Sunday, June 29, 2014

A VIAGEM – parte II

Ora aqui vou eu com o carrinho, os chouriços, o passaporte e o bilhete na mão, sem pensar muito no assunto. Entrei no aeroporto e estou por minha conta! Hora de ser uma mulherzinha!
Sigo a manada de gente que leva a casa às costas e sigo para o tapete rolante. O carrinho agarra tão bem ao tapete que, depois, não queria sair e estava a ver que seria atropelada pelos que vinham atrás! Tá-se bem...
Pelo que já conhecia, de quando fui levar o João ao aeroporto, segui logo para a fila dos check-in, que parece uma lagarta gigante composta por pessoas. Andamos ali a passear dum lado para o outro, até chegar a um balcão que, no início, estava a 5 passos...

Os meus Chourições!

Como já tinha feito o check-in online, a coisa foi rápida ao balcão, mas a rapariga que estava à minha frente... xassúis! Até tive de mudar de balcão. Daqui, fui ao balcão da TAP levantar aquilo a que tenho direito (DICA: mostras o bilhete no balcão da TAP e eles dizem o que podes escolher): uma revista cor-de-rosa, a LUX e o jornal Correio da Manhã! Toda contente, meti aquilo na mochila e só os voltei a ver já cá em casa e no dia seguinte...

Como ainda tinha tempo, fui comer alguns dos quitutes que a minha mãe galinha preparou para eu trazer. Enchi o pandulho até não poder mais e tive, obrigatoriamente e muito contra mim própria, que deitar o restante fora... ironia das ironias, venho para um país onde tanta gente passa fome e sou obrigada a deitar comida fora... que dor no coração!

Terminado o lanchinho, entrei para de onde não poderia voltar atrás e vi-me novamente metida numa gigante lagarta, mas esta em constante movimento e a passar sempre pelas mesmas pessoas. Até compreendo quando aquilo está cheio, mas quase vazio torna-se ridículo, cansativo e divertido! Fim da fila: hora de despir pos tabuleiros! Tudo o que tiveres nas mãos, nos bolsos, malas, casacos, écharpes, cintos, tudo o que tenha metal... bota no tabuleiro! E se dentro da mochila levas computador ou algum aparelho, tira pra fora. Ca chatos! Afinal para que serve o raio X?! Não é a visão do Super-Homem?!
No final da palhaçada, chegas a ver pessoas a pegarem nas coisas à pressa, descalças, descabeladas, com tudo nas mãos e com as calças a cair, escada acima porque estão a fazer a última chamada!
Arrumei calmamente as minhas coisas noutro local, subi e deparei-me com lojas por todo o lado! Um shopping! De onde veio isto tudo que nunca tinha visto antes?! O que é que eu fiz?! Fui aos testers dos perfumes! É coisa dji póoooobre, memo...

Bem no meio, havia então um salão (GIGANTORME) de espera, com lojas e cafés de lado e as televisões com as partidas dos aviões. O meu estava com atraso de 1h: 10h50. Ainda fui até bem lá ao fundo saber o que tinha de fazer a seguir e perguntei:
- Bom dia, para entrar para o avião passo por aqui?
- Bom dia! Sim, tem de passar a fronteira por aqui e depois segue então para o seu terminal. A que horas é o seu voo?
- Bem, era para as 9h50 mas está atrasado e aponta para as 10h50... para já!
- Então, basta vir para aqui pelas 9h30.
- E mesmo que eu passe já, depois não posso voltar aqui?
- Não aconselho, porque tem de ir dar uma grande volta... tem de ir por ali e depois passar lá por trás...
- Ah, ok ok... às 9h30, estou aqui então. Obrigada!

Dei meia volta e voltei ao “shopping”. Cansada como estava e com o carrego da mochila, sentei-me num banco que parecia ter íman... ali fiquei até às 9h30. E que bem que soube!
Estava num lugar estratégico: mesmo em frente às televisões com as partidas, para o caso de haver outro atraso, com um lugar de um lado e mesa do outro, para não ficar emparedada entre outros dois passageiros, e ainda estava virada para quem ia chegando. Muito espertinha das ideias...

