Hoje acordámos sozinhos em casa embora fosse dia de trabalho. Quando me levantei lembrei-me que estaria na hora da Sal chegar, mas não a ouvi bater à porta. Ainda não vos disse que campainha existe... mas como é óbvio não funciona! Então fui abrir a porta pois tinha sido avisada que ela batia muito baixinho... é igual quando fala. Às vezes acho que estou mesmo muito surda! Há pessoas de 8 e outras de 80... uns murmuram a falar, outros berram como se não houvesse amanhã! Mas, ainda assim, perfiro os que murmuram... falam uma língua mais perceptível, os que berram... bem... berram! Aqui fala-se português e xangano ou changahan, ou changane, ou... pércébéu?!
A Sal... coitada, tanto como agora, que nunca mais voltava a falar dela, também esta manhã estava, pacientemente, à espera que lhe abrisse a porta... Sugadita, encostada à parede, pacientemente em silêncio... Tão, e bater à porta, não?!
Como sabem, nestes dias de trabalho não há fotografias a não ser por alguma coisa extraordinária que não é muito difícil de encontrar...
O dia de trabalho foi calminho, sem contar com o final do dia que é quando alguém se lembra de fazer asneira e lá temos todos de rectificar... Bem, à pala disso andei de tchopela de novo, na esgalha! Hehe Lembras-te daqueles e-mails que falam das diferenças entre os dias de hoje e dos anos 70/80/90?! Cujo título, geralmente, é "Eu sobrevivi"?! Pois faz-me lembrar isso... Aquela coisa vai de porta aberta, apanhas uma pedra de um lado e lá vais como que uma pastilha elástica cuspida antes de entrares na aula. E vais observando o trânsito mesmo por dentro... deve ser como estar dentro dum furacão... Vês os chapas em andamento com portas abertas e pessoal, lá dentro, com os rabos colados aos vidros, ou a entrarem e a sairem pessoas em andamento. Vês pessoas a atravessarem a estrada mesmo ali ao teu lado e quase que são atropeladas. Reparas nos nomes das milhentas lojas de roupa: "Beauty", "Gestante Moderna" (para grávidas, claro), "Loja das Damas" (só com roupa para muçulmanas... burcas e lençóis para te embrulhares) ou o "Rei do Chinelo". Reparas nos milhares edifícios enormes que existem só de Ministérios: do Interior, da Educação, da Cultura, do Trabalho, da Saúde... e milhentos mais, cada um do seu. Ouves businadelas por todo o lado, ou porque não andam, ou porque o sinal ainda está vermelho quase a passar para verde, ou porque está a sair do estacionamento, ou porque viu alguém conhecido, ou porque travaste um pouco, ou porque passaste para o outro lado para ultrapassares, ou porque viraste, ou porque sim e porque não! Depois ainda tens as pessoas que passam a vida a varrer a terra que está na rua...
Ah, ainda não vos falei do viajante nu... de vez em quando vemos um gajo (é sempre o mesmo) descabelado, com uma camisa e um casaco rasgados, sem calças e acho que sem mais nada mesmo, descalço... ou seja, da cintura para baixo é só pele! Atenção que o facto de eu dizer descabelado é mais o que parece ser um ninho de ratos, e não estou a gozar! É pobre com certeza e deve viver na rua, mas também tem parafusos a mais ou a menos... faz lembrar o Veríssimo de Olhão... Anda sempre direito, com muita pressa, sem se meter com ninguém, mas com muita energia e determinação, como se tivesse algum objectivo. E, de vez em quando, deve-se esquecer do objectivo... porque vai a 100 km/h e pára! E ali fica como se estivesse perdido... Dá-me pena, claro, mas também é uma pessoa imprevisível que evita o contacto com as pessoas. Verdade é que já o vi umas 4 vezes, sempre em locais diferentes na cidade.
À hora de almoço é sempre bom chegar a casa e ter a mesa pronta e um cheirinho de comidinha feita... está tudo pronto, é só por no prato! Assim dá-nos tempo para descansar antes de voltar na parte da tarde.
Esta coisa de vir para África tem ainda outra situação caricata que nunca te lembras a não ser quando te deparas com as dificuldades do dia-a-dia. Os nomes... raros, mas mesmo muito raros são os nomes perceptíveis... então fixar os nomes dos colegas torna-se pior quando nem os sabes dizer. Além de, quando ouves alguém a chamar outro alguém, é sempre murmurando... Então, ao facto de trocares os nomes das pessoas quando mal as conheces, acresce o saber pronunciá-los! Escrevê-los então "tá quiét"!
Uma das coisas boas são as bancas dos frescos na rua. Tenho pena de não ter fotografias, mas é muito descarado. Estão nos passeios, em bancas da Vodacom. Vou tentar descrever a coisa ao pormenor, mas têm de dar largas à imaginação... No passeio, encostado a um muro, de uma casa, de uma loja, do que for. A estrutura é, de lado, em triângulo, com uns 2m de altura e de fundo. Para cima está a pala que fecha quando encerram ou faz de tapa-sol enquanto estão a trabalhar. Do lado direito tem uma pequena porta onde só entram ou saiem quase de joelhos. De frente estão as frutas e os vegetais. Mas aqui têm de imaginar um dos lados do cubo mágico, tem 9 quadradinhos. Os 8 quadradinhos à volta têm os frescos em caixas que não vemos porque estão cheias e inclinadas (porque de lado aquilo é um triângulo). O quadradinho do meio é onde colocam uma cadeirinha e está o vendedor! Quando querem fechar é só baixar a pala e a portinha ;)
E pronto, chegámos a casa já com jantar feito porque tinha sobrado comida do almoço. Assim, aproveitámos para deitar cedinho ;)
Hêlêlêêêlê (só percebes se tiveres visto o anúncio da mcel, publicado anteriormente)
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