta parte porque caiu-me tudo ao chão...
  • O Consulado tinha mudado de poiso há uma semana atrás.
  • O registo criminal que tinha não servia porque dizia "para efeitos de visto" e tem de dizer "para efeitos de trabalho no estrangeiro"
  • Além de ter de tirar um novo registo criminal tenho de o autenticar no MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros)
  • Quando for ao Consulado (já só pode ser amanhã) tenho de ser das primeiras a chegar porque só dão 30 senhas - Isto já eu sabia.
  • O novo local do Consulado fica ao pé dos restantes consulados... no Restelo. hum!? Como eu adoro andar perdida em Lisboa... é tudo "já ali"!
Ok, depois do choque, compus-me e fui à luta! Ainda bem que vim numa 2ª, para poder estar cá amanhã de manhã. Comecei os telefonemas para trocar o bilhete do machibombo de volta para casa e para poder permanecer esta noite. O bilhete diário é válido por 24h, significa que amanhã posso usá-lo para lá chegar, mas já não para voltar... resolve-se.

Voltei a entrar no metro em direcção ao Oriente para tirar o novo registo criminal para o outro efeito... para que serve isto afinal?! Não é o mesmo registo criminal limpo?! Porque é que tem de dizer para que efeitos é que é?! Só é válido por três meses, depois disso já não serve para mais nada. Enfim, é daquelas coisas que não se compreende...

Entra no metro, troca de metro, sai do metro, sobe escadas, desde escadas... perdi a conta daquilo que andei neste dia.
Disseram-me que o pedido de visto ficaria logo num edifício grande do lado esquerdo ao Centro Comercial Vasco da Gama... o "já ali" ficava a um quilómetro de distância. Mas não apanhei machibombo porque seria "já ali". Fui andando ao calor, pelo bafo que se fazia sentir sem nenhuma sombra para atenuar a transpiração. A mochila começa a pesar... Lá achei o dito cujo... Cada edifício com a sua função, ou numa forma mais popular, cada macaco no seu galho! Não havia "cidade" mais pequena?!

http://fotos.sapo.pt/9yZLqNGaqgqCDZmOKt98/

Lá fui onde me competia tirar o registo criminal que é "tirado na hora". Sim, claro. Entrei numa sala para aí com o tamanho de 4 salas de aula. Metade com secretárias lá atrás e balcões à frente, a outra metade com cadeiras em fila como que para assistir a um espectáculo e um espaçorro enorme que dava para fazer uma apresentação de ballet!
Silêncio quase que absoluto, ouvia apenas alguns susurros e os apitos das senhas a passar, o que já não é mau... Aguardei pacientemente pela minha vez, não me restava mais nada. Pedi o que queria e dei o baza o mais rápido possível.

Agora tenho de apanhar os transportes de novo para ir ao MNE que fecha para almoço às 12h. E agora apanho o metro ou o machibombo? Acho uma coisa do outro mundo aquelas pessoas que sabem que autocarro devem apanhar para ir ter onde querem... é um autêntico fenómeno! É que são tantos que nem horários têm! Lembro-me de uma vez que pedi o horário dos autocarros a uma amiga minha (que, por acaso, era da minha terra, mas estava a estudar em Lisboa). Primeiro ficou a olhar para mim como se eu fosse de outro mundo... e realmente sou! Com muito orgulho! Depois ainda tentou...
- Mas não há horários...
- Não há?! Oh, que disparate! Tem de haver alguma coisa onde me diga que autocarro vai para onde quero ir, senão como vou saber quais os que quero apanhar?!
E então ela foi buscar-me um dossier! Um dossier!?! Aquilo era mais grosso que os meus apontamentos da escola!!!