Nestas alturas, é quando podemos olhar, com olhos de ver, o que se passa à nossa volta. Porque ali estão todas aquelas pessoas, milhares todos os dias, muito juntas, debaixo de um só tecto para, daqui a poucas horas, estarem em lugares tão opostos e com culturas e climas tão diferentes... De vez em quando, passavam umas de chinelinho de dedo, um calção quase cueca, muito leves e fresquinhas, a seguir passava outra de bota de cano alto com pelo, casaco de pelo... um autêntico Yeti!
Devido à altura em que foi o voo, em pleno Mundial do Brasil, também estiveram sentados nos bancos vizinhos (mesmo à minha frente) alemães com os equipamentos do Mundial. Não eram os jogadores, claro, mas parecia até que pertenciam a uma equipa de empinar a cerveja até caírem pro lado...
E tinham de estar presentes também os bifes! Uma família inteira: pai, mãe, filha de 6 anos e filho de 8. O pai nem o vi, mas teria de lá estar porque o miúdo disse entretanto “I'll ask dad... dad?”. A mãe estava ao meu lado, a filha entretida no banco de trás e o filho apareceu com um tablet aberto nos jogos, tinha 3.
- Mom, let me play that game I like...
- No, I'm not installing another one, play those you have.
- But why? Why? Why? I want to!
- Play one of those.
- But I want to! Why not? Why? Why?
- Play one of those.
- But why? Why? Why? I'll ask dad... dad?
Puto mimado! Farta de ouvir aquilo, fui andando para a fronteira.

Não estava quase ninguém e não esperei mais de 1 minuto. Entreguei o passaporte:
- Ora então a Farense vai para onde? - Diz o “fronteiriço” com um big smile
- Maputo – respondi com um sorriso de “afinal, como sabes que sou de Faro?!”
- Faça favor, senhorita!
Duh... o passaporte é um chibo! Sou tão noob (tradução: novata) nestas andanças...
Estavam três senhoras com mais idade já alapadas numa bela carripana que lhes ia dar boleia até ao terminal e o resto do people a fazer quilómetros. Doem-me os ombros do peso da mochila...
Mas foi só até chegar ao tapete rolante onde andas e até ficas zonza porque só estás a andar mas, com o tapete, vais a uma velocidade estonteante! Loucura! Como tinha tempo, ainda vim para trás só para passar lá de novo! Hehe!
Aí há umas janelas gigantormes! Onde se vê a pista e onde estava um avião a piscar-me o olho (porque no lugar do piloto estava uma cortina ou o que era). Ainda fui até ao terminal, só para ter a certeza onde ia entrar e voltei para a janela, que era já ali. Ainda pensei que aquele fosse o meu, mas este ia para Brasília e era o terminal 42. O meu terminal era o 42A, mesmo ao lado. Então, fiquei bem centrada à frente do bicharoco, só com a janela gigantorme a separar-nos.



É como olhar para um navio bem de perto... são construídos pelo Homem e são gigantormes (ainda mais que a janela). Mete respeito, já que vou colocar a minha vida dependente de uma máquina, muito embora sejam os pilotos a comandar. É algo fora do nosso controlo, é... algo de aventureiro e assustador... quase como andar de carrossel só que este é bem mais caro e tem outro propósito.
Ainda devo ter aqui ficado uma hora até chamarem finalmente ao terminal.
Quando lá tinha ido, as pessoas estavam todas sentadas, nada de filas, tudo muito calmo. Mas agora até parecia um sítio diferente. Coloquei-me numa fila que já me pareceu grandinha, mas apercebi-me que era a fila da 1ª classe e dirigi-me à outra... fui andando, andando, andando... não pode ser!!! Umas 5 vezes mais de fila! Oh well... uma coisa tão grande e ainda não está na hora... não se perde sem mais nem menos. Já não era a última, portanto, eu ia embarcar na mesma. Esperar aqui ou esperar lá dentro, é igual. O maior problema era mesmo a mochila às costas.

