Thursday, July 03, 2014

Dia 3: 26 Junho 2014 - On my own for the first time

De manhã saíram todos... I'm on my own! Entre medo/receio, estranhesa e desconforto... A Sal estava em casa como todas as manhãs e já tinha instruções para vir comigo comprar o cartão de telemóvel.
- Bom dia Sal!
- Bom dia!
- Sal, quando puderes diz-me para irmos comprar o cartão, não tem de ser já.
- Está bem.
Andei a escrever por aqui, a despachar-me...
- Podemos ir!
- Ok, bora lá!
Saímos de casa, o que já por si tem um ritual: chaves na mão, abres a porta do trinco, pegas na chave do cadeado e abres, empurras a grade, fechas a porta com a chave, fechas a grade, colocas o cadeado e fechas. Podemos descer!
À porta do prédio costuma estar o Al, um rastafari simpático, talvez mais novo que eu, que faz coisas típicas e engraxa sapatos. A loja dos cartões é mesmo aqui ao lado. Entras como se de um prédio se tratasse e doas dois passos e estás ao “balcão”. Ou seja, imaginem que entram num prédio e dão dois passos para o elevador mas substituam a porta do elevador por uma porta de prisão, daquelas que tem uma janela de grades. E o espaço da loja é o espaço do elevador! É igual! Sem tirar nem por!
Foi a Sal quem pediu as coisas por mim, ele depois só explicou como se deveria activar. Tem de se registar o cartão com a documentação da pessoa e pode ser pelo telefone, mas aquilo dá erro e é normal dar erro como tudo... Até as chamadas telefónicas podem cair a meio da chamada, assim como a net e as SMS podem nunca chegar! Devem roubar umas quantas pa vender...
Como na loja não vendia carregamentos fomos à porta e estava um rapaz com o colete amarelo.
- 50 mzn pa mcel (a rede equivalente à TMN/MEO, também há depois a Vodacom, que é a nossa Vodafone)
A Sal ainda tinha de ir comprar pão, a padaria é mesmo ali ao lado.
Tá feito! Vamos para casa. Ao subir o mesmo relato mas ao contrário: sacas a chave do cadeado e abres, puxas a grade, sacas a chave da porta e abres, fechas a grade e colocas o cadeado e é só fechar a porta.

Pouco depois chegaram todos para almoçarmos. A Sal já tinha posto a mesa. A seguir ao almoço saímos todos juntos no Júnior e o T deixou-nos na sede. Beijo... I'm on my own far from home! Agora é que é mesmo uma prova. Tenho de fazer cópia das chaves de casa e ir à mcel registar o meu número de telemóvel. Até lá tenho diversos obstáculos pela frente.
Principal obstáculo: atravessar a estrada! Olhar para os dois lados. Ver se está vermelho. Há uma coisa engraçada nos semáforos: quando paras num cruzamento tens o semáforo ao lado do carro, mas também tens no outro lado do cruzamento, para quem atravessa saber quem vai avançar. É outra noção que se deve ter atenção. Convém atravessar só quando o sinal fecha, porque sabes que não vai ficar verde quando estiveres a atravessar. E mesmo que esteja vermelho... não é de fiar. Todos têm prioridade menos tu, estejas de carro ou a pé.
Já tive a minha prova... Depois de os deixar na sede fui atravessar umas das avenidas principais, ou seja, tem três vias para cada sentido, com um separador no meio. Esperei que o semáforo fechasse e olhei para os dois lados. Atravessei até ao separador, olhei de novo e estava seguro. Estava um chapa parado no semáforo e a seguir era logo o passeio, ora se ele está parado estou relativamente segura... atravessei! Mas entre o chapa e o passeio estava um pequeno espaço onde só cabia uma mota. Tinha de vir uma... ainda por cima era polícia e ia passar com o vermelho. Ele nem estava ali parado, vinha lá do fundo para passar. Quando nos vimos (porque ele também não estava à espera que eu aparecesse... devo ter parecido um fantasma de mais branca que fiquei) parámos os dois, avançámos, os dois... andámos ali a dançar um bocado até que me decidi a passar de vez! Só queria desaparecer dali!

Pouco depois chegava ao meu primeiro objectivo: “Casa das Chaves”. Entrei e vi um homem ao balcão. Ele era árabe:
- Bom dia. Quero uma cópia das três chaves, por favor. Quanto é?
- 80 mzn, quer?
- Sim, por favor.
Ele foi lá dentro entregar as chaves para outra pessoa as fazer e foi quando eu vi que estava ali um carrinho de bebé e ao lado uma mulher! Não a tinha visto porque estava de burca e não se mexia nem um bocadinho! Não me falou, ou pelo menos não ouvi, não olhava para mim que eu desse por isso... Ele voltou lá de dentro:
- Estão a fazer, pode sentar.
Sentei-me nas cadeiras que estavam atrás. Ouvi-os falar e afinal ela tinha voz! Parecia ser muito novinha. Não devo ter esperado mais que 2 minutos, foi mesmo muito rápido. Veio um homem lá de dentro entregar as chaves ao boss dele. O boss entregou-as a mim e eu paguei. Recebi o troco, agradeci e vim embora. Não sei se é por ser mulher mas não me senti bem ali, sente-se uma certa tensão no ar... mesmo vestida normalmente, perto de uma mulher de burca sentes-te semi-nua! Aqui não foi o caso, mas já passei por homens na rua que olham pra mim como se eu estivesse a conspurcar o espaço deles... Tenho de me habituar a isto...