Bem, por me lembrar disto optei mesmo por ir andando até ao metro, aí sinto-me muito bem, consigo planear a minha viagem. Além disso, já tinha feito o trabalho de casa, só tinha de voltar à estaca zero e começar uma nova viagem. A desvantagem de não saber ir lá ter de outra forma é que não chegas a horas... Depois do metro tinha de apanhar um autocarro. Sabia qual queria, só tinha de o apanhar no Marquês. Já foram ao Marquês apanhar um autocarro?! Saí do metro, provavelmente, na saída errada, para variar e fui dar ao lado oposto. Senti-me a sair do esgoto para o mundo exterior! Acho que um campo de futebol é mais pequeno e menos agitado que aquilo! Comecei a atravessar estradas e passeios até chegar, supostamente, onde estavam autocarros e procurei pelo número que me levaria ao meu destino. Quanta importancia pode ter um simples número...

Depois de dar a volta àquele mundo senti-me frustradíssima... aquele número não existe em lado nenhum! Mas não me podia ficar. Entrei num autocarro e perguntei onde apanharia o dito cujo.
- Ah menina - já tou naquela idade que o chamarem-me "menina" soa muito bem! - é numa transversal ali atrás. É só virar a esquina, não tem de atravessar a estrada.
Olha que bem, tão perto e tão long... AAAAAAAHHH Já foi! Acabou de passar por mim na esquina com a pica toda! Tenho de esperar pelo próximo... Cheguei à paragem, o único local ali na zona que não estava a sombra e apanhava com a bola de fogo de chapa!
Vinte a trinta minutos de espera pelo próximo?! Santa paciência... se fico aqui esse tempo todo frito! Tive mesmo de me abrigar à porta do banco. E já sentia um sufoco de tanto calor.

Meia hora depois já se tinham agrupado ali os restantes passageiros e chegou, finalmente o meu machibombo. Entrei e perguntei qual seria a paragem do MNE. Escusado será dizer que o motorista não sabia. Então apliquei os conhecimentos do meu TPC.
- Fica no Palácio das Necessidades.
- Palácio das Necessidades?!
- Bem, acho que sei localizar se lá chegar, mas só queria saber quantas paragens tenho de esperar - Descrevi o que tinha cuscado no google maps.
- Isso deve ser ali na Infante Santo
Bem, fui a viagem toda perto do motorista para aprendermos os dois onde seria a paragem.
Reconheci o local de imediato. Agardecida pela atenção e simpatia, saltei toda lampeira para ainda andar a subir os passeios na cidade das sete colinas. Ups, são 12h20, fecharam às 12h. Ok, já cá estou, vou mas é almoçar descansada.

Havia um café maneirinho mesmo ali. Comisquei umas coisas e bebi água que era só o que me apetecia. Aproveitei para ir à casa-de-banho, já me sentia um pouco fedorenta, transpirada e aflita. Depois de comer lá dentro vim tomar o café para a esplanada enquanto o tempo passava. Aqui respirei fundo... o dióxido dos carros!
Fiz tempo, tinha mais que suficiente. Ir ao Ministério dos Negócios Estrangeiros era a última coisa a fazer e já sabia onde me dirigir, mesmo que não fosse naquela porta não havia de ser assim tão mais longe. Ainda faltavam uns 20 minutos e fui andando nas calmas. A rua é a subir mas ao menos é à sombra.

Cheguei ao largo do MNE e procurei a porta para onde o Google Maps me mandou. Claro que era uma casa particular! Já esperava qualquer coisa assim, por isso fui com tempo. Bem, para esta parte já tinha plano B delineado: Vou ter com os seguranças do edifício principal e pergunto! Quem tem boca vai a Roma, sempre ouvi dizer! Eventualmente vou lá ter...
- Boa tarde. Sabe dizer-me onde posso validar documentos?
- Tem de seguir este muro até lá abaixo e atravessar a estrada. Tem um jardim mesmo em frente.
- Obrigada!
Ora, é já ali! Segui o muro e começo a descer...


A vista do que já percorri...