Pouco a seguir a mim, estava uma senhora com um pequeno trolley. Estava na fila e não estava... Para quem não sabe, primeiro despacham a fila da 1ª classe e só depois a de 2ª e 3ª e 4ª e... só há 1ª e o resto. Então, estavam a terminar de despachar a da 1ª e essa tipa vai toda lampeira para o fim da 1ª classe. Sim, claro que entrou. Mas está muito mal! A p***! Se soubesse, também tinha lá ficado, oras! Mas com a minha sorte, mandavam-me para o final da outra... raios!
Estava sempre ao telefone com a minha mamã e ela acompanhou todas estas aventuras até a bateria nos cortar o pio. Ainda tentei ligar de novo o telemóvel, mas estava mesmo mal porque já nem ligava. Estava mesmo quase a chegar a minha vez. Apresentei o bilhete, o passaporte e buts!

Dali, descemos as escadas para apanhar o autocarro que nos iria levar ao abiôn! Quando cheguei ao final das escadas, estava um autocarro que parecia os chapas de Maputo. Só para terem uma ideia, os chapas são umas carrinhas assim



onde nem consegues ver quantas pessoas vão lá dentro. Muitos, até andam de porta aberta porque não fecha, de tão cheio que vai! Eles metem-se lá dentro como peças de Tetris!
O autocarro tinha 3 portas e já não havia espaço a não ser que empurrasse as pessoas. Ora... virei-me para o segurança que estava ali:
- Vem outro?
- Sim, vem. Pode passar cá para dentro e aguardar.
Lá fora, estava vento e entrei para o edifício de novo. O senhor até colocou uma baía para ninguém bazar. O pessoal estava muito sossegado... ou então eu estava já muito zen...
Devemos ter esperado uns 15 minutos até chegar outro. Fui logo a primeira e sentei no primeiro lugar perto da porta. Sem dar por isso, aquilo estava outra vez a abarrotar e ficaram mais pessoas à espera do próximo. Bolas! Ia mesmo cheio! Voltas e mais voltas, quando chegámos, o outro autocarro ainda estava a descarregar e, só depois de se ir embora, é que o nosso abriu as portas. Baza!


Começámos quase que em procissão a subir as escadas. E estava o pessoal todo a receber-nos. Sei que faz parte do protocolo e é bonito de se ver, sentes-te importante! Mesmo que sejas um pé rapado! Mostrei o bilhete:
- Bom dia – sorri
- Bom dia! – ganda smile – À direita, sempre em frente.
Já sei, já sei, fui eu que escolhi o lugar estrategicamente... bem lá no fundo. O que é mau, porque és das últimas a receber a comida e comes o que há, já não tens hipótese de escolha, mas é bom porque não vais na asa e, por isso, consegues ver a vista e, por haver menos confusão e já vão perceber...
Cheguei ao lugar e já tinha dois marmelos ao lado. O meu lugar era o 38, uma das pontas dos lugares do meio. Aquele tem dois corredores. Já lá estava uma mantinha, uma almofadita e uns fones à minha espera; sentei-me. Coloquei o cinto e já não devíamos esperar muito até iniciar a viagem. Pouco depois, ouvem-se os motores com um pouco mais de força e o comandante:
- Bom dia! (blá blá blá) Estamos só a aguardar que retirem as malas de alguns passageiros que não vão viajar connosco e seguiremos logo de viagem.
Olhei para o lado e estavam dois lugaritos à janela, cada um com a sua manta, almofada e fones, vazios e já sem ninguém a chegar... e a parva sou eu?! Qual quê!!! Antes que alguém se lembrasse disso, tirei o meu cinto, peguei nas minhas coisas e atirei para lá! A seguir fui eu! AAAAHHHHH Coisa boa! Uma viagem de 11h com uma janela, dois lugares, dois tabuleiros, duas televisões, duas luzes, três mantas, três almofadas e três fones só pra miiiiiiiim!!! ALAMBAZEI-ME!
Não ia propriamente entrar um passageiro a meio da viagem...