Continuei em perseguição do meu segundo objectivo: a mcel para registar o cartão do telemóvel.
Tinha de descer a rua toda até ao shopping e atravessar mais estradas... Decidi ser mais espertinha das ideias ainda... Como há tanta gente na rua decidi começar a atravessar quando outra pessoa também o fizesse. A lógica é, se tu estás habituado e sabes o momento certo, vou aprender contigo. E a lógica da segurança será: se uma pessoa não faz muita mossa ao carro, duas pessoas já fazem uma bruta amolgadela... Não que eles se importem muito com isso porque o que não falta aqui são carros partidos, amolgados, riscados... querem lá saber disso! O melhor é “Anjinho da guarda protege-me!” e toca a andar sem pensar muito no assunto!

Cheguei à mcel sã e salva! Tirei a senha (F 00014) e esperei a minha vez, era logo a seguir... PLIM!
Aproximei-me do balcão e fui interrompida no meu “bom di...”
- Senhora! - Chamou ele a cliente anterior que tinha ali deixado a capa do telemóvel. Ela veio buscar e – Sim?
- Bom dia! - enquanto eu falava vi-o a afastar-se de mim como se eu tivesse piolho... - Quero registar o cartão do telemóvel. Já marquei o *301# mas quando pretendo introduzir o nome só me deixa por números.
- Sabe o número? - falam muito baixinho... cada vez me aproximo mais para ver se o oiço...
- O número do telemóvel? Não. Nem consigo ligar para ninguém senão já sabia.
- Então vai mandar-me uma mensagem...

Acho piada ao sotaque daqui, abrem as primeiras vogais, especialmente quando são “Ás” e muitos dos “Es” transformam-se em “Is” ou “Ês”. Os “Zs” ouvem-se “jz” (um “j” quase imperceptível) e se uma palavra termina em “S” e a seguinte inicia com “S” ouve-se “X”. Ah, e claro que a forma de falar é muito mais lenta daquilo a que estou habituada, mais até de quando se contam anedotas de alentejanos.
Fica mais ou menos assim “Pára fálár têm di fágzêr di vágár”, “Às péssouas pá pércébêr têm di ábituár” ou “Têm úma públicidadgi pára áx xêstas à nôiti”. Mas se os ouves a falar entre eles, esquece...

Lá marquei o código que ele me disse e recebeu a minha mensagem com o meu número de telemóvel para tratar do assunto. Depois disse-me para preencher uma folha do outro lado e voltar ao balcão. Quando terminei de preencher ainda estava no meu número mas aguardei e não me aproximei logo do balcão. Não quero ser “xica-esperta”. Ele chamou-me e eu aproximei-me. Pediu-me o passaporte para tirar cópia, anexou tudo e pronto, tá safo! - Obrigada!

Ok, hora de voltar para casa... tenho de atravessar tudo de novo, mais as outras que fiz de carro... Estava já muito calor e a subir custa mais. Além de que estás sempre com atenção redobrada e sabes que não é suficiente... enfim, tem de ser e o que tem de ser tem muita força! Já só tenho de voltar para casa!
A caminho aparece-me um cromo...
- “Oh boua... isquécéu o caminho po eeroporto?!”
Ignora-se...
Apostei na dica do “atravessar acompanhada” que serviu impecavelmente.
Cheguei finalmente a casa! Não quero sair de novo!!! Mas estive pouco tempo ao computador e saí de novo para tomar café com um contacto de Portugal... Fomos ao café laranja.
Entretanto são agora 17h30 e o pôr do sol já se foi! Isto ainda me faz confusão...

Já em casa vim actualizar isto e despachar-me. Hoje vamos jantar fora e temos sessão de cinema gratuita.
Fomos jantar ao Suiça no shopping, tivémos de empatar algum tempo pois ainda era cedo para a matiné. Já no cinema éramos só nós os convidados e havia uma carrada de papparazis a tirar-nos fotos! Até nos ofereceram aquela bebida do anúncio em que os animais em África se embebedavam, Amarula! Muito bom, só para que saibam! É tipo Bailyes. NHAM!

No cinema assistimos a uma apresentação do Fashion Week e depois a um filme muita parvo mas com um piadão do caraças! Foi só rir! Era com a Charlize Theron e o Liam Neeson no faroeste.
Agora estou cansadinha... Durmam bem ;) Beijocas!

1 comment:

  1. Olá Rita...
    Muito fixe este blog. Continua.
    Parece que quando estamos nestes países, ficamso crianças outra vez... A história de atravessar a rua... Olha, para a a semana vou para Marrocos a trabalho. Bj e tudo a correr bem! Um abraço ao JG

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