Bem, é um pouco mais longe do que esperava mas 'tá-se bem. Cheguei ao jardim e só havia uma porta, valha-nos isso! Entrei, não estava mais ninguém... Oh bêlêza!
- Próximo! - hehehe quais próximo?! Só há eu!
Entrei toda lampeira com a papelada em punho e depositei tudo em cima da secretária.
- Boa tarde. Preciso de validar estes documentos, por favor.
Começou a carimbar e ficou-se pelo primeiro.
- Estes documentos precisam ser autenticados por um notário, não os posso validar assim - WHAT?! You're kidding me, right?!


- Cccoooomoo?! - Nem quero acreditar no que estou a ouvir! - Como assim?! Tenho aqui os originais.
- Sim, mas aqui não me servem de nada. Tem mesmo de autenticar num notário.
- Mas... mas eu vim de Faro hoje, amanhã de manhã bem cedo tenho de levar isto ao consulado...
- Ainda tem tempo, são 14h só fechamos às 16h. Se quiser, o notário mais próximo é já aqui em Santos - É já ali... acho uma piada quando os lisboetas me dizem absurdos como o "é já ali"... para mim isso significa no "c... de Judas"!
- Ok... ajude-me só para saber como lá chegar, por favor. Estou a pé mas tenho bilhete diário de autocarro - como quem diz, não tenho guito pa taxi e estou um pouco cansada...
Lá me explicou... mal! Pois claro, fui dar uma volta ao bilhar grande, andei feita maluquinha a perguntar a toda a gente onde raio havia o nº do autocarro que a senhora me deu até que achei uma senhora, muito simpática - daquelas que devem ter vivido sempre a vida inteira no mesmo bairro - que me indicou o caminho para apanhar o dito cujo do autocarro que, segundo a senhora do MNE, me deixava mesmo à porta do notário.

Tive de descer as escadinhas todas e voltar a subir do outro lado, andar ao sol... que bom... já tenho os sovacos assados do peso da mochila! Estava a passar uma ponte que me levaria a uma paragem de autocarro... mas a ponte continuava... e agora?! Qual a saída certa?! Deixei que a sorte (quais sorte?!) me levasse ao destino! Vá lá... acertei! Mas tive de esperar uns 15min... tem sombra, mas estou a destilar. Lá chegou um mas não era o que ela me tinha dito... o meu chegava 1 minuto depois, não vou arriscar. Até chegar o meu fui consultar o percurso... todos vão lá dar! RAIVA! Enfim, não é por um minuto... Claro que voltei a perguntar ao motorista onde seria o notário e dei a indicação que a senhora do MNE me deu e ele deixou-me lá.

Atravessei a estrada e tinha um jardim à minha frente... onde está mesmo a porta do notário?! Agora era aquela altura em que dava jeito uma tabuleta de 20m a dizer «Notário»... Mais uma vez tirei à sorte e fui para a esquerda. Iam umas raparigas à minha frente e perguntei. Disseram-me que para aquele sentido não deveria ser, quanto muito na rua de trás. Dei meia volta e ia começar a subir a rua de trás mas... algo me diz que não é por aqui... Fui para a direita percorrendo casas, lojas, cafés... perguntei a um empregado de mesa... e ele sabia!!! Ena ena! Era de facto perto mas não tinha qualquer indicação e era num prédio de habitação. Oras... como é que, quem não sabe, vai lá ter?! Posso ter muitos dons, mas adivinha ainda não é um deles!

Tem ar condicionado! Valha-nos isso! Devo ter mesmo chegado com mau aspecto. Numa de fazer conversa e ser simpática perguntei onde havia um supermercado (ou mini) onde eu pudesse comprar água pois sinto-me acabadinha de atravessar o deserto... A senhora levantou os olhos da papelada, olhou para mim, sorriu e disse:
- Mas nós temos água, filha, pode beber!
Os meus olhos devem ter brilhado tanto que deixei de ver e fui direitinha à água! Em frente ao "bebedouro" bebi um de seguida, depois ainda trouxe outro de reserva... Voltei mais hidratada e sorridente. Fartei-me de agradecer à senhora e aguardei. Entretanto eu parecia rota. Já tinha mamado dois copos de água e voltei para encher o terceiro, aproveitei para encher a garrafa com águinha fresca, bebi o terceiro que tinha enchido e ainda enchi um quarto! Como diria o grande sábio Caco (Miguel Falabela em "Sai de Baixo") "Isso é coisa dji póbri!" Antes de sair já tinha bebido o 4º copo...