Quando o avião começa a mexer, faz-me confusão mas o bicho tem de fazer o seu trabalho e ai de mim querer atrapalhá-lo! Vai sorrateiramente até à pista e liga o turbo! Xássuis!








Levantámos voo... parece que tenho os órgãos cá dentro todos trocados... Agarro-me à cadeira como se isso me protegesse e prego os pés a fundo para abrandar... a nossa mente gosta de gozar cagente...








As televisões começaram a fazer o que as hospedeiras faziam... é mais giro quando são eles a fazer, pah. Na televisão, é um vídeo a propósito do Mundial. Tem a sua piada, mas não é a mesma coisa.
Cada vez que falam ao microfone, as televisões param para podermos ouvir. Assim que pude, comecei a explorá-las! Às duas! 



Comecei pelos jogos, depois estive nas séries e, quando passei para os filmes, foi tudo de seguida! Nem dei pelas horas todas a passar. Foi um MUST!
Uma ou duas horas depois de entrarmos, devo ter recebido a primeira refeição. Já só havia bacalhau com batatas.
- Não se importa? Já só temos bacalhau...
- Ok, não tem problema - Vou reclamar do quê?! Ou isso ou não se come.
Vem um tabuleiro com uma saladinha, molho à parte, o prato do bacalhau com os talheres e o guardanapo, dois pãezinhos, manteiga, queijo em triângulo, umas bolachinhas de água e sal, um leite-creme. A seguir perguntam-nos o que queremos beber: foi um suminho que coloquei logo na mesa ao meu lado, para não atrapalhar o meu tabuleiro, hehehehe
Depois de levantarem os tabuleiros, serviram café e água. A meio da viagem, deram mais uma aguinha e foi já perto do final que vieram com a segunda refeição ligeira: um bolinho, dois pãezinhos, manteiga, uma sombrinha de chocolate, uma barrita de cereais, fatias de laranja, mais um cafezinho, um sumo e água. É tudo muito "inho" porque é tudo pequenino! Faz-me lembrar a história de uma família muito pobre onde até o motorista era pobre, o jardineiro era pobre, a empregada era pobre, o mordomo era pobre... Aqui a comida é pequenina, o copo é pequenino, os talheres são pequeninos, os pratinho e tigelinhas são pequeninos... Parecem coisas de e para crianças! Sinto-me a brincar às casinhas!
Não tive fome nenhuma, aliás, nem comi tudo, trouxe comigo as bolachas, a sombrinha, a barrita e uma manta... ups! hihihihi

De vez em quando, ia tirando umas fotografias... Enjoy like I did!





A certa altura, obrigam o pessoal a fechar as janelas, como coisa de infantário para dormires a sesta. Ora bolas, estava a apreciar a viagem e ainda estava um sol radiante! De vez em quando, espreitava, mas dava nas vistas, já que dentro do avião estava tudo a meia luz... seca! Não, não dormi! Com tanto filme... era o que mais faltava!
Quando abri a janela novamente, estava um pôr do sol lindo! Muito rápido mas maravilhoso! Não voltei a fechar e, daí a ficar noite cerrada, foi um segundo!
Ao seguir o roteiro da viagem, via que estávamos a passar por terra mas, pela janela, não se via uma única luz! De vez em quando, via-se algo, mas parecia ser uma casa aqui, outra lá bem longe... Até fazia confusão. De vez em quando, espreitava, mas passava-se muito espaço em que não se via mesmo nada.
E pronto, estamos quase a chegar...

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