Ok, tempo de apanhar o ônibus de volta! Hoje foi mesmo dia do Caco enchê meu saco com coisa dji póbri! Agora já sabia onde era, mas tive de voltar a descer e subir escadas, subir e descer colinas até lá chegar pois os autocarros grandes não passam lá em frente por serem ruas demasiado estreitas. Mas chego a tempo, espero. E cheguei! Nem acredito! Sentei-me novamente em frente à mesma pessoa.
- Viu como chegou a tempo? - diz-me com um sorriso. Eu sei que foi com simpatia, mas depois do que passei só consegui responder com um sorriso amarelamente transpirado...
Quando saí do edifício senti um alívio tão grande... Mas não estava satisfeita. Eram 15h15 e tinha até às 20h até me encontrar com o meu amigo Peter que me ia acolher esta noite. Além do mais, amanhã bem cedo, antes do galo cantar já eu tenho de estar no consulado... convém saber onde fica!
Ora, como já tenho um PhD em burocracias deixa lá deixar umas migalhas como "João e Maria" para não me perder...

Quando saí do MNE vim andando até descer outra rua íngreme (atenção que, se desci foi porque antes a subi!). E dei de caras com uma paragem de autocarro. O que vale é que estas marotas tão em todo o lado!



Tão a ver aquele carro prateado que parece estar a subir? Vim dali.


Ora, o meu é um destes! Eu quero ir para o Restelo!



Mais uma vez o motorista foi super simpático comigo.
Não fazia ideia de onde seria o consulado nem a rua que indiquei, pois era secundária, mas disse-me:
- Eu vou percorrer o Restelo, quando quiser parar diga-me. Até pode vir até à última paragem do Restelo e sai nessa, mas o pior é que não vai ter lá nada nem ninguém a quem perguntar.
- Ah, não faz mal! Eu desenrasco-me. Já me está a ajudar bastante, acredite!
Assim foi. Fomos andando, eu de antenas no ar a procurar a bandeira, mas nada. Até que chegámos à última paragem...
- É aqui. Esta é a última paragem. Mas como vê são só casas. Quer sair na próxima? Ou então pergunte a esta senhora que vai entrar agora, ela é daqui, pode saber. - Não sabia e nem era dali. A senhora era ucraniana mas disse-me que só se fosse lá para o fundo... Muito vago.
- Eu saio aqui, não tem problema. Muito obrigada! - I'm on my own now!
Assim que o autocarro passou senti-me num deserto... de gente! Só havia casas, ruas bonitinhas, casarões mas ninguém na rua, nem carros... ups! Fui a correr ter com uma carrinha cangoo, daquelas da PT, dos piquetes e assim... daquelas que têm GPS!
- Boa tarde, tem GPS?
- Boa tarde... Sim, tenho.
- Boa! Preciso de saber onde fica... - lá expliquei tudo, mas o senhor foi ver ao mapa. Abriu o mapa localizou a morada mas era... no banco do lado! Nem sequer vinha no mapa! Ai ai ai ai ai...
- Bem, mas ao menos sabemos para onde é. Só que é longe...
- Seja...
- Então vai por aqui abaixo, vira à esquerda e continua até chegar aos semáforos, depois vira à direita. Eventualmente vai ter de perguntar a alguém...
- Ok, obrigada!
Fui andando... ao menos é a descer. Virei à esquerda e seguia-se uma recta sem fim. Semáforos?! Já os devem ter roubado! Apanhei um jardineiro...
- Boa tarde, sabe dizer-me onde é a rua X?
- Ah menina, não sei... mas a rua principal é aqui à direita sempre para baixo. Ao menos vai ter mais gente a quem perguntar. - já não é mau!
- Obrigada!

Desci e como me fartei de andar... depois de umas curvas e contra-curvas para chegar à rua principal deparei-me com um muro, ou seja, ou vai para a direita ou para a esquerda. Atiro uma moeda ao ar?! Fui para a direita... algo me puxa para lá... Uns metros à frente encontrei um senhor à sombra, encostado a um carro. E voltei a perguntar.
- Olhe, por acaso sei onde é! - Que bom! - Mas está mesmo muito longe! - ...
Lá me explicou então que era só ir em frente, andar mesmo muito até chegar a uma avenida grande, depois subir e virar na segunda à direita. Achei bem, temos um plano, uma direcção! Serve-me! Lá fui andando, ia vendo alguns autocarros a passar e a pensar se havia de apanhar um ou não, mas fora da paragem também não posso e não me apetece parar senão não consigo continuar a andar. Depois de chegar à avenida grande passei a primeira rua e reconheci o nome como uma das primeiras que tinha passado... mas nem quero pensar o quanto já estive perto sem saber... é melhor não!
De facto andei como se não houvesse amanhã... mas finalmente alguém me deu a melhor indicação de todas! Era mesmo ali! Este senhor sabia do que falava! Agora sim, tiro fotografias para amanhã reconhecer o caminho, não me vá dar alguma branca...


Cheguei lá e estava fechado, claro. Mas encostei-me ao portão como se de uma mendiga se tratasse na esperança de haver uma alma caridosa... a porta abriu-se! Saiu de lá o responsável e eu perguntei:
- Boa tarde. Já fechou? - Não referi mas já eram 18h15.
- Sim, claro. Agora só amanhã de manhã.
- Pois... amanhã eu volto... obrigada.
- Mas é para pedir o visto?
- Sim, de trabalho. Não tive oportunidade de chegar mais cedo.
- Então volte amanhã de manhã.
- Obrigada.
E vim andando. A rua só tem o sentido que eu estava a fazer agora, por isso, quando ele saiu com o carro passou por mim e encostou:
- Vai trabalhar para lá é?
- Sim, vou.
- Tem os papéis todos em ordem?
- Sim, hoje estive a tratar disso e de manhã estive na embaixada. Lá confirmaram-me tudo.
- Então pronto, amanhã esteja cá bem cedo.
- Sim, amanhã estou aí às 8h!
- Não precisa tão cedo, venha meia hora antes de abrir, é suficiente.
- Ok, obrigada. Até amanhã!
- Até amanhã!
Não vá o diabo tecê-las... amanhã estou aqui antes do galo cantar!

Cheguei novamente à avenida principal e vi uma paragem de autocarro. Dirigi-me para lá e tirei fotografias. Aqui vê-se a entrada para a rua certa.


E a paragem para saber o autocarro que tenho de apanhar. Surpresa das surpresas: vai ter à casa do meu amigo Peter! Só tenho de apanhar este! Oba Oba!


Com um big smile aguardei pacientemente pela chegada do último machibombo do dia.
Agradeço a todos os motoristas que tiveram paciência, muita simpatia comigo e que me ajudaram a chegar ao destino.

Quando, finalmente, cheguei ao meu destino, para ir ter com o meu amigo Peter, vejo um MacDonalds... AAAHHH OASIS!!!
Tinha ainda tempo para descansar um pouco. Fui à wc compor-me, pedi um Smoothie de morango e esparramei-me numa das mesas. Acho que nem sinto as pernas... nem os braços... nem as costas... sinto só a cabeça a explodir! De fora devo parecer um espermatozóide... só cabeça e um resto de corpo mole...
Aproveitei para "limpar" a mochila. Tirei tudo para fora, esparramei as coisas todas em cima da mesa e voltei a arrumar, tudo limpo, arrumado de lavadinho! Tirei a agenda e comecei a planear os dias seguintes: esta semana vou para o Farol! Mas amanhã ainda tenho de ir ao Consulado... Foi quando me lembrei que não tinha roupa a pensar no dia seguinte... Tenho de tratar disso! Ainda assim, tinha bastante tempo e descansei mais um pouco. Quando ganhei coragem levantei-me e percorri a rua até me deparar com o meu destino: uma loja do chinês! Peeerrrrrfect!
Levei tempos infinitos até escolher e comprei uns calções, uma t-shirt e umas cuequinhas. Já me sinto mais civilizada e ainda nem tomei banho!

Já faltava pouco e fui andando para a casa dele, mesmo sabendo que não estaria lá ninguém. Sentei-me à entrada do prédio como se estivesse a pedir mas, ainda assim, não ganhei nenhuma moeda... não devo ser assim tão convincente! Ainda devo ter ficado uns 40min mas nem queria saber...
Ele chegou de bicicleta.

Subimos e ligámos o Skype dele para poder falar com o JG. Matei as saudades instantâneas enquanto o Peter foi tomar banho. Depois trocámos: ficaram os mens de conversa e fui eu para dentro de água!
Sentia-me fedorenta... qual doninha... V. Exma Srª Doninha! Soube-me ao banho do século!
Vesti a roupinha nova e senti-me outra! Desde que não parasse estava pronta para mais! Brrrrring it!
Quando voltei estavam os dois:
- Func... Func... ah, agora sim!
Até o JG a 5000 e tal milhas de distância! Aqui até eu lhes dava razão...

Depois de desligar o Skype descemos para comprar um frango para o jantar.
- Vamos agora encontrar-nos com uma das raparigas que dorme cá esta noite - ele faz couchsurfing, basicamente recebe pessoas de outros países que estejam a viajar e precisem de pernoitar em Lisboa. Quando ele vai para fora, essas pessoas recebem-no. - Esta rapariga é austríaca, é muito porreira. Ela deve estar mesmo ali à frente.
E estava. Tinha chegado de combóio, já tinha ficado a noite anterior lá em casa e sabia ir lá ter. Nós fomos ao frango e ela, como é vegetariana, tinha de ir comprar coisas para o jantar dela. E foi ao supermercado ao lado de casa, nós ficámos de ir lá ter com ela.
O frango maravilhoso que o Peter falava estava ainda encerrado para férias, só iria abrir no dia seguinte. Oh well... ao lado há outro! Levámos o franguinho, pois nenhum de nós estava com cabeça, tronco ou membros para cozinhar fosse o que fosse, e fomos ter com a austríaca ao supermercado. Ele estava desejando comer uma sobremesa, eu já estava por tudo mas não me apetecia uma sobremesa... era mais vinho para celebrar o dia de hoje! Quando chegámos a casa a fominha já apertava e foi por o vinho no frio, por a mesa, tratar da salada para acompanhar enquanto ela preparava a refeição dela, muita conversa, muito riso... e fomos para a mesa. Íamos começar quando chegou a iraniana. Não estávamos à espera dela porque pensávamos que não viria jantar e só chegasse mais tarde. Também não tínhamos nada para ela comer, também é vegetariana... mas ela desenrascou-se e sentou-se à mesa connosco. Todos bebemos vinho, conversámos muito - sempre em inglês - rimos ainda mais... foi uma noite impecável!

Mas não nos ficámos por aqui...
Eu, de facto, estava a cair para o lado há muito tempo mas agora que o dia estava a melhorar eu queria aproveitar para compensar as coisas más! Então ainda pegámos em nós e fomos a pé até à praia! Atravessámos a linha do combóio - em segurança, estamos a falar da linha de Cascais - e andámos uns 300 m. Sempre muito bem dispostos!
Quando voltámos é que já vínhamos a cair... Então ele foi para o quarto e o harém ficou na sala: Eu no sofá e elas, cada uma em seu tripartido, uma de cada lado do sofá. Lembro-me de proferir ainda algumas palavras... e devo ter caído num sono tão profundo que quando acordei estava na mesma posição!

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